O texto abaixo, retirado da parte dos comentários a respeito do post "Aconteceu na Universidade...", foi escrito pela Professora Eliane Tânia (do Departamento de Antropologia da UFRN). Acho que é uma contribuição importante ao debate. Confira!
Não sei se o referido fato ocorreu aqui na nossa universidade. Mas, vejo outra dimensão que parece ter-lhe escapado: o machismo. É terrível e, especialmenete desde que passei a ocupar cargo administrativo, dou-me conta perfeitamente bem dele, o tempo todo, palpável e concreto, nas mínimas questões de rotina. Ninguém ouve uma mulher com o mesmo respeito, por mais titulação e experiência profissional que tenha, a menos que seja ou muito bem relacionada (leia-se: de uma das famílias influentes locais, portanto, bem amparada socialmente) ou uma daquelas que, após muitos anos de carreira, firmaram uma sólida reputação de "megera". Já viu algum homem ser chamado de megero? Não existe. Homem quando é agressivo ou competitivo não "está na tpm" ou coisa que o valha, está apenas sendo o que se espera dele, especialmente no trabalho. Mulher, não. Ou é uma víbora ou é carreirista ou é... sei lá, qualquer coisa do tipo. Definitivamente, aprendi muito neste último ano e meio e redescobri minha - quase esquecida - veia "feminista". Porque ser desrespeitada cansa.
Então, vejo um episódio como esse que você narrou como mais uma pérola do machismo no meio acadêmico, especialmente aqui na UFRN. Não que não exista em outro lugar. Mas, aqui chega a ser ridículo o modo como qualquer colega novato, recém-chegado na universidade, é mais ouvido e respeitado do que qualquer uma de nós, professoras, exceto nos casos que ressalvei acima. Se a isso ainda se acrescentam outros possíveis preconceitos (racismo, homofobia ou outro qualquer), pior ainda. Tenho até uma 'teoria': as grandes figuras femininas da UFRN têm construído suas couraças pra sobreviver e se afirmar na universidade, e algumas inclusive pesaram a mão nesse processo, do meu ponto de vista. Portanto, longe de mim dizer que as mulheres são um doce ou estão sempre certas - mas, por que teriam que ser ou estar? A questão é: qual a margem de escolha que a gente realmente tem se quiser sobreviver num meio onde cenas como essas são possíveis e aceitas como fato trivial entre pessoas supostamente esclarecidas e educadas? Dá pra sair de casa sem a couraça sabendo que vão lhe passar por cima na primeira oportunidade e que qualquer denúncia desse comportamento abusivo será tratado com deboche, como "frescura" ou mais uma manifestação da sua "TPM"?
Pois vale para o machismo o mesmo que vale para o racismo: só quem sofre é que sabe.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
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Um comentário:
Agradeço, Edmilson, por haver dado ainda maior visibilidade ao meu comentário. Se servir para provocar reflexão em torno do assunto já terá valido a pena.
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