segunda-feira, 17 de maio de 2010

A morte sobre duas rodas: os acidentes de motos como objeto de pesquisa nas ciências sociais

Eis um bom tema de pesquisa para as ciências sociais. Espero que algum aluno de graduação (eles sempre são mais afoitos, e, por isso mesmo, mais criativos do que os seus colegas de pós) o assuma. Por enquanto, aponto abaixo alguns elementos para a abordagem dessa importante temática.

Os dados relativos aos acidentes de trânsito no Brasil não deixam espaço para dúvidas: os números apontam para um problema de segurança pública central na agenda contemporânea do país. Tomando como base o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), no período de 1990 a 2000, constatamos que, em onze anos, morreram 337.227 pessoas em acidentes no país, uma cifra que é superior à população de algumas capitais, ou ainda ao número de civis mortos em alguns dos conflitos armados em andamento no planeta. Diante desses números, mais do que perplexidade e desolação, devemos assumir a tarefa de investigar, compreender a apontar caminhos que possam servir de subsídios para políticas públicas orientadas para a redução da mortalidade e dos custos econômicos e sociais desses acidentes.

A redução da mortalidade por causas externas, um dos eixos orientadores do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP) e um dos pressupostos de muitas das ações e projetos conduzidos ou estimulados pelo Ministério da Saúde, tem, no enfrentamento (visando a sua diminuição) dos acidentes de trânsito, um dos seus maiores desafios. Salvar vidas, reduzir seqüelas, racionalizar recursos e ampliar os espaços de uma cultura de respeito à vida, eis alguns dos pontos que devem ser colocados no horizonte de qualquer intervenção na dramática questão social que os números dos acidentes de trânsito traduzem.

Em países como a Austrália e a Nova Zelândia, por exemplo, centros de pesquisas de importantes universidades, trabalhando de forma interdisciplinar, têm aportado dados e informações valiosas para a gestão dos serviços de saúde. Essa, infelizmente, ainda é uma prática pouco disseminada no Brasil. Assim sendo, no momento de elaboração de projetos de enfrentamento pelo SUS dos agravos por causas externas, as informações disponíveis (se bem que a base de dados tenha crescido e se complexificado nos últimos anos) sobre acidentes de trânsito ainda é pouca sistematizada. E, o que é pior, as análises dos dados disponibilizados ainda estão subordinadas ao impressionismo e/ou pautadas pelo sensacionalismo da imprensa.

O aprofundamento do conhecimento sobre os acidentes de moto tem um sentido estratégico para a gestão do SUS em todos os estados nordestinos e, em especial, no Rio Grande do Norte. Não apenas porque os custos que esses eventos causam ao sistema são significativos, mas também porque as incomensuráveis seqüelas desses acidentes produzem dores e sofrimentos que implicam em perdas na qualidade de vida para as vítimas, para as famílias e para a sociedade local.

De outro lado, há a necessidade que as informações de que se valem os gestores do SUS sejam alicerçadas em dados e análises que possibilitem a apreensão das singularidades locais e regionais.

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