sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Dilma tocando violino

A Presidente Dilma subiu no telhado. E está tocando violino. Eleita com um discurso de esquerda, enfatizando o legado das políticas distributivas do Presidente Lula, a Presidenta rendeu-se à força das coisas e está dando razão aos adeptos da "teoria do violino". Qual? Aquela que diz que você segura com a esquerda, isto é, elege-se com um discurso de esquerda, mas, na hora de governar, toca com a direita.

Dilma é apenas um ícone, claro. É todo um estado de coisas. De gente que se sente os condutores sagrados das "coisas do estado". Após os aumentos vergonhosos dos salários dos deputados, dos ministros e da própria presidenta, vem a base governista justificar esse vergonhoso (arrocho salarial, na verdade) salário-mínimo de R$ 545. Para completar, o corte de 50 bilhões. A banca faz a festa. A mídia encantada faz loas à presidenta responsável. E tome pau e desconstrução do Lula.

Com as máquinas sindicais azeitadas com recursos públicos, não será fácil uma mobilização contra a política econômica anti-distributiva do novo (velho) governo. Além do mais, nenhum espaço social hoje se parece mais com coisa mafiosa do que sindicato. Dirigente sindical que se preza, hoje em dia, adora comer em churrascaria e viajar para Brasília com o dinheiro da companheirada... Resumo da ópera: dessa mata, não sai coelho.

E a oposição? Me engana, que eu gosto. Quem tem autoridade moral ali? o Serra? Acho que há uma avenida para a sua defesa do salário do R$ 600. Mas e o corte? Ora, ele não tem como ser contra. Faria a mesma coisa.

Marina Silva? Mas a Marina, essa nossa reserva ética, preferiu não intervir no debate econômico. Conseqüência? Não acumulou forças para fazer o bom combate à guinada para direita da Dilma.

O PT? Ora, ora, a companheirada, aboletada nos cargos públicos e ávida por mais aparelhos, não vai nunquinha se confrontar com os capa-pretas detentores das canetas de nomeação. O Psol? Que é isso? Nem faz cosquinha...

Sindicalismo do funcionalismo público? Sim, eles podem reagir. Mas, cá prá nós, qual a audiência social deles? Quase zero.

RESUMO DA ÓPERA
Solidão política dos que defendem crescimento econômico com distribuição de renda e aumento da capacidade reguladora do Estado.

O QUE NOS RESTA? Saudades.... do Lula.
Lula, Lula, quem diria que, tão cedo, você iria fazer uma falta danada?

6 comentários:

Guru disse...

Edmilson, nao entendo muito esse rancor que às vezes emerge (não que eu diga que isto lhe ocorra, o professor tem até um pé marineiro) quanto à "reserva ética" de Marina Silva. Chamaram-na até de "mariana" (o que é no mínimo um grave desconhecimento do protestantismo). Ainda não chamaram de Paladina, porque soa estranho no feminino, mas é importante ressaltar que a postura da ex-senadora em nada se assemelha a de Fernando Gabeira ou de Heloisa Helena quando se trata de vestir a manta da ética.

Enfim, o PV, através do seu único senador (Paulo Davim, que fez um discurso bastante razoável e objetivo esta semana), anunciou a posição dos "parlamentares verdes" por um maior aumento do mínimo, após reunião com as centrais sindicais. Não é muito, mas vale ressaltar que quando eu era menino a bancada do PT no senado era só Eduardo Suplicy. Seria pueril ver o senador potiguar como a "voz de marina" no parlamento? Certamente. Mas o discurso de Davim foi ponderado neste sentido. Bem mais ponderado que chamar as centrais de oportunistas.

O debate sobre o mínimo não é apenas econômico. É uma questão de prioridades quanto aos setores sociais do país. Dar um aumento desses, em ano de inflação de alimentos e de transporte coletivo, é revelador. E há vários outros pontos, ver o blog de Alon que anda muito bom esta semana.

Cortar mais que o dobro do usual no orçamento e anunciar a remissão no servidorismo público, ao mesmo tempo anunciando que não vai "cortar nada no social" é a mais besta demagogia. Todo o gasto do governo deve beneficiar sua população. Manipular essa categoria "o social" e fingir que 50 bilhões não vão fazer falta é demais. Reverbera nos setores que sobrevivem do Estado: os mais pobres e os mais ricos. Veremos quem se prejudica mais. Pelo tocar do violino, não serão os de cima.

Aldemir Freire disse...

Professor, gosto do seu blog e dos seus comentários. Na marioria das vezes concordo (se não em todo, pelo menos em grande parte).

Não sou sociólogo, mas essa descrença geral em partidos e sindicatos não me parece salutar.

Vou tentar ver se resumo o que eu entendi do seu pensamento:

Em relação ao PT, parece que o mesmo foi reduzido, pela sua análise, a uma "...companheirada, aboletada nos cargos públicos e ávida por mais aparelhos". Mas será que o PT e seu proejto é só isso? Toda a história do partido dentro e fora do "poder" pode ser reduzido a isso?

As máquinas sindicais estão, nas suas palavras "azeitadas com recursos públicos", não sendo possível mobilizá-las.

Não vejo diferença entre esse discurso de análise do PT e do movimento sindical e o discurso de um Agripino ou mesmo um Caiado (na verdade parece que estou ouvindo o Caiado).

Além disso não considera o PSOL uma força política capaz de fazer alguma voisa e com relação à oposição... bem, ela faria mais do mesmo.

Resignou-se então o Prof. Edmilson a uma "Solidão política dos que defendem crescimento econômico com distribuição de renda e aumento da capacidade reguladora do Estado."

E também a um certo messianismo no acreditar em uma Marina (não na Marina e no seu PV, só na Marina e sua reserva ética, mas sem a ascepcia que ela fez em seu discurso - portanto uma Marina que na prática não existe). E também na saudade de Lula.

Faltou citar quem são esses que "defendem crescimento econômico com distribuição de renda e aumento da capacidade reguladora do Estado."

ESSES têm nome? Rosto? Estão envolvidos em alguim movimento político? Qual a base social dos mesmos?

E Lula e Marina existem sem o PT e sem o PV?

GERALDO PINTO disse...

Professor, que tal uns rudimentos de economia???
Tipo - Variação cambial, aumento da demanda agregada, impacto dos investimentos no aumento de demanda, diminuição dos rendimentos de escala, etc.???
No início do Governo LULA a cantinela ultraesquerdista era a mesma e depois TODO MUNDO VIROU LULISTA. Mas quem não se lembra de 2003 e 2004? apenas os de memória curta, incluso os cientistas sociais.

Esdras disse...

Caro Edmilson, apesar de ser uma indicação do Reinaldo (Veja), fui direto à fonte e acho que este post é revelador sobre este corte. Por isso o Serra disse que era espuma: provavelmente ele sabe que não vai se cumprir. É mais uma forma de agradar aos mercados. Se a estratégia está errada? Sei lá, mas desculpe, não me entusiasmo ou assusto mais com esses arroubos governamentais, seja de quem for (afinal, qual a diferença entre les mesmo?). Segue o link:
http://mansueto.wordpress.com/2011/02/10/o-improvavel-corte-das-despesas/

Anônimo disse...

Vixe Professor Edmilson,
Então Marina é uma "reserva ética"?
Fujam para as montanhas pois o fim está próximo.
"Eli Eli lama sabactani"

Dennys Lucas disse...

Prof,

Pode ter certeza que estou entre os insatisfeitos com os rumos, entretanto, tenho confiado na trajetória e neste acúmulo de experiência - e forças. Agora, querer aliviar com o Lula, me deixa confuso, ele foi um dos que saiu em defesa, chamando os sindicatos pelas orelhas...

...
Minha ingenuidade faz com que eu ainda fique achando que tem mais coisa entre o céu e o inferno que as poucas páginas de vida e leitura me fizeram...

Dennys Lucas
JPT