sexta-feira, 28 de maio de 2010

Giddens e a derrota do trabalhismo

Reproduzo abaixo artigo de autoria de Anthony Giddens, publicado orignalmente no jornal argentino CLARIN e traduzido para o português pelo Ex-Blog do César Maia, dando conta da recente derrota eleitoral do trabalhismo inglês. Vale a pena conferir!


ANTHONY GIDDENS, TEÓRICO DA TERCEIRA VIA, EXPLICA O TRABALHISMO APÓS SUA QUEDA!(Clarín, 20)

1. O trabalhismo conseguiu permanecer no poder por mais tempo do que qualquer outro partido de centro-esquerda nos últimos tempos, incluindo os países escandinavos. Foi um feito de grande importância, dado que o partido nunca antes tinha estado no poder durante dois mandatos completos em seus mais de cem anos de existência. As mudanças ideológicas associadas à criação do termo "Novo Trabalhismo" constituíram grande parte da razão de seu sucesso eleitoral.

2. O novo trabalhismo não era uma etiqueta vazia pensada para esconder um vácuo político. Pelo contrário, foi desde o início um forte diagnóstico do porque a inovação era algo necessário na política de centro-esquerda e também uma agenda política clara. Os valores da esquerda - solidariedade, redução das desigualdades, proteção dos menos favorecidos, somados a firme convicção do papel fundamental de um governo ativo para alcançá-los - permaneceram intactos, mas as políticas destinadas para alcançar esses fins tiveram que sofrer uma mudança radical devido às profundas alterações que ocorriam na sociedade.

3. Estas mudanças incluíam a intensificação da globalização, o desenvolvimento de uma economia pós-industrial ou de serviços e, na era da informação, o surgimento de um a cidadania mais volúvel e combativa, menos respeitadora das figuras de autoridade que no passado (um processo que logo o advento da internet expandiu ainda mais). A maioria das políticas trabalhistas derivou dessa análise. A era da gestão da demanda keynesiana, vinculada à direção estatal da economia, havia terminado.

4. Tinha que ser estabelecida uma relação diferente entre o governo e empresas, e reconhecer o papel fundamental das empresas na criação de riqueza, assim como os limites do poder estatal. Nenhum país, por maior e poderoso que fosse, poderia controlar esse mercado. O advento da economia de serviços ou baseada no conhecimento se juntou à redução da classe trabalhadora, reduto tradicional do Partido Trabalhista.

5. Para ganhar as eleições, portanto, um partido de centro-esquerda teria que chegar a um espectro muito mais amplo de eleitores, incluindo aqueles que nunca haviam apoiado o trabalhismo, que já não podia continuar sendo somente um partido de classes. Com Tony Blair, que não era exatamente um trabalhista da velha escola, o partido pareceu ter encontrado o líder perfeito para alcançar esse objetivo.

3 comentários:

Unknown disse...

Anthony Giddens sempre foi uma referência respeitada na sociologia contemporânea, principalmente na sua capacidade de reflexão criativa na análise dos clássicos da sociologia, sempre extraindo o melhor deles. Mas como analista político, francamente, não se pode dizer o mesmo. Esse artigo, por exemplo, do olhar do sociologo inglês sobre a derrota do trabalhismo britânico é bastante lacunar: ao invés de tentar explicar ou pelo menos apreender os condicionantes da derrota histórica do "Partdido trabalhista", Giddens procura destacar (como justificativa) a pertinência das mudanças internas que teriam levado à ascensão do partido trabalhista como força política "inovadora" na Inglaterra. E ainda por cima, recorre à chavões do tipo "globalização", "sociedade do conhecimento", "sociedade pós-industrial" como fenômenos socialmente dados que serviram de horizonte de ação do Partido trabalhista; Giddens só faltou chamar o partido trabalhista de "partido de vanguarda" da esquerda mundial. Ao olhar apenas "para trás", Giddens esquece de tematizar
o que se processa no presente da Inglaterra e de toda a Europa.

Alyson Thiago F. Freire disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alyson Thiago F. Freire disse...

Concordo com a ressalva de Cadu sobre o Giddens "analista político".

Giddens, no exercício de intelectual público, pouco autônomo, por sinal, prefere quase sempre, em suas análises e posicionamentos, anuviar as questões mais importantes e mais problemáticas em favor da concentração por supostas melhorias conciliatórias, ou seja, que não tragam à luz a dureza dos conflitos, das desigualdades e das dominações e, principalmente, as conseqüências à longo prazo sobre parcelas da população mais vulneráveis. Para Giddens, “bem-estar social” e igualdade são perfeitamente compatíveis com a economia neoliberal e suas tendências. Nisso, como destacou Cadu, ele perde os elementos condicionantes do presente e os seus efeitos em um futuro próximo. Como intelectual público, Giddens é o avesso do Bourdieu dos anos noventa, que procurou desafiar, um tanto cega e ingenuamente talvez, as estruturas de dominação e os efeitos perversos e de desagregação das políticas neoliberais.