sexta-feira, 9 de abril de 2010

O veneno na análise política

Augusto Max, nosso Guru, fez um comentário sobre "O PT nas eleições de 2010: a análise de César Maia" que eu faço questão de destacar aqui.

César Maia, o veneno de um Paulo Francis com a objetividade de um Golbery! Como alguém pode não gostar dele?

Há realmente uma argumentação interessante. O que está salientado, basicamente no 5o ponto, é que nessas eleições o partido dos trabalhadores está se boicotando nas eleições estaduais em prol da presidencial (tem até um diretório em miniatura defendendo Iberê para o governo). Difícil discordar da debilidade desta atitude, mesmo que vá garantir os tão cobiçados 'fiscais financeiros e previdenciários'. Isso dá água na boca de qualquer um, né?

Mas a idéia em que César Maia se baseia, de Estado-total ou partido-patrimonialismo, me parece equivocada. Equivocada-e-meio. Tragam Foucault, ou pensem as culturas politicas como hibridizadas, ou mesmo num projeto hegemônico, arrumem alguma forma de sair do esquema política como jogo de tabuleiro! Achar que o monolito-PT está se apossando da sociedade civil e do Estado brasileiro é bem distante de tudo que temos observado. Não vi em nenhum momento um "governo do PT" na presidência, aliás, para qualquer analista está muito difícil enxergar o que diabos é o PT hoje. Sarney e Renan Calheiros tem muito mais voz no governo - e talvez no próprio partido - que a maioria do alto escalão petista - e incluo aí luminares como Mercadante e Suplicy. E, sobre a sociedade civil, o quadro é bem heterogêneo - em algums campos sociais realmente não dá para diferenciar PT e sociedade, em outros a influencia do partido é irrelevante. Sem falar, evidentemente, nas variações regionais.

Enfim, quem é esse PT? Que quer, que pensa, que age, que faz isso tudo?! César Maia fala, com maior precisão, dos "gerentes do Estado Total", mas isso é apenas inveja de quem tá com a chave do cofre ou chega a ser uma análise rigorosa do principado? Nada surpreende que o alto escalão tem interesse em continuar mandando nas coisas, mas o discurso de continuidade tem fortes embasamentos muito mais relevantes que a vontade de meia dúzia de abençoados em não perder o controle da caneta.

Eu não sei se o que está acontecendo é uma metamorfose do partido. Está mais para sublimação. Acho que até a militância firmou um acordo tácito no qual o PT não é mais relevante. Relevante se tornou discurso de prosseguimento de um projeto que a enorme maioria das pessoas não tem a mínima idéia do que seja. Engraçada ironia, se lembrarmos dos antigos esquemas de transição por sublimação.

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