sábado, 22 de novembro de 2008

PCC, DEA e o lengalenga de sempre na Folha de São Paulo

Inacreditável! Em artigo da segunda página da Folha de São Paulo, o correspondente do jornal em Caracas, Fabiano Maisonnave, seguindo a cantilena anti-Evo dominante na imprensa brasileira, perpetra algumas pérolas. Com o pretexto de comentar a suspensão das atividades da DEA (a conhecida agência anti-drogas norte-americana) na Bolívia, posição bancada pelo presidente boliviano, após a confirmação do envolvimento da não tão isenta e imparcial agência norte-americana em assuntos, digamos, “distantes” das drogas, o jornalista amontoa, em poucas linhas, um conjunto de lugares-comuns do “alinhamento automático” com os EUA. Repete aquele desdobramento retórico usual, muito presente na imprensa brasileira, no qual o questionamento de qualquer política norte-americana é tomado como expressão de anti-americanismo (algo que, concordamos, se desdobra e se alimenta, não raramente, de fundamentalismos vários). A relação da decisão de Evo com as ações do PCC é o coroamento de um texto, no mínimo, mal-intencionado.
Leia abaixo trechos do artigo. Entremeio alguns comentários (em itálico) aos trechos, digamos, mais "pesados".

Fiesta no PCC

O PCC NÃO deve caber em si de tantas boas notícias.
Principal comprador da cocaína boliviana, terá o seu negócio bem mais facilitado depois que Evo Morales expulsou a DEA do país.

O autor, de forma cavilosa, foge de algumas questões fundamentais: Por que o DEA foi expulso? O que ele tem promovido na Bolívia? O combate ao narcotráfico tem se traduzido em que custos sociais e ambientais na América Latina?
A perspectiva assumida não deixa de ser curiosa: a DEA aparece como estando acima do bem e do mal. Não pergunte a nenhum latino-americano, mas, sim, a um norte-americano medianamente informado e ele se apresentará muito mais crítico em relação à agência do que o jornalista.


Em menos de um ano, receberá uma estrada novinha em folha que pavimenta a sua mais importante rota do pó, entre Santa Cruz e Corumbá (MS). Mas a cereja do bolo é que, a partir de agora, o Brasil será o principal parceiro da Bolívia no combate às drogas.

Risível! Mas tudo vale para combater o Evo, não é mesmo? Mas, sabemos bem, se a tal estrada não fosse construída, o Governo Evo seria considerado incompetente. Já que a construiu, nada de elogios, se fez é porque era para servir ao narcotráfico

(...)

A falta de preocupação do Brasil ganhou contornos surreais na semana passada, na visita a Brasília do ministro de Governo, Alfredo Rada, ao colega Tarso Genro (Justiça). Toda a iniciativa veio do lado boliviano. O ministro brasileiro e seus assessores engoliram a lengalenga de que coca não é cocaína (o mesmo que dizer que laranja não é suco de laranja) e se limitaram a ouvir e aceitar as propostas de revisar os inócuos acordos bilaterais e ampliar a cooperação policial.
Genro poderia ter questionado, no mínimo, por que Morales -que acumula os cargos de presidente da República e do sindicato dos cocaleiros- decidiu aumentar a área legal de coca de 12 mil para 20 mil hectares, embora 6 mil hectares bastem para o uso tradicional.

Coca está para cocaína assim como a laranja está para o suco de laranja? Meu Deus! O que será que esse cara fez antes de escrever o artigo. Hum, sei lá, mas... Sem comentários!



Tanta inércia condiz com a estratégia maior da diplomacia lulista de evitar brigas com o vizinhos e assim despontar como "big player" mundial. Mesmo que isso traga o risco de transformar o Brasil num cenário de guerra parecido ao que ocorre hoje no México. Que o diga Botucatu, onde uma quadrilha acaba de explodir uma delegacia para roubar cocaína "made in Bolívia".

Lula, sempre ele!, é o culpado! Ora, ora, onde já se viu coisa mais sem sentido do que essa de querer que o Brasil seja um player global, não é? Parece complexo de vira-lata do jornalista, mas, creio eu, não é. É que é muito difícil afirmar alguma coisa diferente, crítica e independente na dita Grande Imprensa.

O final do texto é melancólico. A comparação com o ocorrido em Botucatu funciona como uma chantagem: impeçam o Evo de fazer essa "loucura" (se livrar da DEA, lembrem!) ou isso aqui se transforma no México. Tudo se passa como se o florescimento dos cartéis mexicanos não tivesse ocorrido em meio a uma guerra que teve exatamente a DEA como um dos seus atores. Qual o papel do DEA na guerra da droga no México? Até a indústria cinematográfica norte-americana já explorou esse filão. Ontem mesmo, no EL PAÍS, podia-se ler a notícia de que o ex-czar anti-drogas mexicano (treinado onde? ajudado por qual agência) fora preso por suspeitas de envolvimento com o narcotráfico.


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