terça-feira, 22 de junho de 2010
Tragédia no Nordeste
Quebrangulo. Município da Zona da Mata foi totalmente destruído pelas águas do Rio Paraíba
Em um belo ensaio, que eu li em algum lugar e não lembro mais qual foi, o sempre polêmico Mike Davis, autor, dentre outros, do fabuloso "Cidade de Quartzo", comenta que nós, humanos, gostamos de nos imaginar no controle, mas, aqui na terra, somos apenas "turistas". Todos! E, de vez quando, acordamos para a realidade. Não raro, construímos elaborações a respeito de uma "vingança da natureza".
Por que estou relembrando isso? Porque estou profundamente impactado pela tragédia que atinge alguns estados aqui do Nordeste. Em especial, Pernambuco e Alagoas. As tvs não param de nos apresentar as faces do desastre provocado pelas chuvas.
Aproveito para colocar, mais abaixo, matéria publicada na edição on line do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO sobre a situação nos dois estados.
Nordeste tem mais de mil desaparecidos
Temporais rompem barragem, arrasam mais de 20 cidades e matam 38 em Alagoas e Pernambuco; Lula mobiliza Forças Armadas
22 de junho de 2010 0h 00
Dois dias após a chuva que devastou 21 cidades, Alagoas procura mais de mil desaparecidos. O presidente Lula declarou que a situação exige "esforço de guerra" e mobilizou as Forças Armadas. Alguns locais foram destruídos pela força das águas das chuvas e da correnteza dos rios. No limite com Pernambuco, houve o rompimento de uma represa. Nos dois Estados, o número de mortos chega a 38 e a previsão para hoje é de mais chuva.
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O governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), decretou estado de calamidade pública no Estado, após algumas cidades registrarem as maiores chuvas em quatro décadas. "É uma verdadeira tragédia", completou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). O número de mortes subiu - 26 em Alagoas e 12 em Pernambuco - e há pelo menos 97 mil desabrigados - 80 mil alagoanos. Há 25 cidades em estado de calamidade pública - 10 em Pernambuco.
Na Zona da Mata de Alagoas, União dos Palmares, Branquinha, Murici, São José da Laje e Santana do Mundaú foram invadidas pela enxurrada, provocada pelo rompimento da Barragem de Bom Conselho (PE), que fez transbordar o Rio Mundaú. Várias pessoas foram arrastadas pelas águas - 500 pessoas estão desaparecidas só em União dos Palmares. Em Branquinha, nenhum prédio público ficou de pé.
Na Grande Maceió, a cidade de Rio Largo, cortada pelo Mundaú, foi uma das mais atingidas. Três mil casas foram completamente destruídas pela enchente. Há 30 desaparecidos e 15 mil desabrigados. Além disso, a inundação fechou dois sistemas de captação e deixou nove cidades alagoanas sem abastecimento. O conserto vai demorar 15 dias.
"Já fugimos três vezes da correnteza do Mundaú, algumas vezes com água dando na canela, mas nunca vimos uma enxurrada tão grande como essa", contou a dona de casa Maria do Carmo dos Santos, de 34 anos, que perdeu tudo o que tinha. "Só deu tempo de pegar os documentos, um saco com roupas e os meninos", acrescentou Maria do Carmo, que tem cinco filhos, todos menores. Ela vivia na Ilha Angelita, no delta do Rio Mundaú. Ali, das 2 mil casas só sobraram escombros de pé.
"Há mais de mil desaparecidos no Estado", afirmou o secretário da Coordenação Estadual da Defesa Civil de Alagoas, Deníldson Queiroz. À noite, o governador confirmou esse número.
Pernambuco
Os rastros da destruição do fim de semana chegaram ontem à Praia de Boa Viagem, no Recife. Trazidos pelos rios que deságuam no oceano, móveis, sapatos, madeira e lixo foram jogados na areia da famosa praia urbana.
Do total de municípios afetados, dez estão em situação de calamidade pública e outros 13, em estado de emergência. Em Barreiros, ao sul da Zona da Mata, mesmo com a trégua da chuva, as águas ainda não baixaram totalmente e muitos moradores se encontram isolados ou em cima de telhados. A cidade estava sem energia elétrica e sem comunicação telefônica.
Palmares, também na Zona da Mata, ficou sem acesso. Duas pontes caíram e a BR-101 foi interditada na altura da cidade. No balanço geral, Pernambuco tem 1,4 mil km de estradas e 69 pontes destruídas, em 49 municípios afetados.
COLABOROU VANNILDO MENDES
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