terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Cadu comenta entrevista do Senador Jarbas Vasconcelos

O comentário abaixo foi enviado por Carlos Eduardo Freitas, o Cadú, que mantém o blog Tesoura Social. Cadú é um cara inteligente e sensível. É também um estudioso dedicado do campo da sociologia.



É muito interessante como estratos da classe média brasileira atualizam constantemente um discurso negativo (naturalizado) acerca de políticas assistenciais desenvolvidas pelo Estado. Sempre operando com o sofisma de que "é mais importante ensinar a pescar do que dar o peixe" - sem levar em consideração as condições estruturais de reprodução da miséria social. Como bem demonstrou Richad Sennett, essa visão negativa de que toda ou qualquer forma de assistência estatal gera parasitismo social, tem origem no séc. XIX no pensamento liberal (Locke, Kant e Adam Smith). Para esses homens, a dependência social era sinônimo de degradação humana ou traço de infantilidade. Assim, o Estado, ao intervir na vida social, promovia a preguiça intelectual e impedia o livre desenvolvimento das capacidades humanas, esse, só possível num ambiente de livre disputa social. Ao deixar os indivíduos jogados a própria sorte, aqueles assumiriam a responsabilidade própria sobre suas vidas, o que representaria um amadurecimento civilizatório. Também interessante é observar setores da esquerda compartilhar com a visão negativa do Estado-assistencial, o tachando como "populista" (categoria auto-explicativa, ou senso comum-douto). Para os marxistas tradicionais, ao promover políticas "assistencialistas", o Estado desmantelaria qualquer possibilidade de "tomada de consciência" das classes trabalhadoras. Assim, tanto para os liberais quanto para os marxistas apocalípticos, é necessário um choque de capitalismo na medida, pois que representa etapa "natural" do desenvolvimento das forças produtivas. É "destruição criativa" shumpteriana reinando nos discursos de hoje (à direita e à esquerda).

Abraços,Cadú.

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