sábado, 13 de março de 2010

Erick Pereira e a banalização do mal

Não conheço Erick Pereira pessoalmente. Como é uma pessoa pública, advogado de sucesso, de alguma forma todos nós o “conhecemos”. Seu rosto e seu nome não são estranhos para os que acompanhamos a vida política e social do Rio Grande do Norte. Hoje, ao ler o NOVO JORNAL, deparei-me com um artigo de sua autoria que me fez conhecer um outro lado da figura pública: sua sensibilidade para com a dor e o sofrimento dos anônimos. No seu texto, encontrei um libelo contra a banalização do mal que toma conta da classe média e da elite natalenses. Comentando o fato escabroso do assassinato de Francisca Lúcia (a esposa de um traficante acusado de matar um policial militar) logo após a mesma ter saído de uma delegacia de polícia, Erick Pereira aborda a indiferença e o cinismo de parte das “pessoas de bem” da capital potiguar diante dos dramas relacionados às mortes da “guerra do tráfico” na Zona Norte de Natal. Para estes, nada mais “normal” do que a esposa de um traficante assassino, saindo de uma delegacia de polícia, ser assassinada à luz do dia em plena via pública.

Lembrei-me de Hannah Arendt. Especialmente de certo ensaio majestoso sobre o julgamento do nazista Eichmann. A banalização do mal, no caso presente, traduz-se não apenas na indiferença em relação ao sofrimento alheio, mas na justificação cínica da eliminação dos “envolvidos com o crime”.

Erick Pereira, com o artigo de hoje no NOVO JORNAL, falou por todos nós que estamos com o nó da indignação entalado na nossa garganta, impotentes diante da barbárie que avança por toda a periferia da Grande Natal. Por outro lado, pelo menos prá mim, ficou claro que ele não é um grande advogado por acaso. Tem algo na sua atuação que vem da alma... Ou, em termos mais sociológicos, algo que corresponde mesmo ao que Weber denominaria de “vocação”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Edmilson,

Gostaria só de lembrá-lo que este mesmo Erick Pereira, que é apontado por você como o grande defensor das causas nobres, foi enquadrado em um processo de disputa comercial por usar dossiês falsos.
O Dossiê tinha o propósito de assassinar a reputação do opositor do cliente dele numa disputa judicial, para assim tornar a vitória mais fácil. O juiz, que já havia "engolido" a prova, conseguiu invalidá-la a tempo e apontar a prática, no mínimo, questionável do advogado.
Como grande sociólogo que é, você sabe que a morte social, em certo sentido, traz mais sofrimento do que a morte física.
É fácil se indignar com um assassinato de uma pessoa distante. O difícil é não contribuir com o sofrimento de outras pessoas nos contextos em que nos inserismos (não questiono a crítica que ele faz ao assassinato da moça, mas a conduta de utilizar o sentimento da repugnância seletivamente).
Mesmo sendo um advogado de sucesso, não sei se um profissional que faz isso tem condições de almejar uma cadeira no CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Eduardo Santos disse...

Concordo com o post. O artigo foi muito bonito. Quanto ao advogado, só o conheço pelos jornais e fico feliz que tenhamos profissionais de renome nacional como ele. Sempre torço pelos potiguares. Pena que tenha tanta gente invejosa e pequena em Natal. Ataca por atacar e sequer tem coragem de se identificar. Não dá nem pra entender o comentário. Fazer o quê? Ele é advogado. Se ele advogou para uma pessoa e saiu vitorioso, normal que o perdedor fique com raiva.