sexta-feira, 29 de maio de 2009
As redes sociais do crime organizado no Brasil
Confira, na Revista Brasileira de Ciências Sociais, texto de minha autoria intitulado "As redes sociais do crime organizado: a perspectiva analítica da NSE". Acesse-o aqui.
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crime organizado,
Mark Granovetter,
Nova Sociologia Econômica
E a discussão sobre o clima no Brasil?
Reproduzo abaixo artigo de autoria do jornalista Washington Novaes. Publicado no Estadão de hoje, o artigo trata de uma questão crucial: a insignificância do debate (e das ações)do governo brasileiro em relação às mudanças climáticas. Vale a pena conferir!
Quando se discutirá o clima por aqui?
Washington Novaes
Quem houver passado os olhos pelo noticiário dos últimos dias terá lido sobre a série de reuniões internacionais em que se discutem, com números dramáticos e declarações candentes, as mudanças climáticas no mundo. Certamente também terá lido e visto o que está acontecendo de "eventos extremos" no Brasil, do Norte e Nordeste ao Sul do País. E provavelmente terá concluído que, se o panorama é esse, o Brasil está devendo muito em matéria de uma política adequada para essa grande questão - ainda que esta ou aquela personalidade diga que o governo brasileiro já aceita (mas não há declaração oficial e categórica) discutir compromissos obrigatórios de redução de emissões, pois estamos entre os maiores emissores do planeta.
Pode-se considerar a atenuante lembrada pelo diplomata Luiz Alberto Figueiredo - que tem sido negociador brasileiro na Convenção do Clima - de que "nem todas as cartas estão na mesa" e só o estarão em dezembro, na reunião de Copenhague (Agência Brasil, 20/5), última esperança de um acordo que substitua o Protocolo de Kyoto, que chega ao seu término. Mas nos próximos dias começa em Bonn, na Alemanha, a penúltima reunião preparatória da negociação final. E ainda continuamos perdidos em discussões sobre nossa matriz energética, planejando 68 usinas termoelétricas movidas a combustíveis fósseis (inclusive carvão mineral), altamente poluidoras, deslembrando nosso extraordinário potencial em energias "limpas" e renováveis. Também não nos lembramos do que foi dito há poucos dias ao jornalista Cláudio Ângelo pelo respeitado economista indiano Vinod Thomas: o Brasil pode "dar um salto" no desenvolvimento se aproveitar gastos públicos para investir em alguns setores, entre eles "preservação ambiental"; nossa situação em matéria de recursos naturais (terra, recursos hídricos, recursos florestais) é absolutamente privilegiada no mundo, disse ele. Mas seguimos fazendo de conta que não é importante.
Enquanto isso, sucedem-se as discussões no mais alto nível mundial. O primeiro "rascunho" da ONU para Copenhague chega a cogitar da eliminação das emissões pelos EUA e pelo Japão até 2050 (Bloomberg, 21/5), enquanto propõe reduções de 25% para China, Brasil e Índia (é um dos textos segundo o qual o Brasil "aceita negociar"; a China, não). Mas o documento trata de muitas outras questões: créditos florestais, comércio de emissões, tecnologia de captura e armazenamento de carbono, recuperação de áreas úmidas, manejo do solo na agricultura, setores com "emissões móveis" (aviões e navios), energia nuclear. Os países industrializados, nesse documento, deveriam contemplar a hipótese de baixar suas emissões em 45% (sobre os níveis de 1990) até 2022. Um dos maiores obstáculos está na China, que garante chegar a uma redução só com programas de eficiência energética, que reduziriam em 4% a cada ano seu consumo por unidade do PIB, embora 80% de sua energia provenha de usinas a carvão (que dobraram em uma década).
"Estamos num momento dramático da história humana", afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. "Nosso planeta está se aquecendo a níveis perigosos." E "só temos 200 dias até Copenhague para resolver". Talvez premido pela circunstância, o Comitê de Comércio e Energia do Congresso norte-americano decidiu apoiar as propostas do presidente Barack Obama para o setor: corte de 17% nas emissões (sobre o nível de 2005) até 2020 e de 83% até 2050, além da elevação das energias renováveis (eólica e solar) para 15% do total. Mas a votação no plenário só ocorrerá em agosto e os republicanos mantêm forte oposição, com apoio de vários setores econômicos. Obama também anunciou metas para redução de 30% no uso de combustíveis, que aumentarão a eficiência dos veículos em 40% até 2016. Segundo o presidente, isso equivalerá a retirar 177 milhões de carros das ruas e estradas em seis anos e meio.
Mais complicado para o Brasil é o que informa a correspondente Patrícia Campos Mello (Estado, 19/5): o Congresso dos EUA estuda criar uma "tarifa verde" sobre produtos importados de países que não limitem suas emissões de poluentes. Talvez haja controvérsia no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC), embora esta admita medidas que protejam recursos naturais. Mas se for adiante poderá atingir nossas áreas de carnes (emissão de metano), grãos (desmatamento e uso do solo), madeiras e outras.
Também preocupante para o Brasil é o alerta de relatório da ONU sobre o "crescimento galopante de favelas" no mundo e as vulnerabilidades diante de "eventos extremos" decorrentes das mudanças do clima. Essas áreas, onde moram 900 milhões de pessoas no mundo (mais 25 milhões por ano), são uma parte cada vez mais destacada nas emissões (66% do total dos gases é emitido nas cidades) e nos grandes desastres, principalmente na Ásia.
Não são as únicas ameaças. O Massachusetts Institute of Technology (MIT) manifestou (Estado, 20/5) preocupação com seus cálculos de que o aumento da temperatura no planeta pode chegar a 5,2 graus Celsius até 2100. Outros cientistas endossam as preocupações com o crescimento das emissões de metano no Ártico.
Com tantas ameaças, afinal o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas decidiu mapear a vulnerabilidade das dez maiores cidades brasileiras, "para direcionar políticas públicas de adaptação às mudanças" (disseminação de doenças, influência sobre recursos hídricos, agravamento de inundações e secas, mudanças em zonas costeiras). Para que se veja nosso retardamento nessa matéria, a resolução de mapas que permitam avaliar elevações no nível do mar é hoje de 50 centímetros, quando precisaria captar a partir de 1 a 2 centímetros.
É preciso muito mais. O governo federal continua devendo à comunidade científica e à sociedade uma discussão franca e corajosa sobre nossa política - ou sua falta - na área do clima.
Washington Novaes é jornalista
E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
Quando se discutirá o clima por aqui?
Washington Novaes
Quem houver passado os olhos pelo noticiário dos últimos dias terá lido sobre a série de reuniões internacionais em que se discutem, com números dramáticos e declarações candentes, as mudanças climáticas no mundo. Certamente também terá lido e visto o que está acontecendo de "eventos extremos" no Brasil, do Norte e Nordeste ao Sul do País. E provavelmente terá concluído que, se o panorama é esse, o Brasil está devendo muito em matéria de uma política adequada para essa grande questão - ainda que esta ou aquela personalidade diga que o governo brasileiro já aceita (mas não há declaração oficial e categórica) discutir compromissos obrigatórios de redução de emissões, pois estamos entre os maiores emissores do planeta.
Pode-se considerar a atenuante lembrada pelo diplomata Luiz Alberto Figueiredo - que tem sido negociador brasileiro na Convenção do Clima - de que "nem todas as cartas estão na mesa" e só o estarão em dezembro, na reunião de Copenhague (Agência Brasil, 20/5), última esperança de um acordo que substitua o Protocolo de Kyoto, que chega ao seu término. Mas nos próximos dias começa em Bonn, na Alemanha, a penúltima reunião preparatória da negociação final. E ainda continuamos perdidos em discussões sobre nossa matriz energética, planejando 68 usinas termoelétricas movidas a combustíveis fósseis (inclusive carvão mineral), altamente poluidoras, deslembrando nosso extraordinário potencial em energias "limpas" e renováveis. Também não nos lembramos do que foi dito há poucos dias ao jornalista Cláudio Ângelo pelo respeitado economista indiano Vinod Thomas: o Brasil pode "dar um salto" no desenvolvimento se aproveitar gastos públicos para investir em alguns setores, entre eles "preservação ambiental"; nossa situação em matéria de recursos naturais (terra, recursos hídricos, recursos florestais) é absolutamente privilegiada no mundo, disse ele. Mas seguimos fazendo de conta que não é importante.
Enquanto isso, sucedem-se as discussões no mais alto nível mundial. O primeiro "rascunho" da ONU para Copenhague chega a cogitar da eliminação das emissões pelos EUA e pelo Japão até 2050 (Bloomberg, 21/5), enquanto propõe reduções de 25% para China, Brasil e Índia (é um dos textos segundo o qual o Brasil "aceita negociar"; a China, não). Mas o documento trata de muitas outras questões: créditos florestais, comércio de emissões, tecnologia de captura e armazenamento de carbono, recuperação de áreas úmidas, manejo do solo na agricultura, setores com "emissões móveis" (aviões e navios), energia nuclear. Os países industrializados, nesse documento, deveriam contemplar a hipótese de baixar suas emissões em 45% (sobre os níveis de 1990) até 2022. Um dos maiores obstáculos está na China, que garante chegar a uma redução só com programas de eficiência energética, que reduziriam em 4% a cada ano seu consumo por unidade do PIB, embora 80% de sua energia provenha de usinas a carvão (que dobraram em uma década).
"Estamos num momento dramático da história humana", afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. "Nosso planeta está se aquecendo a níveis perigosos." E "só temos 200 dias até Copenhague para resolver". Talvez premido pela circunstância, o Comitê de Comércio e Energia do Congresso norte-americano decidiu apoiar as propostas do presidente Barack Obama para o setor: corte de 17% nas emissões (sobre o nível de 2005) até 2020 e de 83% até 2050, além da elevação das energias renováveis (eólica e solar) para 15% do total. Mas a votação no plenário só ocorrerá em agosto e os republicanos mantêm forte oposição, com apoio de vários setores econômicos. Obama também anunciou metas para redução de 30% no uso de combustíveis, que aumentarão a eficiência dos veículos em 40% até 2016. Segundo o presidente, isso equivalerá a retirar 177 milhões de carros das ruas e estradas em seis anos e meio.
Mais complicado para o Brasil é o que informa a correspondente Patrícia Campos Mello (Estado, 19/5): o Congresso dos EUA estuda criar uma "tarifa verde" sobre produtos importados de países que não limitem suas emissões de poluentes. Talvez haja controvérsia no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC), embora esta admita medidas que protejam recursos naturais. Mas se for adiante poderá atingir nossas áreas de carnes (emissão de metano), grãos (desmatamento e uso do solo), madeiras e outras.
Também preocupante para o Brasil é o alerta de relatório da ONU sobre o "crescimento galopante de favelas" no mundo e as vulnerabilidades diante de "eventos extremos" decorrentes das mudanças do clima. Essas áreas, onde moram 900 milhões de pessoas no mundo (mais 25 milhões por ano), são uma parte cada vez mais destacada nas emissões (66% do total dos gases é emitido nas cidades) e nos grandes desastres, principalmente na Ásia.
Não são as únicas ameaças. O Massachusetts Institute of Technology (MIT) manifestou (Estado, 20/5) preocupação com seus cálculos de que o aumento da temperatura no planeta pode chegar a 5,2 graus Celsius até 2100. Outros cientistas endossam as preocupações com o crescimento das emissões de metano no Ártico.
Com tantas ameaças, afinal o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas decidiu mapear a vulnerabilidade das dez maiores cidades brasileiras, "para direcionar políticas públicas de adaptação às mudanças" (disseminação de doenças, influência sobre recursos hídricos, agravamento de inundações e secas, mudanças em zonas costeiras). Para que se veja nosso retardamento nessa matéria, a resolução de mapas que permitam avaliar elevações no nível do mar é hoje de 50 centímetros, quando precisaria captar a partir de 1 a 2 centímetros.
É preciso muito mais. O governo federal continua devendo à comunidade científica e à sociedade uma discussão franca e corajosa sobre nossa política - ou sua falta - na área do clima.
Washington Novaes é jornalista
E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
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quinta-feira, 28 de maio de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
A morte da vovó blogueira
Não, não foi a "vovó socialista" quem morreu. O falecimento anunciado no título é o de Maria Amélia Lopez Soliño, mais conhecida como a "vovó blogueira". Ela tinha 95 anos e, até o dia da sua morte, ocorrida no último dia 20, postava suas apreensões deste louco e maravilhoso mundo em seu interessante blog. Visite o blog antes que ele saia do ar. Acesse-o aqui.
Todos os dados da pesquisa que indica subida de Dilma
A pesquisa encomendada pelo PT e realizada pelo Instituto Vox Populi, aquela que aponta a subida da ministra Dilma na preferência do eleitorado, tem um conjunto de outros dados interessantes. Vale a pena analisá-la mais detidamente. Confira todos os dados aqui.
A prostituição na agenda
Não raro, o debate sobre a prostituição (ou, sendo mais preciso, sobre o trabalho e os trabalhadores e trabalhadoras sexuais) resvala para avaliações preconcebidas e moralistas. No campo das ciências sociais não são muitos os que se dispõem a enfrentar o consenso moralista. Há alguns anos, em um artigo publicado na revista Política & Sociedade, tratei do assunto (acesse aqui o artigo). E leia, abaixo, matéria publicada na edição de hoje do jornal espanhol El País.
El Supremo dice que la prostitución no implica condiciones laborales indignas
Una sentencia tercia en el debate sobre si cabe el trabajo sexual por cuenta ajena
MÓNICA CEBERIO BELAZA - Madrid - 26/05/2009
¿Es posible explotar sexualmente a una mujer y a la vez darle unas condiciones de trabajo "normales"? ¿Se puede hablar de relación laboral en estos casos? Las leyes sobre trata de mujeres y prostitución no dan una respuesta clara y las sentencias de los jueces son a veces tan confusas como la propia legislación. El Tribunal Supremo hizo pública ayer una resolución que condena a tres personas por tráfico ilegal de inmigrantes con fines de explotación sexual pero les absuelve de un delito contra los derechos de los trabajadores porque las condiciones de las mujeres no eran "onerosas".
El caso es el siguiente. Domingo Fernández y Gilda Borges regentaban dos clubes de alterne y prostitución en Vigo, el Mamba Negra y el Skorpio. Tenían, además, una participación en el Sheraton, en Verín, gestionado por Manuel Atanes. Traían chicas de Brasil para que trabajaran como prostitutas en sus locales. No había engaño en cuanto a la actividad que iban a desempeñar. Les pagaban el billete y las aleccionaban para pasar la frontera como turistas. Una vez en España, les imponían las normas de funcionamiento de los locales y fijaban los horarios y los precios de las copas y los servicios sexuales.
Los clientes pagaban a los camareros. Al final de la noche, se entregaba a las chicas su parte correspondiente, cuando la había. Durante los primeros meses, los que tardaban en pagar la deuda del viaje, las mujeres no cobraban nada, y la cantidad que debían podía acrecentarse por el sistema de multas instaurado por los dueños, que imponían sanciones económicas por llegar tarde al trabajo, por hablar alto, por dar el número de teléfono a los clientes y por salir sin permiso. Además, las prostitutas tenían la obligación de residir en los locales y abonar un precio por el alojamiento y la comida.
La Audiencia Provincial de Pontevedra los condenó a seis años de cárcel por tráfico ilegal de personas con fines de explotación sexual y a dos y medio por un delito contra los derechos de los trabajadores. El Supremo ahora ha ratificado la primera pena pero les ha absuelto del segundo delito. La sentencia dice que sus condiciones de trabajo, las multas por llegar tarde y por alzar la voz "están normalmente sancionadas" en el mundo de la hostelería y que las otras condiciones "resultan normales".
El Alto Tribunal afirma que "al margen de razones de moralidad", la prostitución por cuenta ajena puede "ser considerada como una actividad económica que, si se presta en condiciones aceptables por el Estatuto de los Trabajadores, no puede ser incardinada en el delito 312 del Código Penal, que castiga a los que ofrecen condiciones de trabajo engañosas o falsas o emplean a ciudadanos extranjeros en condiciones que perjudiquen, supriman o restrinjan los derechos que tuviesen reconocidos por disposiciones legales, convenios colectivos o contrato individual".
¿Está el Supremo considerando que puede haber una relación laboral, aunque sea atípica, en el ejercicio de la prostitución por cuenta ajena? No puede hacerlo de forma expresa porque el Código Penal tipifica como delito el proxenetismo incluso cuando la mujer lo consiente. Pero los magistrados hacen una declaración de principios cuando afirman que "la cuestión de la prostitución voluntaria en condiciones que no supongan coacción, engaño, violencia o sometimiento, bien por cuenta propia o dependiendo de un tercero que establece unas condiciones que no conculquen los derechos de los trabajadores, no puede solventarse con enfoques morales o concepciones ético-sociológicas, ya que afectan a aspectos de la voluntad [se entiende que la voluntad de las mujeres] que no pueden ser coartados por el derecho sin mayores matizaciones".
El Supremo dice que la prostitución no implica condiciones laborales indignas
Una sentencia tercia en el debate sobre si cabe el trabajo sexual por cuenta ajena
MÓNICA CEBERIO BELAZA - Madrid - 26/05/2009
¿Es posible explotar sexualmente a una mujer y a la vez darle unas condiciones de trabajo "normales"? ¿Se puede hablar de relación laboral en estos casos? Las leyes sobre trata de mujeres y prostitución no dan una respuesta clara y las sentencias de los jueces son a veces tan confusas como la propia legislación. El Tribunal Supremo hizo pública ayer una resolución que condena a tres personas por tráfico ilegal de inmigrantes con fines de explotación sexual pero les absuelve de un delito contra los derechos de los trabajadores porque las condiciones de las mujeres no eran "onerosas".
El caso es el siguiente. Domingo Fernández y Gilda Borges regentaban dos clubes de alterne y prostitución en Vigo, el Mamba Negra y el Skorpio. Tenían, además, una participación en el Sheraton, en Verín, gestionado por Manuel Atanes. Traían chicas de Brasil para que trabajaran como prostitutas en sus locales. No había engaño en cuanto a la actividad que iban a desempeñar. Les pagaban el billete y las aleccionaban para pasar la frontera como turistas. Una vez en España, les imponían las normas de funcionamiento de los locales y fijaban los horarios y los precios de las copas y los servicios sexuales.
Los clientes pagaban a los camareros. Al final de la noche, se entregaba a las chicas su parte correspondiente, cuando la había. Durante los primeros meses, los que tardaban en pagar la deuda del viaje, las mujeres no cobraban nada, y la cantidad que debían podía acrecentarse por el sistema de multas instaurado por los dueños, que imponían sanciones económicas por llegar tarde al trabajo, por hablar alto, por dar el número de teléfono a los clientes y por salir sin permiso. Además, las prostitutas tenían la obligación de residir en los locales y abonar un precio por el alojamiento y la comida.
La Audiencia Provincial de Pontevedra los condenó a seis años de cárcel por tráfico ilegal de personas con fines de explotación sexual y a dos y medio por un delito contra los derechos de los trabajadores. El Supremo ahora ha ratificado la primera pena pero les ha absuelto del segundo delito. La sentencia dice que sus condiciones de trabajo, las multas por llegar tarde y por alzar la voz "están normalmente sancionadas" en el mundo de la hostelería y que las otras condiciones "resultan normales".
El Alto Tribunal afirma que "al margen de razones de moralidad", la prostitución por cuenta ajena puede "ser considerada como una actividad económica que, si se presta en condiciones aceptables por el Estatuto de los Trabajadores, no puede ser incardinada en el delito 312 del Código Penal, que castiga a los que ofrecen condiciones de trabajo engañosas o falsas o emplean a ciudadanos extranjeros en condiciones que perjudiquen, supriman o restrinjan los derechos que tuviesen reconocidos por disposiciones legales, convenios colectivos o contrato individual".
¿Está el Supremo considerando que puede haber una relación laboral, aunque sea atípica, en el ejercicio de la prostitución por cuenta ajena? No puede hacerlo de forma expresa porque el Código Penal tipifica como delito el proxenetismo incluso cuando la mujer lo consiente. Pero los magistrados hacen una declaración de principios cuando afirman que "la cuestión de la prostitución voluntaria en condiciones que no supongan coacción, engaño, violencia o sometimiento, bien por cuenta propia o dependiendo de un tercero que establece unas condiciones que no conculquen los derechos de los trabajadores, no puede solventarse con enfoques morales o concepciones ético-sociológicas, ya que afectan a aspectos de la voluntad [se entiende que la voluntad de las mujeres] que no pueden ser coartados por el derecho sin mayores matizaciones".
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Uma viagem ao mercado de armas
Leia mais abaixo matéria publicada no El País a respeito do impacto devastador do comércio de armas na vida política e social desta sofrida latino-américa.
Las armas ilegales desangran Latinoamérica
Más de 140.000 personas mueren tiroteadas cada año en la región - Los 'narcos' han reemplazado a las guerrillas en el negocio - Nicaragua es un gran punto de entrada
FERNANDO GUALDONI / JAVIER LAFUENTE - Madrid - 25/05/2009
Los recientes juicios contra dos de los más conocidos traficantes de armas, el ruso Víktor Bout -alias El Mercader de la Muerte- en Tailandia (pendiente de extradición a EE UU para agosto) y el sirio Monser al Kassar (condenado en febrero a 30 años de prisión en Nueva York), han revelado lo sencillo que es meter armas ilegalmente en América Latina, el papel crucial que desempeña Centroamérica, en especial Nicaragua, en este negocio, y la amenaza que supone que un país como Venezuela fabrique sus propios fusiles y municiones.
Para detener a Bout y Al Kassar, la agencia antidroga estadounidense alegó que ambos intentaron vender lanzamisiles portátiles tierra-aire rusos SAM a las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC). La ruta prevista para ambas operaciones era similar: las armas partían desde Rumania o Bulgaria y entraban por Nicaragua. Desde el país centroamericano se iban a arrojar con paracaídas sobre territorio colombiano.
"No hay pruebas de que el Gobierno de Ortega sea cómplice del tráfico, pero sin duda el país tiene enormes lagunas legales que facilitan el tráfico ilegal", dice Roberto Orozco, experto nicaragüense del Instituto de Estudios Estratégicos y Políticas Públicas. "Es verdad que no se puede afirmar que Managua esté directamente involucrada, pero hay que recordar que Ortega ha dado cobijo a narcoterroristas de las FARC", replica el colombiano Alfredo Rangel, director de la Fundación Seguridad y Democracia en Bogotá.
Los puertos nicaragüenses están entre los mayores coladeros de armas en la región, según fuentes de Defensa de EE UU. "En especial el puerto de Corinto", apunta Orozco. "Es el único de aguas profundas y está controlado por el Ejército y la policía, que hace la vista gorda. No hay estadísticas fiables sobre la cantidad de barcos que atracan allí, pero no hay que pensar en veinte o treinta, con dos o tres bien cargados es suficiente para abastecer al mercado de miles de armas", añade.
Hay más de 80 millones de armas ilegales en América Latina, según el Centro para la Información de Defensa (CID) de Washington. Cualquier criminal, hasta el más imbécil, tiene acceso a una pistola y hasta a un fusil. Ni hablar de las narcoguerrillas y el crimen organizado, éstos se hacen con un lanzacohetes como cualquier español con una barra de pan.
Los datos son brutales. La tasa de homicidios -140.000 al año, según el Banco Mundial- es más del doble del promedio mundial. Varios países tienen un índice de crímenes por cada 100.000 habitantes más que alarmante: Brasil, 28; Colombia, 65; El Salvador, 45; Guatemala, 50; Venezuela, 35. La violencia también golpea a la economía latinoamericana. El coste de esta lacra se estima en un 14,2% del PIB regional. según el informe Crimen y Violencia en el Desarrollo del Banco Mundial.
Además, el tráfico ilícito de armas está cada vez más estrechamente ligado al narcotráfico. En Perú, hace unos meses, saltaron todas las alarmas cuando el Ejército comprobó que los resquicios de la guerrilla maoísta Sendero Luminoso, hoy dedicada a la producción y venta de cocaína, tenían en su poder lanzacohetes RPG-7, ametralladoras pesadas y fusiles Kaláshnikov, todos de origen ruso. El rearme senderista ya ha costado la vida a medio centenar de soldados peruanos en 12 meses.
A finales de abril, los senderistas intentaron derribar el helicóptero en el que viajaba el comandante en jefe de las Fuerzas Armadas, el general Francisco Contreras. El coronel Jorge de Lama iba en el aparato. "Nos dispararon dos granadas de RPG, pero por suerte cayeron lejos. No creo que supieran que iba el general Contreras, simplemente apuntaron a un helicóptero militar que estaba en su zona", relata De Lama, refiriéndose al valle de los ríos Apurimac y Ene, la inaccesible zona de Ayacucho donde Sendero ha estado desde que se creó en los ochenta. El Ejército peruano se resiste a revelar las rutas de abastecimiento de armas de los senderistas, pero no se atreve a negar que el puerto amazónico de Iquitos es un agujero negro para la seguridad del país. A esta ciudad estaban destinados los 50.000 Kaláshnikov que Vladimiro Montesinos, el siniestro ex jefe de los servicios secretos peruanos durante el Gobierno de Fujimori, compró en Jordania. Sin embargo, 10.000 de esas armas acabaron en manos de las FARC. El resto nunca se entregó porque Ammán detuvo la operación.
Iquitos y la frontera entre los países andinos y Brasil, el golfo de Urabá, que une Colombia y Panamá, el triple límite entre Paraguay, Brasil y Argentina -zona donde Hezbolá tiene una fuerte influencia-, son algunos de los principales puntos de contrabando en la región. Sin embargo, Centroamérica y, en especial Guatemala y Nicaragua, han adquirido en los últimos años especial relevancia como puerta de entrada de los cargamentos.
Rangel recuerda que así como Nicaragua ya es clave en el comercio ilegal, Venezuela desempeña un papel relevante. Como buena parte de las armas que acaban en el mercado negro proceden de la policía y el Ejército -robadas o vendidas por los propios agentes o militares-, hay serios temores de que parte de los 100.000 Kaláshnikov que Caracas compró a Rusia acaben en manos de los narcos. Sin embargo, el mayor peligro, apunta Rangel, lo constituirá la fábrica venezolana, bajo licencia, de armas y municiones rusas.
Mientras que las armas abundan en la zona, las municiones escasean. El calibre 7,62 mm, que usan los fusiles rusos AK-103 adquiridos por Venezuela, es el más deseado por la región y en especial por las FARC, que aún poseen al menos 5.000 armas que necesitan esta munición. Hoy se consigue en Perú y Bolivia, pero en poca cantidad. La fabricación de este calibre en Venezuela ofrecerá a las narcoguerrillas una fuente ilimitada de municiones dentro del continente.
Aparte de los canales de tráfico de armas que se remontan a la época de auge de las guerrillas, en los setenta y ochenta, se han afianzado en la región aquellos controlados por el crimen organizado. Los intercambios de droga por armas que los carteles de la droga colombianos inauguraron a mediados de los noventa con la mafia rusa han proliferado. Así como la cocaína sale de Colombia, Perú y Bolivia hacia Europa a través de Venezuela, Ecuador y Brasil, las armas recorren el mismo camino en sentido contrario.
Adelaida Vásquez y Carolina Gabea son testigos casi a diario de este tráfico. Ambas son fiscales de Ciudad del Este, la urbe paraguaya pegada a Brasil y Argentina y uno de los mayores focos de contrabando de armas de Suramérica y paso del tráfico desde Brasil hacia Perú y Colombia. Tienen una queja común: pocos recursos y el enemigo en casa. "La policía nacional no sólo no nos ayuda, nos boicotea. Tenemos un grupo de agentes especiales, pero son pocos ante tanto delito", explica Vázquez, que sobre drogas y armas lo ha visto todo. "Una vez confiscamos una ametralladora antiaérea a unos narcos... no me lo podía creer", añade. Vázquez es de Ciudad del Este, pero Gabea lleva en la ciudad cuatro años, es de Asunción. "Es peligroso ser legal y trabajar acá, pero ¿sabe qué?, si uno se mantiene limpio el narco no suele meterse con uno. Es parte del juego", dice Gabea.
Las armas ilegales desangran Latinoamérica
Más de 140.000 personas mueren tiroteadas cada año en la región - Los 'narcos' han reemplazado a las guerrillas en el negocio - Nicaragua es un gran punto de entrada
FERNANDO GUALDONI / JAVIER LAFUENTE - Madrid - 25/05/2009
Los recientes juicios contra dos de los más conocidos traficantes de armas, el ruso Víktor Bout -alias El Mercader de la Muerte- en Tailandia (pendiente de extradición a EE UU para agosto) y el sirio Monser al Kassar (condenado en febrero a 30 años de prisión en Nueva York), han revelado lo sencillo que es meter armas ilegalmente en América Latina, el papel crucial que desempeña Centroamérica, en especial Nicaragua, en este negocio, y la amenaza que supone que un país como Venezuela fabrique sus propios fusiles y municiones.
Para detener a Bout y Al Kassar, la agencia antidroga estadounidense alegó que ambos intentaron vender lanzamisiles portátiles tierra-aire rusos SAM a las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC). La ruta prevista para ambas operaciones era similar: las armas partían desde Rumania o Bulgaria y entraban por Nicaragua. Desde el país centroamericano se iban a arrojar con paracaídas sobre territorio colombiano.
"No hay pruebas de que el Gobierno de Ortega sea cómplice del tráfico, pero sin duda el país tiene enormes lagunas legales que facilitan el tráfico ilegal", dice Roberto Orozco, experto nicaragüense del Instituto de Estudios Estratégicos y Políticas Públicas. "Es verdad que no se puede afirmar que Managua esté directamente involucrada, pero hay que recordar que Ortega ha dado cobijo a narcoterroristas de las FARC", replica el colombiano Alfredo Rangel, director de la Fundación Seguridad y Democracia en Bogotá.
Los puertos nicaragüenses están entre los mayores coladeros de armas en la región, según fuentes de Defensa de EE UU. "En especial el puerto de Corinto", apunta Orozco. "Es el único de aguas profundas y está controlado por el Ejército y la policía, que hace la vista gorda. No hay estadísticas fiables sobre la cantidad de barcos que atracan allí, pero no hay que pensar en veinte o treinta, con dos o tres bien cargados es suficiente para abastecer al mercado de miles de armas", añade.
Hay más de 80 millones de armas ilegales en América Latina, según el Centro para la Información de Defensa (CID) de Washington. Cualquier criminal, hasta el más imbécil, tiene acceso a una pistola y hasta a un fusil. Ni hablar de las narcoguerrillas y el crimen organizado, éstos se hacen con un lanzacohetes como cualquier español con una barra de pan.
Los datos son brutales. La tasa de homicidios -140.000 al año, según el Banco Mundial- es más del doble del promedio mundial. Varios países tienen un índice de crímenes por cada 100.000 habitantes más que alarmante: Brasil, 28; Colombia, 65; El Salvador, 45; Guatemala, 50; Venezuela, 35. La violencia también golpea a la economía latinoamericana. El coste de esta lacra se estima en un 14,2% del PIB regional. según el informe Crimen y Violencia en el Desarrollo del Banco Mundial.
Además, el tráfico ilícito de armas está cada vez más estrechamente ligado al narcotráfico. En Perú, hace unos meses, saltaron todas las alarmas cuando el Ejército comprobó que los resquicios de la guerrilla maoísta Sendero Luminoso, hoy dedicada a la producción y venta de cocaína, tenían en su poder lanzacohetes RPG-7, ametralladoras pesadas y fusiles Kaláshnikov, todos de origen ruso. El rearme senderista ya ha costado la vida a medio centenar de soldados peruanos en 12 meses.
A finales de abril, los senderistas intentaron derribar el helicóptero en el que viajaba el comandante en jefe de las Fuerzas Armadas, el general Francisco Contreras. El coronel Jorge de Lama iba en el aparato. "Nos dispararon dos granadas de RPG, pero por suerte cayeron lejos. No creo que supieran que iba el general Contreras, simplemente apuntaron a un helicóptero militar que estaba en su zona", relata De Lama, refiriéndose al valle de los ríos Apurimac y Ene, la inaccesible zona de Ayacucho donde Sendero ha estado desde que se creó en los ochenta. El Ejército peruano se resiste a revelar las rutas de abastecimiento de armas de los senderistas, pero no se atreve a negar que el puerto amazónico de Iquitos es un agujero negro para la seguridad del país. A esta ciudad estaban destinados los 50.000 Kaláshnikov que Vladimiro Montesinos, el siniestro ex jefe de los servicios secretos peruanos durante el Gobierno de Fujimori, compró en Jordania. Sin embargo, 10.000 de esas armas acabaron en manos de las FARC. El resto nunca se entregó porque Ammán detuvo la operación.
Iquitos y la frontera entre los países andinos y Brasil, el golfo de Urabá, que une Colombia y Panamá, el triple límite entre Paraguay, Brasil y Argentina -zona donde Hezbolá tiene una fuerte influencia-, son algunos de los principales puntos de contrabando en la región. Sin embargo, Centroamérica y, en especial Guatemala y Nicaragua, han adquirido en los últimos años especial relevancia como puerta de entrada de los cargamentos.
Rangel recuerda que así como Nicaragua ya es clave en el comercio ilegal, Venezuela desempeña un papel relevante. Como buena parte de las armas que acaban en el mercado negro proceden de la policía y el Ejército -robadas o vendidas por los propios agentes o militares-, hay serios temores de que parte de los 100.000 Kaláshnikov que Caracas compró a Rusia acaben en manos de los narcos. Sin embargo, el mayor peligro, apunta Rangel, lo constituirá la fábrica venezolana, bajo licencia, de armas y municiones rusas.
Mientras que las armas abundan en la zona, las municiones escasean. El calibre 7,62 mm, que usan los fusiles rusos AK-103 adquiridos por Venezuela, es el más deseado por la región y en especial por las FARC, que aún poseen al menos 5.000 armas que necesitan esta munición. Hoy se consigue en Perú y Bolivia, pero en poca cantidad. La fabricación de este calibre en Venezuela ofrecerá a las narcoguerrillas una fuente ilimitada de municiones dentro del continente.
Aparte de los canales de tráfico de armas que se remontan a la época de auge de las guerrillas, en los setenta y ochenta, se han afianzado en la región aquellos controlados por el crimen organizado. Los intercambios de droga por armas que los carteles de la droga colombianos inauguraron a mediados de los noventa con la mafia rusa han proliferado. Así como la cocaína sale de Colombia, Perú y Bolivia hacia Europa a través de Venezuela, Ecuador y Brasil, las armas recorren el mismo camino en sentido contrario.
Adelaida Vásquez y Carolina Gabea son testigos casi a diario de este tráfico. Ambas son fiscales de Ciudad del Este, la urbe paraguaya pegada a Brasil y Argentina y uno de los mayores focos de contrabando de armas de Suramérica y paso del tráfico desde Brasil hacia Perú y Colombia. Tienen una queja común: pocos recursos y el enemigo en casa. "La policía nacional no sólo no nos ayuda, nos boicotea. Tenemos un grupo de agentes especiales, pero son pocos ante tanto delito", explica Vázquez, que sobre drogas y armas lo ha visto todo. "Una vez confiscamos una ametralladora antiaérea a unos narcos... no me lo podía creer", añade. Vázquez es de Ciudad del Este, pero Gabea lleva en la ciudad cuatro años, es de Asunción. "Es peligroso ser legal y trabajar acá, pero ¿sabe qué?, si uno se mantiene limpio el narco no suele meterse con uno. Es parte del juego", dice Gabea.
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domingo, 24 de maio de 2009
Saiu o novo número da revista Cronos
Com um dossiê intitulado "Utopias urbanas", foi lançado o número 9 da revista Cronos, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Acesse-a aqui.
A importância vital das ciências humanas
Confira abaixo o ótimo artigo do Professor Marco Aurélio Nogueira (UNESP) sobre o papel das ciências humanas na construção do auto-conhecimento de nossas sociedades. Confira!
Para compreender o mundo
Marco Aurélio Nogueira
Muitos jovens universitários e pré-universitários - assim como muitos não tão jovens profissionais já inseridos no mercado de trabalho - talvez se surpreendam com o presente texto. Ele se dedica a fazer o elogio das Ciências Humanas, esse amplo e controvertido conjunto de conhecimentos com os quais as sociedades têm procurado se conhecer ao longo do tempo.
A surpresa poderá existir, antes de tudo, porque o conceito mesmo de Ciências Humanas é relativamente impreciso, dado não existir consenso estabelecido a respeito de quais ciências devam ser incluídas no conjunto. Tome-se a Economia, por exemplo. Numa visão abertamente econometrista, ela poderia ser vista como sintonizada com as matemáticas. Se o foco for o universo financeiro, ela se associaria unilateralmente aos negócios. Mas a grande economia - a Economia Política - é bem diferente disso. Tem lugar cativo entre as Humanas e somente se realiza como ciência se interagir com os conhecimentos que se interrogam a respeito do homem em sociedade.
Dar-se-ia o mesmo com a Administração, a Psicologia e as Letras, que muitas vezes terminam por ser postas a meia distância daquele conjunto a que pertencem, no mínimo, por exclusão.
O segundo motivo tem que ver com o primeiro. É que vivemos de modo tão pragmático, veloz e utilitarista, numa estrutura em que a luta pela vida é incerta e competitiva ao extremo, que as pessoas passaram a desconfiar das Ciências Humanas. Tendem a achar que elas - a Filosofia, a Ciência Política, a Sociologia, a Antropologia e a História, que formam o esteio de sustentação do bloco - estão incapacitadas para garantir um nicho consistente em termos de emprego ou pavimentar o caminho para o que se considera "sucesso profissional". Teriam pouca utilidade, já que seriam ciências mais "negativas" e reflexivas que "positivas" e aplicadas. O Mercado - esse semideus da modernidade globalizada - tomou o lugar do Homem, da Sociedade e do Estado, a ponto de fazer com que as pessoas percam a vontade de se conhecer a si próprias.
Sabe-se que a modernidade não é somente empenho cego em maximizar a racionalidade e a produtividade. É também disseminação de espírito crítico, incremento comunicativo e esforço para que se viva de maneira mais justa e sábia. Hoje, porém, o lado mais instrumental e perverso do moderno prevalece. Vivemos sobrecarregados por ele e acabamos por deixá-lo modelar muitos de nossos cálculos, expectativas e projetos.
Tal prevalência está na base da má vontade que se tem com as Humanas. Pensa-se que elas atrapalhariam porque convidariam as pessoas a um exercício intelectual supérfluo, meio romântico e "subversivo". Acredita-se, além do mais, que todos seriam naturalmente capazes de entender a sociedade e a época em que vivem, mas nem todos conseguiriam atingir as esferas mais elevadas do pensamento técnico-científico. Acha-se que para dominar os fundamentos das Exatas ou das Biológicas é necessário muito estudo e inteligência, ao passo que a assimilação das Humanas seria tarefa fácil, quase uma extensão da alfabetização.
A partir daí se cria uma muralha separando as Humanas das demais ciências. Os estratégicos conhecimentos produzidos pelas primeiras ficam assim fechados em si, em vez de serem incorporados pelas outras, que se especializam cada vez mais. As próprias universidades ignoram a relevância e as vantagens da integração disciplinar. São poucas, se é que existem, as faculdades de Exatas ou Biológicas que incluem matérias de Humanas em seus currículos. A recíproca, claro, é igualmente verdadeira.
Mas a questão vai além do universo acadêmico. Tanto que se tornou usual, entre pais e alunos, distinguir as escolas do ensino médio em "fortes" - que reforçam os conteúdos, dão destaque às Exatas e se dedicam a fazer os alunos chegarem à universidade - e "fracas", quase sempre identificadas com orientações de tipo humanista e voltadas para a formação de um aluno mais crítico e criativo. Dada a competição entre elas, aos poucos todas se vão convencendo de que precisam ser "fortes". Vão assim se deixando seduzir pela preocupação de funcionarem como preparatórios para o vestibular, em vez de se dedicarem à formação integral dos estudantes.
Acontece que o mundo é complicado demais para ser vivido e especialmente para ser compreendido. Ele não se revela de imediato, desafia-nos e nos confunde, chega mesmo a atemorizar. Precisa ser pensado, analisado em seus ritmos e determinações para poder ser concebido como um todo, e não apenas como um amontoado de fragmentos desconexos.
Isso não é possível sem as Humanas. Sempre foi assim, aliás. Não é por outro motivo que a ideia moderna de universidade tem no seu coração uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, entendida como espaço onde os saberes e as especialidades encontram condições para superar suas estreitezas. Sem esse coração a universidade não se completa.
Precisamente porque vivemos em ambientes complexos, dinâmicos e fragmentados, as Ciências Humanas tornaram-se estratégicas. A razão crítica por elas cultivada deveria ser amplamente disseminada, de modo a ajudar que cidadãos e profissionais sejam mais do que meros receptores ou aplicadores de conhecimentos e adquiram recursos intelectuais abrangentes.
Fazer a defesa das Humanas não é somente defender os cursos e faculdades de Humanas, que certamente necessitam de maior valorização. É também defender a perspectiva de que bons profissionais - sejam eles quais forem - se caracterizam pela posse de uma visão coerente do mundo e por saberem articular saberes. São intelectuais, pessoas capazes de compreender o mundo em que vivem, traduzi-lo em termos compreensíveis para todos e organizá-lo tendo em vista uma ideia de comunidade política democrática.
Marco Aurélio Nogueira, professor titular de Teoria Política da Unesp, é autor dos livros Em Defesa da Política (Senac, 2001) e Um Estado para a Sociedade Civil (Cortez, 2004) E-mail: m.a.nogueira@globo.com
Para compreender o mundo
Marco Aurélio Nogueira
Muitos jovens universitários e pré-universitários - assim como muitos não tão jovens profissionais já inseridos no mercado de trabalho - talvez se surpreendam com o presente texto. Ele se dedica a fazer o elogio das Ciências Humanas, esse amplo e controvertido conjunto de conhecimentos com os quais as sociedades têm procurado se conhecer ao longo do tempo.
A surpresa poderá existir, antes de tudo, porque o conceito mesmo de Ciências Humanas é relativamente impreciso, dado não existir consenso estabelecido a respeito de quais ciências devam ser incluídas no conjunto. Tome-se a Economia, por exemplo. Numa visão abertamente econometrista, ela poderia ser vista como sintonizada com as matemáticas. Se o foco for o universo financeiro, ela se associaria unilateralmente aos negócios. Mas a grande economia - a Economia Política - é bem diferente disso. Tem lugar cativo entre as Humanas e somente se realiza como ciência se interagir com os conhecimentos que se interrogam a respeito do homem em sociedade.
Dar-se-ia o mesmo com a Administração, a Psicologia e as Letras, que muitas vezes terminam por ser postas a meia distância daquele conjunto a que pertencem, no mínimo, por exclusão.
O segundo motivo tem que ver com o primeiro. É que vivemos de modo tão pragmático, veloz e utilitarista, numa estrutura em que a luta pela vida é incerta e competitiva ao extremo, que as pessoas passaram a desconfiar das Ciências Humanas. Tendem a achar que elas - a Filosofia, a Ciência Política, a Sociologia, a Antropologia e a História, que formam o esteio de sustentação do bloco - estão incapacitadas para garantir um nicho consistente em termos de emprego ou pavimentar o caminho para o que se considera "sucesso profissional". Teriam pouca utilidade, já que seriam ciências mais "negativas" e reflexivas que "positivas" e aplicadas. O Mercado - esse semideus da modernidade globalizada - tomou o lugar do Homem, da Sociedade e do Estado, a ponto de fazer com que as pessoas percam a vontade de se conhecer a si próprias.
Sabe-se que a modernidade não é somente empenho cego em maximizar a racionalidade e a produtividade. É também disseminação de espírito crítico, incremento comunicativo e esforço para que se viva de maneira mais justa e sábia. Hoje, porém, o lado mais instrumental e perverso do moderno prevalece. Vivemos sobrecarregados por ele e acabamos por deixá-lo modelar muitos de nossos cálculos, expectativas e projetos.
Tal prevalência está na base da má vontade que se tem com as Humanas. Pensa-se que elas atrapalhariam porque convidariam as pessoas a um exercício intelectual supérfluo, meio romântico e "subversivo". Acredita-se, além do mais, que todos seriam naturalmente capazes de entender a sociedade e a época em que vivem, mas nem todos conseguiriam atingir as esferas mais elevadas do pensamento técnico-científico. Acha-se que para dominar os fundamentos das Exatas ou das Biológicas é necessário muito estudo e inteligência, ao passo que a assimilação das Humanas seria tarefa fácil, quase uma extensão da alfabetização.
A partir daí se cria uma muralha separando as Humanas das demais ciências. Os estratégicos conhecimentos produzidos pelas primeiras ficam assim fechados em si, em vez de serem incorporados pelas outras, que se especializam cada vez mais. As próprias universidades ignoram a relevância e as vantagens da integração disciplinar. São poucas, se é que existem, as faculdades de Exatas ou Biológicas que incluem matérias de Humanas em seus currículos. A recíproca, claro, é igualmente verdadeira.
Mas a questão vai além do universo acadêmico. Tanto que se tornou usual, entre pais e alunos, distinguir as escolas do ensino médio em "fortes" - que reforçam os conteúdos, dão destaque às Exatas e se dedicam a fazer os alunos chegarem à universidade - e "fracas", quase sempre identificadas com orientações de tipo humanista e voltadas para a formação de um aluno mais crítico e criativo. Dada a competição entre elas, aos poucos todas se vão convencendo de que precisam ser "fortes". Vão assim se deixando seduzir pela preocupação de funcionarem como preparatórios para o vestibular, em vez de se dedicarem à formação integral dos estudantes.
Acontece que o mundo é complicado demais para ser vivido e especialmente para ser compreendido. Ele não se revela de imediato, desafia-nos e nos confunde, chega mesmo a atemorizar. Precisa ser pensado, analisado em seus ritmos e determinações para poder ser concebido como um todo, e não apenas como um amontoado de fragmentos desconexos.
Isso não é possível sem as Humanas. Sempre foi assim, aliás. Não é por outro motivo que a ideia moderna de universidade tem no seu coração uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, entendida como espaço onde os saberes e as especialidades encontram condições para superar suas estreitezas. Sem esse coração a universidade não se completa.
Precisamente porque vivemos em ambientes complexos, dinâmicos e fragmentados, as Ciências Humanas tornaram-se estratégicas. A razão crítica por elas cultivada deveria ser amplamente disseminada, de modo a ajudar que cidadãos e profissionais sejam mais do que meros receptores ou aplicadores de conhecimentos e adquiram recursos intelectuais abrangentes.
Fazer a defesa das Humanas não é somente defender os cursos e faculdades de Humanas, que certamente necessitam de maior valorização. É também defender a perspectiva de que bons profissionais - sejam eles quais forem - se caracterizam pela posse de uma visão coerente do mundo e por saberem articular saberes. São intelectuais, pessoas capazes de compreender o mundo em que vivem, traduzi-lo em termos compreensíveis para todos e organizá-lo tendo em vista uma ideia de comunidade política democrática.
Marco Aurélio Nogueira, professor titular de Teoria Política da Unesp, é autor dos livros Em Defesa da Política (Senac, 2001) e Um Estado para a Sociedade Civil (Cortez, 2004) E-mail: m.a.nogueira@globo.com
Artigo de Giannotti na Folha.
A nova política
Crise econômica abre espaço para questionar legitimidade das instituições políticas
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI COLUNISTA DA FOLHA
Para entender a crise atual do sistema capitalista de produção convém insistir no seu caráter automático. A crise se aninha na natureza da ação socioeconômica que repõe o capital.Os agentes operam no mercado imaginando que suas ações sempre serão contrabalançadas por ações alheias, atuam graças à mediação do dinheiro que, por si mesmo, aparece como se tivesse a virtude de transformar mercadoria em preço e preço em comprador. (...) Assinante UOL lê a matéria completa aqui.
Crise econômica abre espaço para questionar legitimidade das instituições políticas
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI COLUNISTA DA FOLHA
Para entender a crise atual do sistema capitalista de produção convém insistir no seu caráter automático. A crise se aninha na natureza da ação socioeconômica que repõe o capital.Os agentes operam no mercado imaginando que suas ações sempre serão contrabalançadas por ações alheias, atuam graças à mediação do dinheiro que, por si mesmo, aparece como se tivesse a virtude de transformar mercadoria em preço e preço em comprador. (...) Assinante UOL lê a matéria completa aqui.
sábado, 23 de maio de 2009
O vírus do medo e outros fantasmas: sobre Godoy Cruz
Ainda sob estado de choque, com a notícia de um velho amigo, deparei-me, ao ligar a televisão no hotel onde me encontro, com a estarrecedora notícia de que na cidade argentina Godoy Cruz, situada na fronteira com o Chile, moradores locais atacaram, com paus e pedras, um ônibus no qual viajava um suspeito de ser portador do vírus da nova gripe. Os atacantes não aceitavam que um doente, que viajava no ônibus, fosse tratado no “seu” hospital. Godoy Cruz expressa, assim como a New Orleans no imediato pós-Katrina, a frágil capa de civilidade que recobre as nossas sociedades. A qualquer momento, por motivos os mais variados, os fantasmas e medos represados emergem, tal qual um monstro que se encontrava adormecido, para nos alertar que as bases do fascismo nunca foram devidamente eliminadas de nosso meio. Hoje é a gripe, amanhã pode ser qualquer coisa.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Edivan Pinto: o trágico fim de um amigo
No ônibus, que me trazia de Floripa até Londrina, onde me encontro agora, recebi um telefonema do Deputado Fernando Mineiro. O amigo queria comunicar um fato triste: a trágica morte do nosso amigo Edivan Pinto. Edivan, envolvido em uma briga, foi assassinado em um bar em Mossoró. Fiquei em estado de choque.
Edivan Pinto e eu fomos fundadores do PT em Apodi (RN), no início dos anos oitenta. Quando o conheci, há trinta anos, era um promissor estudante, oriundo, como eu, da zona rural do município. Tornamo-nos amigos e cultivamos juntos muitos sonhos e projetos. Anos depois, fora do PT, continuou, na CPT, sua ativa militância em defesa da reforma agrária.
No final dos anos noventa, voltamos a conviver mais de perto. Ele foi meu orientando no mestrado em desenvolvimento e meio ambiente da UERN. Sua dissertação, defendida com brilhantismo, contou com a participação na banca do Professor Eduardo César Marquez (USP).
Quando saí de Mossoró nos distanciamos. E, nos últimos anos, mesmo morando no mesmo estado, demorávamos a nos encontrar. Mas cultivávamos, cada um em seu canto, a nossa velha amizade.
A sua morte pesa dolorosamente. Bate-me uma tristeza imensa neste momento. E busco na memória as boas coisas que partilhamos. A morte de Edivan, como todo morte, é o fim de um mundo. Um rosto, sorrisos e experiências que não mais estarão presentes. O fim desse mundo rico e generosos que foi o Edivan Pinto provoca uma dor díficil de ser expressa em palavras....
Edivan Pinto e eu fomos fundadores do PT em Apodi (RN), no início dos anos oitenta. Quando o conheci, há trinta anos, era um promissor estudante, oriundo, como eu, da zona rural do município. Tornamo-nos amigos e cultivamos juntos muitos sonhos e projetos. Anos depois, fora do PT, continuou, na CPT, sua ativa militância em defesa da reforma agrária.
No final dos anos noventa, voltamos a conviver mais de perto. Ele foi meu orientando no mestrado em desenvolvimento e meio ambiente da UERN. Sua dissertação, defendida com brilhantismo, contou com a participação na banca do Professor Eduardo César Marquez (USP).
Quando saí de Mossoró nos distanciamos. E, nos últimos anos, mesmo morando no mesmo estado, demorávamos a nos encontrar. Mas cultivávamos, cada um em seu canto, a nossa velha amizade.
A sua morte pesa dolorosamente. Bate-me uma tristeza imensa neste momento. E busco na memória as boas coisas que partilhamos. A morte de Edivan, como todo morte, é o fim de um mundo. Um rosto, sorrisos e experiências que não mais estarão presentes. O fim desse mundo rico e generosos que foi o Edivan Pinto provoca uma dor díficil de ser expressa em palavras....
Uma semana de sociologia econômica
De terça até hoje, estive em Florianópolis, participando do I Seminário Nacional de Sociologia Econômica, promovido pelo Núcleo de Estudos Sociológicos do Mercado da Universidade Federal de Santa Catarina. Coordenando o evento, com competência, a Professora Ceclile Raud. O Seminário constitui-se em um espaço privilegiado para a socialização de saberes e práticas de pesquisa no campo da sociologia econômica. Tive ainda a oportunidade de conversar com alunos e pesquisadores de diversos estados. E de re-encontrar o Cristiano Monteiro (UFF), um amigo que é um dos maiores animadores do campo da Nova Sociologia Econômica no país.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
A crueldade de Dante: um artigo de Alberto Manguel
Você deve conhecer o escritor Alberto Manguel, não? Bueno, acesso o Wikipedia e saiba alguma coisa sobre ele, então (em inglês). Mas o que eu queria mesmo era te convidar para ler o artigo abaixo, publicado hoje no El País (o diário espanhol é a minha leitura obrigatória de cada dia, sabes disso...). Vale a pena conferir!
La crueldad de Dante
ALBERTO MANGUEL
La decisión del presidente Obama de dar a conocer los documentos sobre las prácticas interrogatorias de Guantánamo y Abu Ghraib y, al mismo tiempo, no ordenar la investigación de quienes llevaron a cabo tales prácticas, me recordó un caso bien anterior, en el que el sistema legal es también utilizado para justificar la tortura, y en el cual el torturador tampoco es condenado por sus acciones. Ocurre casi al final del viaje al infierno de Dante, en el Canto XXXII de su Comedia.
Siguiendo a Virgilio por los varios círculos infernales, Dante llega al lago glacial en el que las almas de los traidores son presas hasta el cuello en el hielo. Entre las terribles cabezas que gritan y maldicen, Dante cree reconocer la de un cierto Bocca degli Abati, culpable de haber traicionado a los suyos y haberse aliado al enemigo. Dante pide a la inclinada cabeza que le diga su nombre y, como es ya su costumbre a lo largo del mágico descenso, promete al pecador fama póstuma en sus versos cuando vuelva al mundo de los vivos. Bocca le contesta que lo que desea es precisamente lo contrario, y le dice a Dante que se vaya y no lo fastidie más.
Furioso ante el insulto, Dante coge a Bocca por el pescuezo y le dice que, a menos que confiese su nombre, le arrancará cada pelo de la cabeza. "Aún si me dejases calvo", le contesta el desdichado, "no te diría quien soy, no te mostraría mi cara/ aunque mil veces me azotases". Entonces Dante le arranca "otro puñado de pelo", haciendo que Bocca lance aullidos de dolor. Mientras tanto, Virgilio, encargado por la voluntad divina de guiar al poeta, observa y guarda silencio.
Podemos interpretar ese silencio de Virgilio como aprobación. Varios círculos antes, en el Canto VIII, cuando los dos poetas navegan a través del Río Estigio, Dante, viendo cómo uno de los condenados se alza de las aguas inmundas, le pregunta, como siempre, de quién se trata. El alma pecaminosa no le da su nombre, sólo le dice que es "uno que llora" y Dante, sin conmoverse, lo maldice ferozmente. Virgilio, sonriente, toma a Dante en sus brazos y lo alaba con las palabras que San Lucas usó para alabar a Cristo. Entonces Dante, alentado por la reacción de su maestro, le dice que nada le daría mayor placer que ver al condenado volver a hundirse en el fango atroz. Virgilio le dice que así ocurrirá, y el episodio concluye con Dante agradeciendo a Dios la concesión de su deseo.
Através de los siglos, los comentadores de Dante han intentado justificar estos actos como ejemplos de "noble indignación" u "honorable cólera", que no es un pecado como la ira (según Santo Tomás de Aquino, uno de las fuentes intelectuales de Dante), sino una virtud nacida de una "causa justa". El problema, claro está, reside en la lectura del adjetivo "justo". En el caso de Dante, "justo" se refiere a su comprensión de la incuestionable justicia de Dios. Sentir compasión por los condenados es "injusto" porque significa oponerse a la imponderable voluntad divina.
Tan sólo tres cantos antes, Dante cae desmayado de piedad cuando el alma de Francesca, condenada a girar para siempre en el vendaval que castiga la lujuria, le cuenta su triste caso. Pero ahora, más avanzado en su ejemplar descenso, Dante ha perdido su flaqueza sentimental y su fe en la autoridad es más robusta.
Según la teología dantesca, el sistema legal impuesto por Dios no puede ser tachado ni de erróneo ni de cruel; por lo tanto, todo lo que decrete debe ser "justo" aun cuando se halle más allá del entendimiento humano. Las acciones de Dante -la tortura deliberada del prisionero preso en el hielo, su sórdido deseo de ver al otro prisionero ahogarse en el lodo- deben ser entendidas (dicen los comentadores) como una humilde obediencia a la Ley y a una incuestionable Autoridad Mayor.
Un argumento similar es propuesto hoy en día por quienes argumentan contra la investigación y condena de los torturadores. Y sin embargo, habrá pocos lectores de Dante que no sientan, al leer esos pasajes infernales, un mal sabor de boca. Quizás sea porque, si la justificación de la aparente crueldad dantesca yace en la naturaleza de la voluntad divina, entonces, en lugar de sentir que las acciones de Dante son redimidas por la fe, el lector siente que la fe es envilecida por las acciones de Dante.
De la misma manera, el implícito perdón a los torturadores, sólo porque los abusos ocurrieron en un pasado inmutable y bajo la autoridad y ley de otra administración, en lugar de alimentar la fe en la política del Gobierno actual, la envilece. Peor aún: tácitamente aceptada por la Administración de Obama, la vieja excusa de "sólo obedecí las órdenes" adquirirá renovado crédito y servirá de antecedente para futuras exoneraciones.
G. K. Chesterton dijo alguna vez: "Obviamente, no puede haber seguridad en una sociedad en la que el comentario de un juez de la Corte Suprema, diciendo que asesinar está mal, sea visto como un epigrama original y deslumbrante". Lo mismo puede decirse de una sociedad que, bajo no importa qué circunstancias, rehúsa investigar y condenar infames actos de tortura.
La crueldad de Dante
ALBERTO MANGUEL
La decisión del presidente Obama de dar a conocer los documentos sobre las prácticas interrogatorias de Guantánamo y Abu Ghraib y, al mismo tiempo, no ordenar la investigación de quienes llevaron a cabo tales prácticas, me recordó un caso bien anterior, en el que el sistema legal es también utilizado para justificar la tortura, y en el cual el torturador tampoco es condenado por sus acciones. Ocurre casi al final del viaje al infierno de Dante, en el Canto XXXII de su Comedia.
Siguiendo a Virgilio por los varios círculos infernales, Dante llega al lago glacial en el que las almas de los traidores son presas hasta el cuello en el hielo. Entre las terribles cabezas que gritan y maldicen, Dante cree reconocer la de un cierto Bocca degli Abati, culpable de haber traicionado a los suyos y haberse aliado al enemigo. Dante pide a la inclinada cabeza que le diga su nombre y, como es ya su costumbre a lo largo del mágico descenso, promete al pecador fama póstuma en sus versos cuando vuelva al mundo de los vivos. Bocca le contesta que lo que desea es precisamente lo contrario, y le dice a Dante que se vaya y no lo fastidie más.
Furioso ante el insulto, Dante coge a Bocca por el pescuezo y le dice que, a menos que confiese su nombre, le arrancará cada pelo de la cabeza. "Aún si me dejases calvo", le contesta el desdichado, "no te diría quien soy, no te mostraría mi cara/ aunque mil veces me azotases". Entonces Dante le arranca "otro puñado de pelo", haciendo que Bocca lance aullidos de dolor. Mientras tanto, Virgilio, encargado por la voluntad divina de guiar al poeta, observa y guarda silencio.
Podemos interpretar ese silencio de Virgilio como aprobación. Varios círculos antes, en el Canto VIII, cuando los dos poetas navegan a través del Río Estigio, Dante, viendo cómo uno de los condenados se alza de las aguas inmundas, le pregunta, como siempre, de quién se trata. El alma pecaminosa no le da su nombre, sólo le dice que es "uno que llora" y Dante, sin conmoverse, lo maldice ferozmente. Virgilio, sonriente, toma a Dante en sus brazos y lo alaba con las palabras que San Lucas usó para alabar a Cristo. Entonces Dante, alentado por la reacción de su maestro, le dice que nada le daría mayor placer que ver al condenado volver a hundirse en el fango atroz. Virgilio le dice que así ocurrirá, y el episodio concluye con Dante agradeciendo a Dios la concesión de su deseo.
Através de los siglos, los comentadores de Dante han intentado justificar estos actos como ejemplos de "noble indignación" u "honorable cólera", que no es un pecado como la ira (según Santo Tomás de Aquino, uno de las fuentes intelectuales de Dante), sino una virtud nacida de una "causa justa". El problema, claro está, reside en la lectura del adjetivo "justo". En el caso de Dante, "justo" se refiere a su comprensión de la incuestionable justicia de Dios. Sentir compasión por los condenados es "injusto" porque significa oponerse a la imponderable voluntad divina.
Tan sólo tres cantos antes, Dante cae desmayado de piedad cuando el alma de Francesca, condenada a girar para siempre en el vendaval que castiga la lujuria, le cuenta su triste caso. Pero ahora, más avanzado en su ejemplar descenso, Dante ha perdido su flaqueza sentimental y su fe en la autoridad es más robusta.
Según la teología dantesca, el sistema legal impuesto por Dios no puede ser tachado ni de erróneo ni de cruel; por lo tanto, todo lo que decrete debe ser "justo" aun cuando se halle más allá del entendimiento humano. Las acciones de Dante -la tortura deliberada del prisionero preso en el hielo, su sórdido deseo de ver al otro prisionero ahogarse en el lodo- deben ser entendidas (dicen los comentadores) como una humilde obediencia a la Ley y a una incuestionable Autoridad Mayor.
Un argumento similar es propuesto hoy en día por quienes argumentan contra la investigación y condena de los torturadores. Y sin embargo, habrá pocos lectores de Dante que no sientan, al leer esos pasajes infernales, un mal sabor de boca. Quizás sea porque, si la justificación de la aparente crueldad dantesca yace en la naturaleza de la voluntad divina, entonces, en lugar de sentir que las acciones de Dante son redimidas por la fe, el lector siente que la fe es envilecida por las acciones de Dante.
De la misma manera, el implícito perdón a los torturadores, sólo porque los abusos ocurrieron en un pasado inmutable y bajo la autoridad y ley de otra administración, en lugar de alimentar la fe en la política del Gobierno actual, la envilece. Peor aún: tácitamente aceptada por la Administración de Obama, la vieja excusa de "sólo obedecí las órdenes" adquirirá renovado crédito y servirá de antecedente para futuras exoneraciones.
G. K. Chesterton dijo alguna vez: "Obviamente, no puede haber seguridad en una sociedad en la que el comentario de un juez de la Corte Suprema, diciendo que asesinar está mal, sea visto como un epigrama original y deslumbrante". Lo mismo puede decirse de una sociedad que, bajo no importa qué circunstancias, rehúsa investigar y condenar infames actos de tortura.
sábado, 16 de maio de 2009
Para entender a crise
Para você se divertir um pouco, e, de quebra, refletir um pouco sobre alguns lugares-comuns da produção discursiva comum sobre os mercados finaneiros, postei um engraçado vídeo aí abaixo. Confira!
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crise financeira,
Crise nas bolsas,
Mercado financeiro
Uma análise dos novos mídias
Transcrevo abaixo interessante entrevista publicada no jornal Gazeta Mercantil. Trata-se de uma análise sobre os novos mídias. Vale a pena conferir!
Nova Mídia altera o valor do conteúdo
10/maio/2009 14:36
Doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo e professor da pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, na capital paulista, Marcelo Coutinho é um estudioso do impacto da tecnologia na economia e na comunicação. Além da experiência acadêmica, seu olhar sobre as mudanças na mídia é lapidado pelo trabalho como diretor de análise de mercado do Ibope Inteligência. Nos últimos anos, tem se dedicado a estudar dois campos que, entre tapas e beijos, parecem fadados a um casamento inadiável: a internet e o setor de mídia. Enquanto a primeira avança e transforma a sociedade, o segundo tenta adaptar seu modelo de negócios aos novos tempos. “O que as empresas de comunicação pensam ser uma ameaça, na verdade é uma oportunidade”, diz Coutinho. “Elas têm a possibilidade de repensar um modelo de negócios no qual o conteúdo desempenha um papel central e que leva a sociedade a se mobilizar em torno disso”, reforça o pesquisador, que prefere não ter web em casa para que, aos finais de semana, possa se dedicar a livros, jornais revistas - todos impressos, que fique bem claro.
Gazeta Mercantil - O senhor já afirmou em outra ocasião acreditar que a profundidade das transformações provocadas pelo digital será maior nos próximos dez anos do que o foram na última década. Por quê?
Isso se deve, por um lado, a aspectos quantitativos. Embora não tenha as estatísticas precisas aqui, é fato que o número de usuários de internet no final dos anos 1990 era muito menor. Vamos chegar ao final desta década numa situação muito diferente no mundo. No caso do Brasil, dados do Comitê Gestor e de institutos como o Ibope e o Datafolha apontam para algo entre 60 milhões e 65 milhões de usuários. Algo como 30% da população brasileira. Já é um fenômeno numericamente expressivo. Só que muito mais importante é o fator qualitativo. Estamos assistindo, com o surgimento da economia colaborativa, à possibilidade de uma nova cultura midiática. Embora a cultura da mídia ainda seja muito passiva, com a maior parte dos consumidores recebendo passivamente o conteúdo, vemos nos jornais, na TV e na própria web que as pessoas querem interferir e interagir com o conteúdo de alguma maneira. Há um fenômeno que o pesquisador Henry Jenkins, do MIT, chama de a cultura do fã. O que é isso? É a possibilidade de as pessoas interagirem e rediscutirem aquele conteúdo. É a ideia da calda longa trazida para o mundo do conteúdo. Explico: milhões de pessoas serão impactadas pela série Lost na TV, e alguns milhares de espectadores vão prolongar a vida desse conteúdo por semanas ou até meses, na medida em que discutem esse material. Veja - e por isso digo que provavelmente as transformações serão mais acentuadas nos próximos dez anos - que o controle do conteúdo e das marcas publicitárias começa a sair da mão das grandes organizações produtoras de conteúdo. Não acho que o modelo “broadcast” - conteúdo feito por grandes grupos econômicos para atrair audiência e, assim, gerar receita publicitária - vá desaparecer, é bom destacar. Mas, se esse sistema reinou sozinho praticamente durante toda a segunda metade do século XX, agora ele vai ter de conviver com outro modelo, que é o de produção de conteúdo na “calda longa dos fãs”. Ou seja, o conteúdo que uma organização produz também tem de ser pensado como um produto que pode ser trabalhado, recriado e rediscutido por pessoas que tenham alguma relação com uma marca.
Gazeta Mercantil - O que o senhor descreve é exemplo da narrativa transmidiática da qual fala Jenkins, experimentada por séries de TV como Heroes e Lost ou Matrix, no cinema.
Exatamente. Esses são bons exemplos. Talvez mais importante que impactar uma grande massa de pessoas, será se aproximar daquele grupo que tem uma relação profunda com o conteúdo que sua empresa torna disponível. Isso nos faz pensar numa outra coisa: o que as empresas de mídia pensam ser uma grande ameaça, na verdade pode ser uma grande oportunidade, que talvez só tenhamos visto na época do aparecimento da televisão.
Gazeta Mercantil - Que oportunidade é essa?
É a possibilidade de repensar um modelo de negócios no qual o conteúdo desempenha um papel central e que leva a sociedade a se mobilizar em torno disso. Aqui entramos no terreno das redes sociais: para que serve o conteúdo, a informação? Para gerar prestígio social. Por que uma notícia de jornal ou um filme visto na TV, na web, são importantes? A importância vai além do fator econômico, é também social. As pessoas conversam sobre o conteúdo. Ao conversarem sobre ele, contribuem com o mercado social - reforçar os laços de amizade, prestígio dentro de um determinado grupo. Tudo isso já ocorre muito antes da web. Mas a digitalização possibilita às empresas produtoras de conteúdo rastrear esse conteúdo, coisa que não podiam fazer antes. O que veremos nos próximos dez anos é o rastreamento e a mensurabilidade desse marketing viral. E a possibilidade de medir como isso impacta no comportamento das pessoas. Este é o desafio das empresas de mídia e das agências de publicidade: sair de um modelo de negócio baseado exclusividade na exposição do conteúdo para um calcado no impacto do conteúdo. Em outras palavras, na circulação do conteúdo nas diversas redes sociais.
Gazeta Mercantil - Pode dar um exemplo adequado ao contexto de um jornal ou revista?
Gosto de citar o The New York Times. Se você perguntar para qualquer pessoa da minha geração, de 40 anos para cima, qual é o slogan do NYT, ela dirá “all the that´s fit to print”, ou seja, tudo o que um grupo de editores julgou adequado ser impresso. E qual o slogan do NYT na internet? “Onde as conversas começam”. Isso é muito bem sacado e demonstra a compreensão dos mecanismos que estão diante da mídia. Mais que algum conteúdo para ser impresso e distribuído, busca-se um material que circule entre as pessoas. Como isso pode ser feito e medido? Esse é o Santo Graal que todo mundo persegue. Temos de um lado um mercado de conteúdo produzido por grandes corporações. De outro, um mercado social (os Orkuts, os LinkdIns, os Twitters da vida) no qual os conteúdos circulam. O desafio é fazer com que o conteúdo produzido no mercado econômico também seja medido no mercado social e passe a ter um valor financeiro dentro desse mercado social. Exemplo: existe alguma maneira de gerar receita com uma notícia da interessante da Gazeta Mercantil que eu leve para meu Orkut, Facebook ou Twitter? Acho que existe, mas ainda não conseguimos encontrá-la. A indústria da mídia se encontra diante da mesma oportunidade que surgiu com o aparecimento da televisão. Mas ficar demonizando as mudanças não resolve. Tem de encontrar uma solução.
Gazeta Mercantil - Por que as transformações provocadas pelo digital são tão poderosas?
Porque elas vêm do consumidor. O Ibope Inteligência divulgou duas pesquisas. Uma foi feita no evento de tecnologia Campus Party, em janeiro, e outra agora, sobre a relação dos jovens das classes ABC com as marcas de material esportivo. Esses estudos mostram que, para esse público (que não está na média dos consumidores brasileiros, pois são adolescentes e fissurados em tecnologia), a importância da opinião de outros consumidores é mais importante que a comunicação de massa dos meios tradicionais, como a publicidade em TV, rádio etc. Isso como fonte de informação para decisão de compra. Você pode dizer que hoje eles são adolescentes. Mas, durante a próxima década, esse pessoal vai ingressar com tudo no mercado de consumo.
Gazeta Mercantil - O senhor falou que o conteúdo continuará a ser um item muito importante no cenário que se desenha para o mercado da comunicação. Mas que tipo de conteúdo é esse que será valorado? Quais as perspectivas para a produção jornalística?
O conteúdo tem relevância na medida em que ele é uma moeda social. É o fato de ter acesso a um material interessante, diferente e reproduzi-lo em uma rede, que pode ser digital ou não - é preciso entender que há as redes sociais que não são digitais. As pessoas falam das redes sociais como se elas tivessem surgido com a internet. Mas a sociologia começou a estudá-las por volta de 1890. A novidade é que elas passaram a ser mensuráveis a partir da digitalização. Então, que conteúdo é importante? Claramente percebemos que é aquele que vai além da instantaneidade. De que me vale ver na capa de um jornal a seguinte manchete “Obama é eleito”. Não faz sentido. Vamos analisar o assunto por partes. Pense no jornalismo hard news (notícias factuais), que pode ter alto impacto, mas tem vida útil curta. Esse tipo de conteúdo será comercializado talvez por um grupo muito restrito de organizações internacionais com escala para uma produção global. Estamos falando de dois, talvez três grandes conglomerados. Esse tipo de produto vai morrer como suporte para comunicação publicitária, porque ninguém vai esperar 24 horas para ler a notícia num jornal. A hard news continuará importante, mas o valor percebido nela, no sentido de gerar um modelo de negócios, será cada vez menor. Minha impressão é que caminhamos para a valorização do conteúdo contextualizado. Assim, creio que teremos produtos de mídia na linha da The Economist, com análise e contextualização. Não acredito que as organizações de mídia terão um modelo economicamente viável baseado na exploração de hard news. Esse vai ser um jogo para duas ou três companhias globais, que fornecerão para todo mundo.
Gazeta Mercantil - O senhor se refere a agências de notícias como AFP e Reuters, entre outras?
Provavelmente haverá uma concentração ainda maior entre elas. Já houve a compra da Reuters pela Thomson, por exemplo. Se por um lado há a tendência de concentração no conteúdo hard news, de outro há uma tendência de “capilaridade” da interpretação desse material, algo que é proporcionado pelas tecnologias digitais. Ou seja, muitas vezes são grupos de mídia menores, com equipes compostas por uns dez analistas que contextualizam aquelas notícias. Um exemplo interessante disso - não digo que seja modelo, mas apenas um exemplo - é o blog Huffington Post, da Ariana Huffington, nos EUA. Ela tem uma equipe renomada de especialistas. Esse grupo analisa os fatos para o blog. No auge da crise, em setembro de 2008, um banco americano de investimentos comprou 25% do Huffington Post por US$ 25 milhões. Trata-se de um blog avaliado em US$ 100 milhões. No mesmo dia em que li essa notícia, vi a cotação de alguns grupos regionais de mídia dos EUA na Bolsa de Valores. Muitos valiam menos que o Huffington Post. Eram companhias com 16 jornais locais e estações de rádio valendo menos que um blog. E você poderia perguntar que empresa é essa que poderia se beneficiar desse cenário. Seria um aventureiro, o Zorro? Não. As organizações de mídia tradicional ainda estão repletas de profissionais talentosos, experientes e que entendem como ninguém a importância de um bom conteúdo.
Gazeta Mercantil - Qual o papel dos jornalistas nessa nova configuração?
Respondo a essa pergunta com uma historinha comum nos anos 1990. Na época, dizia-se o “conteúdo é rei, ninguém entende mais de conteúdo que as empresas de mídia, então dominaremos o século XXI”. Mas nos esquecemos do seguinte: para as pessoas terem acesso ao conteúdo, elas precisam chegar a ele. E a forma como elas o alcançam não é só mais o caminhão que entrega o jornal e a revista, mas também os softwares e hardwares de grandes grupos de telecomunicações. Isso mostra que novos integrantes entraram na cadeia da informação, o que provoca um rearranjo de valor. Além desse aspecto, houve uma explosão de conteúdo disponível. E aqui vale a lei da economia: quanto maior a disponibilidade de um bem, menor o seu preço. Há um deslocamento da geração de valor. Quando vivíamos num mundo de conteúdo escasso, todo a informação produzida era consumida. A lógica hoje é outra. Como vivemos num mundo de conteúdo abundante, as pessoas consumirão aquilo que for organizado de uma maneira lógica para elas, consumidoras. O valor do conteúdo deixa de estar totalmente concentrado na produção e distribuição - as receitas das empresas de mídia vinham daí - para a ser gerado também na organização dele. Pelo sistema tradicional, as companhias cobravam um preço para criar e distribuir, algo que era pago pelos anunciantes, que queriam falar com os respectivos consumidores. Todo o valor vinha daí. Num mundo de explosão do conteúdo, o consumidor não dá conta de tudo isso. Assim, ele começa a ver valor em quem organiza a informação para ele. Os blogs tentam se firmar com um agente nesse processo. Como não temos tempo de dar conta de filtrar tudo o que acontece e chegar a uma conclusão sobre o que é socialmente valioso para nossa rede de relacionamentos, vamos aos blogs de fulano e beltrano, que podem tanto ser jornalistas de mídia tradicional como comentadores independentes. Por confiar na capacidade de filtro de determinado blogueiro, a pessoa lê o que ele escreve. E leva as informações para a sua rede social - para o Twitter, por exemplo.
Gazeta Mercantil - A maior demanda por análise decorreria disso?
Sim. Está no poder da filtragem.
Gazeta Mercantil - E como os veículos podem gerar receita nesse cenário?
Essa é a grande questão. A indústria não sabe muito bem como fazer isso. O mercado busca no momento métricas para mostrar para quem sustenta o processo - os anunciantes - que a “filtragem” dá retorno. As empresas de mídia ainda não conseguiram isso. Mas essa transformação virá, porque vem de pressão do consumidor. Tudo o que lemos sobre a situação dos grupos de mídia, especialmente nos EUA, com fechamento de jornais ou migração para o on-line, é motivado por essa realidade. Esse processo não é como um tsunami, mas sim uma maré que vai subindo, subindo. Não há como fazê-la recuar.
Gazeta Mercantil - Diante desse contexto, qual deve ser o perfil de um jornal impresso?
Também caminha para a análise.
Gazeta Mercantil - Aproximaria-se assim do perfil de revista?
Bom, ingressamos agora num terreno complexo. Não sei se o jornal diário - distribuído todos os dias, é bom salientar - fará muito sentido daqui a dez anos. Talvez passem a ser distribuídos dia sim, dia não. Mas veja que a notícia hard news continuará importante. Basta ver os jornais gratuitos. As pessoas colocam a mão para fora do ônibus para pegar o exemplar. Mas elas não estão mais dispostas a pagar por isso. Se os jornais pagos se tornarem mais analíticos, será necessário um novo perfil de jornalista e uma nova maneira de garantir a viabilidade econômica dessa operação. Talvez seja o caso de cobrar mais caro do anunciante, porque o jornal conseguirá atingir um grupo pessoas cujo envolvimento com o conteúdo será muito maior.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 8)(Clayton Melo)
Nova Mídia altera o valor do conteúdo
10/maio/2009 14:36
Doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo e professor da pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, na capital paulista, Marcelo Coutinho é um estudioso do impacto da tecnologia na economia e na comunicação. Além da experiência acadêmica, seu olhar sobre as mudanças na mídia é lapidado pelo trabalho como diretor de análise de mercado do Ibope Inteligência. Nos últimos anos, tem se dedicado a estudar dois campos que, entre tapas e beijos, parecem fadados a um casamento inadiável: a internet e o setor de mídia. Enquanto a primeira avança e transforma a sociedade, o segundo tenta adaptar seu modelo de negócios aos novos tempos. “O que as empresas de comunicação pensam ser uma ameaça, na verdade é uma oportunidade”, diz Coutinho. “Elas têm a possibilidade de repensar um modelo de negócios no qual o conteúdo desempenha um papel central e que leva a sociedade a se mobilizar em torno disso”, reforça o pesquisador, que prefere não ter web em casa para que, aos finais de semana, possa se dedicar a livros, jornais revistas - todos impressos, que fique bem claro.
Gazeta Mercantil - O senhor já afirmou em outra ocasião acreditar que a profundidade das transformações provocadas pelo digital será maior nos próximos dez anos do que o foram na última década. Por quê?
Isso se deve, por um lado, a aspectos quantitativos. Embora não tenha as estatísticas precisas aqui, é fato que o número de usuários de internet no final dos anos 1990 era muito menor. Vamos chegar ao final desta década numa situação muito diferente no mundo. No caso do Brasil, dados do Comitê Gestor e de institutos como o Ibope e o Datafolha apontam para algo entre 60 milhões e 65 milhões de usuários. Algo como 30% da população brasileira. Já é um fenômeno numericamente expressivo. Só que muito mais importante é o fator qualitativo. Estamos assistindo, com o surgimento da economia colaborativa, à possibilidade de uma nova cultura midiática. Embora a cultura da mídia ainda seja muito passiva, com a maior parte dos consumidores recebendo passivamente o conteúdo, vemos nos jornais, na TV e na própria web que as pessoas querem interferir e interagir com o conteúdo de alguma maneira. Há um fenômeno que o pesquisador Henry Jenkins, do MIT, chama de a cultura do fã. O que é isso? É a possibilidade de as pessoas interagirem e rediscutirem aquele conteúdo. É a ideia da calda longa trazida para o mundo do conteúdo. Explico: milhões de pessoas serão impactadas pela série Lost na TV, e alguns milhares de espectadores vão prolongar a vida desse conteúdo por semanas ou até meses, na medida em que discutem esse material. Veja - e por isso digo que provavelmente as transformações serão mais acentuadas nos próximos dez anos - que o controle do conteúdo e das marcas publicitárias começa a sair da mão das grandes organizações produtoras de conteúdo. Não acho que o modelo “broadcast” - conteúdo feito por grandes grupos econômicos para atrair audiência e, assim, gerar receita publicitária - vá desaparecer, é bom destacar. Mas, se esse sistema reinou sozinho praticamente durante toda a segunda metade do século XX, agora ele vai ter de conviver com outro modelo, que é o de produção de conteúdo na “calda longa dos fãs”. Ou seja, o conteúdo que uma organização produz também tem de ser pensado como um produto que pode ser trabalhado, recriado e rediscutido por pessoas que tenham alguma relação com uma marca.
Gazeta Mercantil - O que o senhor descreve é exemplo da narrativa transmidiática da qual fala Jenkins, experimentada por séries de TV como Heroes e Lost ou Matrix, no cinema.
Exatamente. Esses são bons exemplos. Talvez mais importante que impactar uma grande massa de pessoas, será se aproximar daquele grupo que tem uma relação profunda com o conteúdo que sua empresa torna disponível. Isso nos faz pensar numa outra coisa: o que as empresas de mídia pensam ser uma grande ameaça, na verdade pode ser uma grande oportunidade, que talvez só tenhamos visto na época do aparecimento da televisão.
Gazeta Mercantil - Que oportunidade é essa?
É a possibilidade de repensar um modelo de negócios no qual o conteúdo desempenha um papel central e que leva a sociedade a se mobilizar em torno disso. Aqui entramos no terreno das redes sociais: para que serve o conteúdo, a informação? Para gerar prestígio social. Por que uma notícia de jornal ou um filme visto na TV, na web, são importantes? A importância vai além do fator econômico, é também social. As pessoas conversam sobre o conteúdo. Ao conversarem sobre ele, contribuem com o mercado social - reforçar os laços de amizade, prestígio dentro de um determinado grupo. Tudo isso já ocorre muito antes da web. Mas a digitalização possibilita às empresas produtoras de conteúdo rastrear esse conteúdo, coisa que não podiam fazer antes. O que veremos nos próximos dez anos é o rastreamento e a mensurabilidade desse marketing viral. E a possibilidade de medir como isso impacta no comportamento das pessoas. Este é o desafio das empresas de mídia e das agências de publicidade: sair de um modelo de negócio baseado exclusividade na exposição do conteúdo para um calcado no impacto do conteúdo. Em outras palavras, na circulação do conteúdo nas diversas redes sociais.
Gazeta Mercantil - Pode dar um exemplo adequado ao contexto de um jornal ou revista?
Gosto de citar o The New York Times. Se você perguntar para qualquer pessoa da minha geração, de 40 anos para cima, qual é o slogan do NYT, ela dirá “all the that´s fit to print”, ou seja, tudo o que um grupo de editores julgou adequado ser impresso. E qual o slogan do NYT na internet? “Onde as conversas começam”. Isso é muito bem sacado e demonstra a compreensão dos mecanismos que estão diante da mídia. Mais que algum conteúdo para ser impresso e distribuído, busca-se um material que circule entre as pessoas. Como isso pode ser feito e medido? Esse é o Santo Graal que todo mundo persegue. Temos de um lado um mercado de conteúdo produzido por grandes corporações. De outro, um mercado social (os Orkuts, os LinkdIns, os Twitters da vida) no qual os conteúdos circulam. O desafio é fazer com que o conteúdo produzido no mercado econômico também seja medido no mercado social e passe a ter um valor financeiro dentro desse mercado social. Exemplo: existe alguma maneira de gerar receita com uma notícia da interessante da Gazeta Mercantil que eu leve para meu Orkut, Facebook ou Twitter? Acho que existe, mas ainda não conseguimos encontrá-la. A indústria da mídia se encontra diante da mesma oportunidade que surgiu com o aparecimento da televisão. Mas ficar demonizando as mudanças não resolve. Tem de encontrar uma solução.
Gazeta Mercantil - Por que as transformações provocadas pelo digital são tão poderosas?
Porque elas vêm do consumidor. O Ibope Inteligência divulgou duas pesquisas. Uma foi feita no evento de tecnologia Campus Party, em janeiro, e outra agora, sobre a relação dos jovens das classes ABC com as marcas de material esportivo. Esses estudos mostram que, para esse público (que não está na média dos consumidores brasileiros, pois são adolescentes e fissurados em tecnologia), a importância da opinião de outros consumidores é mais importante que a comunicação de massa dos meios tradicionais, como a publicidade em TV, rádio etc. Isso como fonte de informação para decisão de compra. Você pode dizer que hoje eles são adolescentes. Mas, durante a próxima década, esse pessoal vai ingressar com tudo no mercado de consumo.
Gazeta Mercantil - O senhor falou que o conteúdo continuará a ser um item muito importante no cenário que se desenha para o mercado da comunicação. Mas que tipo de conteúdo é esse que será valorado? Quais as perspectivas para a produção jornalística?
O conteúdo tem relevância na medida em que ele é uma moeda social. É o fato de ter acesso a um material interessante, diferente e reproduzi-lo em uma rede, que pode ser digital ou não - é preciso entender que há as redes sociais que não são digitais. As pessoas falam das redes sociais como se elas tivessem surgido com a internet. Mas a sociologia começou a estudá-las por volta de 1890. A novidade é que elas passaram a ser mensuráveis a partir da digitalização. Então, que conteúdo é importante? Claramente percebemos que é aquele que vai além da instantaneidade. De que me vale ver na capa de um jornal a seguinte manchete “Obama é eleito”. Não faz sentido. Vamos analisar o assunto por partes. Pense no jornalismo hard news (notícias factuais), que pode ter alto impacto, mas tem vida útil curta. Esse tipo de conteúdo será comercializado talvez por um grupo muito restrito de organizações internacionais com escala para uma produção global. Estamos falando de dois, talvez três grandes conglomerados. Esse tipo de produto vai morrer como suporte para comunicação publicitária, porque ninguém vai esperar 24 horas para ler a notícia num jornal. A hard news continuará importante, mas o valor percebido nela, no sentido de gerar um modelo de negócios, será cada vez menor. Minha impressão é que caminhamos para a valorização do conteúdo contextualizado. Assim, creio que teremos produtos de mídia na linha da The Economist, com análise e contextualização. Não acredito que as organizações de mídia terão um modelo economicamente viável baseado na exploração de hard news. Esse vai ser um jogo para duas ou três companhias globais, que fornecerão para todo mundo.
Gazeta Mercantil - O senhor se refere a agências de notícias como AFP e Reuters, entre outras?
Provavelmente haverá uma concentração ainda maior entre elas. Já houve a compra da Reuters pela Thomson, por exemplo. Se por um lado há a tendência de concentração no conteúdo hard news, de outro há uma tendência de “capilaridade” da interpretação desse material, algo que é proporcionado pelas tecnologias digitais. Ou seja, muitas vezes são grupos de mídia menores, com equipes compostas por uns dez analistas que contextualizam aquelas notícias. Um exemplo interessante disso - não digo que seja modelo, mas apenas um exemplo - é o blog Huffington Post, da Ariana Huffington, nos EUA. Ela tem uma equipe renomada de especialistas. Esse grupo analisa os fatos para o blog. No auge da crise, em setembro de 2008, um banco americano de investimentos comprou 25% do Huffington Post por US$ 25 milhões. Trata-se de um blog avaliado em US$ 100 milhões. No mesmo dia em que li essa notícia, vi a cotação de alguns grupos regionais de mídia dos EUA na Bolsa de Valores. Muitos valiam menos que o Huffington Post. Eram companhias com 16 jornais locais e estações de rádio valendo menos que um blog. E você poderia perguntar que empresa é essa que poderia se beneficiar desse cenário. Seria um aventureiro, o Zorro? Não. As organizações de mídia tradicional ainda estão repletas de profissionais talentosos, experientes e que entendem como ninguém a importância de um bom conteúdo.
Gazeta Mercantil - Qual o papel dos jornalistas nessa nova configuração?
Respondo a essa pergunta com uma historinha comum nos anos 1990. Na época, dizia-se o “conteúdo é rei, ninguém entende mais de conteúdo que as empresas de mídia, então dominaremos o século XXI”. Mas nos esquecemos do seguinte: para as pessoas terem acesso ao conteúdo, elas precisam chegar a ele. E a forma como elas o alcançam não é só mais o caminhão que entrega o jornal e a revista, mas também os softwares e hardwares de grandes grupos de telecomunicações. Isso mostra que novos integrantes entraram na cadeia da informação, o que provoca um rearranjo de valor. Além desse aspecto, houve uma explosão de conteúdo disponível. E aqui vale a lei da economia: quanto maior a disponibilidade de um bem, menor o seu preço. Há um deslocamento da geração de valor. Quando vivíamos num mundo de conteúdo escasso, todo a informação produzida era consumida. A lógica hoje é outra. Como vivemos num mundo de conteúdo abundante, as pessoas consumirão aquilo que for organizado de uma maneira lógica para elas, consumidoras. O valor do conteúdo deixa de estar totalmente concentrado na produção e distribuição - as receitas das empresas de mídia vinham daí - para a ser gerado também na organização dele. Pelo sistema tradicional, as companhias cobravam um preço para criar e distribuir, algo que era pago pelos anunciantes, que queriam falar com os respectivos consumidores. Todo o valor vinha daí. Num mundo de explosão do conteúdo, o consumidor não dá conta de tudo isso. Assim, ele começa a ver valor em quem organiza a informação para ele. Os blogs tentam se firmar com um agente nesse processo. Como não temos tempo de dar conta de filtrar tudo o que acontece e chegar a uma conclusão sobre o que é socialmente valioso para nossa rede de relacionamentos, vamos aos blogs de fulano e beltrano, que podem tanto ser jornalistas de mídia tradicional como comentadores independentes. Por confiar na capacidade de filtro de determinado blogueiro, a pessoa lê o que ele escreve. E leva as informações para a sua rede social - para o Twitter, por exemplo.
Gazeta Mercantil - A maior demanda por análise decorreria disso?
Sim. Está no poder da filtragem.
Gazeta Mercantil - E como os veículos podem gerar receita nesse cenário?
Essa é a grande questão. A indústria não sabe muito bem como fazer isso. O mercado busca no momento métricas para mostrar para quem sustenta o processo - os anunciantes - que a “filtragem” dá retorno. As empresas de mídia ainda não conseguiram isso. Mas essa transformação virá, porque vem de pressão do consumidor. Tudo o que lemos sobre a situação dos grupos de mídia, especialmente nos EUA, com fechamento de jornais ou migração para o on-line, é motivado por essa realidade. Esse processo não é como um tsunami, mas sim uma maré que vai subindo, subindo. Não há como fazê-la recuar.
Gazeta Mercantil - Diante desse contexto, qual deve ser o perfil de um jornal impresso?
Também caminha para a análise.
Gazeta Mercantil - Aproximaria-se assim do perfil de revista?
Bom, ingressamos agora num terreno complexo. Não sei se o jornal diário - distribuído todos os dias, é bom salientar - fará muito sentido daqui a dez anos. Talvez passem a ser distribuídos dia sim, dia não. Mas veja que a notícia hard news continuará importante. Basta ver os jornais gratuitos. As pessoas colocam a mão para fora do ônibus para pegar o exemplar. Mas elas não estão mais dispostas a pagar por isso. Se os jornais pagos se tornarem mais analíticos, será necessário um novo perfil de jornalista e uma nova maneira de garantir a viabilidade econômica dessa operação. Talvez seja o caso de cobrar mais caro do anunciante, porque o jornal conseguirá atingir um grupo pessoas cujo envolvimento com o conteúdo será muito maior.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 8)(Clayton Melo)
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Para onde vai o Banco Central?
Clique aqui e leia a análise do Alon Feuerwecker a respeito. Vale a pena!
Notícia auspiciosa
Sensor aponta uma melhor expectativa do setor produtivo(14/05/2009 - 11:23)
Diminui o medo em relação à queda da demanda, margem de lucro e situação financeira das empresas
O Sensor Econômico, indicador de expectativas do setor produtivo aferido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em todo o território nacional, aponta, nesta edição, que diminui o medo em relação à queda da demanda, margem de lucro e situação financeira das empresas. Também melhora, embora continue bastante negativa, a expectativa relacionada aos problemas sociais.
As expectativas em relação ao PIB e contas externas impediram uma melhora mais significativa do Sensor. Por outro lado, agropecuária, indústria, comércio e serviços e trabalhadores não acreditam em quadro recessivo para o Brasil. Em todos eles, a menor pontuação obtida pelo item foi igual a zero, dada pelas entidades representativas do setor agropecuário.
Nos Parâmetros Econômicos houve estabilidade nas expectativas favoráveis em relação à inflação baixa (até 2,5% a.a.), taxa de câmbio sem alterações e redução da taxa básica de juros (entre 0,5% e 3% nos próximos 12 meses). Do mesmo modo, diminuiu significativamente o medo em relação à falta de crédito, melhorando a esperança de acesso de -18,7 pontos, em janeiro, para 2,9 pontos em abril.
Já a indústria está cada vez mais apreensiva com as contas nacionais. O setor de atividade acreditava, até fevereiro, que o PIB brasileiro cresceria acima de 1,5% em 2009. De lá para cá, essa crença diminuiu e hoje o crescimento esperado é próximo de zero.
Aspectos sociais
O lado bom das expectativas industriais vem com o desempenho das empresas e aspectos sociais. No caso das empresas, reduziram-se os temores quanto à queda na demanda, que passaram de uma expectativa de queda de até 2% para a crença na sua estabilidade. O dado mais preocupante de abril está na utilização da capacidade que, acredita-se, ficará entre 70% e 81%.
As esperanças quanto aos aspectos sociais caminham para redução dos temores, mas ainda são adversas. Apenas para violência melhorou visivelmente o quadro esperado (jan=-45,7 pontos e abr=-35,7 pontos).
Os trabalhadores aparecem como os mais otimistas do Sensor Ipea. Depois de um fevereiro bastante preocupado, as entidades representativas do grupo olham com confiança o desempenho das empresas, pois acreditam que a demanda crescerá moderadamente (em torno de 2%) e a margem de lucro das empresas não cairá.
Metodologia
Lançado pelo instituto em fevereiro deste ano, o Sensor Ipea faz consultas mensais a 115 entidades representativas do setor produtivo, que somam cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB). Nesse conjunto estão incluídas entidades patronais da agricultura, da indústria, do comércio e serviços e de trabalhadores.
São enviados, na segunda semana de cada mês, questionários contendo 24 perguntas objetivas. Cada uma das 24 questões apresenta cinco cenários possíveis: a resposta mais otimista vale 100 pontos, a confiante 50 pontos, a intermediária zero ponto, a adversa -50 pontos e a mais pessimista -100 pontos. A soma das pontuações por questão, dividida pelo número de respondentes, indica o cenário médio esperado pelo setor produtivo para os próximos 12 meses.
A soma das questões forma blocos chamados Temas, que apontam para a expectativa do setor produtivo em aspectos como contas nacionais, parâmetros econômicos, empresas do setor e aspectos sociais. Por fim, a soma ponderada desses quatro aspectos resume o ânimo do setor produtivo para o ano. Ou seja, informa o valor do Sensor Ipea.
Sensor nº 4 - maio 2009
Sensor nº 3 - abril 2009
Sensor nº 2 - março 2009
Sensor nº 1 - fevereiro 2009
Diminui o medo em relação à queda da demanda, margem de lucro e situação financeira das empresas
O Sensor Econômico, indicador de expectativas do setor produtivo aferido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em todo o território nacional, aponta, nesta edição, que diminui o medo em relação à queda da demanda, margem de lucro e situação financeira das empresas. Também melhora, embora continue bastante negativa, a expectativa relacionada aos problemas sociais.
As expectativas em relação ao PIB e contas externas impediram uma melhora mais significativa do Sensor. Por outro lado, agropecuária, indústria, comércio e serviços e trabalhadores não acreditam em quadro recessivo para o Brasil. Em todos eles, a menor pontuação obtida pelo item foi igual a zero, dada pelas entidades representativas do setor agropecuário.
Nos Parâmetros Econômicos houve estabilidade nas expectativas favoráveis em relação à inflação baixa (até 2,5% a.a.), taxa de câmbio sem alterações e redução da taxa básica de juros (entre 0,5% e 3% nos próximos 12 meses). Do mesmo modo, diminuiu significativamente o medo em relação à falta de crédito, melhorando a esperança de acesso de -18,7 pontos, em janeiro, para 2,9 pontos em abril.
Já a indústria está cada vez mais apreensiva com as contas nacionais. O setor de atividade acreditava, até fevereiro, que o PIB brasileiro cresceria acima de 1,5% em 2009. De lá para cá, essa crença diminuiu e hoje o crescimento esperado é próximo de zero.
Aspectos sociais
O lado bom das expectativas industriais vem com o desempenho das empresas e aspectos sociais. No caso das empresas, reduziram-se os temores quanto à queda na demanda, que passaram de uma expectativa de queda de até 2% para a crença na sua estabilidade. O dado mais preocupante de abril está na utilização da capacidade que, acredita-se, ficará entre 70% e 81%.
As esperanças quanto aos aspectos sociais caminham para redução dos temores, mas ainda são adversas. Apenas para violência melhorou visivelmente o quadro esperado (jan=-45,7 pontos e abr=-35,7 pontos).
Os trabalhadores aparecem como os mais otimistas do Sensor Ipea. Depois de um fevereiro bastante preocupado, as entidades representativas do grupo olham com confiança o desempenho das empresas, pois acreditam que a demanda crescerá moderadamente (em torno de 2%) e a margem de lucro das empresas não cairá.
Metodologia
Lançado pelo instituto em fevereiro deste ano, o Sensor Ipea faz consultas mensais a 115 entidades representativas do setor produtivo, que somam cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB). Nesse conjunto estão incluídas entidades patronais da agricultura, da indústria, do comércio e serviços e de trabalhadores.
São enviados, na segunda semana de cada mês, questionários contendo 24 perguntas objetivas. Cada uma das 24 questões apresenta cinco cenários possíveis: a resposta mais otimista vale 100 pontos, a confiante 50 pontos, a intermediária zero ponto, a adversa -50 pontos e a mais pessimista -100 pontos. A soma das pontuações por questão, dividida pelo número de respondentes, indica o cenário médio esperado pelo setor produtivo para os próximos 12 meses.
A soma das questões forma blocos chamados Temas, que apontam para a expectativa do setor produtivo em aspectos como contas nacionais, parâmetros econômicos, empresas do setor e aspectos sociais. Por fim, a soma ponderada desses quatro aspectos resume o ânimo do setor produtivo para o ano. Ou seja, informa o valor do Sensor Ipea.
Sensor nº 4 - maio 2009
Sensor nº 3 - abril 2009
Sensor nº 2 - março 2009
Sensor nº 1 - fevereiro 2009
quinta-feira, 14 de maio de 2009
De Cuba
Olavo Queiroz, um amigo sobre o qual já teci comentários neste espaço, enviou-me, por e-mail, um texto sobre Cuba. O Olavo, para quem não sabe, é um militante ativo na solidariedade à Cuba. Bueno, o texto ficaria meio truncado se eu o transcrevesse aqui. Assim sendo, envio-te para um blog que o reproduz na íntegra. Acesse aqui.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Uma outra idéia de beleza...
Em tempos de culto aos corpos "jovens e sarados", de malhadões e "preparadas", dá uma alívio danado quando a gente encontra iniciativas como essa ocorrida na Inglaterra. Leia a matéria abaixo, publicada no site do UOL e, em seguida, clique aqui para ver o ensaio completo.
Dez anos depois, Garotas do Calendário voltam a posar nuas
O calendário 2010 traz uma série de 12 imagens inéditas de seis das 11 mulheres que participaram da realização do primeiro, em 1998.
A idéia original foi criada por Angela Baker, que perdeu o marido naquele ano após uma longa batalha contra o câncer. Ela e outras amigas da organização Womens's Institute (Instituto das Mulheres) decidiram embarcar no projeto, acreditando que as vendas de alguns calendários seria o suficiente para comprar um novo sofá para o hospital onde seu marido havia passado seus últimos dias.
Além de ter vendido 800 mil cópias, o calendário deu origem ao filme Garotas do Calendário, lançado em 2004, e já arrecadou 2 milhões de libras (R$6,3 milhões) para pesquisas sobre a leucemia.
Durante o discurso de lançamento do novo calendário, Angela Baker disse que seu marido "está certamente feliz com tudo o que elas alcançaram".
"Às vezes eu tenho que me beliscar para acreditar que essa é a minha história. Eu sinto tantas emoções, é difícil de explicar", disse ela.
A diretora-executiva da instituição de caridade britânica Leukemia Research, Cathy Gilman, disse há 10 anos que "as "garotas" nunca poderiam ter imaginado que arrecadariam tanto dinheiro para ajudar a salvar vidas".
Palestra com Ricardo Bielchowsky na UFRN
Na próxima sexta-feira, dia 15 de maio, o Professor Ricardo Bielshowsky (UFRJ) ministrará palestra sobre o pensamento desenvolvimentista no Brasil. Bielschowsky é um dos mais importantes historiadores do pensamento social e econômico brasileiro. Atuou como docente na UFRJ e, atualmente, além de consultor da CEPAL, é também assessor do Ministério do Planejamento. A palestra terá início às 9 horas e ocorrerá no Auditório B do CCHLA. Veja mais sobre o palestrante aqui e aqui.
É o cara...
Que crise? Lula surfa em onda revolta e ganha destaque na imprensa internacional. Veja abaixo matéria publicada no El País (como você sabe o jornal espanhol é a minha primeira leitura obrigatória de todos os dias).
La oposición se rinde ante los programas sociales de Lula
Los socialdemócratas perfeccionarán la Bolsa Familia si ganan en 2010
JUAN ARIAS - Río de Janeiro - 13/05/2009
La oposición se rinde ante los programas sociales de Lula
Los socialdemócratas perfeccionarán la Bolsa Familia si ganan en 2010
JUAN ARIAS - Río de Janeiro - 13/05/2009
El mayor y más prestigioso partido de la oposición, el Partido de la Social Democracia Brasileña (PSDB), fundado por el ex presidente Fernando Henrique Cardoso, que gobernó el país durante ocho años antes de llegar el huracán del fenómeno Lula, se ha rendido ante los programas sociales del actual Gobierno del ex tornero. El programa Bolsa Familia, que alcanza con su ayuda a cerca de 12 millones de familias principalmente en el noreste del país, donde casi el 50% de las familias viven de ese subsidio, gusta hasta en la opocición. Leia mais aqui.
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terça-feira, 12 de maio de 2009
Uma ótima leitura na revista Piauí
"Ter 18 anos na cidade grande" é um diário de uma jovem que, como o título indica, acabou de alcançar a maioridade. Trata-se de uma ótima leitura!. Vale a pena conferir! Acesse aqui a matéria.
O drama das enchentes no Piauí nos jornais europeus.
Música para um começo de jornada...
Chegando para o trampo? Bueno, então fique em paz e curta o som abaixo.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
O mercado, a publicidade e o público gay
Devagar, o mercado vai incorporando e desbravando nocvas fronteiras. Abaixo, algumas propagandas criativas dirigidas ao público gay. Vale a pena conferir!
quarta-feira, 6 de maio de 2009
O vírus do medo se espalha.
Música para um final de tarde...
Não! Não estou em Bariloche (infelizmente!). Então, resta-me trabalhar. Estou, como sempre, na minha sala na Universidade. E entre uma tarefa e outra, como não sou de ferro, escuto uma boa música. E, boa pessoa que sou, divido-a com você.
Eu também quero ir para Bariloche
Hoje, a todo momento, nos corredores da UFRN, alguém me perguntava sobre supostas viagens de pessoas próximas a políticos(as) conhecidos(as) para Bariloche (Argentina), com passagens pagas com o meu, o seu, o nosso suado dinheirinho. Nada sei de trabalho extra-parlamentar no conhecido destino turístico. Então, de bate pronto respondo: "não sei de nada, mas também quero ir para Bariloche!". Como isso, até o momento, está fora de cogitações (o meu salário de professor não me permite esse tipo de desfrute!), fico apenas sonhando. E, para manter aceso o sonho e a esperança (que teima em se manter firme, apesar de tantas decepções e derrotas), coloco abaixo imagens do conhecido balneário. Confira!
Xeleleunews: algo de novo na blogsfera política do RN
Ufa! Enfim, algo de novo na blogsfera política. Refiro-me ao blog xeleleunews. Comentários ácidos e críticos adicionados com moderadas pitadas de humor. Até aqui, uma coisa boa sobre a política da província na rede. Clique aqui e confira.
terça-feira, 5 de maio de 2009
Um belo artigo sobre Augusto Boal
Transcrevo abaixo um belo artigo, de autoria de Ariel Dorfman, publicado hoje no jornal argentino Página 12.
Boal en la memoria
Por Ariel Dorfman *
La primera palabra que me saltó a la mente cuando conocí a Augusto Boal es que él era... elástico. Flexible, dúctil, fluido, abierto al mundo; pero a la vez con algo casi infinitamente resistente, ese hombre largo y flaco, no de esos elásticos que cuando se estiran se rompen.
Nuestro encuentro inicial fue en La Habana, en enero de 1973, cuando fuimos co-jurados para el Concurso de la Casa de la Américas y ya era una leyenda su Teatro del Oprimido. Aproveché yo su sabiduría en esa ocasión de una manera más bien pragmática. En Chile, en ese tiempo, estaba ya en plena marcha la contra-revolución que en septiembre de ese año derrocaría a Salvador Allende y mis conversaciones con Augusto volvían una y otra vez al papel que podía jugar el teatro –ojo, me decía, todo es teatro, solamente que la mayoría de la gente no se da cuenta– en una coyuntura tan crítica. Fue su espíritu creador travieso, su convicción de que los espectadores eran de veras coautores, su optimismo inagotable, que me llevé de vuelta a Santiago. Unos meses más tarde, trabajando ya en La Moneda como asesor cultural de Fernando Flores, secretario general del gobierno de Allende, aproveché las enseñanzas y la inspiración de Boal para planificar una serie de acciones teatrales en los espacios públicos de Santiago que podían retrasar la asonada militar que, día a día, amenazaba con destruir la democracia de mi país.
Justamente el 11 de septiembre de 1973 me iba a encontrar con Oscar Castro, del Teatro El Aleph, para infiltrar las calles de Santiago con escenas creadas en base a lo que Boal llamaba el Teatro Invisible. Esto de invisible me gustaba en particular porque éramos víctimas del bloqueo llamado invisible del gobierno norteamericano que, junto con el sabotaje económico de la derecha, había creado una escasez artificial y largas colas de ciudadanos que debían esperar para hacer compras de los alimentos más esenciales. Una de mis ideas, que Oscar Castro y su grupo iban a llevar a cabo con desparpajo y alegría, era que un tropel de actores se pusiera en la cola y, sin revelar su origen teatral, fueran acusando sutilmente a los verdaderos responsables de aquella carencia de bienes materiales, de manera que las protestas de la gente se dirigieran contra los golpistas y no contra el gobierno popular.
Nunca pudimos escenificar ni esa ni otras presentaciones similares. El gran teatro de Chile fue usurpado –si se me permite una metáfora un tanto melodramática– por el Director de la Muerte, Augusto Pinochet, y yo me fui, eventualmente, a un exilio nada de invisible.
Y en Buenos Aires me esperaba, por cierto, Augusto Boal, que había tenido que salir de su Brasil después de caer preso y que se había instalado en el país de su maravillosa mujer, Cecilia. Fueron tan solidarios con nosotros en el dolor como serían generosos en los años por venir con tantos otros seres necesitados: nos prestaron por unos días su departamento a fines de enero de 1974, justo antes de que huyéramos de una Argentina donde ya se veía que el futuro era también sombrío.
Y fue ahí que Augusto me ofreció una lección que poco tenía que ver con el teatro y absolutamente todo que ver con la vida. Me acuerdo de que estaba yo hablando con él acerca de las noticias terribles que salían de Chile como si fueran una cloaca y Chile y más Chile y cómo el mundo había reaccionado frente a nuestra tragedia y el tipo de trabajo solidario que pensaba realizar en Europa con Chile y fue entonces que Boal me dijo, muy calladamente, pero con mucho fervor: sí, Chile, dijo, Chile, sin duda, Ariel, pero no te olvides del resto de América latina. Y yo me quedé perplejo, porque tenía razón. Con tanto protagonismo de mi país era fácil dejar de lado a tantos otros países que sufrían, era fácil ponerse egoístas. Y tal como un año antes me había llevado a Santiago sus palabras sobre el teatro como un infinito instrumento de liberación y participación, me fui de la Argentina en 1974 llevando esas otras palabras, cargadas de ética continental y compasión humana; me las llevé y nunca las pude olvidar.
En las décadas que se perpetuaron desde entonces nos vimos de vez en cuando con Boal, siempre fui recibiendo con júbilo noticias suyas y mensajes y parabienes, si bien yo fui derivando más y más hacia un teatro diferente que el suyo. Y ahora que dicen los cables que ya no respira en este mundo, quiero desmentir aquella información falaz que vino desde Río de Janeiro y asegurar que Boal se encuentra increíblemente vivo y tan elástico como siempre, quiero afirmar que su muerte es invisible porque sigue él adentro de miles y miles de hombres y mujeres y niños que encontraron en sus obras y sus dichos y su vida la iluminación para hacerse ellos mismos los muy visibles protagonistas de su destino.
* El último libro de Ariel Dorfman es Americanos. Los pasos de Murieta.
De Augusto Boal para Bosco Cariri
Augusto Boal foi uma das referências de minha geração. O "teatro do oprimido" expressou a possibilidade de um fazer artístico que rompia com os limites convencionais nos quais até então se enquadrava as manifestações supostamente "engajadas na transformação". As minhas primeiras lições sobre o significado da obra de Boal me foram passadas, no início da década de 1980, por Bosco Cariri. Bosco era, então, ator, diretor teatral, agitador cultural e mais um bocadão de coisas. E, como poucos, espantou a mesmice e varreu a mediocridade provinciana que imperava no ME (Movimento Estudantil) da UFRN naqueles anos mágicos. Suas esquetes teatrais marcaram todo um período. Eu era então um campônio amedrontado, recém chegado ao estranho mundo da Universidade e da capital. Pois Bosco apostou em mim e eu descobri no teatro uma forma de superar a timidez do sertanejo. Durante anos, na UFRN, fui identificado como "Bandeijão" (um personagem que o Bosco criou e me fez encenar pelos mais diversos espaços da Universidade). E como esse personagem me ajudou!
A morte do Boal me pegou de jeito. E uma forma de manter viva a sua lembrança é rememorar o que ele significou para mim e para minha geração. E lembrar que, na esquina do Atlântico Sul, um cara chamado Bosco Cariri fazia das lições de Boal uma forma de re-inventar mundos e mudar pessoas.
A morte do Boal me pegou de jeito. E uma forma de manter viva a sua lembrança é rememorar o que ele significou para mim e para minha geração. E lembrar que, na esquina do Atlântico Sul, um cara chamado Bosco Cariri fazia das lições de Boal uma forma de re-inventar mundos e mudar pessoas.
BNB oferta bolsas para doutorandos e mestrandos
Doutorandos e mestrandos que desenvolvem pesquisas sobre o Nordeste Brasileiro podem se candidatar a uma bolsa do BNB. O mais interessante é que a bolsa pode ser acumulada com outra que o candidato já detenha. Acesse aqui o edital.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
A epidemia do despreparo: uma análise da gripe suína
Encontrei, no site da revista Carta Capital, um ótimo artigo analisando a reação de governos e imprensa à expansão da chamada gripe suína.
Epidemia de despreparo
30/04/2009 15:23:26
Rogerio Tuma
A falta de preparo, o desconhecimento e a influência econômica interferem no discurso de autoridades sanitárias no mundo todo. Em vez de alertar a população, acabam por alarmá-la, provocando mais estragos que o próprio surto virótico.
A gripe suína é provocada por um tipo de vírus influenza, da mesma família que pode provocar a gripe comum e a aviária. Esta espécie é o mais frequente motivo de infecção de vias aéreas por vírus em humanos, porcos e aves, podendo causar desde um simples resfriado até uma grave pneumonia.
É provocada mais frequentemente pelo vírus influenza tipo A, subtipo H1N1. A infecção passa de um porco doente para outro por contato com secreções de espirros, gotículas de saliva e contato físico íntimo. Vez ou outra um desses vírus sofre mutação genética, o que permite a contaminação das vias aéreas de outros animais, principalmente humanos. Além de criá-los em cativeiro com pouco espaço, o que facilita a contaminação, somos muito parecidos geneticamente com os porcos.
Muitos tecidos vivos utilizados na medicina para substituir os nossos provêm de porcos. Por conta dessa semelhança e proximidade, não é raro uma epidemia de gripe suína atingir humanos e vice-versa. Outro vírus que também pode provocar a gripe suína, o influenza A H3N2, é originário de gripes humanas.
No caso da influenza suína, a morbidade é muito alta. Traduzindo: depois de passar do porco para o humano, é muito fácil a transmissão de um homem para outro, mas a sua mortalidade é baixa, isto é, o risco de uma gripe se transformar em pneumonia letal é de 1% a 4 %. Esta característica é a que melhor difere a atual epidemia da gripe aviária, em que o vírus é muito mais estranho aos humanos e atingiu mortalidade de 20%.
O mundo todo, todo ano e o ano todo tem gripe. Algumas são mais graves, pois toda infecção viral provoca uma resposta do organismo infectado com a produção de anticorpos e inflamação. Algumas vezes, a reação é tão intensa que passa a ser perigosa por si só.
Isto é mais comum quando o vírus é muito mais estranho ao organismo que infecta e, portanto, muito mais antigênico. A cepa específica que provoca a epidemia no México tem pedaços de genes da influenza aviária, humana e suína. É a primeira vez que uma mutação tão complexa é identificada. Se o fenômeno se traduz em reação inflamatória mais intensa e maior risco de morte, ainda está por ser definido.
Quando estamos diante de uma epidemia, a melhor conduta é evitar o lugar onde ela começou e onde existem mais casos clínicos. É medida errada do governo não sugerir às pessoas deixarem de viajar para os lugares por turismo até que a situação esteja controlada. Todo o prejuízo das companhias de turismo e da economia local compensa ao se poupar uma vida que seja. Além disso, como as mudanças virais são muito rápidas, ninguém colocaria um familiar na região onde um vírus com alto poder de infecção está se espalhando. Mesmo que a chance de morrer em decorrência seja muito baixa, ela não é nula.
As epidemias ocorrem por erro dos países que não vacinam seus animais e não têm programa educativo ou de orientação para os criadores de porcos e aves. Em alguns lugares o porco doente é abatido e servido na mesa do criador.
É alarmante o desserviço prestado pelos governantes e autoridades ao comentar fatos com desconhecimento e falta de bom senso. O governo dos Estados Unidos, ainda expressando o pensamento de que o mundo pertence aos americanos, reclama publicamente que já tem problemas demais com o Afeganistão e a crise econômica, e os mexicanos lhes aparecem com uma epidemia. Já faz mais de três anos que aumentou a incidência de gripe suína nos EUA.
Produtores e exportadores de carne suína no Brasil querem trocar o nome da gripe para norte-americana ou mexicana, criticando o sobrenome suíno dado para a gripe, ideia tola e errônea. O país que mais levou a sério a pandemia de influenza em 1918 e deu liberdade à imprensa para informar sua população, acabou carregando o peso de nomeá-la, pois, apesar de o vírus ter se espalhado a partir dos Estados Unidos, a gripe que matou milhões virou espanhola.
A Europa parece muito mais preparada para adequar as respostas de governo a esse tipo de ameaça, pois seus dirigentes se reservam a anunciar reuniões com seus técnicos e as precauções são dadas pelos órgãos de saúde e com bom senso. Os Estados também não vacilaram. A comissária de Saúde da União Europeia, Androulla Vassilliou, recomendou claramente aos cidadãos que evitem viagens não essenciais às regiões onde há casos confirmados da doença.
Por aqui acontece o contrário. Não houve nenhuma recomendação aos viajantes brasileiros que visitariam os locais contaminados. Eu gostaria muito de poder utilizar uma cota de passagem dos congressistas e pagar uma viagem a Cancún para o diretor de jornalismo da rede de televisão que anunciava claramente não haver perigo em viajar para o México e para o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que fazia a mesma coisa nos dias iniciais da epidemia.
O mais ridículo foi o argumento: já que a pandemia está fora de controle, tanto faz o lugar do mundo para onde se vai viajar. Só falta agora o governo financiar as passagens em 24 vezes para que os brasileiros possam ver de perto os efeitos da gripe suína no México, ou da aviária na China. Ou, ainda, um tour pelo Saara, onde acaba de eclodir uma epidemia de meningite. Isso sem falar na dengue em nosso litoral.
Outra orientação errada é garantir que a gripe não passa pela carne de porco. É uma meia-verdade. O vírus pode estar presente na carne. Portanto, antes de ser ingerida, ela deve ser aquecida a pelo menos 70 graus.
A primeira morte ocorrida no México foi em 13 de abril, data também da ocorrência do primeiro caso americano. Até a quarta-feira 29, nove países confirmaram a presença de infectados com a gripe suína.
As chances de termos uma gripe igual à de 1918, que matou 40 milhões de pessoas, é muito menor. Não se pode negligenciar o avanço da ciência, muito menos a capacidade de nossa adaptação a situações adversas. Hoje podemos identificar se o vírus influenza está presente nas secreções de homens e animais doentes, com exames de sangue e secreções, em menos de 24 horas.
Existem antivirais que podem combater o H1N1 se o tratamento for iniciado até 48 horas do início dos sintomas: febre de 39 graus, dores de cabeça e no corpo, congestão nasal e tosse, em geral seca. Os antivirais foram deixados à disposição da Organização Mundial da Saúde. Mas não adianta nem precisa correr à farmácia para comprar o remédio. A Roche, que produz o Oseltamivir, doou 3 milhões de doses à OMS e deixou todo seu estoque no Brasil à disposição do Ministério da Saúde. A doutora Karina Fontao, diretora-médica do laboratório no Brasil, afirma ser possível produzir 400 milhões de doses em um ano.
O risco de ocorrer uma epidemia no Brasil não é baixo, por causa da intimidade que temos com o México. Precisamos estar alertas. Dos onze que foram internados por supostamente terem contraído a gripe suína, nenhum deles sequer preencheu os critérios de suspeita. Portanto, não precisamos nos alarmar. O que devemos fazer agora é ter bom senso e educação. Por exemplo, lavar as mãos e cobrir a boca ao tossir ou espirrar.
Epidemia de despreparo
30/04/2009 15:23:26
Rogerio Tuma
A falta de preparo, o desconhecimento e a influência econômica interferem no discurso de autoridades sanitárias no mundo todo. Em vez de alertar a população, acabam por alarmá-la, provocando mais estragos que o próprio surto virótico.
A gripe suína é provocada por um tipo de vírus influenza, da mesma família que pode provocar a gripe comum e a aviária. Esta espécie é o mais frequente motivo de infecção de vias aéreas por vírus em humanos, porcos e aves, podendo causar desde um simples resfriado até uma grave pneumonia.
É provocada mais frequentemente pelo vírus influenza tipo A, subtipo H1N1. A infecção passa de um porco doente para outro por contato com secreções de espirros, gotículas de saliva e contato físico íntimo. Vez ou outra um desses vírus sofre mutação genética, o que permite a contaminação das vias aéreas de outros animais, principalmente humanos. Além de criá-los em cativeiro com pouco espaço, o que facilita a contaminação, somos muito parecidos geneticamente com os porcos.
Muitos tecidos vivos utilizados na medicina para substituir os nossos provêm de porcos. Por conta dessa semelhança e proximidade, não é raro uma epidemia de gripe suína atingir humanos e vice-versa. Outro vírus que também pode provocar a gripe suína, o influenza A H3N2, é originário de gripes humanas.
No caso da influenza suína, a morbidade é muito alta. Traduzindo: depois de passar do porco para o humano, é muito fácil a transmissão de um homem para outro, mas a sua mortalidade é baixa, isto é, o risco de uma gripe se transformar em pneumonia letal é de 1% a 4 %. Esta característica é a que melhor difere a atual epidemia da gripe aviária, em que o vírus é muito mais estranho aos humanos e atingiu mortalidade de 20%.
O mundo todo, todo ano e o ano todo tem gripe. Algumas são mais graves, pois toda infecção viral provoca uma resposta do organismo infectado com a produção de anticorpos e inflamação. Algumas vezes, a reação é tão intensa que passa a ser perigosa por si só.
Isto é mais comum quando o vírus é muito mais estranho ao organismo que infecta e, portanto, muito mais antigênico. A cepa específica que provoca a epidemia no México tem pedaços de genes da influenza aviária, humana e suína. É a primeira vez que uma mutação tão complexa é identificada. Se o fenômeno se traduz em reação inflamatória mais intensa e maior risco de morte, ainda está por ser definido.
Quando estamos diante de uma epidemia, a melhor conduta é evitar o lugar onde ela começou e onde existem mais casos clínicos. É medida errada do governo não sugerir às pessoas deixarem de viajar para os lugares por turismo até que a situação esteja controlada. Todo o prejuízo das companhias de turismo e da economia local compensa ao se poupar uma vida que seja. Além disso, como as mudanças virais são muito rápidas, ninguém colocaria um familiar na região onde um vírus com alto poder de infecção está se espalhando. Mesmo que a chance de morrer em decorrência seja muito baixa, ela não é nula.
As epidemias ocorrem por erro dos países que não vacinam seus animais e não têm programa educativo ou de orientação para os criadores de porcos e aves. Em alguns lugares o porco doente é abatido e servido na mesa do criador.
É alarmante o desserviço prestado pelos governantes e autoridades ao comentar fatos com desconhecimento e falta de bom senso. O governo dos Estados Unidos, ainda expressando o pensamento de que o mundo pertence aos americanos, reclama publicamente que já tem problemas demais com o Afeganistão e a crise econômica, e os mexicanos lhes aparecem com uma epidemia. Já faz mais de três anos que aumentou a incidência de gripe suína nos EUA.
Produtores e exportadores de carne suína no Brasil querem trocar o nome da gripe para norte-americana ou mexicana, criticando o sobrenome suíno dado para a gripe, ideia tola e errônea. O país que mais levou a sério a pandemia de influenza em 1918 e deu liberdade à imprensa para informar sua população, acabou carregando o peso de nomeá-la, pois, apesar de o vírus ter se espalhado a partir dos Estados Unidos, a gripe que matou milhões virou espanhola.
A Europa parece muito mais preparada para adequar as respostas de governo a esse tipo de ameaça, pois seus dirigentes se reservam a anunciar reuniões com seus técnicos e as precauções são dadas pelos órgãos de saúde e com bom senso. Os Estados também não vacilaram. A comissária de Saúde da União Europeia, Androulla Vassilliou, recomendou claramente aos cidadãos que evitem viagens não essenciais às regiões onde há casos confirmados da doença.
Por aqui acontece o contrário. Não houve nenhuma recomendação aos viajantes brasileiros que visitariam os locais contaminados. Eu gostaria muito de poder utilizar uma cota de passagem dos congressistas e pagar uma viagem a Cancún para o diretor de jornalismo da rede de televisão que anunciava claramente não haver perigo em viajar para o México e para o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que fazia a mesma coisa nos dias iniciais da epidemia.
O mais ridículo foi o argumento: já que a pandemia está fora de controle, tanto faz o lugar do mundo para onde se vai viajar. Só falta agora o governo financiar as passagens em 24 vezes para que os brasileiros possam ver de perto os efeitos da gripe suína no México, ou da aviária na China. Ou, ainda, um tour pelo Saara, onde acaba de eclodir uma epidemia de meningite. Isso sem falar na dengue em nosso litoral.
Outra orientação errada é garantir que a gripe não passa pela carne de porco. É uma meia-verdade. O vírus pode estar presente na carne. Portanto, antes de ser ingerida, ela deve ser aquecida a pelo menos 70 graus.
A primeira morte ocorrida no México foi em 13 de abril, data também da ocorrência do primeiro caso americano. Até a quarta-feira 29, nove países confirmaram a presença de infectados com a gripe suína.
As chances de termos uma gripe igual à de 1918, que matou 40 milhões de pessoas, é muito menor. Não se pode negligenciar o avanço da ciência, muito menos a capacidade de nossa adaptação a situações adversas. Hoje podemos identificar se o vírus influenza está presente nas secreções de homens e animais doentes, com exames de sangue e secreções, em menos de 24 horas.
Existem antivirais que podem combater o H1N1 se o tratamento for iniciado até 48 horas do início dos sintomas: febre de 39 graus, dores de cabeça e no corpo, congestão nasal e tosse, em geral seca. Os antivirais foram deixados à disposição da Organização Mundial da Saúde. Mas não adianta nem precisa correr à farmácia para comprar o remédio. A Roche, que produz o Oseltamivir, doou 3 milhões de doses à OMS e deixou todo seu estoque no Brasil à disposição do Ministério da Saúde. A doutora Karina Fontao, diretora-médica do laboratório no Brasil, afirma ser possível produzir 400 milhões de doses em um ano.
O risco de ocorrer uma epidemia no Brasil não é baixo, por causa da intimidade que temos com o México. Precisamos estar alertas. Dos onze que foram internados por supostamente terem contraído a gripe suína, nenhum deles sequer preencheu os critérios de suspeita. Portanto, não precisamos nos alarmar. O que devemos fazer agora é ter bom senso e educação. Por exemplo, lavar as mãos e cobrir a boca ao tossir ou espirrar.
A dor como espetáculo
No El País, de hoje, leio interessante reportagem sobre o que o autor denomina de espetáculo da dor. Acho que a matéria fornece importantes elementos para uma reflexão sobre a publicização da dor na vida social contemporânea.
REPORTAJE
Cuando el dolor es espectáculo y poder
El protagonismo alcanzado por los familiares de víctimas genera hoy potentes corrientes de opinión que acaban influyendo en la política
JOSÉ LUIS BARBERÍA 01/05/2009
"Marta del Castillo sale un día normal". (...) "El padre se cabrea, cree que llega tarde, pero ella nunca volvió, por culpa de un cobarde". (...) "Que le den condena a ese hijo de puta. Se merece una muerte lenta". (...) "Los asesinos duermen en casita, gracias a las leyes. ¿Quién pone las leyes? Dignidad les falta". "¿Qué más da si es menor de edad? Cambiarían las leyes si su hija fuese Marta". (...) "¿Cuántos maltratadores andan sueltos? ¿Cuántos asesinos están en la puta calle? ¿Cuántos etarras andan con normalidad? La sociedad está llena de mierda y esto no es normal".
En su canción de pésame a la joven desaparecida, el rapero gaditano David Fernández, alias Mowlihawk, condensa bien el explosivo estado de opinión que viene gestándose en los últimos años, al calor del espanto y la indignación acumulada ante el listado de crímenes monstruosos. Miriam, Antonia, Desirée (las niñas de Alcàsser), Susana Ruiz, Anabel Segura, Sonia Rubio, Mónica Juan Roig, Eva Blanco, María Ángeles Pomares, Leticia Baños, Rocío Wanninkhof, Virginia Acebes, Mari Luz Cortés, Sandra Palo, Marta del Castillo..., cada uno de estos nombres es un puñetazo directo al corazón, una sacudida emocional colectiva, una llamarada de rabia que convoca a la acción y exige resultados: que los cojan, que los castiguen, que los...
En una sociedad sentimental y solidaria como la española, el secuestro, violación y asesinato de niñas y jóvenes desata una oleada de empatía hacia las víctimas que, de la mano del miedo, recorre las calles, se aposenta en los hogares e interpela a los poderes públicos: "¿Qué hacen la policía, los jueces, el Gobierno?". De la misma manera que la víctima necesita aliviarse con la detención de su agresor, también la sociedad busca sosiego en el arresto del delincuente, en la neutralización de la amenaza y la prevención del delito. Ha sido así desde siempre, pero lo que ha cambiado en los últimos tiempos en nuestro país es el trágico protagonismo social y político asumido por los padres de las víctimas y el despliegue mediático, principalmente televisivo, que, a menudo, transforma estos dramas en espectáculo de consumo morboso. Desde las niñas de Alcàsser, las familias atacadas, víctimas ya de por vida de un quebranto irremisible, han venido ganando terreno en la esfera pública a través de los medios de comunicación y de las campañas callejeras de recogida de firmas, concentraciones y manifestaciones populares orientadas a exigir el endurecimiento de las penas.
Las familias de las niñas asesinadas han aprendido a pulsar los resortes del poder y de los medios de comunicación porque el instinto les dice que sacar adelante sus propuestas en una sociedad democrática pasa por intervenir sobre la opinión pública. Han ocupado buena parte del espacio público exponiendo descarnadamente su dolor, canalizando su aflicción y su ira, recabando la solidaridad de las gentes, exigiendo el castigo debido a esos malvados, psicópatas y sádicos que les han destrozado la vida. En el país que reformó su Código Penal en 1995 sin que izquierdas ni derechas discreparan apenas sobre las penas asignadas a los delitos, ellas, las víctimas, se han erigido en el elemento motor de posibles cambios legislativos.
La escena se repite: tras peregrinar por media España y visitar los estudios de televisión y de la radio, los padres de las niñas violadas y asesinadas llegan al palacio de la Moncloa con el respaldo de cientos de miles o millones de firmas ciudadanas que reclaman más dureza y menos miramientos con los delincuentes, más cárcel y menos permisos penitenciarios y reinserción. El presidente del Gobierno y el ministro de Interior multiplican con ellos las palabras y gestos de cariño, escuchan atentamente sus iniciativas y les dicen que estudiarán el cumplimiento íntegro de las penas, aunque sin ocultarles que la aplicación de algunas propuestas exigiría la reforma constitucional. "Pues que se cambie la Constitución", sentencian los padres de las asesinadas, a la salida de La Moncloa. "Que se haga un referendo popular", reiteran, tras su encuentro con el líder de la oposición. El PP se suma, aparentemente, a la causa del endurecimiento de las condenas y las campañas prosiguen y hasta se superponen. No hay consuelo posible capaz de rellenar el pozo de amargura que deja la desaparición de una hija arrebatada de esa manera, pero las víctimas necesitan aliviarse en una práctica jurídica que entiendan como justicia.
El hábito de gobernar sin levantar la vista de las encuestas, característico de las sociedades mediáticas y democráticas, tiende a considerar a la opinión pública como un potencial soufflé que puede ser calentado o enfriado a voluntad. Confortar a las víctimas es un gesto humano, muy necesario en el caso de estos padres desconsolados, aunque la cuestión de fondo es que está conformándose una poderosa corriente de opinión por el cumplimiento íntegro de las penas, el endurecimiento de las condiciones carcelarias y las reformas del Código Penal y de la Constitución, en aras a la instauración de la cadena perpetua. Discurre en espiral y se reactiva con las sacudidas emocionales colectivas que producen esos crímenes horrendos y con las lagunas y errores judiciales, tan frecuentes. El caso de De Juana Chaos -exponente de una falta de correspondencia entre la pena impuesta y el número y gravedad de los delitos- ha influido notablemente en el fortalecimiento de ese clima de opinión. "El cuerpo pide que pague el asesino, y eso es lo que expresan las víctimas, pero hay que tener en cuenta que en sus demandas hay también una parte racional. Yo estoy de acuerdo en que hay que ser más duro con los violadores de niños porque demasiados de ellos reinciden. El problema está, sobre todo, en la instrumentalización que hacen de todo esto algunos medios de comunicación", subraya Arturo Canalda, defensor del Menor de la Comunidad de Madrid. Voceado desde los altavoces de las caravanas de coches que recorren pueblos y ciudades y desde los platós de televisión, los estudios radiofónicos y los periódicos, el mensaje de que tenemos una legislación muy floja, timorata, de condenas ligeras y escaso cumplimiento está calando a fondo en la sociedad. Los 2,3 millones de firmas por la condena a perpetuidad de los pederastas asesinos, recogidas por la familia de Mari Luz Cortés, la niña asesinada en Huelva por un pederasta reincidente que se encontraba en libertad por una cadena de fallos del sistema judicial, son muestra del alto respaldo social a estas creencias.
Da igual que los entendidos nieguen fundamento a esa percepción y que la secretaria general de Instituciones Penitenciarias, Mercedes Gallizo, advierta de que el número de reclusos se ha incrementado notablemente -en nueve años ha pasado de 39.000 a 75.000-, sobre todo por las reformas últimas del Código Penal en materia de tráfico y de violencia de género. Da igual, porque "la cuota de audiencia lo justifica todo y el morbo se impone sobre la ética profesional. Se ha generado un clima de opinión muy difícil de manejar. Los programas sensacionalistas han creado el caldo de cultivo para que la gente piense que a los delincuentes no se les persigue verdaderamente en nuestro país", afirma Arturo Canalda. Escandalizado por lo que sus ojos y oídos constatan casi a diario, principalmente en la telebasura, cree llegado el momento de que las instancias judiciales tomen cartas en el asunto y pongan freno a tantos desmanes mediáticos contra el derecho a la intimidad y al honor perpetrados bajo la falsa coartada de la libertad de información y expresión. "Deben también intervenir las comisiones deontológicas de las asociaciones de prensa; hay que establecer un código de conducta, un libro blanco que, sobre todo, ponga particular énfasis en el tratamiento informativo de los menores. Alguien tiene que poner sentido común en un asunto tan sangrante", indica.
Barato de producir y altamente rentable en términos de audiencia e ingresos, el morbo audiovisual apenas genera reproche profesional en nuestro país. De hecho, periodistas caracterizados en el ejercicio de ese género imparten clases en la Universidad, y cabe suponer que no expondrán su quehacer propio como ejemplo de lo que nunca debe hacer un profesional del periodismo. El juicio por calumnias e injurias, que ha quedado listo para sentencia en Valencia, contra el padre de una de las niñas de Alcàsser, un abogado "criminólogo" y dos periodistas de la televisión pública valenciana ha ofrecido una muestra elocuente de cómo la falta de escrúpulos profesionales puesta al servicio de la cuota de audiencia se alía con la incuria, la estulticia, el oportunismo ramplón y la codicia.
La actitud del supuesto asesino de Marta del Castillo, que torea a la policía, a los jueces y a sus propios abogados con pistas falsas sobre el paradero del cadáver, y el comportamiento, entre otros, del denominado asesino de la catana, que acudió a un concurso de televisión tras cumplir la pena que se le impuso como menor de edad por el asesinato de sus padres y de su hermana, ilustran la validez del concepto "banalización del mal", acuñado en su día por Hannah Arendt para expresar el sentido de irresponsabilidad con que se conducían los asesinos del Holocausto. Entre tanta agitación mediática no parece haber espacio para que nos preguntemos de dónde salen todos estos asesinos precoces que intervienen en los casos de Marta y de Sandra Palo, de qué pasta familiar, educacional, ambiental están hechos.
A la vista del tratamiento procaz con que determinados medios de comunicación abordan estos crímenes atroces que revuelven las entrañas de la sociedad y de las caretas de la sensibilidad y del interés general con que se disfraza la búsqueda obscena del provecho, puede que debamos consignar también el concepto "banalización del bien".
La mitad de los jóvenes se manifiesta partidario de la pena de muerte, en un país cuyo ordenamiento jurídico orienta el castigo penal y la prevención del delito al fin principal de la reinserción social del penado. ¿No cabría preguntarse por las razones de este fenómeno? La pregunta es si la sociedad española y su clase política están dispuestas a aplicar medidas como la cadena perpetua y a deshacer el camino legislativo labrado durante la democracia, o si se conforman con rellenar las lagunas y rectificar los errores del sistema.
La pregunta es también si las familias que encabezan esa dinámica están habilitadas para buscar la justicia o sólo pueden pretender venganza, puesto que ni la más exigente de las leyes podría rescatarles de su condición de perdedores. Las víctimas son inocentes en la medida en que sufren una agresión inmerecida, pero eso no significa que sean personas inmaculadas, ni que su sufrimiento les otorgue patente de corso o la cualidad de ejemplares. Puede que no quepa secundar ciegamente sus demandas, y tampoco escandalizarse y descalificarlas por principio. Aunque sujeta a revisión por los jueces o a un posible indulto, la denominada cadena perpetua figura en el ordenamiento jurídico de democracias consolidadas.
"Estoy de acuerdo con el fin reinsertador de la pena, pero siempre que esté unido al reconocimiento del daño. No debería haber redención sin reinserción. Las víctimas nunca hemos hecho uso, ni apología, de la justicia privada", subraya Ángel Altuna, psicólogo y miembro del Colectivo de Víctimas del Terrorismo del País Vasco (Covite), donde, debido a la dolorosa secuencia de asesinatos y acoso de decenas de años, se ha meditado larga y profundamente sobre la victimización y la justicia.
El problema es ese viento de demagogia caliente que transmite el "rap del pésame a Marta", el crepitar manipulado del dolor de las víctimas, la agitación ideológica interesada en diagnósticos abracadabrantes que responde al objetivo último de tumbar el sistema. Y el problema es también una justicia lenta, de errores dramáticos. Puede que haya llegado el momento de pasar de la fase puramente sentimental a la de la racionalización del asunto. Para eso, hará falta que los poderes públicos encaucen de forma pedagógica el debate sobre la manera con que la sociedad debe hacer frente a esos graves y horribles delitos.
REPORTAJE
Cuando el dolor es espectáculo y poder
El protagonismo alcanzado por los familiares de víctimas genera hoy potentes corrientes de opinión que acaban influyendo en la política
JOSÉ LUIS BARBERÍA 01/05/2009
"Marta del Castillo sale un día normal". (...) "El padre se cabrea, cree que llega tarde, pero ella nunca volvió, por culpa de un cobarde". (...) "Que le den condena a ese hijo de puta. Se merece una muerte lenta". (...) "Los asesinos duermen en casita, gracias a las leyes. ¿Quién pone las leyes? Dignidad les falta". "¿Qué más da si es menor de edad? Cambiarían las leyes si su hija fuese Marta". (...) "¿Cuántos maltratadores andan sueltos? ¿Cuántos asesinos están en la puta calle? ¿Cuántos etarras andan con normalidad? La sociedad está llena de mierda y esto no es normal".
En su canción de pésame a la joven desaparecida, el rapero gaditano David Fernández, alias Mowlihawk, condensa bien el explosivo estado de opinión que viene gestándose en los últimos años, al calor del espanto y la indignación acumulada ante el listado de crímenes monstruosos. Miriam, Antonia, Desirée (las niñas de Alcàsser), Susana Ruiz, Anabel Segura, Sonia Rubio, Mónica Juan Roig, Eva Blanco, María Ángeles Pomares, Leticia Baños, Rocío Wanninkhof, Virginia Acebes, Mari Luz Cortés, Sandra Palo, Marta del Castillo..., cada uno de estos nombres es un puñetazo directo al corazón, una sacudida emocional colectiva, una llamarada de rabia que convoca a la acción y exige resultados: que los cojan, que los castiguen, que los...
En una sociedad sentimental y solidaria como la española, el secuestro, violación y asesinato de niñas y jóvenes desata una oleada de empatía hacia las víctimas que, de la mano del miedo, recorre las calles, se aposenta en los hogares e interpela a los poderes públicos: "¿Qué hacen la policía, los jueces, el Gobierno?". De la misma manera que la víctima necesita aliviarse con la detención de su agresor, también la sociedad busca sosiego en el arresto del delincuente, en la neutralización de la amenaza y la prevención del delito. Ha sido así desde siempre, pero lo que ha cambiado en los últimos tiempos en nuestro país es el trágico protagonismo social y político asumido por los padres de las víctimas y el despliegue mediático, principalmente televisivo, que, a menudo, transforma estos dramas en espectáculo de consumo morboso. Desde las niñas de Alcàsser, las familias atacadas, víctimas ya de por vida de un quebranto irremisible, han venido ganando terreno en la esfera pública a través de los medios de comunicación y de las campañas callejeras de recogida de firmas, concentraciones y manifestaciones populares orientadas a exigir el endurecimiento de las penas.
Las familias de las niñas asesinadas han aprendido a pulsar los resortes del poder y de los medios de comunicación porque el instinto les dice que sacar adelante sus propuestas en una sociedad democrática pasa por intervenir sobre la opinión pública. Han ocupado buena parte del espacio público exponiendo descarnadamente su dolor, canalizando su aflicción y su ira, recabando la solidaridad de las gentes, exigiendo el castigo debido a esos malvados, psicópatas y sádicos que les han destrozado la vida. En el país que reformó su Código Penal en 1995 sin que izquierdas ni derechas discreparan apenas sobre las penas asignadas a los delitos, ellas, las víctimas, se han erigido en el elemento motor de posibles cambios legislativos.
La escena se repite: tras peregrinar por media España y visitar los estudios de televisión y de la radio, los padres de las niñas violadas y asesinadas llegan al palacio de la Moncloa con el respaldo de cientos de miles o millones de firmas ciudadanas que reclaman más dureza y menos miramientos con los delincuentes, más cárcel y menos permisos penitenciarios y reinserción. El presidente del Gobierno y el ministro de Interior multiplican con ellos las palabras y gestos de cariño, escuchan atentamente sus iniciativas y les dicen que estudiarán el cumplimiento íntegro de las penas, aunque sin ocultarles que la aplicación de algunas propuestas exigiría la reforma constitucional. "Pues que se cambie la Constitución", sentencian los padres de las asesinadas, a la salida de La Moncloa. "Que se haga un referendo popular", reiteran, tras su encuentro con el líder de la oposición. El PP se suma, aparentemente, a la causa del endurecimiento de las condenas y las campañas prosiguen y hasta se superponen. No hay consuelo posible capaz de rellenar el pozo de amargura que deja la desaparición de una hija arrebatada de esa manera, pero las víctimas necesitan aliviarse en una práctica jurídica que entiendan como justicia.
El hábito de gobernar sin levantar la vista de las encuestas, característico de las sociedades mediáticas y democráticas, tiende a considerar a la opinión pública como un potencial soufflé que puede ser calentado o enfriado a voluntad. Confortar a las víctimas es un gesto humano, muy necesario en el caso de estos padres desconsolados, aunque la cuestión de fondo es que está conformándose una poderosa corriente de opinión por el cumplimiento íntegro de las penas, el endurecimiento de las condiciones carcelarias y las reformas del Código Penal y de la Constitución, en aras a la instauración de la cadena perpetua. Discurre en espiral y se reactiva con las sacudidas emocionales colectivas que producen esos crímenes horrendos y con las lagunas y errores judiciales, tan frecuentes. El caso de De Juana Chaos -exponente de una falta de correspondencia entre la pena impuesta y el número y gravedad de los delitos- ha influido notablemente en el fortalecimiento de ese clima de opinión. "El cuerpo pide que pague el asesino, y eso es lo que expresan las víctimas, pero hay que tener en cuenta que en sus demandas hay también una parte racional. Yo estoy de acuerdo en que hay que ser más duro con los violadores de niños porque demasiados de ellos reinciden. El problema está, sobre todo, en la instrumentalización que hacen de todo esto algunos medios de comunicación", subraya Arturo Canalda, defensor del Menor de la Comunidad de Madrid. Voceado desde los altavoces de las caravanas de coches que recorren pueblos y ciudades y desde los platós de televisión, los estudios radiofónicos y los periódicos, el mensaje de que tenemos una legislación muy floja, timorata, de condenas ligeras y escaso cumplimiento está calando a fondo en la sociedad. Los 2,3 millones de firmas por la condena a perpetuidad de los pederastas asesinos, recogidas por la familia de Mari Luz Cortés, la niña asesinada en Huelva por un pederasta reincidente que se encontraba en libertad por una cadena de fallos del sistema judicial, son muestra del alto respaldo social a estas creencias.
Da igual que los entendidos nieguen fundamento a esa percepción y que la secretaria general de Instituciones Penitenciarias, Mercedes Gallizo, advierta de que el número de reclusos se ha incrementado notablemente -en nueve años ha pasado de 39.000 a 75.000-, sobre todo por las reformas últimas del Código Penal en materia de tráfico y de violencia de género. Da igual, porque "la cuota de audiencia lo justifica todo y el morbo se impone sobre la ética profesional. Se ha generado un clima de opinión muy difícil de manejar. Los programas sensacionalistas han creado el caldo de cultivo para que la gente piense que a los delincuentes no se les persigue verdaderamente en nuestro país", afirma Arturo Canalda. Escandalizado por lo que sus ojos y oídos constatan casi a diario, principalmente en la telebasura, cree llegado el momento de que las instancias judiciales tomen cartas en el asunto y pongan freno a tantos desmanes mediáticos contra el derecho a la intimidad y al honor perpetrados bajo la falsa coartada de la libertad de información y expresión. "Deben también intervenir las comisiones deontológicas de las asociaciones de prensa; hay que establecer un código de conducta, un libro blanco que, sobre todo, ponga particular énfasis en el tratamiento informativo de los menores. Alguien tiene que poner sentido común en un asunto tan sangrante", indica.
Barato de producir y altamente rentable en términos de audiencia e ingresos, el morbo audiovisual apenas genera reproche profesional en nuestro país. De hecho, periodistas caracterizados en el ejercicio de ese género imparten clases en la Universidad, y cabe suponer que no expondrán su quehacer propio como ejemplo de lo que nunca debe hacer un profesional del periodismo. El juicio por calumnias e injurias, que ha quedado listo para sentencia en Valencia, contra el padre de una de las niñas de Alcàsser, un abogado "criminólogo" y dos periodistas de la televisión pública valenciana ha ofrecido una muestra elocuente de cómo la falta de escrúpulos profesionales puesta al servicio de la cuota de audiencia se alía con la incuria, la estulticia, el oportunismo ramplón y la codicia.
La actitud del supuesto asesino de Marta del Castillo, que torea a la policía, a los jueces y a sus propios abogados con pistas falsas sobre el paradero del cadáver, y el comportamiento, entre otros, del denominado asesino de la catana, que acudió a un concurso de televisión tras cumplir la pena que se le impuso como menor de edad por el asesinato de sus padres y de su hermana, ilustran la validez del concepto "banalización del mal", acuñado en su día por Hannah Arendt para expresar el sentido de irresponsabilidad con que se conducían los asesinos del Holocausto. Entre tanta agitación mediática no parece haber espacio para que nos preguntemos de dónde salen todos estos asesinos precoces que intervienen en los casos de Marta y de Sandra Palo, de qué pasta familiar, educacional, ambiental están hechos.
A la vista del tratamiento procaz con que determinados medios de comunicación abordan estos crímenes atroces que revuelven las entrañas de la sociedad y de las caretas de la sensibilidad y del interés general con que se disfraza la búsqueda obscena del provecho, puede que debamos consignar también el concepto "banalización del bien".
La mitad de los jóvenes se manifiesta partidario de la pena de muerte, en un país cuyo ordenamiento jurídico orienta el castigo penal y la prevención del delito al fin principal de la reinserción social del penado. ¿No cabría preguntarse por las razones de este fenómeno? La pregunta es si la sociedad española y su clase política están dispuestas a aplicar medidas como la cadena perpetua y a deshacer el camino legislativo labrado durante la democracia, o si se conforman con rellenar las lagunas y rectificar los errores del sistema.
La pregunta es también si las familias que encabezan esa dinámica están habilitadas para buscar la justicia o sólo pueden pretender venganza, puesto que ni la más exigente de las leyes podría rescatarles de su condición de perdedores. Las víctimas son inocentes en la medida en que sufren una agresión inmerecida, pero eso no significa que sean personas inmaculadas, ni que su sufrimiento les otorgue patente de corso o la cualidad de ejemplares. Puede que no quepa secundar ciegamente sus demandas, y tampoco escandalizarse y descalificarlas por principio. Aunque sujeta a revisión por los jueces o a un posible indulto, la denominada cadena perpetua figura en el ordenamiento jurídico de democracias consolidadas.
"Estoy de acuerdo con el fin reinsertador de la pena, pero siempre que esté unido al reconocimiento del daño. No debería haber redención sin reinserción. Las víctimas nunca hemos hecho uso, ni apología, de la justicia privada", subraya Ángel Altuna, psicólogo y miembro del Colectivo de Víctimas del Terrorismo del País Vasco (Covite), donde, debido a la dolorosa secuencia de asesinatos y acoso de decenas de años, se ha meditado larga y profundamente sobre la victimización y la justicia.
El problema es ese viento de demagogia caliente que transmite el "rap del pésame a Marta", el crepitar manipulado del dolor de las víctimas, la agitación ideológica interesada en diagnósticos abracadabrantes que responde al objetivo último de tumbar el sistema. Y el problema es también una justicia lenta, de errores dramáticos. Puede que haya llegado el momento de pasar de la fase puramente sentimental a la de la racionalización del asunto. Para eso, hará falta que los poderes públicos encaucen de forma pedagógica el debate sobre la manera con que la sociedad debe hacer frente a esos graves y horribles delitos.
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