terça-feira, 18 de maio de 2010

A sociologia de Gabriel Tarde na análise de César Maia

O César Maia é incansável. Atira para todos os lados, não é verdade? Como não gostar dos seus escritos? Da persona política, aí depende do posicionamento e são outros quinhentos... Mas, convenhamos!, lê-lo é sempre um bom remédio contra a mesmice do debate político. Confira abaixo texto publicado no seu "ex-blog".

MICRO-POLÍTICA E FORMAÇÃO DE OPINIÃO PÚBLICA!
Trechos da coluna de Cesar Maia na Folha de SP (15).

1. Gabriel Tarde (1843-1904), sociólogo francês, pai da microssociologia e da micropolítica, viu suas ideias serem atropeladas pelas escolas estruturalistas, como as de Marx, Durkheim, Weber, etc, que prevaleceram no século 20. Sua obra capital foi "Les Lois de l'Imitation" (1890), texto fundamental para entender a lógica da internet, 110 anos depois. Em "Leis da Imitação", Tarde analisa o processo de formação de opinião a partir das relações entre os indivíduos.

2. Nos termos de hoje: os meios de comunicação, sistemas de publicidade, etc, distribuem informações, que são filtradas pelos indivíduos. Para assumi-las como opinião sua, o indivíduo as testa com alguém em cuja opinião confia e então ele afirma ou não a informação como opinião e a repassa. Esse processo ocorre em pontos infinitos, que vão formando fluxos de opinamento. Alguns são linhas tênues, que desfalecem. Outros fluxos se ampliam e vão avançando com diversas intensidades viróticas.

3. Para Tarde, há três tipos de indivíduos: os "loucos", que iniciam fluxos de opinamento; os "tímidos", que são repassadores de fluxos, ou imitadores, na expressão de Tarde; os "tolos", ou "descrentes", que pouco repassam os fluxos recebidos. Por esse processo se formam as instituições e a opinião pública. Se um grupo social afirma ideias, outros podem repassá-las por "imitação".

4. Olhando para os meios de comunicação de hoje, que são os mais importantes distribuidores de informação, estes obedecem à lógica da audiência, pois esta define sua competitividade. Estrito senso, os meios de comunicação não formam opinião, mas reforçam opinião formada. Mas, como estão inseridos socialmente, por sensibilidade, ou pesquisas, dão conta de fluxos de opinamento em formação sustentada.

5. Quando propagam esses fluxos, aceleram enormemente a velocidade de transformação deles em opinião pública. Fluxos que constituiriam opinião pública em, por exemplo, dois anos, podem ser acelerados pela TV e formar opinião em duas horas, como ocorre algumas vezes.

6. A lógica da internet e de suas redes é essa, agregada à diversidade informacional de hoje. "Louco" é quem cria um fluxo e vê sua repetição às centenas e aos milhares nas redes, no YouTube... "Tímidos" são os mais importantes para os iniciadores e estimuladores de fluxos (políticos entre estes).7. São os "tímidos" que garantirão aos fluxos os múltiplos acessos e a aceleração na formação de opinião e o voto. Um processo muito mais complexo e difícil que na TV dos anos 70/80.

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