quinta-feira, 17 de março de 2011

Stuart Mill puxando um baseado e as eleições do CCHLA



Hummm! Sei não, o cara era bom prá cacete. Contextualizem aí o momento em que ele escreveu, por favor. Comparar-me com ele? Não mereço tanto...

Outra coisa: teremos assim tantos Stuart Mills nas nossas universidades? Duvido muito. Basta pensar na sua atitude em relação às mulheres. Muito, mas léguas mesmo, à frente de muitos ditos revolucionários. De ontem e de hoje.

É bem provável que o sisudo pensador participasse da Marcha da Maconha. Ué, o cara tinha posições liberais bem consistentes... Para ele, a sociedade não podia limitar a ação individual mesmo quanto essa ação fosse claramente prejudicial ao próprio agente. Seria, com certeza!, um anti-proibicionista militante.

Por outro lado, como era um cara que pensava e assumia responsabilidades, e não estava em busca de reconhecimento fácil, el ficaria horrorizado com certas defesas do voto paritário nas eleições universitárias.

Grande Stuart!

11 comentários:

Alyson Thiago F. Freire disse...

Alguém que esteve imerso desde a tenra infância com Platão, Cervantes e David Hume, e que, mais tarde, seria o principal interlocutor ou alvo de debate de todo o posterior pensamento social crítico ao utilitarismo, tendo por isso um papel central, ainda que negativo, no desenvolvimento da teoria sociológica, não pode ser desqualificado e menosprezado por simplesmente se tratar de um pensador liberal. Além do seu posicionamento progressista em relação às mulheres, Mill foi um dos mais radicais defensores da liberdade de pensamento e discussão, verdadeira coluna da Ciência e da Universidade.

Parabéns, professor Edmilson. A sensatez e a lucidez lhe agradecem.

Anônimo disse...

Prof. Edmilson,

felizmente o pensamento e suas manifestações já são livres, mas não entendo bem onde o senhor quis chegar ao relacionar a marcha da maconha á Mill, talvez na tentativa de minimizar as palavras de Isabela, por fazer parte de um coletivo antiproibicionista, mas a pauta aqui não era outra? Ora bolas! Não venho em defesa do voto paritário, sou a favor mesmo é do voto universal, mas nem sou louca de argumentar a favor, para que nem seja confundida com uma militante do "PORre" ou venha ter uma foto minha "puxando um baseado" na mesa do reitor. Bom, pra ser sincera não tinha visitado antes seu blog, um colega me falou que tinha lido esse post e tinha considerado pesado da sua parte, não concordo com ele... pesado é Stuart não ter me convidado pra essa roda, ora bolas!

Aqui mais uma maconheira irresponsável, aspirante a estudante das ciências sociais.

Isabela disse...

Estou de pleno acordo com as palavras aqui ditas pela Juliana. Lamento muito esse tipo de ataque.

Para quem acha que convence. Lamento muito quando se tenta manipular o discurso político com esse tipo de justificativa. Lamentável!!!!! Só para deixar claro: defendo sim a paridade de votos nas eleições do CCHLA, e se o Stuart Mill ficaria horrorizado é porque ele, essencialmente, deixou eternizado em sua obra sua posição antidemocrática, conservadora, e que merece ser contestada na contemporaneidade. Muito lamento essa tentativa de deslegitimação do discurso político, seja ele feito por discente ou não. Isso deixa claro, ao defender a não paridade de votos, que a Universidade ainda abriga uma casta intelectual que se coloca culturalmente superior a todos os outros que pertencem ao meio acadêmico em nome dos títulos e do endeusado "homo lattes". Desculpem, mas o que eu entendo e acredito que seja o papel da universidade é sua expansão, democratização e, acima de tudo, sua politização. Saibamos separar o joio do trigo, oras...

Edmilson Lopes Júnior disse...

Maravilha, Isabela.
Emites um julgamente de valor, assim como eu. A diferença está em que eu aponto elementos que indicam diferenças de engajamento das três categorias na Universidade. Negar isso, aí sim, é tentar tapa o sol com a peneira. Como muito bem disse a Professora Ilza, é uma confusão sem sentido essa de relacionar o processo eleitoral em geral com aquele que ocorre dentro da universidade.
Democratização, em uma Universidade, tem muitos e diferentes sentidos. Eu penso que uma de suas expressões seria o alargamento da base social do acesso, por exemplo.
Agora, vem cá, esse negócio de "casta intelectual" e "homo lattes", sei não, isso é colocar o debate em um nível aquém do desejável.
Pelo que sinto, acho que o voto paritário ganha de lavada amanhã. Os estudantes e funcionários elegerão o próximo diretor. Uns reajustes aqui e ali, mas a carruagem continua. Eu, de meu lado, solitário na defesa do que acho certo. Mas foi bom, deveras, conversar com gente inteligente e convicta.
Valeu!
Edmilson Lopes Júnior

P.S.: Não maltrate tanto o Start, por favor!

Gabriel E. Vitullo disse...

Por que citar Stuart Mill no debate?
Pelo simples fato de que ele nos mostra o quão anacrónicos são os argumentos dos defensores do voto ponderado no CCHLA, ora!!
Sugestão de leitura para os admiradores de Stuart Mill: DOMENICO LOSURDO. "Democracia ou bonapartismo". Tem outro dele, também muito bom: "Contra-história do liberalismo". Ali encontrarão algumas valiosas informações, pouco lembradas, sobre o posicionamento deste grande pensador liberal quando se referia aos povos coloniais e às suas liberdades...
Em defesa do AVANÇO DEMOCRATIZADOR NO CENTRO!
Em defesa da PARIDADE SEM CONDIÇÕES!
Vamos participar da reunião do CONSEC amanhã (29/03/2011) às 10 horas!

Gabriel E. Vitullo disse...

Posto aqui o texto de um estudante da nossa pós (Érico Fernández), que vem enriquecer o debate:

Interessante como se processam os fatos em um ambiente acadêmico, ainda mais no âmbito das Ciências Sociais que deveria se constituir, conforme creem os signatários deste documento, numa peça importante em prol da reflexão e do exercício democrático. As boas intenções existem e se, algumas delas, historicamente não foram efetivadas rumo à construção do mundo em que acreditamos, isto se deu justamente porque grupos e classes sociais privilegiadas assim não quiseram; e amparados pela força repressiva, material e hierárquica não permitiram. Mas, em suma, se pensarmos bem, uma não existe sem a outra. Ademais: a democracia não é, como querem alguns, um processo pronto e acabado, no qual alguns decidirão se os demais estão preparados para exercer os seus direitos. Esse discurso proferido sob forma de texto e palavras verbais no debates pertinentes às questões eletivas do nosso Centro é e foi defendido por aqueles que, possivelmente, criticam ditaduras e restrições de todo o tipo que foram - e são sentidas - por uma considerável parcela da população mundial. Esta é, aliás, mais uma dura ironia presente em nossos cursos.
A democracia é - e isto deveria ser evidente em nosso meio-, um processo de avanços, recuos e, quiçá, permanente, bem como em constante aperfeiçoamento. A menos, é claro, que em determinadas instâncias alguns digam peremptoriamente NÃO. Afirmar que os estudantes são passageiros e os professores não, significa mutatis mutantis também afirmar que se alguém fixar residência temporária em outra cidade ele não deve ter direito ao voto ou ainda representa asseverar que nenhum homem e mulher em seu ambiente de trabalho pode exercer seu direito de decisão; afinal os patrões são para sempre e os trabalhadores transitórios. Essas visões chocam-se com o que defendemos. E foi contra essa acepção social injusta que muitos padeceram, sofreram, mas que, enfim, em vários momentos venceram. Estamos com eles ontem e hoje. Assim, acreditamos veementemente que o trabalho é a maior e mais preciosa relação universal que nos une e graças a ele somos o que somos como humanidade e seres individuais. Tratá-lo democraticamente é, por excelência, o que nos interessa, pois, apenas assim, os desdobramentos daí advindos serão realmente profícuos e justos. O que nos obriga a registrar o óbvio: a produção acadêmica tão-somente existe em virtude daquelas e daqueles que, especialmente em se tratando de um país como o nosso, não tiveram a oportunidade de cursar a universidade, todavia com o seu ingente esforço diário nos abrem as portas, limpam nossa sujeira e fazem com o que nossa produção possa efetivamente acontecer.
Aos alunos, funcionários, professores, aos que trabalham no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes dizemos SIM ao direito de amadurecermos nossas escolhas e ao VOTO PARITÁRIO SEM CONDICIONAMENTOS DE QUALQUER ESPÉCIE.

Unknown disse...

Caro Edmilson,

Tendo em conta, os últimos acontecimentos na universidade, fiz um texto "temperado" a respeito ao estado de coisas criado. Segue o link:
http://www.cartapotiguar.com.br/?p=7098


Abracao,

Cadu

Anônimo disse...

Mais que gritos de guerra ideológico ou acusações sobre a postura de tederminado autor, reduzindo seu pensamento, é necessário colocar em xeque as idéias que estão em jogo, para não ficar em blábláblás desnecessários. Na minha interpretação, ao colocar algumas idéias de Stuart Mill sobre a quesdtão da liberdade, o autor nada mais que quis enfatizar a postura de caráter liberal ("liberdade antes de tudo") que tem determinadas lutas, por mais que elas digam o contrário, assim como utilizar a ideia de proporcionalidade dos votos. Para que possamos entender melhor, é necessário colocar o que Mill falava naquela época, em relação a quê, como, etc. e o que Edmilson, em sua reapropriação dessa idéia está se referindo. Não podemos comparar o voto do CCHLA com as eleições para presidente do Brasil. Isso é negligenciar a maneira como se organizam uma coisa e outra. Há um erro de interpretação, e uma má-vontade recheadas de preconceitos morais, que mais me parece aquilo que Nietzsche chama de ressentimento.

Vitullo, gostaria que o senhor pudesse expor mais suas idéias em relação a isso, de forma que fique claro os objetivos almejados por você, ao invés de tentar sugerir leituras de autores que, apesar de trabalhar com o tema voto universário x paritário, tem objetos espefíficos e não nos servem para pensar a conjuntura atual.Eu queria entender melhor isso...

Unknown disse...

Nossa,

Confesso que achei cômico os critérios usados pelo nobre professor Vitullo para situar Stuart Mill como um pensador "conservador" (rs)
Será o que os mesmos critérios seriam válidos para situar seu "Totem" (Karl Marx) também? Afinal, é bom lembrar que Marx achou RAZOAVELVEMENTE NECESSARIO o imperialismo colonialista norte-americano dirigido contra a regiao do México; Afinal, na visao dele, essa útilma regiao era "atrasada" do ponto de vista do desenvolvimento das forcas materiais...
Mas e o que dizer sobre a posicao de Marx acerca da relacao amorosa de Engels e uma operaria? Marx reprovava tal relacao em regime de concubinado a ponto de se negar ir ao interro da companheira de Engels, deixando esse último bastante magoado (nada patriarcal, essa conduta de Marx, nao acham?). Ah, mas tem mais, a pérola mesmo é quando Marx se refere aos camponeses como "sacos de batatas", como se fossem esvaziados de "consciência de classe". O tratamento bestializado e etnocentrico (pra nao dizer "RACISMO DE CLASSE")dispensado aos camponeses por Marx é só outro exemplo que permitiria relativizar um pouco a ureola de progressista de Marx...
Mas aí eu estaria sendo injusto também ao nao levar em consideracao as condicoes históricas e culturais (a "Geist Zeit") da época. Acho pertinente desconstruir relacoes encantadas sobre os pensadores clássicos, mas vale também para os pensadores tidos como de esquerda. Ademais, nao é pecado reconhecer componentes libertários em liberais como Stuart Mill. A teoria crítica ganha muito mais quando nao somente reflete sobre o outro, mas tambem sobre si mesma, reconhecendo a sua parte do diabo...!

Anônimo disse...

Cadu,

concordo contigo. Não dá para pegar os "preconceitos de uma época", ou de uma classe e atribuir apenas a um autor. Além de injusto, não passa de puro senso-comum.

Este pensamento vai de encontro ao processo de historicização das coisas que a própria teoria marxista defendeu e continua a defender.

Cadu, quanto ao Marx, ele também disse que os povos eslavos nunca iriam constituir um estado sequer...

É como você disse... Se a gente pegar os "defeitos" de cada pensador, não sobra ninguém.

Bobagem isso.

abs.

daniel

Alyson Freire disse...

Continuar um debate em termos moralistas, para saber quem é melhor pra casar se Marx ou Mill, não nos levará muito longe. Essa moral de estado civil é mais do que infrutífera. Ela é perigosa, pois caímos num jogo arriscado de classificações, no qual o discurso se encontra subsumido a uma política de identificação de amigos e inimigos, no qual o interesse principal é tratar os interlocutores como inimigos e adversários a serem desqualificados moralmente, derrotados, assim como desqualificar as pressuposições das quais partem. Isso mais bloqueia o diálogo do que o abre ou o faz avançar. Então, esqueçamos o “diga-me seus autores prediletos, que te direi quem és” ou o xeretamento intelectual sobre os "podres" da vida particular dos autores.

Da mesma maneira, penso ser pouco produtivo, pra não dizer irresponsável, reduzir o debate a uma questão de princípios; de saber quem está a favor da democracia e quem não está, quem adota posições “progressistas” e quem adota posições “reacionárias”; como se as posições contrárias ao voto paritário estivessem unicamente sustentadas na oposição ou rejeição à democracia como valor ou processo político em geral. Essas simplificações obscurecem o mais importante a ser debatido: quais os interesses políticos envolvidos na divergência de posições quanto ao voto paritário? A quem interessa e por que? Quais projetos de universidade, de cultura e política acadêmica, professores, alunos e funcionários estão debatendo ou apresentando à comunidade universitária e em geral?

A meu ver, o uso inapropriado e descontextualizado de princípios políticos, morais e autores são sintomáticos, nesse debate. Não são apenas naturalizações e substancializações, que esquecem as especificidades do campo social – a universidade – em que se está inserido, a desigual distribuição de responsabilidades e expectativas de professores, alunos e funcionários quanto à função primordial da universidade – a produção de conhecimento – e às exigências da sociedade em geral com respeito a cada segmento. Há aí também, uma preocupante finalidade de comprometer e avaliar caráteres determinando seu valor segundo as posições sustentadas, deixando de lado os verdadeiros alvos; as ideias, os projetos, os interesses, as possíveis conseqüências.