quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Terça-feira...
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
O ano da França no Brasil
07/09/2009
Para Lula, Sarkozy é o cara
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KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, diz que Luiz Inácio Lula da Silva "é o cara". No entanto, ignora o pedido do presidente do Brasil para participar de uma reunião da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), a fim de discutir o polêmico uso de bases da Colômbia por militares americanos.
Obama afirma que vai priorizar uma economia com menos emissão de carbono e flerta com os biocombustíveis. Mas reduzir as restrições à importação do etanol brasileiro será muito difícil, praticamente impossível. O americano promete olhar mais para a América Latina. No entanto, duas guerras (Afeganistão e Iraque) e uma agenda interna complicada (sistema de saúde e discurso presidencial nas escolas) concentram sua atenção.
Quem realmente tem feito parceria internacional com o Brasil é a França de Nicolas Sarkozy. Lula propõe na ONU (Organização das Nações Unidas) um fundo internacional de combate à pobreza, a França dá gás e dinheiro à iniciativa. Nas reuniões do G8 mais emergentes e do G20, Sarkozy joga mais afinado com o brasileiro.
Resultado: na hora de assinar o maior contrato militar da história recente, não é surpresa o Brasil optar pela França. Não faz muito tempo os EUA vetaram a venda de aviões militares brasileiros à Venezuela para impedir transferência de tecnologia.
A França promete dividir com o Brasil esse tipo de conhecimento. Obviamente, há senões e dúvidas. O preço é justo? O equipamento militar francês é o mais adequado para um país com as dimensões continentais do Brasil? O que a França pretende comprar do Brasil?
Politicamente, faz bastante sentido. Parece justo dar preferência a quem o trata como parceiro e não como colônia. Mas, econômica e militarmente, o governo Lula precisa responder e convencer. Afinal, é muito dinheiro. Só o acordo militar já fechado é de cerca de R$ 22 bilhões. E o acerto para a provável compra de 36 caças Rafale ainda não tem preço sabido.
Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.
E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br
domingo, 6 de setembro de 2009
MUDANÇA DEMOGRÁFICA
NASCIMENTOS NÃO REPÕEM MAIS A POPULAÇÃO
Média de filhos por mulher em São Paulo cai de 2,3 em 1997 para 1,9 em 2007, segundo estudo feito pela Fundação Seade
Só Butantã, Mooca e Perus superavam a taxa de 2,1 filhos por mulher em 2007, taxa que indica a manutenção da população sem migração
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A cada ano, menos crianças são vistas nas ruas, parquinhos e playgrounds de condomínios de São Paulo, reflexo da tendência de queda na fecundidade que coloca regiões de maior renda, como Vila Mariana e Pinheiros-em que o número de filhos por mulher caiu a 1,4 e 1,3, respectivamente- em padrões do Japão e dos países mais ricos da Europa.
Diante de um quadro de envelhecimento acelerado e até queda da população, países europeus têm buscado, sem sucesso, implantar políticas de incentivo à maternidade.
A realidade que se vê nas ruas foi colocada em números em um estudo da Fundação Seade, concluído em maio, que analisou registros de nascimentos em todas as 31 subprefeituras da cidade entre 1997 e 2007.
A pesquisa constatou que, em 2007, apenas Butantã, Mooca e Perus ainda superavam a taxa de 2,1 filhos por mulher -índice que indica a manutenção da população sem a necessidade de migração. Dez anos antes, 20 subprefeituras batiam essa marca. A média de São Paulo é de 1,9 filho, contra 2,3 em 1997.
A mudança na fecundidade começou em países ricos e se espalha no planeta, com exceção de regiões mais pobres da África. Essa tendência de redução também é verificada em todo o Brasil, onde o índice de fecundidade é de 1,95 filho por mulher, segundo mostrou o IBGE na última semana.
Contribuem para isso o aumento da escolaridade, maior participação feminina no mercado de trabalho, uso de métodos anticoncepcionais, restrições financeiras e mudanças nos valores e modelos culturais em relação ao número de filhos.
A nova realidade demográfica também leva a mudanças em políticas de saúde, transporte e a uma reavaliação de um novo perfil de demanda nas escolas, de consumo e até mesmo habitação. Com menos crianças, prédios com áreas de lazer voltada a elas acabam sendo menos atrativos do que antes.
Como a migração vem caindo, também graças a programas como o Bolsa-Família, que ajuda a fixar a população pobre em sua região de origem, já é possível dizer que São Paulo estará menor nos próximos anos?
"Sim", responde a geógrafa Amalia Ines de Lemos, professora do Departamento de Geografia da USP. "É possível fazer muito pouco. Mesmo em Portugal, onde o governo ajuda pais a criar os filhos, há escolas fechando vagas."
O estudo do Seade específico para Pinheiros também apontou como deve ser a nova configuração da mãe paulistana de classe média-alta. São poucos filhos antes dos 24 anos, um número crescente nas idades seguintes e os maiores valores na faixa dos 30 aos 35 anos.
"É a mulher se ajustando ao seu novo perfil. Busca-se primeiro a satisfação pessoal, o emprego, a segurança econômica. Filhos vêm depois", diz.
Há um componente econômico que também sofrerá os efeitos da baixa fecundidade: a concentração de patrimônio, por conta de menos herdeiros, nas mãos de menos pessoas.
Periferia
Em São Paulo, bairros de periferia apresentaram as maiores mudanças na taxa de fecundidade. Socorro, na zona sul, por exemplo, tinha índice de fecundidade de 2,6 em 1997. Em 2007, a taxa havia baixado para 1,8 filho por mulher. Também tiveram mudanças expressivas Ermelino Matarazzo e São Miguel Paulista, na zona leste.
ANÁLISE
BRASIL FEZ EM DÉCADAS O QUE A EUROPA LEVOU SÉCULOS PARA FAZER
Queda da taxa de fecundidade mostra guinada da sociedade; garotos pequenos são menos úteis em ambientes onde não é necessário carregar água nem procurar lenha
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Não há justiça neste mundo. O demógrafo mais célebre do planeta é Thomas Robert Malthus (1766-1834), que errou redondamente em suas catastróficas previsões sobre o futuro da humanidade. Já Warren Thompson, cujo Modelo de Transição Demográfica (MTD), proposto em 1929, funciona bastante bem até hoje, é conhecido apenas por um punhado de especialistas.
E o que o MTD basicamente faz é explicar como o processo de desenvolvimento econômico faz com que países passam de altas taxas de natalidade e mortalidade para situações em que se registram poucos óbitos e ainda menos nascimentos.
Durante a maior parte da história humana, sobreviviam apenas os povos que conseguiam reproduzir-se pelo menos na mesma velocidade com diarreias e outros flagelos que matavam seus membros, em especial os bebês. O resultado eram populações jovens, cujo tamanho variava ao sabor de eventos naturais, como secas e epidemias. Essa é a fase 1 do MTD de Thompson.
O estágio 2, que, na Europa, se iniciou com a Revolução Agrícola, no século 18, caracteriza-se pela redução da mortalidade, inicialmente por conta da maior oferta de alimentos. Esse processo intensificou-se dramaticamente no século 20, com a introdução de políticas de saúde pública, como tratamento de água e esgotos e, um pouco mais tarde, vacinações em massa e antibióticos.
Como a redução nas mortes não se faz acompanhar imediatamente de diminuição nos nascimentos, a fase 2 é marcada pela explosão populacional. Dado que os óbitos evitados ocorrem principalmente entre crianças, é a base da pirâmide populacional que se alarga.
Já o estágio 3 do MTD caracteriza-se pela redução nas taxas de fecundidade. São vários os fatores que a explicam. Um dos mais poderosos é a urbanização. Se, em zonas rurais, crianças são sempre uma mão a mais para ajudar, além da "aposentadoria" dos pais, nas cidades a coisa não funciona bem assim.
Para começar, garotos pequenos são menos úteis em ambientes onde não é necessário carregar água nem procurar lenha. Também deixam de representar o futuro de pais que tenham acesso a sistemas de previdência. Alimentá-los, acomodá-los e enviá-los à escola significa, na verdade, um custo.
Some-se isso à escolarização das mulheres, que descobrem os meios e os motivos para evitar filhos, e a fecundidade pode cair bastante drasticamente. Foi o que ocorreu no Brasil, que completou em poucas décadas o percurso que a Europa levou séculos para percorrer.
Reduções para baixo do 2,1 filhos por mulher (taxa de reposição) não implicam queda abrupta da população. Como a expectativa de vida aumenta e a população envelhece, cria-se uma situação em que convivem três, até quatro gerações.
Nessa fase, também ocorre o que os especialistas chamam de janela demográfica, na qual a proporção de trabalhadores na ativa é mais alta, produzindo o enriquecimento da sociedade. Essa janela se fecha quando a coorte de idosos que já não trabalham ganha preponderância.
No estágio 4, fecundidade e mortalidade são baixos e a população para de crescer, mas não necessariamente de envelhecer. Alguns autores propuseram a criação de uma fase 5, que não integrava o MTD original, no qual as mortes já superam os nascimentos. É nessa situação que se encontram alguns países europeus.
Os desafios aqui são tentar manter a viabilidade dos sistemas de previdência e de saúde, bem como a riqueza material da sociedade. A resposta mais óbvia é a imigração estrangeira. O problema é que ela implica mudanças culturais com as quais nem todos estão dispostos a arcar. O resultado têm sido conflitos e xenofobia.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
A embriaguez da beleza
04.09.09
Mulher bonita deixa o homem meio bobo, diz estudo
por Marcos Guterman
Um estudo publicado no Journal of Experimental and Social Psychology mostra que o desempenho cerebral dos homens piora quando eles conversam com mulheres atraentes. O teste mostrou, por outro lado, que a capacidade masculina de concentração melhora muito quando as mulheres não são tão atraentes.
Segundo os autores, o resultado se explica pelo fato de que os homens, quando conversam com mulheres bonitas, concentram demasiadamente seus “recursos cognitivos” na tentativa de impressioná-las, relegando ao segundo plano outras tarefas cerebrais. Para resumir: ficam bobos, o que pode atrapalhar o desempenho no trabalho ou na escola.
O contrário não se dá com as mulheres – diz o estudo que elas conseguem manter a concentração mesmo quando conversam com homens bonitos. Para os cientistas, a explicação é que as mulheres, diferentemente dos homens, não são programadas para perseguir obsessivamente oportunidades de relacionamento sexual.
TESTEMUNHOS DO HORROR

Viaje al corazón de las tinieblas
MARIO VARGAS LLOSA
Estamos en el hospital de Minova, una aldea en la orilla occidental del lago Kivu, un rincón de gran belleza natural -había nenúfares de flores malvas en la playita en la que desembarcamos- y de indescriptibles horrores humanos. Según el doctor Tharcisse, director del centro, el terror que las violaciones han inoculado en las mujeres explica los desplazamientos frenéticos de poblaciones en todo el Congo oriental. "Apenas oyen un tiro o ven hombres armados salen despavoridas, con sus niños a cuestas, abandonando casas, animales, sembríos". El doctor es experto en el tema, Minova está cercada por campos que albergan decenas de miles de refugiados. "Las violaciones son todavía peor de lo que la palabra sugiere", dice bajando la voz. "A este consultorio llegan a diario mujeres, niñas, violadas con bastones, ramas, cuchillos, bayonetas. El terror colectivo es perfectamente explicable".
Ejemplos recientes. El más notable, una mujer de 87 años, violada por 10 hombres. Ha sobrevivido. Otra, de 69, estuprada por tres militares, tenía en la vagina un pedazo de sable. Lleva dos meses a su cuidado y sus heridas aún no cicatrizan. Casi se le va la voz cuando me cuenta de una chiquilla de 15 años a la que cinco "interahamwe" (milicia hutu que perpetró el genocidio de tutsis en Ruanda, en 1994, y luego huyó al Congo, donde ahora apoya al Ejército del Gobierno del presidente Kabila) raptaron y tuvieron en el bosque cinco meses, de mujer y esclava. Cuando la vieron embarazada la echaron. Ella volvió donde su familia, que la echó también porque no quería que naciera en la casa un "enemigo". Desde entonces vive en un refugio de mujeres y ha rechazado la propuesta de un pariente de matar a su futuro hijo para que así la familia pueda recibirla. La letanía de historias del doctor Tharcisse me produce un vértigo cuando me refiere el caso de una madre y sus dos hijas violadas hace pocos días en la misma aldea por un puñado de milicianos. La niña mayor, de 10 años, murió. La menor, de 5, ha sobrevivido, pero tiene las caderas aplastadas por el peso de sus violadores. El doctor Tharcisse rompe en llanto.
Es un hombre todavía joven, de familia humilde, que se costeó sus estudios de medicina trabajando como ayudante de un pesquero y en una oficina comercial en Kitangani. Lleva dos años sin ver a su familia, que está a miles de kilómetros, en Kinshasa. El hospital, de 50 camas y 8 enfermeras, moderno y bien equipado, recibe medicinas de Médicos Sin Fronteras, la Cruz Roja y otras organizaciones humanitarias, pero es insuficiente para la abrumadora demanda que tiene al doctor Tharcisse y a sus ayudantes trabajando 12 y hasta 14 horas diarias, 7 días por semana. Fue construido por Cáritas. La Iglesia católica y el Gobierno llegaron a un acuerdo para que formara parte de la Sanidad Pública. No se aceptan polígamos, ni homosexuales, ni se practican abortos. El salario del doctor Tharcisse es de 400 dólares al mes, lo que gana un médico adscrito a la Sanidad Pública. Pero como el Gobierno carece de medios para pagar a sus médicos, la medicina pública se ha discretamente privatizado en el Congo, y los hospitales, consultorios y centros de salud públicos en verdad no lo son, y sus doctores, enfermeros y administradores cobran a los pacientes. De este modo violan la ley, pero si no lo hicieran, se morirían de hambre. Lo mismo ocurre con los profesores, los funcionarios, los policías, los soldados, y, en general, con todos aquellos que dependen del Presupuesto Nacional, una entelequia que existe en la teoría, no en el mundo real.
Cuando el doctor Tharcisse se repone me explica que, después de las violaciones, la malaria es la causa principal de la mortandad. Muchos desplazados vienen de la altura, donde no hay mosquitos. Cuando bajan a estas tierras, sus organismos, que no han generado anticuerpos, son víctimas de las picaduras, y las fiebres palúdicas los diezman. También el cólera, la fiebre amarilla, las infecciones. "Son organismos débiles, desnutridos, sin defensas". Vivir día y noche en el corazón del horror no ha resecado el corazón de este congoleño. Es sensible, generoso y sufre con el piélago de desesperación que lo rodea. Desde la pequeña explanada de las afueras del hospital divisamos el horizonte de chozas donde se apiñan decenas de miles de refugiados condenados a una muerte lenta. "La medicina que todo el Congo necesita tomar es la tolerancia", murmura. Me estira la mano. No puede perder más tiempo. La lucha contra la barbarie no le da tregua.
II - LOS PIGMEOS. Debo a los pigmeos de Kivu Norte haberme librado de caer en manos de las milicias rebeldes tutsis del general Laurent Nkunda la noche del 25 de octubre de 2008. Yo había llegado el día anterior a Goma, la capital de Kivu Norte, y mis amigos de Médicos Sin Fronteras, gracias a los cuales he podido hacer este viaje, me habían organizado un viaje a Rutshuru (a tres o cuatro horas de esta ciudad) para visitar un hospital construido y administrado por MSF, que presta servicios a una gran concentración de desplazados y víctimas de toda la zona. La víspera de la partida, mi hijo Gonzalo, que trabaja en el ACNUR, me telefoneó desde Nueva York para decirme que sus colegas en el Congo me tenían prevista, para la mañana siguiente, una visita a un campo de pigmeos desplazados en las afueras de Goma. Aplacé un día el viaje a Rutshuru y, por culpa del general Nkunda, que ocupó aquella noche ese lugar, ya no pude hacerlo.
Los pigmeos, pese a ser la más antigua etnia congoleña, son los parientes pobres de todas las demás, discriminados y maltratados por unas y por otras. Fieles al prejuicio tradicional contra el otro, el que es distinto, leyendas y habladurías malevolentes les atribuyen vicios, crueldades, perversiones, como a los gitanos en tantos países de Europa. Por eso, en una sociedad sin ley, corroída por la violencia, las luchas cainitas, las invasiones, la corrupción y las matanzas, los pigmeos son las víctimas de las víctimas, los que más sufren. Basta echarles una mirada para saberlo.
El campo de Hewa Bora (Aire Bello), a una decena de kilómetros de Goma, acaba de formarse. Está en un suelo pedregoso y volcánico, de tierra negra, y parece increíble que en lugar tan inhóspito las 675 personas que han llegado hasta aquí, hace un par de meses, desde Mushaki, huyendo de las milicias de Laurent Nkunda, hayan podido hacer algunos cultivos, de mandioca y arvejas. Nos reciben cantando y bailando a manera de bienvenida: pequeñitos, enclenques, arrugados, cubiertos de harapos, muchos de ellos descalzos, con niños que son puro ojos y huesos y las grandes barrigas que producen los parásitos. Su baile y su canto, tan tristes como sus caras, recuerdan las canciones de los Andes con que se despide a los muertos. Aunque con cierta dificultad, varios de los dirigentes hablan francés. (Es una de las pocas consecuencias positivas de la colonización: una lengua general que permite comunicarse a la gran mayoría de los congoleses, en un país donde los idiomas y dialectos regionales se cuentan por decenas).
Escaparon de Mushaki cuando las milicias rebeldes atacaron la aldea matando a varios vecinos. Piden plásticos, pues las chozas que han levantado -con varillas flexibles de bambú, atadas con lianas, de un metro de altura más o menos, sobre el suelo desnudo y con techos de hojas- se inundan con las lluvias, que acaban de comenzar. Piden medicinas, piden una escuela, piden comida, piden trabajo, piden seguridad, piden -sobre todo- agua. El agua es muy cara, no tienen dinero para pagar lo que cuestan los bidones de los aguateros. Es una queja que oiré sin cesar en todos los campos de refugiados del Congo en que pongo los pies: no hay agua, cuesta una fortuna, ríos y lagos están contaminados y los que beben en ellos se enferman. Las personas que me acompañan, del ACNUR y de Médicos Sin Fronteras, toman notas, piden precisiones, hacen cálculos. Después, conversando con ellos, comprobaré la sensación de impotencia que a veces los embarga. ¿Cómo hacer frente a las necesidades elementales de esta muchedumbre de víctimas? ¿Cuántos más morirán de inanición? La crisis financiera que sacude el planeta ha encogido todavía más los magros recursos con que cuentan.
En el campo de Bulengo, que visito luego del de Hewa Bora, veo las raciones de alimentos, mínimas, que distribuyen a los refugiados. Un voluntario de Unicef me dice, la voz traspasada: "Tal como van las cosas con la crisis, todavía tendremos que disminuirlas". Médicos, enfermeros y ayudantes de las organizaciones humanitarias son gentes jóvenes, idealistas, que hacen un trabajo difícil, en condiciones intolerables, a quienes la magnitud de la tragedia que tratan de aliviar por momentos los abruma. Lo que más los entristece es la indiferencia casi general, en el mundo de donde vienen, el de los países más ricos y poderosos de la Tierra, por la suerte del Congo. Nadie lo dice, pero muchos han llegado, en efecto, en Occidente a la conclusión de que los males del Congo no tienen remedio.
Bulengo fue en 1994 el campamento del Ejército ruandés hutu que invadió el Congo después de perpetrar la matanza de cientos de miles de tutsis en el vecino país. Ahora es el eje de un complejo de 16 campos de desplazados y refugiados que con ayuda de la Unión Europea y de las organizaciones humanitarias da refugio a unas trece mil personas. Éstas pertenecen a diferentes grupos étnicos que conviven aquí sin asperezas. Aunque Bulengo está mucho más asentado y organizado que el de Hewa Bora, la calidad de vida es ínfima. Las chozas y locales, muy precarios, están atestados y por doquier se advierte desnutrición, miseria, suciedad, desánimo. La nota de vida la ponen muchos niños, que juegan, correteándose. Varios de ellos son mutilados. Converso con un chiquillo de unos 10 o 12 años que, pese a tener una sola pierna, salta y brinca con mucha agilidad. Me cuenta que los soldados entraron a su aldea de noche, disparando, y que a él la bala lo alcanzó cuando huía. La herida se le gangrenó por falta de asistencia, y cuando su madre lo llevó a la Asistencia Pública, en Goma, tuvieron que amputársela.
En Bulengo hay 48 familias de pigmeos, que, aparte de las protestas que ya hemos oído en Hewa Bora, aquí se quejan de que la escuela es muy cara: cobran 500 francos congoleños mensuales por alumno. La educación pública es, en teoría, gratuita, pero, como los profesores no reciben salarios, han privatizado la enseñanza, una medida tácitamente aceptada por el Gobierno en todo el país. En muchos lugares son los padres de familia los que mantienen las escuelas -las construyen, las limpian, las protegen y aseguran un salario a los profesores-, pero aquí, en los campos de refugiados, todos son insolventes, de modo que si se ven obligados a pagar por los estudios, sus hijos dejarán de ir a la escuela o ésta se quedará sin maestros.
En el campo hay muchos desertores de las milicias rebeldes. Uno de ellos me cuenta su historia. Fue secuestrado en su pueblo con varios otros jóvenes de su edad cuando los hombres de Laurent Nkunda lo ocuparon. Les dieron instrucción militar, un uniforme y un arma. La disciplina era feroz. Entre los castigos figuraban los latigazos, las mutilaciones de miembros (manos, pies) y, en caso de delación o intento de fuga, la muerte a machetazos. Me confirmó que muchos soldados del Ejército congoleño vendían sus armas a los rebeldes. Se escapó una noche, harto de vivir con tanto miedo, y estuvo una semana en la jungla, alimentándose de yerbas, hasta llegar aquí. En su pueblo, donde era campesino, tenía mujer y cuatro hijos, de los que no ha vuelto a saber nada porque el pueblo ya no existe. Todos los vecinos huyeron o murieron. Le pregunto qué le gustaría hacer en la vida si las cosas mejoraran en el Congo, y me responde, después de cavilar un rato: "No lo sé". No es de extrañar. En Bulango, como en Hewa Bora y en los campos de desplazados de Minova, la actitud más frecuente en quienes están confinados allí, y pasan las horas del día tumbados en la tierra, sin moverse casi por la debilidad o la desesperanza, es la apatía, la pérdida del instinto vital. Ya no esperan nada, vegetan, repitiendo de manera mecánica sus quejas -plásticos, medicinas, agua, escuelas- cuando llegan visitantes, sabiendo muy bien que eso tampoco servirá para nada. Muchísimos de ellos están ya más muertos que vivos y, lo peor, lo saben. Los campos son indispensables, sin duda, pero sólo si funcionan como un tránsito para la reincorporación a la vida activa, con oportunidades y trabajo. Si no, quienes los pueblan están condenados a una existencia atroz, parásita, que los desmoraliza y anula. Y éste es quizás el más terrible espectáculo que ofrece el Congo oriental: el de decenas de miles de hombres y mujeres a los que la violencia y la miseria han reducido poco menos que a la condición de zombies.
III - EL GALIMATÍAS CONGOLEÑO.
Y, sin embargo, se trata de un país muy rico, con minas de zinc, de cobre, de plata, de oro, del ahora codiciado coltán, con un enorme potencial agrícola, ganadero y agroindustrial. ¿Qué le hace falta para aprovechar sus incontables recursos? Cosas por ahora muy difíciles de alcanzar: paz, orden, legalidad, instituciones, libertad. Nada de ello existe ni existirá en el Congo por buen tiempo. Las guerras que lo sacuden han dejado hace tiempo de ser ideológicas (si alguna vez lo fueron) y sólo se explican por rivalidades étnicas y codicia de poder de caudillos y jefezuelos regionales o la avidez de los países vecinos (Ruanda, Uganda, Angola, Burundi, Zambia) por apoderarse de un pedazo del pastel minero congoleño. Pero ni siquiera los grupos étnicos constituyen formaciones sólidas, muchos se han dividido y subdividido en facciones, buena parte de las cuales no son más que bandas armadas de forajidos que matan y secuestran para robar.
Muchas minas están ahora en manos de esas bandas, milicias o del propio Ejército del Congo. Los minerales se extraen con trabajo esclavo de prisioneros que no reciben salarios y viven en condiciones inhumanas. Esos minerales vienen a llevárselos traficantes extranjeros, en avionetas y aviones clandestinos. Un funcionario de la ONU que conocí en Goma me aseguró: "Se equivoca si cree que el caos del Congo está en la tierra. Lo que ocurre en el aire es todavía peor". Porque tampoco en las alturas hay ley o reglamento que se respete. Como la mayoría de vuelos son ilegales, el número de accidentes aéreos, el más alto del mundo, es terrorífico: 56 entre julio de 2007 y julio de 2008. Por esa razón ninguna compañía aérea congoleña es admitida en los aeropuertos de Europa.
Como el principal recurso del país, el minero, se lo reparten los traficantes y los militares, el Estado congoleño carece de recursos, y esto generaliza la corrupción. Los funcionarios se valen de toda clase de tráficos para sobrevivir. Militares y policías tienden árboles en los caminos y cobran imaginarios peajes. A Juan Carlos Tomasi, el fotógrafo que nos acompaña, cada vez que saca sus cámaras alguien viene con la mano estirada a cobrarle un fantástico "derecho a la imagen". (Pero él es un experto en estas lides y discute y argumenta sin dejarse chantajear). Para viajar de Kinshasa a Goma debemos, antes de trepar al avión, desfilar por cinco mesas, alineadas una junto a la otra, donde se expenden ¡visas para viajar dentro del país!
No es verdad que la comunidad internacional no haya intervenido en el Congo. La Misión de las Naciones Unidas en el Congo (MONUC) es la más importante operación que haya emprendido nunca la organización internacional. La Fuerza de Paz de la ONU en el Congo cuenta con 17.000 soldados, de un abanico de nacionalidades, y unos 1.500 civiles. Sólo en Goma hay militares de Uruguay, India, África del Sur y Malaui. Visité el campamento del batallón uruguayo y conversé con su jefe, el amable coronel Gaspar Barrabino, y varios oficiales de su Estado Mayor. Todos ellos tenían un conocimiento serio de la enrevesada problemática del país. La inoperancia de que son acusados se debe, en realidad, a las limitaciones, a primera vista incomprensibles, que las propias Naciones Unidas han impuesto a su trabajo.
Las milicias de Laurent Nkunda, luego de capturar Rutshuru, comenzaron a avanzar hacia Goma, donde el Ejército congoleño huyó en desbandada. La población de la capital de Kivu Norte, entonces, enfurecida, fue a apedrear los campamentos de la Fuerza de Paz de la ONU (y, de paso, los locales y vehículos de las organizaciones humanitarias), acusándolos de cruzarse de brazos y de dejar inerme a la población civil ante los milicianos.
Pero el coronel Barrabino me explicó que la Fuerza de Paz, creada en 1999, según prescripciones estrictas del Consejo de Seguridad, está en el Congo para vigilar que se cumplan los acuerdos firmados en Lusaka que ponían fin a las hostilidades entre las distintas fuerzas rivales, y con prohibición expresa de intervenir en lo que se consideran luchas internas congoleñas. Esta disposición condena a las fuerzas militares de la ONU a la impotencia, salvo en el caso de ser atacadas. Sería muy distinto si el mandato recibido por la Fuerza de Paz consistiera en asegurar el cumplimiento de aquellos acuerdos utilizando, en caso extremo, la propia fuerza contra quienes los incumplen. Pero, por razones no del todo incomprensibles, el Consejo de Seguridad ha optado por esta bizantina fórmula, una manera diplomática de no tomar partido en semejante conflicto, un galimatías, en efecto, en el que es difícil, por decir lo menos, establecer claramente a quién asiste la justicia y la razón y a quién no. No tengo la menor simpatía por el rebelde Laurent Nkunda, y probablemente es falso que la razón de ser de su rebeldía sea sólo la defensa de los tutsis congoleños, para quienes los hutus ruandeses, armados y asociados con el Gobierno, constituyen una amenaza potencial. Pero ¿representan las Fuerzas Armadas del presidente Kabila una alternativa más respetable? La gente común y corriente les tiene tanto o más miedo que a las bandas de milicianos y rebeldes, porque los soldados del Gobierno los atracan, violan, secuestran y matan, al igual que las facciones rebeldes y los invasores extranjeros. Tomar partido por cualquiera de estos adversarios es privilegiar una injusticia sobre otra. Y lo mismo se podría decir de casi todas las oposiciones, rivalidades y banderías por las que se entrematan los congoleños. Es difícil, cuando uno visita el Congo, no recordar la tremenda exclamación de Kurz, el personaje de Conrad, en El corazón de las tinieblas: "¡Ah, el horror! ¡El horror!"
IV - LOS POETAS. Y sin embargo, pese a ese entorno, conocí a muchos congoleños que, sin dejarse abatir por circunstancias tan adversas, resistían el horror, como el doctor Tharcisse, en Minova. Placide Clement Mananga, en Boma, que recoge y guarda todos los papeles y documentos viejos que encuentra para que la amnesia histórica no se apodere de su ciudad natal (él sabe que el olvido puede ser una forma de barbarie). O Émile Zola, el director del Museo de Kinshasa, combatiendo contra las termitas para que no devoren el patrimonio etnológico allí reunido. A esta estirpe de congoleños valerosos, que luchan por un Congo civilizado y moderno, pertenecen los Poétes du Renouveau (Poetas de la Renovación), de Lwemba, un distrito popular de Kinshasa. Son cerca de una treintena, una mujer entre ellos, y aunque todos escriben poesía, algunos son también dramaturgos, cuentistas y periodistas.
Además del francés, la colonización belga dejó asimismo a los congoleses la religión católica. En el país hay también protestantes -vi iglesias evangélicas de todas las denominaciones-, musulmanes -en la región oriental- y varias religiones autóctonas, la mayor de las cuales es el kimbanguismo, así llamada por su fundador, Simon Kimbangu, enraizada sobre todo en el Bajo Congo. Pero, pese a la hostilidad que desencadenó contra ella el dictador Mobutu, a quien hizo oposición, la católica parece, de lejos, la más extendida e influyente. Iglesias y centros católicos son los focos principales de la vida cultural del país.
Los Poétes du Renouveau se reúnen en la iglesia de San Agustín, donde tienen una pequeña biblioteca, una imprenta y una amplia sala para recitales y charlas. Publican desde hace algunos años unas ediciones populares de poesía que venden a precio de coste y a veces regalan. Empeñados en que la poesía llegue a todo el mundo, se desplazan a menudo a dar recitales y conferencias literarias por toda la región. Asisto a un interesante encuentro, de varias horas, en el que discuten temas literarios y políticos. El francés que escriben y hablan los congoleños es cálido, cadencioso, demorado y, a ratos, tropical. Haciendo de diablo predicador, provoco una discusión sobre la colonización belga: ¿qué de bueno y de malo dejó? Para mi sorpresa, en lugar de la cerrada (y merecida) condena que esperaba oír, todos los que hablan, menos uno, aunque sin olvidar las terribles crueldades, la explotación y el saqueo de las riquezas, la discriminación y los prejuicios de que fueron víctimas los nativos, hacen análisis moderados, situando todo lo negativo en un contexto de época que, si no excusa los crímenes y excesos, los explica. Uno de ellos afirma: "El colonialismo es una etapa histórica por la que han pasado casi todos los países del mundo". Lo refuta otro, que lanza una durísima requisitoria contra lo ocurrido en el Congo durante el casi siglo y medio de dominio belga. Le responde un joven que se presenta como "teólogo y poeta" con una única pregunta: "¿Y qué hemos hecho nosotros, los congoleños, con nuestro país desde que en 1960 nos independizamos de los belgas?".
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Brincando com os filhos...


A lucidez da crítica na coluna do Alon.
O Brasil é mais complexo (03/09)
Alon Feuerwerker
Não dá para achar que o país pode ser governado só assim: com Luiz Inácio Lula da Silva falando mal do antecessor, Dilma fazendo suas apresentações e o PMDB dando um jeito no Parlamento
Quem procura saber o que vai pela seara do governismo percebe o sucesso alcançado nos últimos dias pela tese imortalizada nas palavras do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), naquele inesquecível duelo de plenário contra o colega Tasso Jereissati (PSDB-CE). Trata-se de colocar a oposição no lugar que ela merece, para ela deixar de ser besta. Para curá-la do que o líder do PMDB classificou de "complexo de maioria". Que faz a minoria se comportar como se maioria fosse. Transgredindo as naturais regras do jogo.
Na crise do Senado, à primeira vista deu certo. José Sarney (PMDB-AP) continua confortavelmente posto na cadeira acima dos pares, com os rolos da Casa a caminho do esquecimento e do perdão aparentes. Uma anistia ampla, decorrente da correlação de forças. Do "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Há, é claro, um custo junto à sociedade. O PT paga o preço de aparecer como legenda que concede aos aliados, especialmente ao PMDB, direitos proibidos aos mortais. Desde, é claro, que o parceiro ofereça apoio aos projetos e desígnios do PT.
A julgar pela euforia petista com o exercício do poder, o partido está a avaliar que a relação custo-benefício desse tipo de operação vale a pena. Será? Na política é habitual o sujeito deixar-se levar pela ilusão de que tudo está bem. Não fosse assim, não haveria espaço para grandes surpresas eleitorais, quando a urna finalmente traz o que pensa o eleitor. Mas enquanto este não se manifesta prevalece a miragem do tudo pode.
A urgência constitucional determinada pelo governo para a tramitação dos projetos do pré-sal atolou na Câmara dos Deputados. É uma coisa intrigante. Se o governo tem maioria ampla na Casa, e se os líderes da base governista podem, portanto, pedir a votação em plenário de qualquer texto a qualquer momento, por que o Palácio do Planalto impôs a urgência a priori num assunto tão compexo? Ora, por achar que emplacaria. Veremos o desfecho.
O procedimento revela novamente o conceito. Durante muitos meses, o assunto ficou rodando pela Casa Civil, indo e voltando do Ministério de Minas e Energia. Ótimo. Era o governo cumprindo seu papel. Entretanto, por mais consideração que a sociedade possa ter pela ministra Dilma Rousseff e pelo colega Edison Lobão, não dá para concluir que o país está totalmente representado pelo duo nesse debate. Não dá para achar que o Brasil pode ser governado só assim: com Luiz Inácio Lula da Silva falando mal do antecessor, Dilma fazendo suas apresentações e o PMDB dando um jeito no Parlamento.
O Brasil é mais complexo. Por elegância, não é o caso de citar exemplos de vizinhos. Mas talvez conviesse ao governo compreender que hoje parecemos mais com os Estados Unidos do que com alguns das nossas redondezas. E se nem Barack Obama, com todo o capital político acumulado e a maioria qualificada nas duas Casas do Congresso, escapa de passar pelo corredor polonês na polêmica sobre a reforma da Saúde, assunto exaustivamente debatido na campanha eleitoral, por que Lula, Dilma e Lobão imaginam que poderão virar do avesso, assim do nada, a um estalar de dedos, todo o universo nacional do petróleo e do gás? E fazê-lo sob aplausos unânimes do Brasil, pois afinal "eles devem saber o que é bom para nós".
Até porque se a propostas forem boas mesmo o governo terá elementos adicionais para emplacá-las. Mas vai exigir arte. Futebol não é só força, é também jeito. Intrigante que logo Lula, o boleiro, o encantador de serpentes, tenha esquecido dessa verdade. Bem Lula, que depois de cinco eleições e dois mandatos presidenciais talvez conheça o Brasil melhor do que qualquer um. É coisa de gente que se acostumou demais a palácio. Uma doença conhecida do príncipe.
O nome é Palocci
Em entrevista ontem a um canal de televisão, o ex-ministro José Dirceu disse que Antonio Palocci é a candidatura natural do PT ao governo de São Paulo. Fez as mesuras de praxe aos demais, mas não deixou dúvidas.
Pelo tom de Dirceu, e pelas conexões que ele mantém no partido e no governo, essa fatura está com cara de liquidada.