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Ontem, ainda de molho em casa, tentando me recuperar de problemas no aparelho respiratório, resolvi ler "O último voo do flamingo" (o título é assim mesmo, dado que a edição brasileira preserva a ortografia do português de Moçambique, país de origem do autor, Mia Couto, cenário sobre o qual se desenrola o romance). Foi uma experiência! Falta-me competência para uma análise mais aprofundada do livro, mas, posso lhes dizer, senti-me de volta ao início dos anos oitenta, quando entrei em contato com a obra de Gabriel Garcia Marquez. Sim, é possível traçar um certo paralelo. Os dois autores, com genialidade, recorrem ao realismo fantástico para narrar um universo social marcado por aterradoras forças, dentre elas a fome, a miséria e a guerra. No caso de Mia Couto, somemos uma crítica acerba à corrupção dos ideias emancipatórios que levaram, em meados da década de 1970, à independência (de Portugal) de Moçambique e a ascensão da então socialista FRELIMO, comandada pelo legendário Samora Machel.
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Três décadas depois, e dilacerado por uma guerra civil tão devastadora quanto àquela que atingiu Angola, Moçambique tenta se reconstruir enquanto país. A obra de Mia Couto contribui para isso. Mostra os descaminhos dos que se anunciavam portadores do novo. Aponta também para o labirinto que é o percurso da modernidade entre nós, latinos e africanos.
Bueno, mas não falei da obra. Nem vou falar, pá! Leia o livro e descubra você mesmo o enredo. Você não vai conseguir abandoná-lo enquanto não terminar.
Em tempo: o livro está sendo adaptado para o cinema e o filme terá como um dos produtores o brasileiro Walter Salles Jr.
Um comentário:
Mia Couto será o objeto de minha dissertaçao de mestrado. Vou trabalhar com "A varanda do frangipani".
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