domingo, 2 de novembro de 2008
De Ruanda para o Congo e de volta para Ruanda
Este blog é, como alguém já disse, um espaço eclético. Pois é, ele reflete bem a cabeça de quem o faz. Tenho tantos interesses e me movo em tantas direções, no que diz respeito às ciências sociais, que, não raro, sofro bastante quando tenho que responder àquelas perguntas protocolares, formulados em um primeiro encontro, sobre “qual o meu interesse de pesquisa” ou sobre o “que você está trabalhando”.
O comentário acima é apenas um intróito para tocar em algo que sempre me interessou: os chamados “conflitos étnicos” que dilaceram o continente africano. Para quem, como eu, acompanhou os desdobramentos do ignominioso genocídio de Ruanda, os acontecimentos recentes na República do Congo, opondo, novamente, tutis e hutus, traduzem-se em uma terrível sensação de deslocamento no mundo. Novamente, a mesma ladainha pérfida das diplomacias ocidentais e a impotência criminosa da ONU.
Para uma melhor compreensão do drama de Ruanda, e que envolve países vizinhos, dentre eles o Congo, no qual se encontram refugiados tanto vítimas quanto responsáveis pelo grande Genocídio, especialmente hutus, indico a leitura do livro “Gostaríamos de avisa-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias”, de autoria do jornalista americano Philip Gourevith, publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras.
Uma alternativa de informação sobre o que ocorre no país que foi cenário do filme “Na motanha dos gorila” (estrelado por Sigourney Weaver e dedicado à história da antropóloga Dian Fossey) é o blog “Pé na África”, do jornalista Fábio Zanini. Colunista do UOL e repórter do jornal Folha de São Paulo, Zanine produz uma visão crítica e sensível dos dramas políticos e sócio-culturais que têm como palco não apenas Ruanda, mas toda o continente africano. Para acessar o blog, clique aqui. Em tempo: a foto que encima este post foi retirada do sempre ótimo blog de Zanine.
Aconselho, por último, que você busque em sua locadora o filme “Hotel Ruanda”, dirigido por Terry George e que tem como principal estrela o sempre ótimo Don Cheadle. Assista ao filme e descubra o porquê de eu ter escrito, mais acima, a respeito do papel, digamos, ambíguo dos organismos internacionais em relação ao drama ruandense.
Por último, uma indicação meio truncada: há um artigo, de autoria de Abram de Swaan, publicado na revista Novos Estudo CEBRAP sobre o genocídio. Truncada? Sim, porque, por incrível que pareça, não lembro bem o título do artigo (algo como "círculos da desindentificação", acho). Mas a análise alí desenvolvida, lembro bem, é muito interessante e aporta insights que podem ser mobilizados para a apreensão de outros conflitos sociais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Caro Edmilson,
Para contribuir com a discussão. O título do texto de Abram de Swaan é "O alargamento dos círculos de desidentificação: reflexões sobre Ruanda". Ele foi publicado na edição 62, de março de 2002, da Novos Estudos. Justiça seja feita: debatemos este texto numa disciplina de métodos de análise sociológica, ministrada por você no já longínquo ano de 2003.
Ainda para continuar no campo das referências truncadas, peço licença para fazer uma sobre o mesmo assunto: o livro "uma temporada de facões", de Jean Hatzfeld. Nele, o autor entrevista alguns que foram presos por terem participado do genocídio. Não consegui lê-lo por completo (eis o motivo do truncado), mas fiquei impressionado quando tive contato com o mesmo há alguns anos. Fica a dica para futuras garimpadas literárias.
Aquele abraço!
Postar um comentário