- O senhor é do Ceará? - perguntou-me o motorista do taxi que me levaria do hotel ao Aeroporto de Brasília, na sexta-feira da semana passada.
Acostumado com esse tipo de inquirição, respondi de pronto:
- Sou vizinho, mas não sou do Ceará, não. Sou do Rio Grande do Norte. Nasci na fronteira com o Ceará. O senhor errou por pouco...
- Ah! Desculpe-me, mas é que o senhor tem estilo de cearense.
- É?
Fiquei curioso, mas, como estava cansado, não estiquei a conversa. Poderia ter obtido maiores detalhes sobre o tal “estilo cearense”. Mas, devo confessar, embora rechace todos os ismos (dentre eles, o regionalismo) que alicerçam identidades étnicas, territoriais e assemelhadas, não desgostei dessa classificação. E fiquei devaneando não exatamente sobre o Ceará, mas, sim, sobre a sua capital, Fortaleza. A cidade, como sabem todos quantos tenham pesquisado um pouquinho sobre a história urbana brasileira, foi pioneira na implementação de um projeto de redefinição do seu traçado urbano. E isso ocorreu na segunda metade do século XIX!
Fortaleza sonhou em ser Paris. Não é por acaso que José de Alencar, em uma bela crônica, lamenta a ausência, no Rio de Janeiro de então, da salutar prática francesa do passeio desinteressado no espaço urbano. O sonho de Fortaleza acabou em pesadelo quando as multidões de flagelados da seca, embalados pela idéia subversiva de que alguma autoridade haveria de fornecer-lhes refrigérios contra uma situação antes vivida como uma condenação dos céus, invadiram a moderna capital dos cearenses, duas décadas antes do alvorecer do século XX.
O resto é história. História urbana de uma cidade que sempre me encantou. Até porque, quem viveu no oeste do Rio Grande do Norte, nas décadas de 1960 e 1970, sabe que as nossas ligações econômicas e culturais eram muito mais fortes com a capital cearense do que com Natal. Ouvíamos as rádios de Limoeiro do Norte, víamos a TV Verdes Mares e líamos “O Povo” e o “Diário do Nordeste”.
Além disso, os nossos parentes e vizinhos emigravam para Fortaleza. Tanto assim que, na segunda metade da década de 1970, fiz uma viagem, sem mala e nem cuia, pelo Ceará, indo de Fortaleza até lugares como Tabuleiro e Limoeiro de carona, e, nessa aventura, visitei um lugar em Fortaleza chamado Morro do Ouro. Próximo da área central da capital alencarina, essa era uma comunidade dominada por norte-riogandenses. Fui muito bem recebido e ainda hoje trago na memória o cheiro das comidas e o teor das conversas que ali travei.
Então, acho que está justificado o meu estilo cearense de ser...
sábado, 20 de novembro de 2010
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