Muito legal o posicionamento do Marcos Rolim a respeito do uso de uniforme por estudantes do ensino básico. Rolim dispensa maiores apresentações, especialmente neste espaço, pois, em outros momentos já fiz referência a esse criativo especialista em segurança pública.
UNIFORMES, POR QUE NÃO?
Marcos Rolim
Jornalista
Já houve tempo em que crianças e adolescentes usavam uniformes escolares no Brasil. Notadamente na rede pública, o uso de uniformes foi mesmo uma regra bastante observada. Passaram-se os anos e a norma foi sendo relativizada e, mesmo, abandonada. Mais recentemente, algumas prefeituras têm implantado programas para o uso de uniformes escolares, a partir de doações e/ou incentivos. Afinal, uniformes escolares são mesmo importantes? Dois argumentos parecem indicar que sim.
Primeiramente, a não exigência de uniformes permite a reprodução dos padrões de consumo oferecidos aos alunos por suas famílias. Esta diferenciação pela roupa, pela marca, pelo Ipod, pela jóia, pelo boné, pelo tênis, evidencia uma característica das juventudes urbanas nas sociedades pós-modernas: elas se movimentam em grupos que existem, antes de tudo, por seus signos visuais. Os jovens se movem a partir de emblemas. Tudo se passa como se, antes da fala, houvesse outra linguagem que precisasse estar escrita sobre seus corpos. O processo de “tribalização” dos jovens, então, é inevitavelmente a dinâmica de estetização de seus valores e preferências culturais. Sem compartilhar esta estetização – vale dizer, sem transformar seu corpo em signo - o jovem sente-se como que apartado do mundo, isolado e sem “parentesco” entre os seus. Sua máxima, por isso mesmo, poderia ser: “Aparento, logo existo.” Estas dinâmicas são relevantes para o percurso de autonomia entre os jovens e devem ser compreendidas, mas carregam para a escola um problema novo: elas dificultam a construção de uma identidade estudantil. Não se trata, então, de reificar o debate sobre os uniformes como se sua equação pudesse oferecer alguma resposta para a crise da educação. Trata-se, singelamente, de reconhecer que o uso de uniformes aproxima simbolicamente os estudantes. Para além disso, é provável que reforce a noção civilizatória de que todos são “iguais”, pouco importando sua origem social, seu sobrenome, a casa onde mora, as viagens que já fez, sua mesada ou a banda de sua preferência.
O segundo argumento surge das pesquisas que têm encontrado, em vários países, fortes correlações entre o uso de uniformes e: a) maiores taxas de presença e aprovação; b) menores taxas de suspensão de alunos e c) expressiva redução nos indicadores de violência nas escolas (Ver, por exemplo, trabalho de Virgínia Draa – “School Uniforms in urban public hight schools”, disponível em: http://www.eric.ed.gov/PDFS/ED497409.pdf). Além de uma maior proteção nas escolas pela facilidade de identificar intrusos, o uso de uniformes pode oferecer alguma proteção a milhares de estudantes brasileiros que moram nas periferias e que, muitas vezes, são tratados como “suspeitos” pelo simples fato de serem jovens, pobres e/ou negros. Para um garoto negro que more em uma área de exclusão, seu deslocamento pelas ruas pode ser algo especialmente perigoso – notadamente em circunstâncias onde a polícia surge como uma força de intervenção armada e onde há grupos de outros jovens atuando no tráfico de drogas.
quarta-feira, 2 de março de 2011
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2 comentários:
Olá Edmilson!
Descobri o seu blog e já o coloquei na minha lista de favoritos! Muito legal os textos e as reflexões.
Ao ler este do Marcos Rolim, fico cá com os meus botões...o que diabos é tribalização dos jovens gente? é de comer isso? rs, essa idéia de tribos juvenis, foi tão bem incorporada pela mídia e seus operadores que eu desconfio de sua sustentação empírica, teórica ou conceitual, que seja... existem mesmo? vejo um certo consenso de que se trata de grupos delimitados, com regras particulares, sugerindo uma fixidez em suas identidades e uma espécie de isolamento(talvez o Mafesoli, quando escreveu o "tempo das tribos" não imaginava os efeitos interpretativos) eu tenho visto em minhas práticas e andanças o contrário: jovens que estão circulando em diferentes grupos, ativos (e passivos) em redes tão multifacetadas, que num dia vão dormir punks e no outro são trabalhadores, vão trabalhar em lojas de departamento, são vendedores...de manhã estão em ONGs ou num"projeto social" e a noite nas rodinhas do tráfico, etc... se é pra enquadrar em alguma categoria para entender esses universos juvenis, com suas identidades múltiplas, códigos, preferências,estilos etc, prefiro pensar tendo como ponto de partida o termo cultura juvenis...a despeito de suas limitações, me parece muito mais conectada à realidade hoje, aberto ao universo social mais amplo, do que tribos, que presume esse isolamento...
Sobre o uniforme gerar um tipo de identidade e supor uma igualdade dentro da escola...não sei...o que eu sei é que as desigualdades no interior da escola são tantas e gritantes (o Bourdieu já nos disse tanto sobre isso, né?), que supor que o uso do uniforme possa sugerir uma igualdade, é colocar mais cortina de fumaça...
Sobre os efeitos protetivos do uso, ok.. então, usemos uniforme, exigidos pelo Estado (através da escola)para nos protegermos do Estado (representado pela polícia)!!!
Longe de declarar guerra ao uniforme, desconfio que o debate possa ser mais produtivo, por outro caminho...
Abração,
André Sobrinho
Caro André Sobrinho,
Li outro dia seu comentário, do inicio do ano, sobre artigo escrito por Marcos Rolim, comentado no blog do EDMILSON LOPES JÚNIOR, e, fizeste alguns questionamentos ao que, sem outra pretensão, tentarei ajudar a sanar suas dúvidas, de forma simples, esclarecendo no que puder, enquanto Especialista, Pai e leitor.
Primeiro, quando escreves: "que diabos é tribalização dos jovens? Conheci o termo a partir de uma série de escritos, em livros e artigos sobre jovens, feitos no jornal Zero Hora, onde escritoes faziam um comparativo de hábitos, e, o hábito que mais se aproximava, era ao do índio em sua tribo. Tem o modo como se vestem e agem, exemplo, todos de camiseta preta, calça jeans, andam juntos, gostam de “caçar”, pescar, comer peixe, fazer fogueira a noite e contar histórias, em rodinhas, lembrando muito a cultura indígena. Não lembra o contry sertanejo, não lembra o gaúcho, nem a cultura americana ou européia, lembra do índio, que gosta de caçar pescar, andar junto, fazer disputas e dançar ao redor da fogueira – portanto, cultura indígena.
Você também escreveu, sobre o uniforme gerar um tipo de identidade e supor uma igualdade dentro da escola...e completou ...não sei...
Então se não sabe, sinal que você não entendeu o artigo, que é somente sobre esse assunto - Uniforme e Seu Uso Nas Escolas. Pense dois alunos, um aluno humilde e um favorecido, o humilde usa tênis comum e uma calça jeans qualquer, o favorecido usa só marcas famosas. Se a escola fosse somente para favorecidos, o humilde deixaria de ir a escola porque se sentiria constrangido pela diferença. Nós todos lutamos por igualdade, luta essa de tantos anos, para unirmos nossa sociedade em prol de um contexto de vida melhor, para todos.
Vemos também outro exemplo, no vestir, mais conhecido, em entrevistas para qualquer emprego, generalizo, as vestes contam muito. Para ir namorar o vestuário é ponto de marcação, para ir a casa da moça, para impressionar a futura pretendente e, aos pais desta, vamos bem vestido. Em suma, nas escolas, esse contraste leva a posicionamentos irritantes e afastam crianças das escolas, como estudos anteriores mostraram. Geram confusão, porque – ninguém quer ser PIOR que outros, queremos ser IGUAIS ou MELHORES. Esse fato é influência do capitalismo, conversa para outro artigo.
Por fim, outro ponto que escrevestes, sobre os efeitos protetivos do uso do uniforme, ok...
Caro Leitor, ok é muito pouco. Algumas vezes, recebemos convites para realizar palestras em escolas, enquanto Especialista em Segurança Pública, logo no inicio do ano letivo, datas em que, entre outros assuntos, vem a pauta - o Uso ou não de Uniformes. Quando manifesto que sou favorável, é porque a realidade exige, e, várias crianças, temos registros, poderiam estar vivas, pois, não foram localizadas após seu desaparecimento... e , não havia um referencial para localizá-las, aliado ao choque dos pais que não sabiam ou não lembrava como estava vestido seu filho, e, estes nem sempre, podiam acompanhar seus filhos. Assim, o conjunto do Estado e suas instituições de Segurança Pública, além de ter de procurar as crianças desconhecidas, não tinham, muitas vezes, o indicativo do vestuário usado, com isso, se perdeu muito tempo.
Ano depois, ao realizar meu trabalho na Policia Militar, na função de Motociclista, patrulhávamos os bairros e vilas, quando havia um desaparecido, conseguíamos localizar crianças a partir do seu Uniforme.
Embora crianças pareçam “tudo igual”, na visão de alguns, para nós pais, o filho ou a filha, cada um é; - um único tesouro, e, são nossos.
LUIZ AFONSO - 30 AGO 2011SOLEDADE/RS
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