segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Google é uma praga?

Responda-me rápido: o google contribui ou não para melhorar o desempenho de nossos estudantes? Ei!! Não vale procurar artigos no google para me responder... Todo mundo usa o buscador, não é mesmo? Isso é bom ou ruim? Leia a matéria abaixo e tenha elementos para pensar a respeito.


"O Google é uma tragédia para
os jovens", afirma Umberto Eco

Susanne Beyer e Lothar Gorris

O escritor e semioticista italiano Umberto Eco, curador de uma nova exposição no Louvre em Paris, falou à "Spiegel" sobre o lugar que as listas ocupam na história da cultura, as formas pelas quais tentamos evitar pensar na morte e por que o Google é perigoso para os jovens

Spiegel: Sr. Eco, o senhor é considerado um dos grandes acadêmicos do mundo, e agora está inaugurando uma exibição no Louvre, um dos museus mais importantes do mundo. Entretanto, os temas de sua mostra soam um pouco lugar-comum: a natureza essencial das listas, poetas que listam coisas em seus trabalhos e pintores que acumulam coisas em suas pinturas. Por que você escolheu esses temas?

Umberto Eco: A lista é a origem da cultura. Ela faz parte da história da arte e da literatura. O que a cultura quer? Tornar a infinitude compreensível. Ela também quer criar ordem - nem sempre, mas com frequência. E como, enquanto seres humanos, lidamos com a infinitude? Como é possível entender o incompreensível? Através de listas, através de catálogos, através de coleções em museus e através de enciclopédias e dicionários. Há uma atração em enumerar com quantas mulheres Don Giovanni dormiu: foram 2.063 pelo menos, de acordo com o libretista de Mozart, Lorenzo da Ponte. Nós também temos listas totalmente práticas - listas de compras, testamentos, cardápios - que, a seu modo, também são conquistas culturais.

Spiegel: A pessoa aculturada deveria então ser vista como um zelador tentando impor a ordem em lugares onde o caos prevalece?

Eco: A lista não destrói a cultura; ela a cria. Para onde quer que você olhe na história da cultura, encontrará listas. Na verdade, há uma variedade atordoante: listas de santos, exércitos e plantas medicinais, ou de tesouros e títulos de livros. Pense nas coleções sobre a natureza do século 16. Meus livros, a propósito, são cheios de listas.

Spiegel: Contadores fazem listas, mas também podemos encontrá-las nas obras de Homero, James Joyce e Thomas Mann.

Eco: Sim. Mas eles, é claro, não são contadores. Em "Ulysses", James Joyce descreve como seu protagonista, Leopold Bloom, abre suas gavetas e tudo o que ele encontra dentro delas. Vejo isso como uma lista literária, e ela diz muito sobre Bloom. Ou veja Homero, por exemplo. Na "Ilíada", ele tenta transmitir uma impressão do tamanho do exército grego. Primeiro ele usa metáforas: "Assim como um grande fogo florestal investe contra o topo de uma montanha e sua luz é vista de longe, enquanto marchavam, o brilho de suas armaduras reluzia nas alturas do céu". Mas não fica satisfeito. Ele não consegue encontrar a metáfora certa, então implora às musas para que o ajudem. Então ele chega à ideia de listar os nomes de muitos, muitos generais e seus navios.

Spiegel: Mas, ao fazer isso, ele não se desvia da poesia?

Eco: A princípio, pensamos que uma lista é algo primitivo e típico das primeiras culturas, que não tinham um conceito exato do universo e que, portanto, eram limitadas a listar as características que podiam nomear. Mas, na história cultural, a lista prevaleceu ao longo do tempo. Ela não é, de forma alguma, uma mera expressão das culturas primitivas. Uma nova visão de mundo baseada na astronomia predominou durante o Renascimento e o período barroco. E havia listas. E a lista com certeza impera na era pós-moderna. Ela tem uma mágica irresistível.

Spiegel: Mas por que Homero lista todos aqueles guerreiros e seus navios, se sabe que nunca será capaz de citar todos eles?

(...)

Spiegel: Mas você disse que as listas podem estabelecer a ordem. Então, tanto a ordem quanto a anarquia se aplicam? Isso tornaria a internet, e as listas criadas pelo mecanismo de busca Google, perfeitas para você.

Eco: Sim, no caso do Google, ambas as coisas convergem. O Google faz uma lista, mas, no minuto em que eu olho para minha lista gerada pelo Google, ela já mudou. Essas listas podem ser perigosas - não para pessoas mais velhas como eu, que adquiriram o conhecimento de outra forma, mas para os jovens, para quem o Google é uma tragédia. As escolas precisam ensinar a fina arte de discriminar.

Spiegel: Você está dizendo que os professores deveriam instruir seus alunos sobre a diferença entre o que é bom e o que é ruim? Se sim, como eles deveriam fazer isso?Eco: A educação deveria voltar à forma que era nas oficinas do Renascimento. Lá, os mestres não eram necessariamente capazes de explicar aos alunos porque uma pintura era boa em termos teóricos, mas eles faziam isso de forma mais prática. Veja, o seu dedo pode se parecer com isso, mas ele é de fato assim. Veja, esta é uma boa mistura de cores. A mesma abordagem deveria ser usada nas escolas ao lidar com a internet. O professor deveria dizer: "Escolha qualquer assunto, quer seja a história alemã ou a vida das formigas. Busque 25 páginas diferentes na internet e, ao compará-las, tente descobrir qual oferece uma boa informação". Se dez páginas descreverem a mesma coisa, pode ser um sinal de que a informação publicada está correta. Mas também pode ser um sinal de que alguns sites copiaram os erros dos outros.

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