terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O correspondente do EL PAÍS e o "jeitinho brasileiro"

Juan Árias, um dos mais competentes jornalistas estrangeiros que transitam por estas plagas, escreveu uma análise sobre o jeitinho brasileiro na última edição do ano do prestigioso jornal EL PAÍS (agora, para nosso regalo, com versão em português).

Bueno, o tema não é novo, não é? Pelo menos para quem acompanha, mesmo que de longe, a produção sociológica brasileira.

Confira aqui o artigo.

No EL PAÍS, dez vídeos sobre a América

As imagens de nossa América em 2013. Clique aqui e confira.

A produção poética de Manuel Guilherme de Freitas

Abaixo, alguns poemas da lavra do Professor Manuel Guilherme de Freitas. Os poemas abaixo estão no livro  TRILHAS DO IMAGINÁRIO POÉTICO.


AMOR

Não é só fogo que arde sem se vê,
é paixão, compreensão, divisão,
é estar bem ao lado da pessoa querida,
É apoiar, superar, avançar.

Amor é comunhão de propósitos,
não é ferida, contudo é aceitar diferenças,
é compartilhar, entender , compreender,
é ser feliz.

Amor é "tudo"?
crises, união,
é a projeção de si no outro,
o outro em si,
é troca, é vida, aura.

É a luz da criação,
brota frutos e sentimentos,
que vêm do coração,
algo inexplicável da fecundação.

LIBERDADE

Estou com fome,
estou com sede,
com vontade de mudar.
Ainda não proclamado,
o país oficial,
onde os sonhos fossem capazes.

A mídia é monopólio
de uma classe social,
contudo, o povo assimila
como verdade universal.

Quem poderia fazer algo,
esquece  e não faz,
como as instituições sociais:
Escola, segurança, saúde,
no geral, são um caos.

A mídia é horrível,
e só faz o mau,
com seu jogo ideológico,
que reproduz o capital.

Neste contexto alienante,
coitado dos incapazes!
Sem ler nas entrelinhas
o mau que isso traz.
Logo, não distingui
o certo do mau.

Liberdade não é libertinagem,
pois aquela deve ser o suporte,
das mudanças sociais, 
que tanto se desfaz.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Reportagem no EL PAÍS sobre a seca no Nordeste

Na edição on line em português do jornal espanhol EL PAÍS, você vai encontrar uma boa matéria sobre a seca no Nordeste. Alguns dos fatos analisados dizem respeito ao Rio Grande do Norte. Mais precisamente, ao município de Cruzeta, situado no Seridó.

Clique aqui e leia.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

As classes sociais em Bourdieu

Acesse aqui a um artigo de autoria de Loic Wacquant a respeito da elaboração bourdieusiana a respeito das classes sociais.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A CRIAÇÃO DE NOVOS MUNICÍPIOS É MESMO NEGATIVA?

A grande imprensa, e a tal da opinião pública dizem que sim, mas, no chão social, a coisa expressa essa negatividade propalada?

A Presidente Dilma, equivocadamente, vetou as alterações pretendidas pelo Congresso. Equivocadamente? Sim, pois, quando se analisa em longo prazo, a criação de municípios significa desconcentração de receitas.

A reação contrária, patrocinada pelos bem pensantes, colocou a Presidenta no canto do ringue.

Há distorções? Sim! Mas os ganhos, quando a análise estatística pega o conjunto, são maiores. Trata-se, parece-me,  da eterna reação "dos de cima" contra a incorporação "dos de baixo"

Confira isso no novo livro BRASIL EM DESENVOLVIMENTO 2013: ESTADO, PLANEJAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS uma boa pesquisa sobre o tema. Refiro-me ao capítulo que tem dentre os autores o economista Leonardo Monastério.

Clique aqui e baixe o livro integralmente.

Em entrevista ao VALOR ECONÔMICO, Delfim Netto faz análise arguta da Gestão Dilma

O ex-ministro é um dos grandes analistas da vida econômica brasileira. Suas análises, sempre argutas, merecem, no mínimo, serem levadas em conta por aqueles que procuram perscrutar os meandros da conjuntura nacional. Ontem, no jornal VALOR ECONÔMICO, ele fez um conjunto de considerações muito atiladas sobre a gestão econômica do Governo Dilma. Eu catei para você um blogue que disponibilizou o texto. Clique aqui e leia.

O crescimento dos homicídios nos pequenos municípios brasileiros

Vale a pena conferir estudo divulgado pelo IPEA a respeito da dinâmica da evolução das taxas de homicídios no Brasil nos anos 2000. A interiorização da violência, já diagnosticada por diversos Mapas da Violência, traduz-se no crescimento das mortes violentas nos pequenos municípios.

Confira aqui o estudo acima mencionado.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Quem influencia o que você pensa?

É mais uma daquelas brincadeiras proporcionadas pela informática. Você se posiciona em relação a algumas proposições básicas e o site indica os pensadores e correntes de opinião que, vamos dizer assim, estão “por trás” do que você pensa. No meu caso, conforme se pode ver abaixo, Kant é a minha bússola. Veja aqui o site.

Kant (100)
Aristóteles (75%)   
Santo Agostinho (50%)   
Protagoras (50%)   
Hume (44%)   
Tomás de Aquino (32%)   
Platão (19%)   
Nietzsche (13%)
Empirismo (5%)   

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Uma defesa do voto obrigatório

Em artigo publicado na edição de hoje do jornal FOLHA DE SÃO PAULO, dois cientistas políticos defendem, com argumentos convincentes, a continuidade do voto obrigatório. Os "bem-pensantes", você sabe, descarregam as mazelas da política nacional na conta da obrigatoriedade do voto. Esse é um mito que serve a interesses bem identificáveis. Confira abaixo trechos do artigo.

JOÃO FERES JÚNIOR E FÁBIO KERCHE
Em defesa do
voto obrigatório
Seria irracional para um político eleito implementar políticas populares em um contexto em que o eleitorado de baixa renda vota menos
Uma das consequências das manifestações de junho foi ter colocado a reforma política mais uma vez em pauta. O grupo de trabalho constituído na Câmara apontou para avanços importantes, como a questão do financiamento de campanhas e das coligações nas eleições proporcionais. Entretanto, o fim do voto obrigatório é uma proposta que pode piorar o que se busca consertar.

Não há qualquer comprovação do argumento de que o voto obrigatório prejudica a qualidade de nossa democracia. O único dado concreto é que mantemos altas doses de participação em nosso processo eleitoral, mesmo sendo a obrigatoriedade do voto no Brasil muito mais simbólica do que real.

O eleitor pode justificar seu voto em qualquer seção eleitoral do país e aqueles que nem sequer isso fazem recebem a multa irrisória de R$ 3,50! Além disso, o eleitor pode inclusive manifestar sua indignação ao escolher anular seu voto nas modernas urnas de nosso sistema.

Quer ler o texto integral? Acesse aqui o site da Folha.

A prisão de Genoíno e o sofrimento partilhado

Genoíno inspirou a toda uma geração. Sua prisão de agora, ao contrário da anterior, sob a Ditadura, está sendo acompanhada, monitorada. E faz com o que seu sofrimento seja também sentido por todos nós que, há tempos, aprendemos a admirá-lo.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Obstinadas linhas : uma esquisse de apresentação

Luciana de Oliveira Chianca*




Em 1995 chegava ao público Linhas Apagadas, publicado pela editora da UFPB  e com um prestigioso Prefácio de Manuel Correia de Andrade. Esta obra explicita a dinâmica do desaparecimento progressivo e definitivo dos bondes na cidade do Recife pelos anos 40 do século XX.

Ao contrário daquelas, este livro tem linhas obstinadas, que hoje se renovam nesta segunda edição (ed. Clube de autores, 2013).

Linhas Apagadas repousa numa sensível reflexão sobre o "misterioso caso" da extinção dos bondes no Brasil. Revelando como o discurso das classes dirigentes é reproduzido pelos meios de comunicação de massa num diálogo sem interlocução, Gilvando Sá Leitão Rios, sociólogo e professor da UFRPE, revela como se deu o investimento da imprensa recifense na formação de uma opinião pública que deveria acreditar que o sistema o bonde era "transporte de pobre".  Qual a íntima convicção e os verdadeiros interesses destes dirigentes?  Como se constrói um imaginário onde o combustível fóssil substitui a eletricidade, e o veículo de transporte individual aos poucos suplanta o coletivo?

Sem saudosismos, Gilvando Rios responde essas e outras perguntas, dialogando em completa abertura com conceitos sociológicos e filosóficos cruciais neste debate: a modernidade, o individualismo e o progresso por exemplo, são apreendidos em sua análise através de uma convincente contextualização atingida através de  noticias de jornal, propagandas impressas, crônicas e uma entrevista com Barbosa Lima Sobrinho, ex-governador de Pernambuco.

Através de Linhas Apagadas percebemos como algumas categorias nativas foram progressiva e ideologicamente construídos através da mídia escrita, para suportar um projeto nacional de substituição progressiva do capital inglês pelo norte americano, consolidando um modelo de industrialização e urbanização nacional cujas marcas conhecemos em nosso cotidiano contemporâneo.

Enfrentando o seu tempo, Gilvando Rios mostra também que apesar de apagados, silenciados, esquecidos ou ainda romantizados ou folclorizados noutras realidades e estados brasileiros, o bonde elétrico subsiste como um importante ícone da racionalidade e da sustentabilidade no transporte coletivo urbano em muitas partes do mundo.

Por estas e outras razões melhor explanadas para um leitor atento, Linhas Apagadas é hoje uma referencia nos estudos sobre a cidade, pois discute o transito, o transporte, a mobilidade, a urbanização e o direito à cidade no Brasil.  

Obrigada Gilvando Rios, por nos proporcionar esta apaixonante e deliciosa leitura que recomendo a todos que se interessam sinceramente por esses temas.
João Pessoa, 25/10/2013



*Dra. em Antropologia, profa. da UFPB

terça-feira, 12 de novembro de 2013

A epidemia de homicídios na América Latina

Para a ONU, os homicídios na América Latina já se configuram como uma epidemia. Confira matéria do EL PAÍS a respeito aqui (em espanhol).

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Análise de Luiz Eduardo Soares sobre proposta de nova arquitetura para a segurança públcia

O Senador Lindbergh Farias propôs uma nova arquitetura para a segurança pública brasileira. Um dos quadros mais qualificados do senado brasileiro, o senador elaborou um conjunto de proposições que deveriam merecer um debate mais qualificado por todos quantos nos preocupamos com a temática da segurança no nosso país.

Leia aqui a proposta do Senador e aqui uma análise do antropólogo Luiz Eduardo Soares.

O significado da vitória de Mineiro nas eleições internas do PT

O grupo ligado ao Deputado Fernando Mineiro está ganhando a presidência dos principais diretórios municipais do PT no RN. Mais importante ainda: deve levar a presidência do diretório estadual.

Isso muda pouco nos arranjos e acordos que estão sendo construídos desde cima e que desagradam as bases locais. A Presidenta Dilma já bateu o martelo e indicou que o que está em jogo é a disputa nacional. Mas, no mínimo, o resultado do final do semana indica algo: há que se ter mais jogo de cintura para fazer as tais bases engolirem os acordos costurados.

sábado, 9 de novembro de 2013

Albert Camus, nosso contemporâneo

Clique aqui e leia (em espanhol) um ótimo texto de Fernando Savater a respeito de Albert Camus. Aproveito para colocar, abaixo, o discurso do filósofo quando do recebimento do Prêmio Nobel.

Impostos

Todo hora um empresário ou jornalista comenta que os nossos impostos são altos. É claro que a qualidade dos nossos gastos públicos não é das melhores. Mas, desde que você não acredite que dinheiro nasce em árvores, há de levar em conta que o financiamento dos serviços públicos deverá vir de um único lugar: os impostos. Aí, convenhamos, não há conta que feche.

Não deixa de ser interessante, portanto, ver o ESTADÃO apontando como a carga tributária brasileira é menor do aquela dos países do chamado primeiro mundo. Clique aqui e leia a matéria.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Qual o caminho da oposição no RN?

Qual o norte programático da oposição ao Governo Rosalba? O que diz a oposição sobre os indicadores educacionais, por exemplo? Como retirar de cena a bomba-relógio dos gastos crescentes dos chamados “poderes” (Ministério Público, Assembleia Legislativa, Poder Judiciário, Tribunal de Contas, etc.)? Quais as prioridades de investimentos do Estado no Rio Grande do Norte?

Isso para não levar em conta pautas sociais legítimas e sobre as quais os políticos costumam deitar falações (segurança pública, desenvolvimento e infraestrutura). E essa são temáticas nas quais, geralmente, a retórica excessiva apenas expõe o vazio de proposições concretas.

Não deixa de ser uma situação paradoxal: um governo, segundo as pesquisas de opinião, marcado por baixos índices de popularidade, com a base de apoio aos frangalhos e acuado por pedidos de impeachment não tem, como contrapartida, uma oposição consistente, assentada em projetos socialmente enraizados. E não porque não exista disposição social para a mudança. Razões há, é certo. Dentre as mais vistosas, a dificuldade em sair da zona de conforto propiciada com os arranjos de ontem e anteontem.

A continuar nesse ritmo, teremos mais uma disputa eleitoral rebaixada politicamente na esquina do Atlântico Sul. E, caso esse cenário venha a ocorrer, factoides dominarão a produção discursiva eleitoral. E a pirotecnia e a verborragia levarão a disputa para as mesquinharias de sempre. Em contrapartida, cacarecos poderão ser catapultados ao estrelato (lembrai-vos da eleição municipal na cidade do Natal em 2004!) e quem hoje parece morto politicamente, enfrentando a consistência de pudim da oposição, poderá ressurgir com vida na undécima hora.

Antes desse momento fatídico, as pessoas críticas e mais criteriosas terão perguntado a essa oposição: “aonde vais?” E, parafraseando antigo bordão, essa oposição, que não sabe aonde quer chegar, terá tantas respostas, mas tantas, que nenhuma convencerá. Nesse momento, antes da aparição dos cacarecos, não restará a essas pessoas senão o consolo de uma resposta quase cínica: “então, em assim sendo, contigo não vou.”  

O poeta escreveu: “caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”. O poema é belo e vale para a nossa caminhada existencial, não para a disputa política. O poeta Antônio Machado não escreveu para consolar vacilantes políticos e pessoas sem objetivos, esclareçamos.

Khristal brilha no The Voice

Khristal arrasou no THE VOICE. Performance de primeira. Coisa emocionante. Quem deve ter passado a noite acordado, comemorando, é o amigo Zé Dias, produtor e empresário da diva.

O impacto do BOLSA FAMÍLIA sobre a educação

É mais raro, mas ainda ouvimos, aqui e ali, rugires de ódio e desprezo ao Programa BOLSA FAMÍLIA. Não estou a me referir aos que entendem o programa como um estímulo à preguiça. Esses, que não são poucos, são imunes a qualquer argumentação racional e assentada em dados empíricos. Suas certezas, inabaláveis, vêm do fundo da alma. Mas existe gente, razoavelmente bem intencionada, que questiona, com argumentos, a capacidade inclusive do Programa. Para que você tenha argumentos para conversar com estes, transcrevo abaixo artigo publicado na edição de hoje do jornal CORREIO BRASILIENSE e disponibilizada no site de clipping do Ministério do Planejamento.

Bolsa Família e educação

Autor(es): Denilson Bandeira Coêlho
Correio Braziliense - 01/11/2013
 

Em outubro de 2003 o governo federal unificou os programas de transferência de renda do país e criou o Bolsa Família. Como toda política pública inovadora, o programa enfrentou críticas e resistências. Sobretudo por se caracterizar como um modelo intersetorial, em que as ações das três esferas de governo exigem grande sintonia administrativa.
A criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a articulação com os governos estaduais e municipais reduziu os problemas de coordenação e cooperação federativa, o que resultou no avanço institucional da política.
O novo modelo de gestão logrou êxito ao combinar estrategicamente a aplicação de regras formais e críveis com o processo de aprendizado social e burocrático. Ações incrementais no desenho da política possibilitaram ajustes na focalização do público alvo, formado por famílias pobres e extremamente pobres.
Nessa perspectiva, o programa aumentou a rede de proteção social de 3,2 milhões para 13,8 milhões de famílias. Mas quais são os resultados na área da educação?
No seminário Bolsa Família e Educação, realizado na Universidade de Brasília (UnB), em setembro, discutiu-se os avanços, os efeitos e os desafios na área educacional. A questão central que tomou a audiência foi a necessidade de se conhecer e analisar apropriadamente os indicadores da política.
A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, destacou que alguns mitos foram vencidos, como o temor pelo aumento das taxas de fecundidade, o desemprego do responsável familiar e o mau uso da renda.
Ao chamar a atenção para esses indicadores, a ministra apresentou dados que evidenciam outro quadro social. Na verdade, houve significativa melhora nos índices. Atualmente, as mães beneficiárias têm menos filhos, há menos desemprego e os recursos monetários são utilizados prioritariamente para a compra de alimentação e vestuário.
Especialistas do tema destacaram dois aspectos importantes. O primeiro é que a média da frequência escolar é maior entre os alunos inseridos no programa, e o desempenho escolar das crianças nas escolas com o Programa Mais Educação apresentou avanços em português e matemática nos últimos anos. O segundo é que a baixa taxa de escolaridade e o alto índice de evasão justificam a aplicação das regras de condicionalidades para fixar as crianças na escola.
Pesquisadores de órgãos como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (Sagi), do MDS, e UnB ilustraram que o programa gera efeitos positivos quando alguns fatores são combinados.
Alguns estudos apontaram que, nas escolas com melhor infraestrutura, o desempenho dos alunos é mais elevado e, quanto maior a permanência no programa, menores são as taxas de abandono e reprovação. Assim, a probabilidade de repetência dos alunos do programa diminuiu de 14,5% para 13%. Em comparação com os alunos não beneficiários as chances de reprovação são 11% menores.
Na comparação das taxas de aprovação do ensino fundamental no Nordeste, em relação aos anos finais, o indicador é mais expressivo para o grupo de alunos bolsistas, e as taxas de aprovação no ensino médio apontam também um melhor resultado para os alunos de famílias com benefício.
Em linhas gerais, embora os desafios do Estado para implementar políticas de assistência social e educação de qualidade sejam enormes, observa-se um avanço extraordinário, dado que 22 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza. Na sua primeira década de existência, o Bolsa Família não só reduziu as carências sociais, mas estabeleceu também um processo de aprendizado institucional para os atores sociais e para os atores políticos.
DENILSON BANDEIRA COÊLHO Professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Comportamento Político, Instituições e Políticas Públicas e do Economics and Politics Research Group do CNPq

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O ENADE e a BOLSA DE VALORES

Você sabe qual a relação existente entre o desempenho dos estudantes de determinados cursos e o valor das ações de empresas nas bolsas? Ache que não tem nenhuma relação? Muitas instituições de ensino superior privadas foram compradas por grandes empresas educacionais. E essas empresas negociam as suas ações na bolsa de valores.

Por trás daquela faculdade ou universidade que você conhece (ou trabalha ou estuda), pode estar uma dessas empresas. São poucas, em verdade. E, você sabe, todos os aspectos das empresas pesam na avaliação de suas ações.

O jornal VALOR ECONÔMICO, em uma edição dos últimos dias (não me pergunte qual, pois, eu não lembro...), trouxe uma extensa matéria analisando como o desempenho dos estudantes no ENADE se transformou em uma variável importante para a definição do valor dessas ações.

Os cabos eleitorais de Amanda Gurgel na Câmara Municipal de Natal

A vereadora Amanda Gurgel (PSTU) vem recebendo inestimável ajuda política dos vereadores natalenses. Primeiro, de forma, como direi?, não muito responsável, eles, todos eles, aprovaram a insustentável proposta do passe livre. Feito o estrago, tiveram que se curvar à pressões diversas (dentre estas, a da realidade, pois, ensinam-nos os acacianos de plantão, no final, não existe almoço grátis e alguém é sempre chamado para pagar a conta).

Os edis voltaram atrás, e o veto do Prefeito Carlos Eduardo (PDT) foi mantido. O que era o mais correto ocorrer, diga-se de passagem. O estrago, para a maioria, foi maior, bem maior, do que se tivessem votado corretamente quando da primeira vez.

Aí veio a discussão da bilhetagem eletrônica. Quem vai controlar a venda dos bilhetes eletrônicos dos transportes coletivos da cidade? Ficou difícil comprovar que se estava votando racionalmente para aqueles que, antes, não haviam sido racionais na questão do passe livre. E dá-lhe mais munição para a Vereadora Amanda Gurgel!

Para complicar o jogo, a vereadora do PSTU acusou os vereadores de fazerem o jogo do SETURN. Como ninguém está interessado em um debate sério, ninguém escuta os argumentos de ninguém. A galera que não usa ônibus, mas é antenada nas redes sociais, faz o seu veredito com base em informações superficiais. Especialmente se essas informações são fornecidas pelo lado do "bem". E Amanda, até aqui, é do "bem". Então, tem audiência. Postou algo na rede, pegou, virou vírus.

Sentindo-se acuados, o que fizeram alguns vereadores? Ameaçaram com processos a Vereadora Amanda Gurgel. Em outras palavras, entraram no seu jogo. Deram-lhe uma credencial que ela poderá usar livremente no processo eleitoral vindouro: "vítima".

A continuar nessa tangida, os vereadores natalenses irão mesmo se ver livre da companhia da Vereadora Amanda Gurgel. Em um ano, eles terão catapultado a vereadora ao Senado ou à Câmara dos Deputados.

Entrevista do Professor João Abner na Rádio CBN

O Professor João Abner Júnior (UFRN), uma das maiores autoridades nacionais sobre recursos hídricos no semiárido, acaba de conceder uma excelente entrevista à Rádio CBN. Uma análise arguta dos problemas administrativos e políticos subjacentes à seca que grassa no vasta sertão nordestino. Espero que a CBN disponibilize o link para eu poder passar para vocês.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A INANIÇÃO POLÍTICA DA OPOSIÇÃO NO RN

Não é raro a imprensa nacional alertar para a fragilidade ou falta de apetite político da oposição ao Governo Dilma. Quando avaliamos mais de perto, descobrimos que não é bem assim. Tanto pela existência de uma coesa bancada parlamentar que fiscaliza rigorosamente o Executivo e busca desconstruir algumas das ações governamentais mais vistosas quanto pelo municiamento da mídia e dos seus seguidores com informações e proposições divergentes (nem sempre muito consistentes, é verdade) sobre as principais políticas públicas da chamada Era Lula. A mesma situação não se reproduz no Rio Grande do Norte. Vejamos como e por quê.

Enquanto a Governadora Rosalba assiste à erosão do seu capital político, traduzida particularmente na vertiginosa queda de popularidade e no estreitamente de sua base de apoio parlamentar na Assembleia Legislativa, a oposição foge da disputa política e aposta as suas fichas em acordos eleitorais. Por oposição, refiro-me ao arco de alianças que está a se construir em torno do PMDB (há uma oposição mais à esquerda, mas esta, até aqui pelo menos, tem estado fora desse debate sobre a disputa para o Governo do Estado). Tudo se passa como se o Governo Rosalba não tivesse como reconstruir sua base política e uma avenida desbloqueada estivesse à espera dessa oposição.

Sobram conversas sobre acordos e faltam notícias sobre proposições e respostas políticas. Não que não se registrem irados discursos contra o governo estadual. Isso, temos de sobra. Mas esse “isso” não é bem política. Por “política”, deixem-me aclarar, refiro-me à articulação entre proposição e articulação de uma base social.

Temos, é bem verdade, temos a atuação parlamentar de um ou dois deputados, que buscam desesperadamente articular a crítica com a proposição. Esse o caso, para citar o exemplo mais vistoso, do Deputado Fernando Mineiro (PT). Mas, aí é que está!, essa é uma postura isolada no seio da oposição. No geral, os próceres (alguns deles até ontem aboletados no governo) comportam-se como se a partida já estivesse definida e ganha, o que os desobrigaria de apontar proposições, não diria mais consistentes, mas, ao menos, mais convincentes.


O que temos é a agenda eleitoral subordinando a política no campo da oposição. Ora, nem o Governo Rosalba está findo e nem o seu entorno político vai caminhar bovinamente para o abatedouro. Tanto esse setor político pode bancar a candidatura da Governadora quanto poderá encontrar alguém para representa-lo, com alguma maquiagem, no difícil embate de 2014. E, como o demonstra o desempenho da aliança PSTU/PSOL para a Câmara Municipal de Natal, não é de todo descartado que algum ator adentre inesperadamente em cena, desarrumando acordos e previsões. 

sábado, 19 de outubro de 2013

A América Latina será o celeiro do mundo?

Se você se interessa por questões alimentares e/ou demográficas, vai gostar de uma matéria publicada na edição eletrônica do EL PAÍS. Confiar aqui.

Um blog bem legal sobre métodos e técnicas de pesquisa social

Vale a pena acessar o blog SOCIAIS & MÉTODOS. Textos e indicações de uso de softwares. Confira-o aqui.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Os governadores e o jogo de 2014: a análise de César Maia

Você pode até não concordar com nada que o ex-Prefeito e atual Vereador César Maia (DEM-RJ) escreve, mas não pode negar que o cara faz análises bem articuladas. Sou um dos leitores assíduos do seu Ex-Blog. E, sempre que possível, reproduzo aqui algumas de suas corrosivas avaliações políticas. É o que faço hoje, com um texto no qual ele analisa o papel dos governadores no jogo político nacional. 

A IMPLOSÃO DOS GOVERNADORES!*
César Maia


1. O processo de centralização, fragilizando a Federação, acentuou-se com Lula. A condição de outsider de Dilma deu um alento aos governadores que viram suas participações crescerem. Mas as manifestações de junho acuaram os governadores, seja pela queda geral de popularidade, seja por não saberem como reagir a um ano da campanha de 2014.
       
2. A função política que exerciam junto ao congresso, coordenando suas bancadas, desapareceu. Os temas que vieram à tona -reforma política, voto aberto, aplicação dos royalties do pré-sal...- não os tiveram como interlocutores. Ninguém ouviu ou leu a opinião deles. Permanecem mudos, ou quase.
        
3. Voltam-se para dentro de seus estados, buscando dar curso a decisões que possam melhorar os seus prestígios, em grande medida municipalizando os seus mandatos. Saíram das fotos.  E nem falar..., das ruas.
        
4. Paradoxalmente -apesar da forte queda de popularidade- Dilma procurou assumir a ‘paternidade’ de medidas que respondessem a demandas populares potenciais, como a falta de médicos, a extensão do financiamento da casa própria ao mobiliário... E transferir ao congresso e aos governadores parte de seu desgaste. Reforma política por plebiscito é exemplo disso.
        
5. Dessa forma, a outsider -no início do mandato- passou a ter protagonismo político e os governadores -por se sentirem acuados- acentuaram esse processo de desfederalização, por inércia e omissão. Esse foi um desdobramento não pedido nem imaginado pelas manifestações: o reforço da centralização e o desmonte politico da Federação.
        
6. Há exceções, poucas: São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

* Texto publicado no EX-BLOG DO CÉSAR MAIA (19/09/2013).


terça-feira, 17 de setembro de 2013

CELSO DE MELO E O LIVRO DE RAONI


Um dia após o Ministro Celso de Melo decidir se os embargos infringentes são cabíveis ou não no julgamento dos réus do chamado Mensalão, Raoni Bielchovsky lançará, na Livraria Saraiva do Shopping Midway, o seu livro DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL. Qual a relação entre os dois acontecimentos? O fato de que o direito constitucional é um dos mais excitantes campos para o desenvolvimento de reflexões substantivas, distantes das platitudes bocejantes de algumas teorias jurídicas.

No STF e na Saraiva, direito constitucional, ideal de justiça e compreensão nuançada dos desafios da vida em uma democracia serão abordados. Lá, um decano proferirá um voto e sua intervenção será plena de significados, para além de suas palavras. Cá, no espaço aconchegante de uma livraria e cercado por rostos amigos, Raoni avança mais um passo em sua empreitada rumo a um lugar de destaque no campo do direito.
E um dia, espero viver para assisti-lo, o livro de Raoni subsidiará discussões na Suprema Corte. Como sei disso? Ora, conheço o Raoni.

Ah, mais informações do evento?

Local: Livraria Saraiva

Midway Mall Shopping
Av. Bernardo Vieira, 3.775 – Tirol
Natal – RN

Horário: 19h30.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O CONSUMO DE DROGAS NAS UNIVERSIDADES É MENOR DO QUE SE IMAGINA

Todo mundo pensa que o consumo de drogas ilegais é elevado. Os próprios estudantes, quando pesquisados, acham que os colegas são adictos, pelos menos de marijuana. Pesquisas desenvolvidas na Inglaterra indicam que esse lugar-comum, também forte entre nós, carece de referentes empíricos. Bom, isso é pelo menos o que aponta matéria publicada na edição de hoje do THE GUARDIAN.

Enquanto 90% dos pesquisados acham que os colegas consumem drogas ilícitas, na realidade, nada menos que 45% dos universitários ingleses nunca provaram tais drogas.


Uma explicação para esse achado? Talvez o consumo de drogas nas universidades seja mais visível. Ou, essa é a aposta dos pesquisadores ingleses, os universitários tendem a assumir muito fortemente a representação social que se faz sobre eles: são mais liberais em questões de comportamento.

sábado, 6 de julho de 2013

Importação dos médicos: um pouco mais de racionalidade

Leia aqui um texto escrito pelo Leonardo Monastério a respeito da importação dos médicos. Poucas linhas, mas bons e racionais toques na discussão.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

MANIFESTANTES FECHAM RODOVIA PRÓXIMA À PETROLINA E PARAM METADE DO PAÍS

Nesta hora da manhã, na comunidade de Izacolândia, próxima ao município de Lagoa Grande, em Pernambuco, no Vale do São Francisco Pernambucano, a rodovia está tomada por manifestantes. As reivindicações são pontuais e podem ser respondidas pela Prefeitura Municipal. Mas, seguindo a onda nacional, todo o mundo, doentes em ambulâncias, caminhoneiros, transeuntes e passageiros de ônibus, têm que pagar a conta.

Daqui, ouço os manifestantes gritando: "O povo na rua, prefeito a culpa é sua!".

A moda pegou. Agora, não duvidem!, logo, logo, vozes se erguerão para pedir ordem.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A realidade está confusa? Fugir não é a melhor alternativa...

As manifestações confundem. Surpresos, atores sociais situados em todos os espectros políticos reais ou imaginários, reagem tentando enquadrar a vida nos seus esquemas mentais ordinários.

Perscrutar com paciência e analisar racionalmente o que está a ocorrer, eis algo que, por ser trabalhoso, é deixado de lado. Até por muitos que ganham a vida (e o reconhecimento social) como "intelectuais".

É a tal coisa: se a realidade desafia as nossas ideias, fiquemos com as ideias e esqueçamos a realidade. Bom, isso pode até possibilitar algum conforto, mas, logo, logo, a vida retorno com os seus eventos imprevisíveis.

Classe média: use-a com cuidado

Quando a coisa aperta, naquelas horas em que os esquemas mentais a que estamos acostumados a mobilizar se mostram ineficientes, não é raro que as emoções sobrepujem a razão com mais força do que sói ocorrer costumeiramente. Tem ocorrido exatamente isso no que diz respeito às avaliações soi-disant aprofundadas sobre as manifestações que alteraram a rotina de nossas grandes cidades e deram uma chacoalhada na agenda política nacional.

Isso é o que tem ocorrido, dentre outros, com o conceito de classe média. Aqui e ali, para embalar “análises”, demoniza-se a dita cuja. O engraçado é que a definição mesmo, especialmente os dados de realidade que daria substância à definição, ficam ao largo da discussão.


Acho que algumas pessoas precisam retornar, se não aos velhos manuais, ao menos a algum texto do Pierre Bourdieu. O sociólogo francês, mesmo para quem, como é o meu caso, não compra o seu pacote teórico inteiro, é um santo remédio contra as platitudes.

domingo, 30 de junho de 2013

Teremos novidades na disputa para os governos estaduais?

É bem provável que amanhã, segunda-feira, o DATAFOLHA dê conhecimento de uma pesquisa sobre intenções de votos para os governos de alguns estados. Teremos novidades? Sim!

Que novidades serão essas? A queda dos chamados políticos tradicionais e a ascensão daqueles mais identificados com a apolítica.

Não demonizem Marina

Marina Silva, goste-se ou não de suas posturas e posicionamentos políticos, é uma grande figura. Uma personalidade cativante.

Por isso, calma aí, nada de demoniza-la. Isso será tiro no pé. O caminho é pela política, hein?

Da antipolítica ao antipetismo

A antipolítica é um fenômeno viral. E globalizado. Na Itália ou Irlanda foi, em parte, impulsionado pela derrocada econômica. No Brasil, o cenário foi outro: crescimento econômico e redução da desigualdade social. Há elementos singulares que necessitam ser perscrutadas por aqui. E isso aponta para o quão desafiador é a produção de uma explicação minimamente razoável a respeito da expansão da antipolítica entre nós?

Mas não nos desesperemos! São muitas as trilhas e atalhos que levam ao terreno da explicação substantiva sobre a expansão da antipolítica nestas plagas. Alguns desses caminhos analíticos ainda são difíceis de serem trilhados, dado que estamos, neste exato momento, imersos em seu redemoinho. Sigamos, então, mesmo atabalhoadamente, algumas dessas sendas analíticas.

Antes de seguir, deixem-me fazer uma demarcação: a atual onda antipolítica não pode e não deve (porque isso significaria jogar a banheira da água suja com a criança) com fascismo. A reação de parte da esquerda, incluídos aí tanto a extrema-esquerda quanto setores do PT, de partir para o ataque genérico contra os antipartidos (apenas alguns dos agentes da antipolítica) foi, nesse sentido, um equívoco grandioso.

1. A ANTIPOLÍTICA E A GLOBALIZAÇÃO: O OCASO DO ESTADO

O declínio do Estado é o anverso da Globalização. A vida econômica, cada vez mais condicionada ao jogo do mercado financeiro, escapa, como areia dentre os dedos da mão, dos mecanismos de controle e das regulações estatais. As pessoas não precisam ter lido o excepcional livro do Professor Martin Von Creveld, ASCENSÃO E DECLÍNIO DO ESTADO, para captar os desdobramentos dessa realidade. Para a sua vida cotidiano e para a vida política.  A consequência? Desinteresse e ignorância em relação às questões relacionadas ao Estado. E essa é uma dimensão radicalizada em uma sociedade, como a nossa, na qual a afirmação da cidadania foi trilhada via aumento do consumo, como ocorreu nos últimos dez anos.

2. A ANTIPOLÍTICA, A CORRUPÇÃO E A BOA CONSCIÊNCIA

A antipolítica alimenta-se da insustentável generalização de que todos os políticos são corruptos. Não apenas corruptos! Eles (os políticos) viveriam de costas para os interesses das pessoas. Há os saudosos da ditadura no meio, não esqueçamos. Mas muita gente que brandeia a antipolítica condena todos os políticos e os identifica como corruptos por um motivo bem egoísta: com essa atitude identificam a fonte de todo mal no outro (ou em outros) e alicerçam a percepção de si mesmos como moralmente superiores. Os políticos são corruptos, mas eu sou legal e honesto, essa a mensagem.

3. A ANTIPOLÍTICA É A REJEIÇÃO DA RACIONALIDADE TÉCNICA E DA ÉTICA DA RESPONSABILIDADE

A antipolítica alimenta-se da dificuldade dos não especialistas em entender as tecnicalidades da ação do Estado em suas diversas esferas. Os mais “letrados” (detentores de diplomas universitários, que, por isso, se sentem culturalmente superiores aos “analfabetos”, muito embora tenham seu universo de leitura restrito aos livros de autoajuda) falam de “falta de vontade política”. Os menos letrados (e mais despreocupados com as performances) esbravejam contra a “falta de vergonha” e a “safadeza” dos políticos.

4.  A ANTIPOLÍTICA TEM OS SEUS SURFISTAS

Tem sempre alguém querendo pegar uma onda. E se essa for midiática, não tem jeito. Alguns minutos de audiência, para não poucos, justificam qualquer chafurdada no obscurantismo. Os surfistas de direita não são poucos. No Brasil, como o PT é a melhor expressão institucional de um partido político, eles intuíram (e bem) que qualquer lasquinha que se tire na política, na racionalidade política, arranha, de algum modo, o PT e a forma como este fez política nos últimos dez anos. Então, atice-se a antipolítica. Mas tem também gente que se acha intelectual e eticamente superior surfando nessa onda. Estes procuram “vocalizar” os gritos das ruas. Sua retórica alinha-se superficialmente com o vitalismo. Vão da desconstrução teórica para a defesa da destruição nada metafórica dos símbolos do sistema capitalista e, pasmem!, da democracia. Quedam-se ante o palavrório dos anarquistas de playground e verbalizam consignas contra o “sistema podre”. Teriam alguma graça não tivessem já ultrapassada a barreira da idade da Razão...

5. A ANTIPOLÍTICA PODE BENEFICIAR A EXTREMA-ESQUERDA, MAS SÓ NO CURTO PRAZO...

A antipolítica aboletou-se na produção da extrema-esquerda. Percebeu o potencial e o incorporou, dando nova direção. Mas a extrema-esquerda, mesmo “alijada do processo”, não se deu por vencida e construiu o delírio de que iria “disputar as massas”. As agressões físicas sofridas por alguns de seus militantes indicam que a antipolítica não tem complacência e nem muitas veleidades democráticas. Pior do que isso, em meio à regressão, alguns dos seus intelectuais veem nas multidões nas ruas os sinais de uma democracia direta em construção.

6. NO BRASIL A ANTIPOLÍTICA É, ANTES DE TUDO, ANTIPETISTA


É estranho que o pessoal do PT não tenha se dado ao trabalho de monitorar os chamamentos para as manifestações nas redes sociais. Tivessem feito isso não teriam produzido a patacoada da “onda vermelha” (copyright de Ruy Falcão).  Por quê? Ora, porque não a rejeição, mas o ódio puro e simples ao PT é o aspecto mais sobressalente dessas mensagens. 

sábado, 29 de junho de 2013

Dilma, a pesquisa Datafolha e o jogo

Não pouca gente, especialmente no PT, achava que o jogo seria fácil e que a fatura estava liquidada no que se refere às eleições de 2014. Em conversas com amigos, vez ou outra, procurava demovê-los dessas ilusões. Mas quem quer ouvir algo que conspira contra suas certezas?

As pesquisas Datafolha de hoje, sobre a avaliação do governo, e, mais especialmente a de amanhã, sobre a corrida presidencial, caíram como uma bomba no arraial petista. Não vou repetir os números aqui; eles estão em reproduzidos em todos os quadrantes da rede. O que eu queria chamar a atenção é para o seguinte: se antes, não se teve sensibilidade para perceber a dureza do jogo, agora, quando isso fica evidente, não dá para cair no desespero e buscar "saídas mágicas".

Em primeiro lugar, a queda expressiva de Dilma e a ascensão de Marina (forte), Aécio (menos forte) e Eduardo (menos forte ainda) não podem ser tomados como dados definitivos. Lembrem-se das pesquisas eleitorais de todas as eleições presidenciais de 1994 para cá e vocês terão elementos para tomar cuidado com ascensões e quedas de intenções de votos momentâneas.

Em segundo lugar, Dilma está naquele que é o patamar do eleitorado mais marcadamente petista. Dilma precisará mais do que nunca do PT, essa a mensagem da pesquisa. Por isso mesmo, o resultado das eleições internas do partido passarão a ser acompanhadas com lupa pelo Planalto.

O Governo Dilma, para o bem e para o mal, não construiu uma boa relação com a base petista. Pro bem e pro mal, pois, sei bem, algumas das demandas dessa base não são nem razoáveis e nem politicamente aceitáveis (cerceamento dos meios de comunicação, por exemplo).

Em terceiro, gostem ou não os petistas e seus intelectuais mais descolados, Dilma necessita reconstruir a sua relação com os evangélicos. Ela se deixou levar pela onda criada pela aguerrida militância gay (que, no fundo, não é tão simpática à presidenta e nunca estará satisfeita com as suas ações em prol dos direitos civis dos GLBTs) em torno do Deputado Feliciano. O seu distanciamento não foi tão grande. E a bancada petista ajudou a criar tensões e reproduzir preconceitos.

Quarto, e voltando à pesquisa Datafolha, o PT e a militância petista não têm feito política de verdade sob o governo Dilma. Fizeram, e bem, no Governo Lula. Essa militância, com boa irradiação nos movimentos sociais, foi fundamental para neutralizar os efeitos maléficos do Mensalão sobre o Governo Lula e o próprio processo eleitoral de 2006. Lembremos ainda que a blogosfera petista foi fundamental na desconstrução das proposta de Geraldo Alckmim. Tem até estudos acadêmicos sobre isso. O mesmo, sejamos francos, não ocorrer no Governo Dilma.

Por que não ocorrer? Por várias razões. Muitas delas alicerçadas nas melhores das intenções. Mas, como dizem, de boas intenções o inferno está cheio. E desde que um certo florentino resolveu dar algumas dicas ao seu Príncipe, e isso faz alguns séculos, não dá para analisar (e, talvez, nem fazer) política alicerçado apenas em boas intenções. Mas, voltando à questão, o fato é que essa relação entrou em crise. O estilo de governo Dilma, centralizador e gerencialista, não potencializou o tratamento político de questões candentes como o patinar da economia e a pouca agilidade na entrega de obras públicas estratégicas (na área da infraestrutura).

Resumo da ópera: é cedo, muito cedo, para construir afirmações peremptórias sobre o processo eleitoral. Não estou, longe disso!, minimizando os efeitos corrosivos da antipolítica sobre a disputa que se aproxima. Nem tenho ilusões a respeito de quem é o/a principal beneficiário: Marina Silva.

Os petistas não podem sair de um jogo no qual, de verdade, eles tem atuado com muita pouca vontade. A economia é fundamental? Claro! E eu vou logo fazer um post sobre essa dimensão, digamos, para relembrar antigas crenças, infraestrutural. Mas é no terreno da política, da disputa de valores e elementos culturais, que está se desenhando o embate. Aí, meus caros, quem não joga direito, não planeja cada lance cuidadosamente, quem acredita na genialidade inata do seu futebol-arte, cava a sua própria derrota.

Por isso, não é sem sentido avisar: a pesquisa Datafolha é apenas um momento do jogo e ele ainda não está nem na metade do primeiro tempo. Calma aí, pessoal!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Quem me vê...

Este não é exatamente um blog campeão de audiência. Mas tem uma frequência que me honra muito. Por curiosidade, fui ver a origem do público deste espaço. O blogger tem esse recurso, mas eu nunca tinha verificado. Olha que surpresa!

No dia de hoje, até agora, 15 horas, tivemos a seguinte frequência:

Brasil
97
Estados Unidos
13
Rússia
12
Holanda
3
Alemanha
2
Canadá
1
Chile
1

Então, quer dizer que alguém na Rússia vem aqui? Que honra! Agora, olha só a frequência que tivemos desde o início.

Brasil
79089
Estados Unidos
10458
Rússia
2152
Portugal
1571
Alemanha
1458
França
695
Holanda
550
Coreia do Sul
252
Eslovênia
248
Espanha
210

Viu? A Rússia (olha só como estou pretensioso!) vem aqui desde o começo. E os outros países? Terra nas quais nunca estive (e, dado o meu orçamento, nunca estarei) tem gente visualizando o blog. Que coisa!

A iniciativa de Dilma e os efeitos perversos

Uma das lições da melhor sociologia é que a análise dos fenômenos sociais não pode ser empreendida tendo-se como referência predominantemente as vontades e intenções dos atores envolvidos. Não porque eles não sejam sinceros (embora nem sempre eles o sejam), mas, sim, porque ao atuar em direção os atores produzem resultados diferentes (ou até antagônicos) aos seus interesses iniciais.

Isso acontece na política, isso acontece na vida. Na sua e na minha. O problema é que estamos sempre muito prisioneiros das análises causais, e, por isso, temos dificuldades de apreender os fatos sociais como composição de resultados não intencionados pelos atores. Até porque, sejamos francos, estes tendem a racionalizar a posteriori os resultados obtidos. E, frequentemente, incorporam-nos como desejados desde o começo. Quando criança, você queria ser astronauta, mas, quando a meia idade chegou, você se descobriu professor de sociologia...

E aí, meu caro? O que isso quer dizer? Já ouço você reclamando aí. Bom, se chegou até aqui, acho que foi movido pelo título lá em cima, não foi? Batata! Vamos lá, então.

Olha, Dilma tomou a iniciativa. Meio atabalhoadamente, é certo. Mas saiu do canto do ringue, não é? Basta você lembrar aí a reação de Aécio e Agripino... Puramente defensivas. Mas, como eu ia dizendo, essa iniciativa foi atabalhoada. Por quê? Porque faltou combinar com parte do seu time. E este, como vimos nas intervenções de Michel Temer e Henrique Alves, não está achou graça nenhuma da ideia de constituinte exclusiva. A Presidenta fez o quê? O que não podia deixar de fazer: recuar.

Mas há algo pior no horizonte. A iniciativa foi boa, mas pode abrir uma caixa de pandora. E aí, lembremos, coisas como voto distrital poderão emplacar. E isso seria um desastre, especialmente para a esquerda. É assim no mundo todo.

Ou seja, até o momento, Dilma vai indo bem. Mas os resultados de sua movimentação política, meio errática inegavelmente, podem não ser tão bons assim.

PS: Este post foi inspirado em comentário feito pelo meu amigo Beto na postagem abaixo.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Dilma toma a iniciativa política

A Presidenta Dilma deu drible. Partiu para a iniciativa política. Não estou avalizando a sua proposta de Constituinte Exclusiva, mas, inegavelmente, ela saiu do canto do ringue.

O jogo ficou mais pesado. E mais perigoso também. A Presidenta avançou, é certo. Mas, vem cá, você já pensou no preço alto que ela terá que pagar se recuar. Ué, você acha que não tem recuo. Então, meu caro, não é da política que estamos falando.

Onde eu me situo politicamente?

Uma análise multifatorial de minhas posições marcou precisamente o meu lugar no mundo. Isso mesmo! Respondi a um conjunto amplo de questões candentes e aí foi possível encontrar o meu lugar no mundo. E eu que me pensava mais conservador e mais à direita...

Bom, eu acho a coisa toda uma brincadeira. Mas vale a pena fazer o exercício.

Antes de prosseguir, digo que encontrei o caminho após a leitura do Blog do Leonardo Monastério.

No dito exercício, você pode ainda se situar politicamente em relação a alguns personagens políticos importantes da história contemporânea. Eu, por exemplo, estou mais próximo do Delai Lama e de François Hollande do que de Mahmoud Abbas e do chavismo.





Como você pode conferir abaixo, eu estou mais para centro esquerda (mais próximo da direita do que da extrema esquerda, para ser honesto) e assumo uma posição mais libertária. Você quer fazer o teste também? Ok, clique aqui.


domingo, 23 de junho de 2013

Os protestos e um olhar distanciado

EL PAÍS é o melhor jornal disponível na grande rede, isso eu não me canso de escrever. Não ganho nada do diário espanhol para isso, nunca é de mais repetir. Anos de leitura me levaram a esse posicionamento.

Para coroar, o jornalista Juan Arias, correspondente do jornal no Brasil, é uma analista arguto das coisas que ocorrem abaixo da linha do Equador. Por isso, vale a pena conferir a sua avaliação dos protestos que estão a sacudir estes tristes trópicos.

Confira aqui.

Lolita, os intérpretes dos protestos e os corvos

É trágico e cômico. A interpretação de qualquer evento social, especialmente quanto este pode impactar, mesmo que potencialmente, a distribuição de recursos socialmente escassos, está sempre envolta em uma disputa de sentidos. Com os protestos que sacudiram (e ainda sacodem) o país de norte a sul não seria nada diferente.

Esbocei esse posicionamento há dias, antes das mega-manifestações. Depois, vi cientistas sociais menos invisíveis socialmente do que eu martelando a mesma proposição.

Do deslumbramento à condenação apressada, há de tudo no agitado mercado de interpretações dos protestos. Algumas pseudo-análises são escatológicas até dizer chega. Conseguem arrumar em um mesmo texto os lugares-comuns da desconstrução pós-moderna com as velhas consignas da extrema-esquerda.

Cá do meu canto, ainda espreito por um interpretação sociológica. Alimento a esperança, aí está o meu conservadorismo sendo explicitado, de que é a Razão e a análise científica que fornecerão as chaves certas para as interpretações mais consistentes.

Chales Tilly e Raymond Boudon, apenas para citar dois cientistas sociais dignos do título, são referências importantes para esses exercícios. Pierre Bourdieu também nos fornece, ao menos do ponto de vista epistemológico, algumas luzes. Escrevi "ao menos", pois, penso, no que diz respeito à intervenção política o grande sociólogo francês não foi muito feliz. Basta pensarmos nas suas diatribes, descaradamente populistas, contra o tal do "neoliberalismo".

Bom. Mas isso tudo, quando o evento começar a decantar, irá aparecer. No momento, importa não se deixar levar pelas vivandeiras irracionalistas, que, alicerçadas em bases filosóficas tão consistentes quanto pudim de ontem, cantam elegias ao fogo purificador dos "manifestantes".

Se você quiser ler algo inspirador, algo que te leve a pensar sobre os efeitos funestos da destruição "criadora", leia o excepcional livro de Azar Nafisi, LENDO LOLITA EM TEERÃ. Aí você verá como certa esquerda e certos cultores do irracionalismo contribuem para produzir mundos sempre mais tenebrosos do que aqueles do presente.

Sempre que eu vejo essa turma em ação (isto é, digitando os seus vereditos), especialmente quando açulando o ódio às instituições, penso em um velho ditado espanhol: cria cuervos y te sacarán los ojos". Em bom português: "cria corvos e eles te arrancarão os olhos".

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Para uma análise dos protestos

Os protestos que tomaram conta das ruas, avenidas e até estradas do país nos últimos dias estão a cobrar análises substantivas e distanciadas do Fla-Flu ideológico que modula debates acadêmicos e conversas de botequim. Muita calma nessa hora, pessoal.

 Em momentos como este, nos quais o turbilhão de eventos turva o pensamento, nunca é demais lembrar antigas lições da boa e velha sociologia. Refiro-me aquela que se reivindica uma ciência empírica do mundo social, e não ao ensaísmo aligeirado que se legitima usando indevidamente o nome da ciência fundada por Durkheim.

 O que é o Movimento Passe Livre? O que ele quer? O que está produzindo? A velha e boa sociologia nos aconselha a levar em conta os seguintes aspectos na avaliação das ações de um ator (ou de um conjunto deles, vá lá).

 1) O objetivo anunciado não é bem o que parece (o objetivo intencionado pelo ator não é bem aquilo que ele anuncia);

 2) O objetivo anunciado é o que realmente os atores querem, mas suas ações têm outro significado dos quais eles não têm consciência;

3) O objetivo é o que parece – mas a intervenção de forças exógenas transformam o curso da ação de forma qualitativamente distinta, redefinindo os objetivos inicialmente estabelecidos;

4) O objetivo é o que parece – mas a intervenção de outras forças produz consequências não-tencionadas pelos atores; e

5) O objetivo é o que parece – mas a sua realização está condicionada por eventos fortuitos, estranhos ao plano original.

 Assim sendo, algumas vezes, o resultado (ou a situação resultante da intervenção de um ator ou de um conjunto de atores) que estamos analisando pode se traduzir no seguinte:

a) O objetivo real não é o aparente;

b) O objetivo real não é o que os atores realmente realizaram;

 c) O objetivo real emerge do contexto da ação;

d) O objetivo original é real, mas é realizado por uma inesperada combinação de eventos.

terça-feira, 18 de junho de 2013

É uma propaganda da Google, certo, mas é bem bacana.

Tá, ok, é propaganda. Mas é bem legal. Confira! Dá para pensar um pouco sobre a ideia de espaço público nos dias atuais. Especialmente em tempos de manifestações como as ocorridas ontem. As quais, como não poucos dizem, expressam a força de uma sociedade em rede.

domingo, 16 de junho de 2013

Manual de Sobrevivência na Universidade

Estou a ler o ótimo MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NA UNIVERSIDADE, da lavra do Professor Leonardo Monastério. O gajo, além de tocar uns sete instrumentos, pilota um blog e é professor universitário.

O livro é fenomenal. Você vai se deliciar com as dicas do professor. A linguagem utilizada não é a usual. Com um humor fino, ele aborda as trilhas e atalhos da vida acadêmica. Especialmente aquela que se desenrola abaixo da linha do Equador.

Vá lá, compre o livro. O único senão é que ele somente está disponível na forma de E-book. E você terá que compra-lo no site da Amazon (tem um site brasileiro da dita cuja...). Se você já tem o Kindle, sabe o caminho das pedras. Se não, instale em seu computador ou tablete o aplicativo da livraria. Aí você poderá adquirir e se deliciar com a obra.

Ah! O preço? Mais barato do que um café e um pão de queijo em qualquer aeroporto: R$ 8,90.

sábado, 15 de junho de 2013

O culto ao camponês e a regressão intelectual nas ciências sociais


Até os meus dezesseis anos residi na Várzea do Apodi. Naquele universo, as práticas econômicas dominantes eram capitalistas. Havia agricultura de subsistência, é certo e muita reciprocidade, especialmente no que dizia respeito à alimentação. Mas as práticas que moldavam a sociabilidade eram capitalista, não camponesas.

Tanto a cultura do arroz quanto o extrativismo vegetal da cera de carnaúba eram moldados por práticas que dificilmente não identificaríamos como capitalistas. Bom. Isso faz nada menos que 30 anos.

Pois não é que três décadas depois, no universo acadêmico, embalados pelo populismo político, o campesinato ressurge. Obviamente, esse ressurgimento é, em parte, empreendido com o apoio (ou para o apoio) ao MST, que articula e dá sentido a uma estrutura denominada exatamente Via Campesina. Pois, com espanholismos e tudo o mais...

Esse culto ao camponês não está fora de uma cultura de elevação a estatuto merecedor de respeito dessa coisa regressiva chamada bolivarianismo. São irmãos siameses. E, ambos, são alimentados no universo das ciências sociais por pessoas que se dizem (ou se tomam) como críticas.

É claro que tem certo encanto, pelo exotismo e pela citação retrô, a estética guevarista cultuada pelos atores vinculados a essas forças sociais e acadêmicas. Penso que deve fazer tremer as bases dos velhos saudosistas do socialismo real.

O impressionante é que a galera não se dá conta de alguns fatos históricos ligados a relação entre a esquerda bolchevique (que alimenta o seu imaginário) e os camponeses. Nunca é demais lembrar a truculência que marcou a ação do Exército Vermelho, guiado por Trotsky, contra os camponeses ucranianos liderados por Nestor Makno.

Nesse universo, sobram poucas vozes para lembrar coisas óbvias. Dentre elas, aquela de que a agricultura familiar, definida oficialmente por lei no Brasil, é uma construção sócio-política recente, que precisa ser problematizada por uma ciência do social que não se quede inerte diante do mundo fabricado pelos atores.

E essa coisa populista vai se avolumando. Há alguns dias, um curso na área de agronegócios, que seria promovido por um centro de uma universidade federal, foi inquisitorialmente torpedeado pelo barulho populista. A turma queria, de qualquer jeito, e em nome do compromisso ético político da instituição, empurrar a agricultura familiar na proposta.

Nesse universo, é necessário o vigo científico e a disposição para levar bordoadas de uma Zander Navarro para levantar algum dique contra a criação de mitos desastrosos. Um deles, persistente, é o de que existe algo, uniforme, passível de ser identificado sob a rubrica de agricultura familiar. Outro, não menos pernicioso, é o de que é essa agricultura a responsável pela produção alimentar do país.