segunda-feira, 19 de abril de 2010

Potencialidades e limites da candidatura Dilma, por César Maia

Vale a pena conferir a avaliação, sempre muito interessada, claro!, do ex-Prefeito César Maia (DEM-RJ).



LULA FEZ O QUE PODIA FAZER. AGORA É COM DILMA!
César Maia


1. Este Ex-Blog, em fevereiro de 2009, fez uma análise do personagem Dilma Rousseff, lembrando que a transferência de votos entre políticos, de personagens muito diferentes, é muito difícil. Deu exemplos de candidatos do próprio PT em nível regional, que encarnando personagens distintos, terminaram por ter sua votação em locais muito diferentes. Não foi difícil a Brizola, em 1989, transferir todos os seus votos no RJ e RS a Lula: encarnavam personagens semelhantes, pelo estilo e base social de votos e dicotômicos a Collor.

2. No caso de Lula e Dilma, trata-se de personagens antípodas. Aliás, o personagem Dilma -séria, tecnocrática, vertical, inflexível- foi criado pelo próprio Lula pós-mensalão. Jacques Séguelá, assessor de imagem de Mitterrand, dizia: "Política e Teatro são semelhantes. Mas há uma grande diferença. No Teatro o ator muda de personagem e continua a provocar emoções. Na Política... não!"

3. Elas por elas, as pesquisas mostram que 20% dos eleitores votam em qualquer candidato de Lula, que 20% dos eleitores não votam em nenhum, 20% não estão nem aí e serão a abstenção/brancos/nulos na eleição e 60% dizem que podem ou não votar, dependendo do candidato. É nesse espaço que entra a dúvida sobre a capacidade de transferência de Lula. Mas nesse espaço, 2/3 já se definiram por Serra e Marina. Sobram outros 20%.

4. Lula, do ponto de vista da psicologia social, é um personagem feminino, próximo, amigo, "acarinhável", "vitimizável". Dilma é um personagem, do ponto de vista da psicologia social, masculino, distante, vertical. Desta forma, a partir dos eleitores que votam em qualquer um que Lula indique, ou 20%, o processo de transferência de votos começa a ser complexo. Aqueles, que por alguma razão rejeitam Serra, são objeto de atração mais fácil. E assim por diante se vai deslocando o eleitor para Dilma, até atingir seu teto de recepção dos votos de Lula. E aí..., é com ela.
5. As pesquisas em 2010 mostram Dilma patinando nesses 30%, um pouquinho mais, ou menos. Mas mostram também que ela está sempre mais abaixo entre as mulheres. No último DataFolha ela cai da média de 28% (todos) para 22% entre as mulheres. De nada adianta que um publicitário queira corrigir isso. Por um lado, não dá mais tempo. Por outro, cai na máxima de Séguelá: se descaracterizaria. Talvez Patrus fosse um personagem com perfil mais próximo a Lula. Agora é tarde... Inês é morta!

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Edmilson,

há um erro grosseiro, não sei se intencional (pouco importa), na análise do Cesar Maia.
Diz ele:
"Elas por elas, as pesquisas mostram que 20% dos eleitores votam em qualquer candidato de Lula, que 20% dos eleitores não votam em nenhum, 20% não estão nem aí e serão a abstenção/brancos/nulos na eleição e 60% dizem que podem ou não votar, dependendo do candidato. É nesse espaço que entra a dúvida sobre a capacidade de transferência de Lula. Mas nesse espaço, 2/3 já se definiram por Serra e Marina. Sobram outros 20%".
É importante tentar pensar alguns pontos:
1. O Patrick Champagne diz que o quantum de definição só se torna, de fato, expressivo quando a eleição se aproxima. Mesmo sabendo que muita gente já tem candidato, acredito que parcela desses 2/3, com certeza, poderá migrar.
2. Quando ele fala que 20% das pessoas não estão nem aí. Ele pode até ter razão. No entanto, elas não estão nem aí hoje, pois a "política não aconteceu". Ela pode já estar rolando para quem tem tempo de ler jornal, mas para muita gente a eleição só ocorre quando começa a receber o santinho na rua e/ou ver a propaganda política na TV.
É impossível medir, hoje, a capacidade de transferência de Lula.
Bourdieu é quem tem razão. As pesquisas eleitorais, além de forjar uma opinião pública inexistente, ela tem a capacidade de universalizar um contexto especificamente forjado.