quarta-feira, 30 de junho de 2010
Moralismo de ocasião II
Em tempo: o PSC é também o partido do ex-peemedebista Senador Mão Santa. O marido de Adalgisa, conhecido pelas suas perorações na TV Senado, tentará uma vaga à Câmara dos Deputados. Pelo visto, até Mão Santa virá para o barco da Dilma.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
A juventude sob Mao
É só diversão nesta manhã...
Eu fico aqui me divertindo. Há pouco, li no blog do Reinaldo Azevedo, cândidos chamados à razão. Dirigidos ao DEM. Esses tucanos...
Espero que o Brasil ganhe logo mais e eu continue me divertindo. Até a chuva passou. Tá um sol lindo lá fora...
sábado, 26 de junho de 2010
O posicionamento destemido do Deputado Aldo Rebelo
Vocês sabem de quem eu falo, não? Daquela gente que, inocentemente ou não, reproduzem aqui interesses comerciais e geopolíticos de países de primeiro mundo, escudados na defesa do “meio ambiente” e dos “modos de vida das populações tradicionais".
Pois bem, por isso tudo, confiram abaixo um interessante artigo de autoria do valente deputado paulista. O texto que foi publicado originalmente no jornal VALOR ECONÔMICO. Boa leitura!
Em defesa do feijão com arroz
por Aldo Rebelo*
O antagonismo entre ambiente e produção não interessa à população brasileira e nem ao país
O crescimento da produção de alimentos no Brasil só tem sido possível porque a imensa maioria dos agricultores, dos menores aos maiores, tinha permissão legal para plantar em determinadas áreas até 2001 e, repentinamente, passou a pertencer à categoria de infratores, verdadeiros criminosos ambientais.
A legislação ampliou um problema de difícil solução ao determinar, em julho de 2008, mais uma alteração por decreto do Código Florestal: os produtores que não averbarem as reservas legais estão passíveis de pesadas multas diárias. A aplicação rigorosa e estrita da atual legislação ambiental quebraria a agricultura e os agricultores brasileiros. Por esse motivo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prorrogou a entrada em vigor desse decreto para julho de 2011. Daí a necessidade de fazer adaptações no atual Código Florestal, mesmo em ano eleitoral.
No Rio Grande do Sul, mais de 600 mil propriedades não possuem o estoque de terras necessário para cumprir a exigência e foram colhidas na ilegalidade. O mesmo ocorre no Paraná, em Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e em toda a Zona da Mata e Agreste nordestinos, na região Bragantina do Pará - praticamente em todo o Brasil. Algumas dessas propriedades foram desmatadas há séculos e não possuem matas significativas para preservar.
Na Amazônia, houve desmatamento por exigência oficial como condição para titulação do imóvel rural. O mesmo pequeno agricultor de Machadinho d " Oeste, em Rondônia, que desmatou metade de seu lote de 40 hectares por exigência do Incra, agora se vê obrigado a reconstituir 80% de floresta com os recursos que não tem, e manter a família com 8 hectares de terra produtiva, tarefa ainda mais impossível. A legislação premia o latifúndio improdutivo.
Grande parte da irrigação existente no Nordeste, e em todo o Brasil, deveria cessar para cumprir a legislação ambiental. Tanto as instalações, estações de bombeamento e energia, canais como as áreas irrigadas dos projetos estão localizadas ao lado do rio São Francisco e de outros cursos d " água em plena Área de Preservação Permanente (APP). O mesmo valeria para boa parte dos trajetos de transposição das águas do rio São Francisco que seguem eixos hidrográficos. Seriam construídos mas não poderiam ter utilização prática.
A produção de arroz nas várzeas do Rio Grande do Sul, São Paulo (vale do Paraíba) e Maranhão é ilegal e deveria cessar pelas normas atuais. O mesmo ocorre com a criação de búfalos, atividade tradicional nas várzeas do Maranhão, Amapá e na Ilha de Marajó. A cultura do feijão no Brasil está situada em áreas acidentadas de pequenos produtores que não têm como cumprir o dispositivo da Reserva Legal, a exemplo da região de Itararé e Itaberá, em São Paulo. Também deveria cessar. Escolheríamos entre o fim do feijão com arroz ou a alta do preço desses alimentos básicos, importando feijão da Colômbia e arroz da Ásia.
O tradicional café com leite também está ameaçado, uma vez que o café é cultivado em colinas e áreas de morro e relevo: quanto mais alto, melhor o café. É assim em São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Paraná. Esses produtores estão agora na ilegalidade, mesmo aqueles que ocupam essas áreas há dezenas de anos e, em muitos casos, há mais de um século. As mesmas exigências alcançam milhares de pequenos produtores de leite da serra da Mantiqueira, de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo; do sertão e do agreste nordestinos; do vale do Paraíba e de todas as áreas de relevo onde existam pastagens nativas e implantadas. Essas terras inadequadas para a agricultura, à custa de muito engenho e trabalho, foram adaptadas pelo homem para produzirem uma proteína nobre, o leite, graças à transformação do pasto em alimento para seus bovinos e caprinos. Hoje, esses agricultores são multados, ameaçados e até presos por esse "crime".
As mesmas exigências colocam na ilegalidade grande parte da pecuária de corte no Brasil, situada em áreas de relevo e nos cerrados e de pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) no Nordeste, bem como a produção de suínos e aves no Sul do Brasil, cujas granjas e instalações estão localizadas em áreas de relevo, principalmente na região de Chapecó, em Santa Catarina. Para cumprir a legislação ambiental, praticamente toda a pecuária deveria ser removida do Pantanal, já que a região inteira é considerada uma APP.
Ao cavar um abismo entre a necessária proteção ao ambiente e o estímulo à produção rural, a legislação não logrou qualquer objetivo. A natureza continua exposta a danos evitáveis e a atividade produtiva imobilizada por um cipoal de normas impossível de ser cumprido.
O que propomos é a ampliação da proteção efetiva aos bens naturais, a recuperação das áreas essenciais ao cumprimento dessa finalidade e o reconhecimento do esforço produtivo nacional como bem insubstituível na busca do bem estar material e espiritual do nosso povo.
Decisiva é a incorporação dos estados e municípios na programação e formulação - dentro dos limites da lei nacional - das políticas ambientais, uma vez que é impossível executá-las e fiscalizá-las a partir de Brasília. O antagonismo entre ambiente e produção e o imobilismo diante dos problemas existentes não interessam à população nem ao Brasil.
*Aldo Rebelo é deputado federal (PCdoB-SP), jornalista, escritor e relator do Código Florestal. Presidiu a Câmara dos Deputados 2005/2007 e foi ministro de Relações Institucionais do governo Lula.
Sobre a última pesquisa eleitoral da disputa pelo Palácio do Planalto
Três quartos do eleitorado já sabem que Dilma é candidata do presidente Lula
Por Luis Nassif*
Divulgada ontem (quarta-feira), a pesquisa CNI-IBOPE confirma uma tendência já observada em institutos mais ágeis – como os mineiros Instituto Sensus e Vox Populi: a de crescimento sistemático da candidatura Dilma Roussef. Na pesquisa de ontem, pela primeira vez, no IBOPE, Dilma aparece na frente de Serra fora da margem de erro: 40% dos votos contra 35% de Serra e 9% de Marina Silva. No segundo turno, Dilma venceria por 45% a 38%.
Uma das grandes dificuldades na análise das pesquisas – como em qualquer tema complexo – é conseguir identificar a linha principal em meio ao emaranhado de variáveis que constituem o universo.
Os mineiros Instituto Sensus e Vox Populi foram os primeiros a identificar corretamente esse fato-chave, comprovando sua superioridade analítica sobre os outros dois grandes, IBOPE e Datafolha.
Perceberam que havia uma ligação quase total do voto em Dilma Rousseff e da percepção do eleitor de que ela era a candidata de Lula. A partir dessa análise, ambos os Institutos puderam bancar desde o começo do ano o favoritismo da candidata. Mesmo quando colocados sob fogo intenso do Globo e da Folha, em nenhum momento relutaram em reafirmar sua opinião – que, agora, revela-se plenamente correta.
Do lado do IBOPE, a nota destoante foi de seu presidente Carlos Augusto Montenegro que, no ano passado, emitiu projeções definitivas sustentando a impossibilidade de vitória de Dilma. Baseava-se em apenas uma eleição similar à atual para tentar determinar um padrão – uma irresponsabilidade analítica que comprometeu o nome do seu instituto.
Do lado do Datafolha, houve uma pesquisa extemporânea que atropelou a tendências de todas as demais pesquisas – que apontavam crescimento sistemático da candidatura Dilma. De repente, a distância que a separava da candidatura Serra deixou de cair, Serra abriu 10 pontos de vantagem – que não se sustentaram duas pesquisas depois.
A explicação é que o fim das enchentes de São Paulo tinham melhorado a percepção de Serra... junto aos eleitores gaúchos – onde o Instituto identificou as maiores mudanças de voto (não confirmadas pelas pesquisas posteriores).
Pela pesquisa de ontem, três quartos dos eleitores já sabem que Dilma é candidata de Lula. Portanto, ela ainda tem espaço para crescer em um quarto do eleitorado – ou 25%.
De junho de 2009 a junho de 2010, a probabilidade voto em Dilma cresceu de 13% para 35%. Os que não votariam nela de forma alguma caíram de 34% para 23%.
Nesse mesmo período, a probabilidade dos que votariam em Serra passou de 2% para 28%; e os que não votariam de forma alguma passou de 25% para 30%.
Enquanto Serra caí, aumenta o percentual dos que poderiam votar em Marina Silva – de 17% em junho passado para 27% em março e 36% agora.
Gradativamente vai caindo o peso de Lula na definição de voto: de 53% que, em março, votariam no seu candidato, para 48% agora, ainda um patamar bastante elevado. Mas os que não votariam de forma alguma no seu candidato permaneceram em 10%.
*Matéria originalmente publicada no Luis Nassif Online
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Para além da grosseria...
Não sei se o referido fato ocorreu aqui na nossa universidade. Mas, vejo outra dimensão que parece ter-lhe escapado: o machismo. É terrível e, especialmenete desde que passei a ocupar cargo administrativo, dou-me conta perfeitamente bem dele, o tempo todo, palpável e concreto, nas mínimas questões de rotina. Ninguém ouve uma mulher com o mesmo respeito, por mais titulação e experiência profissional que tenha, a menos que seja ou muito bem relacionada (leia-se: de uma das famílias influentes locais, portanto, bem amparada socialmente) ou uma daquelas que, após muitos anos de carreira, firmaram uma sólida reputação de "megera". Já viu algum homem ser chamado de megero? Não existe. Homem quando é agressivo ou competitivo não "está na tpm" ou coisa que o valha, está apenas sendo o que se espera dele, especialmente no trabalho. Mulher, não. Ou é uma víbora ou é carreirista ou é... sei lá, qualquer coisa do tipo. Definitivamente, aprendi muito neste último ano e meio e redescobri minha - quase esquecida - veia "feminista". Porque ser desrespeitada cansa.
Então, vejo um episódio como esse que você narrou como mais uma pérola do machismo no meio acadêmico, especialmente aqui na UFRN. Não que não exista em outro lugar. Mas, aqui chega a ser ridículo o modo como qualquer colega novato, recém-chegado na universidade, é mais ouvido e respeitado do que qualquer uma de nós, professoras, exceto nos casos que ressalvei acima. Se a isso ainda se acrescentam outros possíveis preconceitos (racismo, homofobia ou outro qualquer), pior ainda. Tenho até uma 'teoria': as grandes figuras femininas da UFRN têm construído suas couraças pra sobreviver e se afirmar na universidade, e algumas inclusive pesaram a mão nesse processo, do meu ponto de vista. Portanto, longe de mim dizer que as mulheres são um doce ou estão sempre certas - mas, por que teriam que ser ou estar? A questão é: qual a margem de escolha que a gente realmente tem se quiser sobreviver num meio onde cenas como essas são possíveis e aceitas como fato trivial entre pessoas supostamente esclarecidas e educadas? Dá pra sair de casa sem a couraça sabendo que vão lhe passar por cima na primeira oportunidade e que qualquer denúncia desse comportamento abusivo será tratado com deboche, como "frescura" ou mais uma manifestação da sua "TPM"?
Pois vale para o machismo o mesmo que vale para o racismo: só quem sofre é que sabe.
Crônicas de um desastre anunciado: a escolha do vice de Serra
A estratégia tucana é limitada pelo pouco espirito colaborativo dos demos. A pesquisa do IBOPE que deu Dilma cinco pontos adiante de Serra criou um ambiente melancólico na oposição. E olhem que o jogo nem começou...
Agora, sejamos claros!, do ponto de vista da disputa eleitoral nacional, Álvaro Dias pesa quase nada. No Nordeste, por exemplo, o senador paranaense, com o seu jeitão de lacerdista fora de época, tenderá a reforçar a cara elitista e sulista da chapa do Serra. É tudo que os petistas sonharam...
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Aconteceu na Universidade: grosseria, estupidez ou racismo?
Após adentrar a sala, a Professora, em diálogo iniciado pelo diretor, começa a explicar as razões do seu questionamento ao processo conduzido pelo professor acima mencionado. Eis que o professor a interrompe. Parêntese: daqui prá frente, referir-me-ei ao verme como ele merece, então, vou atacar de “imbecil”, ok? Pois bem, o imbecil corta a fala da professora e com brutalidade questiona: “quem é essa senhora?”. O diretor responde que a mesma é professora e, além disso, chefia uma das unidades acadêmicas do centro. Após isso, o verme vira-se de costas para a Professora e dirige a palavra somente ao diretor do centro, como se a Professora não existisse. Indignada, a Professora interpela o imbecil: “E o senhor? Quem é?”. O imbecil, sem responder, sai da sala.
A Professora foi humilhada e destratada. Reviveu outros momentos, tão dolorosos quanto o vivenciado ontem, em que foi tratada como invisível. Ela sentiu, e tem plena consciência disso, de que o ocorrido está relacionado ao fato de ela ser negra. E essa é a dimensão cruel da discriminação racial: quem a sofre, sabe o porquê de estar sofrendo, mas, aí está!, cadê os referentes que sustentem, por exemplo, uma denúncia criminal? Fica-se prisioneiro do jogo das interpretações subjetivas. Tanto é assim que, caso viesse a interpelar o imbecil, a própria Professora é que poderia ser incriminada. O energúmeno poderia responder: “Racista? Não! Que absurdo! Isso é calúnia! Difamação!”. É assim que as coisas funcionam no Brasil, mesmo no interior de uma Universidade Pública, e após já passados dez anos do início do século XXI...
O imbecil do caso se acha um ser superior. Seu reconhecimento na Universidade deve-se menos à sua produção intelectual, e, mais, bem mais!, à grosseria com que trata as pessoas. Não raro, interpela (aos berros) quem encontra pela frente, especialmente aquelas pessoas que, na sua escala de classificação, situam-se em patamares “inferiores”.
E qual tem sido a reação das pessoas ao tomar conhecimento do fato de ontem? Não poucos, nos corredores do Centro, buscam contemporizar: “mas ele é mesmo assim... Sempre tratou todo mundo com grosseria...”. Leia-se: o que ocorreu foi grosseria, não racismo. Como diria aquela personagem de um programa de humor: grosseria? Grosseria, aqui no Centro, pode!
E as dores sentidas pela Professora? Não serão curadas tão cedo... Em primeiro lugar, porque assim como se tornou invisível na direção do Centro, também suas dores não terão reconhecimento. Se ela for adiante, o que dirão? Que está criando confusão, que não é bem assim... Pode até vir a ser acusada de xenofobia...
A besta racista continua por aí. À solta e aprontando. É professor titular (não me dou ao desfrute de usar letras maiúsculas para me referir ao verme..), participa de bancas e continua dando espetáculos de estupidez em um espaço que deveria ser do diálogo, da discussão racional e da cooperação emocional para a produção do conhecimento.
Eu, cá no meu canto, solitário e meio isolado, embora tomado de raiva e indignação, entendi a situação da professora. Não foi a primeira e nem será a última em que um(a) negro(a) tornar-se-á invisível nesta sociedade. Quantas vezes vivemos e passamos por isso? O que mais choca, no fato, é isso ter ocorrido no espaço da Universidade. Talvez, quem sabe?, tiremos alguma lição desse fato escabroso: não apenas da persistência do racismo em todos os espaços da sociedade brasileira, mas também do vasto manto de silêncio cúmplice que o acoberta.
Quanto ao verme racista, é dar tempo ao tempo... Um dia, ele deixa rastros, e aí, podem ter certeza, irá pagar por crime inafiançável. Eu viverei para ver isto!
Que novidade!
Produtividade sobe mais que salários na indústria
João Villaverde, de São Paulo
No ano passado, 80% dos acordos coletivos registraram aumento real de renda, com reajuste médio de 2% acima da inflação
Os salários estão subindo, mas a produtividade na indústria cresceu muito mais. Nos 12 meses encerrados em abril, a indústria de transformação ampliou sua produtividade em 4,7%, enquanto o custo salarial médio por trabalhador aumentou 1,9% no mesmo período. Na avaliação de economistas ouvidos pelo Valor, o crescimento mais intenso da produtividade em relação ao custo da folha de pagamentos cria uma folga para que a indústria acomode reajustes sem pressionar a inflação.
No primeiro semestre, algumas categorias importantes já negociaram acordos salariais com reajuste real superior a 2%, como os 2,4% dos trabalhadores da construção civil de São Paulo e os 3,2% dos operários da mesma categoria no Rio. Outros sindicatos menos representativos, como os trabalhadores nas indústrias de suco, negociaram ganhos reais de 2,5% para o piso salarial e 1,6% para os demais empregados.
Categorias mais fortes, como metalúrgicos e químicos, têm data-base no segundo semestre, período em que a pressão por reajuste real deve ser ainda mais intensa que em 2009. No ano passado, 80% dos acordos coletivos registraram aumento real de renda, com reajuste médio de 2% acima da inflação.
Na comparação entre os primeiros quatro meses de 2010 e igual período de 2009, a diferença entre a produtividade e os salários é muito maior - os ganhos de eficiência subiram 15% e os dos salários, 2,5%. Nessa comparação, em 15 segmentos analisados pelo Valor (a partir do cruzamento de duas pesquisas diferentes do IBGE), em somente três o aumento da folha de pagamento real por trabalhador superou os ganhos de produtividade. Para Flávio Castelo Branco, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o custo salarial cresceu menos porque durante a crise a indústria não cortou mão de obra na mesma proporção em que derrubou a produção.
Para Rogério Cesar de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os investimentos que estavam sendo realizados em 2008, antes da crise, maturaram ao longo de 2009 e permitiram à indústria aumentar sua produtividade, abrindo espaço para os salários.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Beatriz Sarlo na fronteira do pensamento
Beatriz Sarlo
Entrevista com Beatriz Sarlo
Alejandro Blanco; Luiz Carlos Jackson
Qual é sua origem familiar?
Eu descendo de duas famílias de imigrantes, mas com origens muito diferentes. A família materna é de origem imigratória "clássica", meus avós eram um galego e uma italiana semianalfabetos que conseguiram muito rapidamente uma relativa ascensão social. Os filhos chegaram à universidade e as filhas tornaram-se professoras e diretoras de escola. Foi uma família típica, entre as que chegaram em 1880 na Argentina, que lograram ascender naquele momento, o que depois se tornaria muito difícil. Pelo lado paterno, a família tem uma origem curiosa. Éramos criollos antigos que não recordávamos da nossa ascendência. Acredito que descendemos de italianos da Sardenha que vieram para trabalhar como pilotos de embarcações nos rios do interior. Há um momento no Facundo em que Sarmiento refere-se a marinheiros e pilotos genoveses, mas que poderiam ser sardos, que também eram navegadores. Todos tiveram relação com o campo, como se fossem criollos de origem. Meu avô paterno foi administrador de fazenda na província de Buenos Aires; minha avó, a que se casou com esse homem, era de Nueve de Julio, também de origem rural não aristocrática, dessas camadas médias rurais formadas pelos empregados mais elevados das fazendas. Ou seja, são dois ramos que, ainda que tenham origem imigrante, possuem culturas familiares extremamente diferentes. Na família da minha mãe, há uma cultura de ascensão social e esforço, na qual a educação é fundamental, como provaram no curso de suas próprias vidas. Na família do meu pai, ao contrário, só ele chegou a ser universitário, suas irmãs não terminaram nem a escola primária. Como criollos, entretanto, eles incorporaram certos delírios de superioridade, que tinham a ver com a cultura em que foram criados. Isso marca um ambiente infantil certamente interessante. Por um lado, o esforço e a grande pressão pela ascensão e, por outro, uma espécie de laissez faire cultural, que implicava não fazer esforços excessivos, não parecer "italiano", apesar do sobrenome que portavam. Meu pai era advogado, trabalhava na Justiça. Então, eu diria, a família do meu pai era uma família pretensiosa, mas sem nenhuma sustentação material, tampouco no passado; já a família de minha mãe era uma família completamente despojada de qualquer pretensão. Suas únicas ambições eram ter uma casa, economizar, ir ao colégio, triunfar desse modo no novo mundo. Minha avó materna era analfabeta, mas ensinou seus filhos a ler. Hoje posso falar de duas culturas, quando criança pensava mais em termos de gente que "não se dava bem", um lado tendia a desprezar o outro. A família não exitosa tendia a desprezar a família exitosa, uma mais arraigada no passado argentino e a outra mais arraigada no que foi a Argentina moderna da imigração, de 1880 em diante.
Como foi sua formação intelectual?
De alguma maneira as coisas se decidem e, no meu caso, foi muito importante que eu fosse a um colégio inglês, de um nível social muito acima do meu e de minha família. Evidentemente, meus pais fizeram um esforço de investimento cultural. Aí aparece uma terceira cultura, a de um colégio inglês da década de 1950. Na realidade, era um colégio dirigido por irlandeses "anglicizados". Não era uma instituição preocupada com as normas pedagógicas da Argentina, mas sim com os padrões herdados do país de origem. Eles impunham uma disciplina tipicamente sustentada pela "autorresponsabilidade". Passei muitos anos ali, durante o ensino primário e secundário. Havia também uma enorme preocupação com os esportes, coisa que não era habitual em uma escola para moças na década de 1950. O ensino era extremamente exigente. Esse colégio me lançou fora da minha classe de origem, porque atendia a burguesia do bairro de Belgrano. Muito rapidamente, contudo, nos primeiros anos da adolescência, rompi tanto com o setor burguês do colégio como com meu setor familiar de origem. De qualquer modo, a relação que estabeleci com essa cultura foi muito importante para minha formação intelectual. Havia ali uma ótima biblioteca, trabalhávamos com os livros que eram lidos pelas crianças da Inglaterra; desde os treze anos lemos Shakespeare, uma obra por ano.
Mais tarde, ingressei na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, que me transportou a outro mundo, justamente em um momento de grandes mudanças, no início da década de 1960. Minha intenção era estudar filosofia, mas percebi que essa não era a minha e passei para a literatura. O entorno da faculdade era verdadeiramente privilegiado em 1960. Seu interesse topográfico tornou-se evidente para mim, depois que li um número da revista de Pierre Bourdieu, Actes de la Recherche. A faculdade ficava na rua Viamonte, entre as ruas San Martín e Reconquista. Na quadra seguinte, entre as ruas San Martín e Florida, estava a melhor livraria francesa de Buenos Aires, Galetea, dirigida por "intelectuais-livreiros". Nós a frequentávamos, não necessariamente para comprar, mas para saber o que estava sendo publicado. Havia ainda a livraria Letras, bem ao lado da faculdade. Nela, podíamos encontrar romances, livros de filosofia ou ensaios publicados vinte anos antes. Na Florida, estava o Instituto de Arte Moderna e a Galeria Van Riel. Nessa galeria ocorreu a primeira exposição dos "informalistas" em Buenos Aires, verdadeiro acontecimento da vanguarda plástica, encabeçada por Alberto Greco. Dois ou três anos depois, caminhando duas quadras mais, estava o Instituto di Tella, com o centro de artes e teatro. Tratava-se, portanto, de uma concentração extraordinária de espaços culturais para quem, como eu, não tinha muita vocação de estudante. Tudo isso me entusiasmava mais do que a própria faculdade, já que o curso mais importante não era o de letras, mas os de psicologia e sociologia, este marcado pela presença de Gino Germani. Na Letras, o único esforço de renovação provinha de Ana Maria Barrenechea, mas num marco geral muito conservador. O pessoal de sociologia era quem dava o tom à faculdade; nós os olhávamos de longe, com admiração e sensação de inferioridade, porque sabíamos que estudavam com "outros livros", que não eram os que tínhamos em nossas mãos. A experiência da universidade não foi, portanto, tão decisiva para mim como a que tive fora dela. Nesse momento, coexistia a velha boemia que vinha dos anos de 1950, atores, poetas, pintores, e uma nova geração artística que encontraria seu lugar no Instituto di Tella. Eu tive acesso a esses dois grupos. Em 1965, Enrique Oteiza, que dirigia o instituto, decidiu ter um programa de rádio e convocou Ángel Nuñez, que havia sido meu companheiro na faculdade, para que o organizasse. Ángel me chamou para colaborar. Esse foi um lance afortunado, eu poderia ter me concentrado mais na faculdade e, nesse caso, meu percurso teria sido diferente. Não demorei muitos anos para terminar o curso, mas não me dedicava muito. A primeira aula que assisti na faculdade me decepcionou. Eu tinha acabado de cursar a Aliança Francesa e estava muito afiada. Conhecia bem a literatura francesa, até o século XIX, e na primeira aula da faculdade tive a impressão de que sabia mais do que me ensinavam. Seguramente me equivocava, porque não sabia nada de nenhuma outra coisa. Fui tão má aluna que não li nem o Quixote enquanto estive na faculdade. Ou seja, estava iludida com o que pensava saber, mas eu tinha lido as tragédias de Racine, de Corneille, duas ou três novelas de Balzac, Vermelho e negro de Stendhal, Madame Bovary de Flaubert, Baudelaire. Isso era o que me havia ensinado a Aliança e, para minha ignorância, isso era, como para um francês, "a literatura".
De qualquer maneira, na faculdade tenho que mencionar um professor, Jaime Rest, que era o adjunto de Borges. Ele tomava café com a gente. Era um crítico com uma cabeça extremamente aberta, que começa agora a ser republicado e estudado. Ele nos apresentou as obras de Richard Hoggart e Raymond Williams. Foi tradutor das letras de John Lennon. Tinha formação protestante e era muito liberal em termos ideológicos e pessoais. Ele nunca dizia "você tem que ler isto". Alguém podia expor as mais atrozes carências literárias, sem que ele fizesse qualquer advertência. Jamais aconselhava leituras, podia citar algum nome, mas isso ocorria apenas em função do que estava dizendo. Terminamos muito amigos, mas, pensando de um ponto de vista utilitário, eu poderia ter aproveitado mais essa relação.
A segunda metade da década de 1960 foi muito politizada. Como foi esse período para você?
Tínhamos um pequeno grupo de estudos, no qual discutimos o primeiro estruturalismo e Barthes, que agora descubro, quarenta anos depois, que é a influência mais importante da minha vida intelectual. Mas havia a política e também a dificuldade de inserir-se profissionalmente. Foram anos difíceis, como para muita gente, mas tivemos a sorte de encontrar primeiro a Editorial Universitaria de Buenos Aires (Eudeba) e depois o Centro Editor de América Latina (CEAL). Ocorreu ali um ambiente intelectual extremamente fecundo, e, portanto, como disse uma vez Graciela Montes, o CEAL funcionou de alguma maneira como uma pós-graduação para nós. Aprendemos muita literatura, porque tínhamos que preparar os livros, e arte, porque os escritórios de diagramação do CEAL eram excelentes. Havia dez pessoas trabalhando com Oscar Díaz, o melhor diagramador da Argentina, uma pessoa extremamente culta.
A etapa seguinte de minha vida intelectual foi durante a ditadura. Casualmente, para mim e para muita gente, como Carlos Altamirano, que já tinha uma formação mais sistemática, a ditadura proporcionou tempo para estudar seriamente. O período mais continuado de minha formação é tardio, quando tinha 34 anos. Não há nada de precoce na minha história. Provavelmente, se não existisse a ditadura, teríamos enveredado pela política. Já estávamos nisso. Para nós, a revolução era iminente. Lembro-me de um sonho que tive naquele momento. A época sonhava por mim: eu estava com um lenço vermelho na cabeça, como se houvesse saído de uma gravura de Lissitzky, na praça de Maio, desesperada para avisar o comitê central que estávamos por entrar na casa de governo, aguardando que chegassem. Meu inconsciente estava tomado pela época. Paradoxalmente, esse período de formação, que teve a duração de um curso universitário, não teria existido sem a ditadura.
Quais foram as leituras mais importantes que realizaram nesse momento?
A primeira foi Raymond Williams. Juntamente com Carlos Altamirano, li muita coisa com a intenção de revisar o marxismo. Lembro-me de um livro revelador, que nos passou Jorge Dotti, El marxismo y Hegel, de Lucio Colletti. Essas leituras políticas foram essenciais para ajustar contas com nossa consciência filosófica anterior. Pensávamos que somente podíamos deixar o partido e começar um processo de revisão do marxismo se realizássemos um trabalho reflexivo sobre os textos que haviam formado nossa cabeça. O golpe militar me surpreendeu viajando num ônibus para Escobar (eu militava na zona norte), com os três tomos de Rodolsky sobre O Capital. A formação marxista nunca foi abandonada. Depois do golpe, creio que Williams nos ajudou a pensar de outra forma a trama de cultura e sociedade.
Como você tomou conhecimento de Raymond Williams?
Carlos Altamirano soube que a editora Nueva Visión pretendia traduzilo, mas desistira depois do golpe. Quem lhe contou foi uma mulher que desapareceu, a mataram, creio que Diana Guerrero. Creio que conseguimos o livro que estava com a editora. De qualquer modo, Buenos Aires era ainda um lugar onde era possível conseguir livros, por meio de circuitos alternativos. Em seguida, nos interessamos pelos autores mencionados por Williams, por Tomas Hardy e Hoggart, por exemplo. Em 1979, viajamos para a Europa e compramos de tudo: os formalistas russos - que é minha área - e tudo o que necessitávamos de Williams, Hoggart etc. Trouxemos, também, Robert Jauss. Conseguimos montar uma biblioteca mais completa. Conhecíamos Bourdieu porque aparecera um artigo em Problemas del estructuralismo, da editora Siglo Veintiuno. A partir de então, começamos a rastreá-lo. Mas eu creio que, mesmo antes de 1979, já tínhamos uma biblioteca relativamente respeitável. Eu tinha as revistas francesas Tel Quel e Communications. Foi importante, além disso, começarmos a fazer pesquisa, coisa que não havíamos feito antes. Nosso ponto de partida foram os ensaios sobre o Centenário. Depois eu passei para as vanguardas.
Como se deu o seu contato com a literatura argentina?
No meu caso, esse contato sempre existiu; no caso de Altamirano, também. Possivelmente depois de 1980, de meu lado, eu o acentuei de maneira sistemática. Vi que tinha a responsabilidade de escrever sobre os romances que iam aparecendo. De fato, Altamirano é uma das primeiras pessoas que escreveu sobre um romance curto do Saer, Responso, muito antes de começarem a escrever sobre esse autor. Na revista Los Libros, aparecera um artigo de María Teresa Gramuglio sobre Cicatrizes. Eu escrevia muito sobre literatura argentina, trabalhávamos onde se publicava literatura argentina, conhecíamos os autores.
Leia o restante da entrevista aqui.
UFRN: chapa da Professora Ângela foi definida
Fátima Ximenes é reconhecida como docente, gestora e pesquisadora. Profissional qualificada e figura humana das melhores. Em torno das duas, articular-se-á boa parte dos docentes, funcionários e estudantes que querem a continuidade das conquistas alcançadas na atual gestão.
Para mim, cá enfurnado no meu canto, tentando resolver metade dos pepinos da semana, essa notícia foi um alento. Trouxe-me tranqüilidade. Pois, penso que a junção da capacidade de trabalho e de dialogar das duas professoras pode tornar mais suave a travessia da UFRN pelos solavancos que se aproximam (sendo o menor deles o fechamento da torneira do REUNI...). Maravilha!
Mas tudo falta a ser feito, em termos de campanha. Correndo por fora, com um discurso oposicionista, está a Professora Arlete. Embora acantonada no espaço que une a retórica de ultra-esquerda com o conservadorismo corporativista, essa é uma candidatura que pode empolgar, nunca se sabe, setores do estudantado e dos funcionários. Portanto, calma aí, gente! Muita calma nessa hora, hein! E se preparem para o jogo... que é de campeonato.
"Na forma da lei" ou "a cabeça do brasileiro"
E é um filho de um Senador, representado pelo Márcio Garcia, o pivô de tudo. Assassina friamente, e na frente dos futuros advogados, promotores, juízes e delegados federais, um estudante de direito. O motivo? Ciúmes. Ciúmes de uma estudante, que, passados alguns anos, é agora promotora de justiça. Cumpre à sempre ótima Ana Paula Arósio representar esse papel. E ela o faz com competência, em que pese a fraqueza estrutural do enredo.
O personagem do Márcio Garcia, como diriam os meus alunos, alopra. Manda matar desafetos e amantes pentelhas, além de comandar o esquema de recolhimento do caixa dois do pai...
Os atores do MAU, políticos corruptos e policiais venais, são bem melhores. Claro! Para chegar à essa conclusão você já deve ter abandonado a intenção de levar à sério a patuscada. O Senador parece imitação de alguém. Bueno, mas eu não tenho costas largas, e não agüento mais um processo judicial na minha vida, por isso, calminha aí, que eu não vou citar ninguém...
No episódio de ontem, a PF, ancorada em mandado judicial (of course!), faz escuta telefônica na casa de um deputado. Este, interpretado com genialidade, pelo Osmar Prado, é um comparsa meio patético do grande gênio da corrupção que é.., O SENADOR (pai do playboy assassino). No final, o deputado é morto a mando do filho do Senador, em uma ação orquestrada por um delegado da Polícia Civil. Coitada da Civil! Enquanto a FEDERAL é a base referente para os mocinhos, a Cível aparece como aliada do MAU...
Mas o maniqueísmo acima referido ainda não é o pior. O ruim mesmo é o sub-texto (será tão sub assim?): para enfrentar políticos corruptos, só a honestidade e a ética de jovens de classe média alta oriundas de uma tradicional faculdade de direito. É contra eles que, caricatural, discursa histriônico O SENADOR (Viegas, o nome da figura...). E, lá da tribuna, imitando certamente uma fala de alguém de esquerda, espinafra o “Quarto Poder”, a imprensa. Pronto! O cerco se fecha: a “imprensa livre” brasileira, sempre perseguida pela ânsia de controle e censura (da esquerda, vejam só!), é a aliada dos nossos heróis.
Sei não! Nos créditos, aparece um outro nome (Antônio Calmon?) assinando o roteiro. Cá no meu cantão provinciano, encharcado pelas chuvas que teimam em desabar sobre a esquina do Atlântico Sul, fico a pensar se o verdadeiro autor do enredo não é o sociólogo Alberto Carlos Almeida, o autor daquele petardo tão ruidosamente apropriado pela VEJA, cujo título cândido é “A cabeça do brasileiro”.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Guerreiros da cerveja
GUERREIROS DA CERVEJA
Marcos Rolim
Jornalista
marcos@rolim.com.br
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Dunga tem recebido muitas críticas na crônica esportiva. Diante delas, fico sempre com a impressão de que não se trata do técnico, nem das partidas de futebol, mas da ideia que cada um tem sobre o futebol e sobre os modelos – sempre idealizados – do que seja “jogar bem”. Sim, é claro, Dunga poderia ter levado Ganso e Neymar, ao invés de, digamos, Josué e Grafite. Mas, convenhamos, isso não deveria importar muito diante do fato incontestável de que temos um time competitivo com o qual podemos ser campeões. Nem deveria obscurecer os méritos de Dunga na formação de um conceito que se desloca - até aqui vitoriosamente – em campo. Bem, mas esta não é uma crônica sobre futebol. Antes, penso que seja uma crônica sobre o silêncio.
O maior erro de Dunga não foi objeto de atenção dos comentaristas, nem produziu debate na imprensa brasileira. Refiro-me ao fato do técnico da seleção estar alugando sua merecida e respeitável imagem de “guerreiro” à venda de uma cerveja. Como se sabe, alguns dos titulares da seleção brasileira também foram contratados para este papel de garotos-propaganda de bebida alcoólica. Tivemos, aqui e ali, uma ou outra observação sobre o fato, mas nenhum debate. Tudo se passa como se fosse um episódio “normal”. Será? Penso que não. Ilana Pinsky, em artigo na Folha de São Paulo, chamou atenção para o fato de que 87% do merchandising e mais de 70% das propagandas da TV aberta de bebidas alcoólicas são veiculadas nos intervalos ou durante os programas esportivos. Só isso já seria preocupante quando se sabe, segundo estudos da Organização Mundial de Saúde, que os custos derivados do consumo de bebidas alcoólicas na América do Sul representam de 8% a 15% do total dos gastos com saúde pública, o que contrasta com o comprometimento médio de 4% dos orçamentos na área no resto do mundo. Bebe-se muito por aqui, então. Muito mais do que seria razoável. Mas quando associamos o consumo de bebidas alcoólicas à prática esportiva – e, especialmente, quando vinculamos simbolicamente nossas maiores conquistas e nossos ídolos no futebol ao hábito de beber – o que fazemos é aumentar o problema.
O consumo de bebidas alcoólicas no Brasil é um hábito firmado no público jovem – entre 18 e 29 anos – e se concentra muito entre os homens (78%). Não por acaso, então, as estratégias de marketing envolvem mensagens apelativas com mulheres (o que permite a associação entre desejo sexual masculino e bebidas) e esportes (destacadamente o futebol). A ironia é que o álcool deprecia as possibilidades de qualquer atleta e tende a transformar os mais ardentes sonhos sexuais masculinos em pesadelos patéticos. Mais do que isso, o consumo de bebidas alcoólicas está correlacionado fortemente à violência, ao sexo desprotegido e aos acidentes de trânsito. Tratamos, então, queiramos ou não, dos estímulos que a propaganda pode oferecer à morte. Mas o que é a morte diante de lucros bilionários e milhões em verbas publicitárias? Um brinde ao silêncio, então.
Com que roupa? A campanha de Serra vai vestindo o seu figurino...
Serra: descriminalizar aborto liberaria 'carnificina'
'Dificultaria o trabalho de prevenção. Vai (ter) gravidez para todo o lado porque (a mulher) vai para o SUS e faz o aborto', disse
21 de junho de 2010 16h 44
O candidato à presidência pelo PSDB, José Serra, posicionou-se nesta segunda-feira, 21, contra a descriminalização do aborto. Para o tucano, a liberação promoveria uma "carnificina" no País. "Considero o aborto uma coisa terrível", afirmou, em sabatina promovida pelo jornal "Folha de S. Paulo" e pelo portal UOL, na capital paulista. A legislação atual só permite o aborto em casos de estupro ou de risco de morte para a mãe.
RADAR POLÍTICO: Veja como foi a sabatina com Serra
Para Serra, a legalização do aborto prejudicaria programas de prevenção à gravidez indesejada. "Dificultaria o trabalho de prevenção, como no caso da gravidez na adolescência, que é um assunto muito grave. Vai (ter) gravidez para todo o lado porque (a mulher) vai para o SUS (Sistema Único de Saúde) e faz o aborto", disse.
Apesar da posição conservadora a respeito do aborto, o candidato se disse favorável à união civil de homossexuais e à adoção de crianças por casais do mesmo sexo. "Tem tanto problema grave de crianças abandonadas no Brasil que, para elas, é uma salvação", disse.
Ainda na seara de temas polêmicos, Serra colocou-se contra a descriminalização das drogas, contra a redução da maioridade penal e contra a pena de morte. Ele se disse a favor de cotas sociais no ensino superior, no lugar das cotas raciais.
* Quase ninguém se dá conta (ou finge que não dá, tanto faz) que o Serra e o Quércia, tantas vezes atacado pelo tucanato como exemplo de atraso e de, abusemos dos eufemismos, "gestão heterodoxa" da coisa pública, estão de braços dados em São Paulo.
Bueno, chegaste até aqui. Então, mereces um prêmio. Noel Rosa prá você... Clique abaixo e confira!
Tragédia no Nordeste
Quebrangulo. Município da Zona da Mata foi totalmente destruído pelas águas do Rio Paraíba
Em um belo ensaio, que eu li em algum lugar e não lembro mais qual foi, o sempre polêmico Mike Davis, autor, dentre outros, do fabuloso "Cidade de Quartzo", comenta que nós, humanos, gostamos de nos imaginar no controle, mas, aqui na terra, somos apenas "turistas". Todos! E, de vez quando, acordamos para a realidade. Não raro, construímos elaborações a respeito de uma "vingança da natureza".
Por que estou relembrando isso? Porque estou profundamente impactado pela tragédia que atinge alguns estados aqui do Nordeste. Em especial, Pernambuco e Alagoas. As tvs não param de nos apresentar as faces do desastre provocado pelas chuvas.
Aproveito para colocar, mais abaixo, matéria publicada na edição on line do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO sobre a situação nos dois estados.
Nordeste tem mais de mil desaparecidos
Temporais rompem barragem, arrasam mais de 20 cidades e matam 38 em Alagoas e Pernambuco; Lula mobiliza Forças Armadas
22 de junho de 2010 0h 00
Dois dias após a chuva que devastou 21 cidades, Alagoas procura mais de mil desaparecidos. O presidente Lula declarou que a situação exige "esforço de guerra" e mobilizou as Forças Armadas. Alguns locais foram destruídos pela força das águas das chuvas e da correnteza dos rios. No limite com Pernambuco, houve o rompimento de uma represa. Nos dois Estados, o número de mortos chega a 38 e a previsão para hoje é de mais chuva.
Veja também:
Lula anuncia liberação de FGTS para vítimas
Governador de PE vai a Brasília pedir ajuda a Lula
Lula convocou reunião do Gabinete de Crise para definir ajuda de emergência. Também determinou o envio para o Nordeste de antenas de celulares (para lugares isolados), geradores e hospitais de campanha.
O governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), decretou estado de calamidade pública no Estado, após algumas cidades registrarem as maiores chuvas em quatro décadas. "É uma verdadeira tragédia", completou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). O número de mortes subiu - 26 em Alagoas e 12 em Pernambuco - e há pelo menos 97 mil desabrigados - 80 mil alagoanos. Há 25 cidades em estado de calamidade pública - 10 em Pernambuco.
Na Zona da Mata de Alagoas, União dos Palmares, Branquinha, Murici, São José da Laje e Santana do Mundaú foram invadidas pela enxurrada, provocada pelo rompimento da Barragem de Bom Conselho (PE), que fez transbordar o Rio Mundaú. Várias pessoas foram arrastadas pelas águas - 500 pessoas estão desaparecidas só em União dos Palmares. Em Branquinha, nenhum prédio público ficou de pé.
Na Grande Maceió, a cidade de Rio Largo, cortada pelo Mundaú, foi uma das mais atingidas. Três mil casas foram completamente destruídas pela enchente. Há 30 desaparecidos e 15 mil desabrigados. Além disso, a inundação fechou dois sistemas de captação e deixou nove cidades alagoanas sem abastecimento. O conserto vai demorar 15 dias.
"Já fugimos três vezes da correnteza do Mundaú, algumas vezes com água dando na canela, mas nunca vimos uma enxurrada tão grande como essa", contou a dona de casa Maria do Carmo dos Santos, de 34 anos, que perdeu tudo o que tinha. "Só deu tempo de pegar os documentos, um saco com roupas e os meninos", acrescentou Maria do Carmo, que tem cinco filhos, todos menores. Ela vivia na Ilha Angelita, no delta do Rio Mundaú. Ali, das 2 mil casas só sobraram escombros de pé.
"Há mais de mil desaparecidos no Estado", afirmou o secretário da Coordenação Estadual da Defesa Civil de Alagoas, Deníldson Queiroz. À noite, o governador confirmou esse número.
Pernambuco
Os rastros da destruição do fim de semana chegaram ontem à Praia de Boa Viagem, no Recife. Trazidos pelos rios que deságuam no oceano, móveis, sapatos, madeira e lixo foram jogados na areia da famosa praia urbana.
Do total de municípios afetados, dez estão em situação de calamidade pública e outros 13, em estado de emergência. Em Barreiros, ao sul da Zona da Mata, mesmo com a trégua da chuva, as águas ainda não baixaram totalmente e muitos moradores se encontram isolados ou em cima de telhados. A cidade estava sem energia elétrica e sem comunicação telefônica.
Palmares, também na Zona da Mata, ficou sem acesso. Duas pontes caíram e a BR-101 foi interditada na altura da cidade. No balanço geral, Pernambuco tem 1,4 mil km de estradas e 69 pontes destruídas, em 49 municípios afetados.
COLABOROU VANNILDO MENDES
Conheça a obra de Manuel Albarran
Queres conhecer um pouco mais? Visite o site dele! É so clicar aqui.
O que é a favela, afinal?
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Flime que eu quero rever...
Saramago
Pois, agorinha mesmo, estão aí a espinafrar Saramago. Com a morte do grande escritor, aproveitam para o "ajuste de contas". Querem, na verdade, chocar. E aí dá-lhe pau no Saramago. Nele só, não. Na produção literária dele também. Como se essa rapaziada o tivesse lido de verdade. Não leram e não gostaram. Por que? Ora, bolas, porque o Saramago era comunista e ateu... E porque não se juntava ao coro anti-castrista.
Diante deles, pode parecer loucura, só o riso nos salva. É o que fez o chargista do jornal argentino PÁGINA 12. Confira abaixo!
Carlos Zens, o cara
Vitória de Uribe na Colômbia
Em seu discurso de vitória, ainda bem!, sinalizou com uma distensão em relação ao Equador e à Venezuela. Espero que essa abertura prospere e que as relações sejam reatadas entre os nossos vizinhos. Pela segurança e pela paz da região.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Saramago
Morre aos 87 anos o escritor português José Saramago, Nobel de Literatura em 1998.
Do UOL Notícias*
Em São Paulo
Morreu nesta sexta-feira (18) em Lanzarote (Ilhas Canárias, na Espanha), o escritor português José Saramago, aos 87 anos. Em 1998, Saramago ganhou o único Prêmio Nobel da Literatura em língua portuguesa.
A Fundação José Saramago confirmou em comunicado que o escritor morreu às 12h30 (horário local, 7h30 em Brasília) na residência dele em Lanzarote, onde morava desde 1993, "em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila".
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Maradona com todas as bolas...
Mais ao sul, é só felicidade...
E eu, cá no meu cantinho, remoendo a minha inveja...
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Fundamentalismos
Bueno, olhando agora, como faço toda vida ao chegar ao trabalho, as notícias disponíveis no EL PAÍS, deparei-me com a matéria abaixo. Dá o que pensar. O apego ao texto sagrado como guia das ações cotidianas, ou, em linguagem de Giddens, "à verdade formular", em qualquer religião, traduz-se em fundamentalismo e em intolerância.
Jerusalén se tiñe de negro
Miles de ultraortodoxos protestan contra una decisión judicial que obliga a que alumnas judías de origen europeo compartan clase con judías de origen árabe
ANA CARBAJOSA - Jerusalén - 17/06/2010
Decenas de miles de judíos ultraortodoxos han tomado las calles de Jerusalén para protestar por una decisión judicial que obliga a decenas de padres a que sus hijas, judías de origen europeo estudien junto las alumnas judías de origen árabe. Los haredim, como se conoce a los judíos ultraortodoxos consideran el dictamen una intromisión inaceptable en los asuntos educativos de su comunidad.
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Como burlar a inquisição
Una exposición en la Biblioteca Nacional descubre los manuscritos originales de los últimos musulmanes españoles y su particular escritura aljamiada
TEREIXA CONSTENLA - Madrid - 17/06/2010
Estaban en el punto de mira de la Inquisición, con una amenazadora orden de expulsión que les obligababa a despedirse de sus casas, sus vecinos y sus vidas. Pero confiaban en que no fuese para siempre. Así que los últimos musulmanes españoles escondieron sus manuscritos en huecos abiertos entre los muros de sus viviendas, les añadieron piedras de sal y sacos de espliego para protegerlos de la humedad y los envolvieron en paños de lino.
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terça-feira, 15 de junho de 2010
Brasil é Maicon
MUNDIAL DE SUDÁFRICA
Brasil es Maicon
Los de Dunga tardan mucho en entrar en calor y acaban defendiéndose ante Corea del Norte
RAMON BESA - Johanesburgo - 15/06/2010
Maicon se bastó para derrotar a Corea del Norte en el debut mundialista de Brasil. El partido fue un monólogo de Maicon, un alivio para su equipo, muy parado, y una tortura para los muchachos del Kim Jong Hun, demasiado ingenuos, sobre todo su portero, que se comió el tiro con efecto desde la banda del lateral derecho de la canarinha. Harto de que ningún volante ni delantero pusiera punto y final a sus jugadas, Maicon decidió resolver por su cuenta con un remate sorprendente para el guardameta, superado por su palo, convencido de que se imponía un centro y no un chut.
Queres ler mais? Clique aqui.
Um bom dia para todos
Eleição para Reitor na UFRN: prego batido, ponta virada
Terminada a copa, o jogo prá valer irá começar aqui na UFRN. Vamos acompanhar!
O bem e o mal segundo Touraine
"El mal y el bien existen"
ALAIN TOURAINE Sociólogo, Entrevista con el sociólogo Alain Touraine
Lambendo os beiços...
Manoel da Conceição começa greve de fome contra entrega do PT ao sarneysismo
Eu ainda estava por São Luis quando o Presidente do PT, o José Eduardo Dutra, foi acompanhar a convenção do partido. Ao invés de se manter distante da disputa estadual, o presidente pestista pareceu mais um soldado do sarneysismo: foi recebido no Palácio e fez os salamaleques devidos aos potentados locais.
Realizada a convenção, por não mais que dois votos, prevaleceu a dignidade e o PT local decidiu ficar com a candidatura de Flávio Dino. Denúncias de malas de dinheiro já pipocavam então. Mas, dada a vitória, meus amigos maranhenses ficaram aliviados. Cantaram vitória cedo demais. O sarneysismo caiu em campo e, dizem não poucos, com meios, digamos, pouco ortodoxos passou a convencer delegados petistas a mudarem de posição. A direção nacional do PT, sempre pronta a agradar o sarneysismo, assumiu a defesa da manobra e se prepara para intervir no PT local. Em nome da eleição da Dilma, claro.
E quem é Flávio Dino (PC do B)? O combativo e atuante deputado federal é ex-juiz e ex-militante do movimento estudantil. E alguém que não apenas faz parte da chamada base de apoio do Governo Lula, mas se destaca na firmeza com que defende o governo. E, como indicam as pesquisas eleitorais (daí o desespero do sarneysismo), tem tudo para derrotar Roseana. Quer dizer, teria. Porque, no meio do caminho, o PT está se transformando em uma pedra.
O script ia seguindo conforme os sonhos da Tchurma, mas eis que, do passado, ressurge a figura de Manoel da Conceição. Petista histórico, lá das origens, Conceição é uma lenda viva da luta dos trabalhadores rurais não apenas do Maranhão, mas de todo o nordeste. Eu tive a oportunidade de conhecê-lo aqui em Natal. Uma figura realmente extraordinária. Comparável ao Apolônio de Carvalho. Pois bem, o Manoel da Conceição decidiu entrar em greve de fome contra a entrega do PT ao sarneysismo. Agora a direção nacional vai ter que descascar essa batata quente.
Confira abaixo mais informações a respeito do imbroglio.
Petista histórico adere a greve de fome e preocupa time de Dilma
Com saúde frágil, fundador do partido tem histórico de militância contra família Sarney e contesta intervenção em favor de Roseana
Ricardo Galhardo, iG São Paulo 14/06/2010 19:39
A situação mudou de figura no último domingo, durante a convenção que oficializou a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, quando chegou ao conhecimento da direção partidária que Manoel da Conceição havia aderido à greve de fome de Dutra. “Isso é sério”, disse o secretário nacional do PT, José Eduardo Cardozo, quando soube da notícia.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
A entrevista de Dilma na VEJA
Mulheres no presídio: uma matéria fundamental
Em tempo: a matéria é do UOL.
A Alemanhã jogou com a alma do Brasil
Maravilha!
Exploração sexual de crianças e adolescentes, o curso
Uma coisa realmente gratificante: encontrar gente que faz e que se preocupa em buscar aportes para refletir a sua prática.
Agradeço às alunas pelos momentos bons que me proporcionaram na sexta-feira... Especialmente a gentileza e a compreensão que tiveram para comigo, que estava funcionando pela metade devido a esse resfriado que me acompanha desde há alguns dias.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Contra a ditadura da pureza
A convivência dos contrários e a tolerância me encantam. E, eu sei bem, é muito díficil cultivar esses valores. Não raro, vemos, aqui e alhures, ditos progressistas querendo normalizar e enquadrar pessoas - alguns destes, com freqüência, citam Foucault ou algum nome da "desconstrução" em suas perorações.
"Coisa tipicamente", sei lá!, "nordestina" ou "gaucha"? Tô fora! Essas identidades essencialistas são tão mais fortes quanto mais excludentes. Há, por certo, fome de identidades que alimentam esses marcadores cristalizadores. E, quem pode esquecer?, há também o medo da perda de sentido.
Mas, venha cá!, você também não sente um friozinho na barriga toda vez que, em nome da pureza da cultura, alguém começa a esbravejar contra a globalização? Aqui em Natal, vira e mexe, escuto esses discursos com relação ao turismo...
Por isso, a impureza, a mestiçagem e o contato são alentos para mim. São plataformas nas quais busco apoio para não me afogar nesse oceano de certezas e identidades fixas.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Música para quem ainda está no trabalho
A banalidade da nudez
Da minha leitura diária do EL PAÍS recorto a matéria abaixo para te passar. Vale dar uma olhada.
REPORTAJE: vida&artes
El pudor ya no es lo que era
La desnudez gana terreno en la moda y se instala en la calle - Cala la idea de que nadie puede limitar la autonomía personal
NAIARA GALARRAGA 09/06/2010
"Respete las costumbres del turista y exija de ellos lo mismo para con usted. El buen sentido del hombre no cambia con el lugar". En estos términos pedía una campaña televisiva de los años sesenta amabilidad con el extranjero. Hoy algunos visitantes se empeñan en pasearse por zonas urbanas enseñando mucha piel, como si aquello fuera la playa. Ellos, a pecho descubierto, y ellas, con minúsculos biquinis. Un fenómeno creciente en Barcelona que molesta a comerciantes y autoridades. Como incomodó a los suizos el año pasado la sorprendente moda de subir a los Alpes desnudo. Los más osados (o insensatos) también lo hacían en invierno. ¿Cómo evoluciona el pudor? ¿Cómo se convierte en aceptable una conducta social que era inaceptable?
"Hace unos años hubiera sido impensable que los alumnos vinieran a la universidad en chancletas, con pantalón corto y camiseta". Gerardo Mail, catedrático de Sociología de la Universidad Autónoma de Madrid, explica que, como los niños ante sus padres, en el plano social los individuos van probando y probando hasta que topan con un límite. "Desde finales de los setenta el control social, que conforma lo aceptable o inaceptable, se ha flexibilizado, hay una mayor autonomía (del griego, yo me pongo mis normas) y tolerancia con otros estilos de vida. Y a partir de ahí nace la norma social donde los demás no tienen derecho a limitar mi autonomía".
El tiempo no acompaña. Las nubes van y vienen y una chaquetita se agradece para pasear por Lloret de Mar (40.000 habitantes), en Girona. Aun así Darryl Stretton, de 25 años, luce su torso desnudo. "Hace calor, si se compara con Inglaterra". Lleva tres días en Lloret, junto a una veintena de ingleses de Leicestershire, celebrando la despedida de soltero de una pareja del grupo. Siete de ellos presumen de pelo en pecho en el chiringuito de playa. "No creo que sea nada malo ir sin camiseta en las zonas cercanas a la playa. Eso sí, jamás iría a un restaurante a comer sin camiseta", asegura Stretton. ¿Se quitaría también la prenda de arriba en Inglaterra? "Por supuesto, pero para eso haría falta que el tiempo acompañase".
Lloret se prepara para la temporada de verano. En breve, se llenará de turistas como Stretton y su troupe, que buscan calor y mar (la población se duplica en verano). "Al final ni te das cuenta de que van sin camiseta", indica Pilar Ferrer, de 48 años, que regenta una tienda de golosinas junto al paseo marítimo.
Los Ferrer están muy relacionados con el turismo. Su padre, Josep, de 81 años, poseía un hotel en la ciudad hace más de 35 años, el Mont Jordi. Él vio llegar al primer turista. "Primero nos sorprendieron con el biquini, después con el top less, y, en dos días, nos habían acostumbrado a todo", recuerda. Ferrer padre vive sin drama este segundo destape. "No nos imaginábamos entonces que fuese a pasar, pero ya nos hemos habituado. Quién sabe, quizá en un tiempo todo vuelva a ser como antes", augura.
Un pasado que Anna Torà, de 37 años, recuerda con cierta nostalgia. "Los alemanes se ponían de punta en blanco para ir a cenar", cuenta desde la recepción del hotel Excelsior que dirige. "Pero de eso hace ya más de 20 años", añade. En el Excelsior son taxativos: no se puede entrar sin camiseta ni descalzo. "Es una cuestión de higiene y de educación. Aunque somos un hotel de playa, hacen falta unas normas", insiste Torà.
Joan Díaz, de 29 años y dueño de un chiringuito de playa, opina: "Que aquí vayan sin camiseta es normal. Lo que ya no lo es tanto es que lo hagan en Las Ramblas [de Barcelona]".
Lo mismo opinan allí. Y así se lo hacen saber a los foráneos: "Respeten las normas de convivencia de la ciudad, así como el patrimonio público y privado. Asimismo se recomienda vestir adecuadamente no solo en la visita a los lugares de interés turístico sino también en los espacios públicos". Es la recomendación que este año se ha insertado en los 500.000 planos turísticos de Barcelona, editados para evitar la creciente tendencia a pasear por cualquier calle en traje de baño o biquini.
En una ciudad con más de cinco kilómetros de playa es habitual pasear con poca ropa en los paseos marítimos. El año pasado, esa estampa se extendió por buena parte del centro de la ciudad. Rambla arriba, paseo de Gràcia, parque Güell, Sagrada Familia... se empezaron a poblar de turistas con torsos relucientes al sol. Un espectáculo que molesta a casi todos: residentes, establecimientos de hostelería y restaurantes. Y que no es positiva para la proyección de la ciudad en el exterior. Barcelona no tiene normativas que regulen la vestimenta.
Cómo ir vestido se considera algo que atañe estrictamente al ámbito de la libertad individual. La que reclamaron, por cierto, varios grupos nudistas en Barcelona hace seis años. La Concejalía de Derechos Civiles del Ayuntamiento barcelonés se hizo eco de esa reivindicación y editó un tríptico que levantó un considerable revuelo. Fue interpretado en el sentido de que el Consistorio invitaba a los ciudadanos a caminar como llegaron al mundo. Pero la ordenanza del civismo de la capital catalana, aprobada en 2005, no llegó a regular nada de eso porque, entre otras cuestiones, la ciudad tiene dos playas nudistas.
Ni entonces ni ahora se opta por una política de sanciones o multa. El Ayuntamiento apuesta por pactos con hoteleros, restauradores y, en general, todo el comercio. "Es un trabajo colectivo, todos tenemos que explicar al visitante que la playa se acaba donde se acaba y que a partir de ahí hay que vestirse", apuntan fuentes del Consistorio. El sociólogo Mail recuerda, sin embargo, que la moda de "tener un aspecto playero en la ciudad no ha generado rechazo".
Por si acaso, en Barcelona se colocarán pictogramas recordatorios en museos, otros centros culturales, la red de transporte público y en todos los comercios que lo deseen. Desde el sector turístico se apunta que el problema del traje de baño por la calle se acentúa con el turista que pernocta en la costa y va a Barcelona a pasar el día: "Parece que salgan de excursión a la playa, no a un casco urbano".
El antropólogo del CSIC Manuel Mandianes explica que "el pudor nace de conceptos morales que influyen en la conducta humana". Sus límites cambian con el tiempo, en diferentes culturas, incluso en diferentes barrios de una ciudad. "Hace años la moral pública decía que era pecado que la mujer mostrara partes pudendas y que el hombre aprovechara para verlas. El hombre no mostraba el torso; ni la mujer, la pantorrilla".
Este experto añade que ahora se habla en público de las relaciones sexuales -algunos incluso las detallan en televisión- y con ello se ha normalizado el mostrar partes del cuerpo que antes no se exhibían. Pero el pudor también varía. "Puedo tener pudor de contar en un bar lo que sí cuento en una cena en mi casa", detalla Mandianes, que pone un ejemplo más: "Las inmigrantes latinoamericanas muestran con orgullo sus michelines con ropa ajustada, cosa que, por pudor, las españolas no hacen".
En Málaga capital, la afición a circular sin camiseta se da durante la feria de agosto entre jóvenes locales, calificados despectivamente como merdellones (un hortera en malagueño). La intervención municipal se limita a prohibir mediante un bando que los caballistas se paseen sobre sus animales por el recinto ferial descamisados.
En Marbella, el Ayuntamiento ha incluido en los pliegos de condiciones para la contratación de las barras de feria la siguiente cláusula: "No se servirán bebidas a los descamisados".
La desnudez gana protagonismo en la moda: camisas transparentes con sujetadores de colores, calzoncillos y tangas estratégicamente a la vista... ¿Durará? Alicia Kaufmann cree que no. Esta catedrática de Sociología de la Universidad de Alcalá de Henares sostiene que "nada viene para quedarse". "Han cambiado los valores, todo se convierte en efímero. Y en lo corporal, que antes era muy privado, ahora vale todo. Así ha surgido con gran virulencia una industria: la cirugía estética, retocarse todo". Kaufmann recalca que el cuerpo se ha convertido "en un objeto más de consumo", con un agravante: "La mayoría de las veces responde a necesidades creadas por el sistema".
Transcurrieron muchos años tras la muerte del dictador Franco hasta que, en 1988, fue derogado el delito de escándalo público: "El que de cualquier modo ofendiere el pudor o las buenas costumbres con hechos de grave escándalo o trascendencia". El abogado Manuel Cobo del Rosal se quejaba, un año antes, en 1987, en un artículo en este diario de que el delito siguiera vigente a aquellas alturas: "El lamentable suceso acaecido en una localidad extremeña, protagonizado por una joven pareja de novios, nos sitúa ante el enorme, y cada día más acusado, desfase existente entre realidad social y realidad jurídico-positiva, al menos en lo que al derecho penal se refiere".
Los Ayuntamientos no son partidarios de regular la vestimenta pero sí, por ejemplo, el nudismo. El de Cádiz incluyó en las ordenanzas de playa, por primera vez el año pasado, sanciones hasta de 300 euros para quienes hicieran nudismo en el litoral de la ciudad. Las asociaciones naturistas arremetieron contra el Consistorio por castigar una costumbre minoritaria que nunca había causado revuelo. Nadie fue multado, pero algunos bañistas fueron advertidos. Ahora se acaba de delimitar para el nudismo una parte de la playa de Cortadura, que queda a las afueras de la ciudad, entre una carretera y unas instalaciones militares.
El irrepetible alcalde de Madrid Enrique Tierno Galván escribió en un bando, a principios del verano de 1984, que "las buenas costumbres piden comedimiento y mesura en cuanto al destaparse toca [...] sin caer en impropias mojigaterías, exageraciones ni afectación de virtud".