sábado, 9 de outubro de 2010

Anotações sobre a pesquisa do DATAFOLHA de hoje

Ainda não tive acesso aos dados detalhados da pesquisa DATAFOLHA divulgada nesta tarde, mas vale a pena comentar rapidinho duas ou três coisas (ou mais um pouquinho...).

1) Dilma, na pesquisa, não vai além do que alcançou nas urnas (46,7% nas urnas vs 48 na pesquisa). É o esperado. Pelo menos para mim. Acho que esse é o mínimo da candidata. Eu disse "minimo"? Sim, mínimo. Não acho que ela baixe além disso. É a soma do eleitorado tradicional do PT (algo em torno de 25 a 30%) mais o reforço da base social lulista (reconhece o bom governo do presidente, mas não morre de amores pelo PT).

2) Serra abiscoita grande parte do eleitorado de Marina. Sair de 36% na eleição de domingo e chegar a 41% parece um crescimento desmesurado. Coisa para desesperar petista. Mas, analisando com sangue frio, não é, não. É o esperado. Quem duvidava que o voto conservador de Marina iria para Serra? Esse eleitorado estava meio orfão e percebeu na candidata do PV a chance de demonstrar a sua existência social. Agora, surfa na onda. Todos o querem, mas o seu coração já tem dono: Serra. Este pode subir ainda uns dois pontos nas próximas pesquisas? Acredito que sim. Mas, esse crescimento se dará em cima dos indecisos (eles são exagerados 11% neste momento).

3) Os eleitores agora indecisos serão o fiel da balança? Não exageremos, ok? Destes, menos de 04% se decidirão. O restante, como mostram os resultados de domingo, tenderão a não votar ou a anular conscientemente o voto. Aí, temos desde o sub-politizado ao crítico do sistema eleitoral. Ou, ainda, o completamente indiferente a esse mundo que tanto nos atrai (a política).

4) A eleição será decidida nos detalhes. Portanto, muito cuidado com os eventos sazonais (he, he, he). Dia 31 de outubro, um domingão, antecede (oh, Acácio!) uma segunda-feira impressada (terça é feriado). Muita gente boa simplesmente não irá votar. Irá viajar. Para homenagear os seus mortos, ou simplesmente curtir. E as conseqüências da alta abstenção serão regionalmente diferentes. No sudeste, prejudica o Serra. No nordeste, a Dilma. Aqui "prá cima", como dizem alhures, a abstenção não será muito maior do que foi no primeiro turno. O pessoal do interior que trabalha nas capitais nordestinas, com certeza, aproveitará o feriadão para rever os parentes e participar do Finados. Já o paulistano médio (existe?) tenderá a aproveitar o feriadão, especialmente se no Guarujá estiver fazendo um baita dum solão (ajuda aí, São Pedro!).

6) Nunca em uma eleição presidencial anterior, casada com eleições para governador, o voto será tão solteiro quanto no dia 31. O que isso quer dizer? Que na maioria dois estados, para o bem ou para o mal, a fatura já foi liquidada. As eleições já foram decididas. E essa realidade tem um grande impacto. Vejam só: a mobilização para as pessoas votarem, podem ter certeza, será menor. Aqui, como sempre, o eleitorado mais mobilizado do PT poderá fazer a diferença. Indo prá rua, fazer a campanha. Os caciques, vitoriosos ou derrotados, darão boas declarações, mas, tal como a governadora Rosalba Ciarline, irão se refugiar em algum cantinho... na Europa. Ninguém é de ferro, não é?

7) O voto nulo tenderá a ser menor no dia 31. Para presidente, em alguns estados nordestinos, os votos nulos e brancos, na eleição presidencial, alcançaram a casa dos dois dígitos. Como, com exceção da Paraíba, Piauí e Alagoas, a eleição será solteira, as pessoas terão uma maior facilidade para votar. Conseqüência? Menos votos nulos. Isso beneficia Dilma. No sudeste, o total de votos nulos foi, em média, menos da metade do índice alcançado aqui em cima.

Amanhã, de posse dos detalhes da pesquisa, postarei mais comentários.

Até lá!

6 comentários:

Chico sales disse...

Edmilson, como sempre me trás a razão e o bom senso de cientista em relação a pesquisa.Acredito nos detalhes como um antropologo interpretativista, mas tenho um pé no estruturalismo e tudo aquilo que essa corrente quer dizer em relação ao inconsciente coletivo.

Anderson disse...

É uma pena que a renovação partidária e a autocrítica só ocorra depois de algumas derrotas.
Para ganhar a eleição, Dilma deverá fazer uso da máquina do PMDB. A conta chegará na mesa de Dilma antes do 1° de janeiro.
Pano rápido: o Gonzáles deu hj de 10 a 0 no João Santana.

Anônimo disse...

Valeu Edmilson,

muito boa a tua análise.

abs

Daniel

Edmilson Lopes Júnior disse...

Obrigado, pessoal. Valeu! Vou dar uma olhada na Folha e conferir por dentro a pesquisa.

Big abraço,

Edmilson.

Beto disse...

Edmilson, tem uma avaliação de Fernando Rodsrigues que achei interessante, baseada na pesquisa DataFolha para o segundo turno e realizada na véspera da eleição, segundo a qual o placar do segundo turno seria de 52 a 40. Como Serra ficou essencialmente parado em 41, a conclusão natural é que os 4% de queda de Dilma,relativamente aos dado da pesquisa referida, estariam fazendo um pit stop em indecisos. O que me parece natural, ainda por cima levando em conta que o resultado da eleição deu um placar indicando um percentual de perda adicional de 3% dos votos de Dilma para Marina, a mais do que os registrados na referida pesquisa DataFolha. A boa notícia aí, é que se poderia interpretá-los como votos que foram de Dilma para Marina, mas que não cairam para Serra, embora imagine que a conta das abstenções complique esta aritmética um tanto ou quanto simplificada e que as ordens de grandeza dos erros nas pesquisas não autorizam a se apostar muitas fichas neste tipo de argumentação...

Edmilson Lopes Júnior disse...

Caro Beto,
achei interessante esse elemento que trouxestes ao debate: o voto de Dilma que desliza para Marina e que, agora, está para indeciso ou nulo. Em estando correta essa análise, o "teto" de Serra está no limite. Agora, é esperar para analisar as próximas pesquisas.