Vale a pena conferir o artigo abaixo, publicado na edição de final de semana do jornal VALOR ECONÔMICO.
Neoliberais e desenvolvimentistas
Autor(es): Mansueto Almeida
Valor Econômico - 30/09/2011
É comum encontrar nas páginas de jornais e em artigos acadêmicos um embate entre os chamados economistas neoliberais e os desenvolvimentistas. Em linhas gerais, os neoliberais são taxados de "cabeças de planilha", que acreditam ingenuamente em um mercado que se autorregula, na abertura comercial, na liberalização do fluxo de capital e dão importância excessiva aos fundamentos econômicos.
Os desenvolvimentistas seriam aqueles que acreditam no papel regulador do Estado, na proteção do mercado para fomentar a indústria doméstica, defendem a redução da taxa de juros e não veem restrições ao crescimento que não sejam a falta de ação do governo. A preocupação com os fundamentos econômicos é secundária, inclusive com a inflação, pois esse grupo acha irrelevante a discussão se a inflação será, por exemplo, de 6,45% ou 6,75% - a casa decimal pouco importa e, às vezes, nem mesmo o número inteiro.
O debate, quando colocado dessa forma extrema, até faz sentido do ponto de vista acadêmico, mas é pouco construtivo para o debate econômico atual e vários dos economistas que insistem em caracterizar de maneira caricatural seu suposto oponente sabem disso.
Um bom exemplo é o debate em relação à inflação. Em vez da discussão daqueles que defendem uma inflação de 0 a 3% ao ano, neoliberais, e aqueles que não se importam com a inflação, desenvolvimentistas, o debate atual é muito mais sutil e complicado. O que se discute hoje é a velocidade de convergência para a meta de inflação de 4,5% ao ano e as medidas necessárias para que essa convergência ocorra.
Alguns economistas acham que o Banco Central (BC) exagerou no seu cenário catastrófico da economia mundial, outros acham que o cenário do BC é cada vez mais provável e há sim uma chance real de o Brasil reduzir os juros. Mas há um quase consenso que esse esforço de redução do juros só será bem sucedido se acompanhado de maior responsabilidade fiscal e aumento da poupança pública. Essa tese é defendida por economistas que se identificam com as duas correntes.
Outro exemplo é em relação ao crescimento dos gastos sociais. Quando algum economista identificado com a ala neoliberal sugere o controle do crescimento dos gastos sociais como forma de reduzir o crescimento do gasto público, economistas desenvolvimentistas afirmam que seu colega neoliberal está propondo o fim do estado de bem estar social. Novamente, o debate é mais complicado. No Brasil, os gastos sociais crescem quase que continuamente desde a Constituição de 1988, mas é cada vez mais questionável a eficácia distributiva desses gastos e os desenvolvimentistas sabem disso.
Há, por exemplo, claras distorções nos gastos com pensão por morte e com seguro-desemprego, independentemente do debate se o eleitor quer mais ou menos política distributiva. Acho questionável que o eleitor entenda e queira que uma pessoa de 80 anos de idade se case com outra de 20 anos de idade e que esse ou essa jovem usufrua de uma renda vitalícia quando seu parceiro morrer. Da mesma forma, não é comum que os gastos com seguro-desemprego cresçam mesmo quando o desemprego diminui como acontece no Brasil. Racionalizar esses gastos tem adeptos nas duas correntes e, novamente, nenhuma relação com o embate entre neoliberais e desenvolvimentistas.
Em relação à falta de recursos para aumentar os investimentos em infraestrutura, saúde e educação, muitos acham que tudo pode ser "resolvido" com mais carga tributária. Mas aqueles que defendem essa proposta são grupos cuja renda depende mais do seu poder de lobby do que da sua produtividade. O problema é que mais carga tributária, para um país de renda média como o Brasil, fatalmente comprometerá o crescimento da economia. Novamente, neoliberais e desenvolvimentistas se colocam, em geral, contra novos aumentos da carga tributária.
Por fim, a última edição do índice de competitividade global do World Economic Forum mostra, mais uma vez, que os maiores problemas de competitividade do Brasil quando comparado com outros 141 países são: 1) a baixa qualidade da nossa infraestrutura; 2) elevada carga tributária, 3) excesso de regulação; 4) baixa qualidade da educação primária, 5) rigidez no mercado de trabalho; 6) burocracia na abertura de novos negócios, e 7) dívida e spread bancário elevados. Aumentar o investimento em infraestrutura e melhorar a qualidade da educação, por exemplo, não tem absolutamente nenhuma relação com o debate estéril entre desenvolvimentistas e neoliberais.
O que precisamos saber, por exemplo, é como reduzir o spread bancário, aumentar a eficiência do estado na execução de obras públicas, melhorar a eficácia dos gastos sociais, que já são elevados, reduzir as distorções dos gastos com pensão por morte e as regras de concessão do seguro desemprego. No mundo real, o governo é mais pragmático e busca a aprovação do eleitor. Se a elevação da inflação reduzir o índice de aprovação do governo, este voltará a ser mais "neoliberal". Por outro lado, se a ousadia do Banco Central se mostrar correta, o governo será mais desenvolvimentista. É "simples" assim, mas há ainda economistas supostamente maduros que não se cansam de brincar do bem contra o mal ou da batalha estéril entre desenvolvimentistas e neoliberais.
Mansueto Almeida é técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A opinião expressa é a do autor, não exprimindo o ponto de vista do Ipea
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Os desafios da Copa do Mundo
O artigo abaixo aborda questões de interesse de todos quantos se debruçam sobre os impactos da Copa do Mundo na vida de nossas grandes cidades.
A Copa do Mundo e os complementos urbanos necessários
Autor(es): Aldo Paviani*
Correio Braziliense - 29/09/2011
Os jogos da Copa, em 2014, e as competições olímpicas, em 2016, ocorrerão em poucas e populosas cidades brasileiras, geralmente metrópoles nacionais ou regionais. Tomando-se as três metrópoles nacionais, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, nota-se que as obras físicas, como os estádios, estão em andamento. Há atraso em São Paulo, em progresso no Rio, no Maracanã e em Brasília, no Mané Garrincha (agora apelidado de Estádio Nacional). Nota-se para esses eventos que excessiva ênfase é dada a estádios, pois terão competições capazes de atrair multidões. No entanto, nas três grandes cidades e nas demais sedes dos jogos, há necessidade de atender outras demandas, isso porque a atenção de todo o mundo estará voltada para o Brasil.
Por isso, lembra-se que o afluxo de pessoas exigirá o que denominamos de complementos urbanos com ações, tais como preparar a rede hoteleira, equipar hospitais e modernizar restaurantes. Indo além, avenidas e ruas deverão ter pavimentação renovada, abertura de ciclovias, construção de sanitários públicos e calçadas; ampliação de terminais rodoviários, portuários e aéreos e melhorias em outros serviços como limpeza de vias e praças (com lixeiras, bancos e bebedouros) — tudo para que possamos estar de acordo com esses megaventos desportivos. Além disso, deve-se aumentar o efetivo de segurança pública e treinar policiais para o atendimento de estrangeiros. Prever as possibilidades de atentados e quebra da tranquilidade por parte de assaltantes e traficantes, cujas ações devem ser contidas preventivamente e com firmeza.
Os governantes e empresários deverão atentar para os impactos do afluxo de turistas para centros urbanos que não os das sedes de competições e jogos e que normalmente já são procurados por brasileiros e estrangeiros, como Foz do Iguaçu, Pantanal Mato-Grossense, Manaus e Floresta Amazônica. Temos igualmente um extenso litoral e pontos turísticos especiais no interior, como as estações de águas, em São Paulo, Goiás e Minas Gerais. Será previsível que, antes e depois dos megaeventos, esses estados sejam procurados para lazer e entretenimento.
Há localidades que atraem turistas o ano todo, como Parati (Rio), as Missões Jesuíticas, os Aparados da Serra, Gramado e Canela (Rio Grande do Sul), os centros históricos de Minas Gerais (Ouro Preto, Mariana, Congonhas e outras), assim como Pirenópolis e Caldas Novas (Goiás), Sete Cidades (Piauí) e muitos outros. A lista é longa, mas quem conhece os centros urbanos referidos sabe que gargalos precisam ser eliminados nos transportes públicos e na rede hospitalar, que necessita ampliar leitos, contratar médicos, enfermeiros e comprar novos aparelhos para exames e emergências.
No caso de Brasília, todos esses itens merecem atenção especial porque os visitantes procurarão a capital antes e depois da Capa em razão dos atrativos arquitetônicos, urbanísticos e simbólico-cívicos que a cidade apresenta. Em Brasília, autoridades e políticos pleiteiam que a capital seja contemplada com a abertura da Copa do Mundo. Esse fato trará torcedores brasileiros, estrangeiros e acompanhantes, pessoas que, enquanto a bola rola, percorrerão os recantos da cidade.
Para tanto, a urbe não está preparada, ainda, com os complementos urbanos banais como os transportes de massa que interliguem todos os pontos da cidade e não apenas o aeroporto aos hotéis com o VLP. Ampliar as possibilidades de transportes cruzados como entre as quadras 400 e 900 Sul e Norte; linhas de ônibus da Asa Norte para o Mirante de Niemeyer, em construção no alto do Colorado, ou para o Catetinho. Igualmente esses pontos merecerão complementos para o conforto dos visitantes.
Além disso, guias turísticos capacitados — bi ou trilíngues — serão importantes para a comunicação entre as pessoas. Estão se providenciando banheiros públicos, espalhados no centro e nos bairros? As pessoas terão um conjunto de mapas para se orientar na capital? Há bancos nas praças para o descanso dos passantes? Brasília possui um guia turístico com indicação de museus, templos e monumentos?
É hora de correr contra o tempo, avaliar impactos sobre o ambiente e sobre o equipamento urbano. Impõe-se ampliar a arborização e os jardins do Plano Piloto e de todos os bairros. Afinal, a Copa do Mundo será oportunidade de implantar os complementos urbanos e embelezar a capital. Deseja-se que os visitantes entendam a geografia do DF e possamos obter um saldo positivo com retorno dos investimentos realizados.
Professor emérito e pesquisador associado da UnB.
A Copa do Mundo e os complementos urbanos necessários
Autor(es): Aldo Paviani*
Correio Braziliense - 29/09/2011
Os jogos da Copa, em 2014, e as competições olímpicas, em 2016, ocorrerão em poucas e populosas cidades brasileiras, geralmente metrópoles nacionais ou regionais. Tomando-se as três metrópoles nacionais, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, nota-se que as obras físicas, como os estádios, estão em andamento. Há atraso em São Paulo, em progresso no Rio, no Maracanã e em Brasília, no Mané Garrincha (agora apelidado de Estádio Nacional). Nota-se para esses eventos que excessiva ênfase é dada a estádios, pois terão competições capazes de atrair multidões. No entanto, nas três grandes cidades e nas demais sedes dos jogos, há necessidade de atender outras demandas, isso porque a atenção de todo o mundo estará voltada para o Brasil.
Por isso, lembra-se que o afluxo de pessoas exigirá o que denominamos de complementos urbanos com ações, tais como preparar a rede hoteleira, equipar hospitais e modernizar restaurantes. Indo além, avenidas e ruas deverão ter pavimentação renovada, abertura de ciclovias, construção de sanitários públicos e calçadas; ampliação de terminais rodoviários, portuários e aéreos e melhorias em outros serviços como limpeza de vias e praças (com lixeiras, bancos e bebedouros) — tudo para que possamos estar de acordo com esses megaventos desportivos. Além disso, deve-se aumentar o efetivo de segurança pública e treinar policiais para o atendimento de estrangeiros. Prever as possibilidades de atentados e quebra da tranquilidade por parte de assaltantes e traficantes, cujas ações devem ser contidas preventivamente e com firmeza.
Os governantes e empresários deverão atentar para os impactos do afluxo de turistas para centros urbanos que não os das sedes de competições e jogos e que normalmente já são procurados por brasileiros e estrangeiros, como Foz do Iguaçu, Pantanal Mato-Grossense, Manaus e Floresta Amazônica. Temos igualmente um extenso litoral e pontos turísticos especiais no interior, como as estações de águas, em São Paulo, Goiás e Minas Gerais. Será previsível que, antes e depois dos megaeventos, esses estados sejam procurados para lazer e entretenimento.
Há localidades que atraem turistas o ano todo, como Parati (Rio), as Missões Jesuíticas, os Aparados da Serra, Gramado e Canela (Rio Grande do Sul), os centros históricos de Minas Gerais (Ouro Preto, Mariana, Congonhas e outras), assim como Pirenópolis e Caldas Novas (Goiás), Sete Cidades (Piauí) e muitos outros. A lista é longa, mas quem conhece os centros urbanos referidos sabe que gargalos precisam ser eliminados nos transportes públicos e na rede hospitalar, que necessita ampliar leitos, contratar médicos, enfermeiros e comprar novos aparelhos para exames e emergências.
No caso de Brasília, todos esses itens merecem atenção especial porque os visitantes procurarão a capital antes e depois da Capa em razão dos atrativos arquitetônicos, urbanísticos e simbólico-cívicos que a cidade apresenta. Em Brasília, autoridades e políticos pleiteiam que a capital seja contemplada com a abertura da Copa do Mundo. Esse fato trará torcedores brasileiros, estrangeiros e acompanhantes, pessoas que, enquanto a bola rola, percorrerão os recantos da cidade.
Para tanto, a urbe não está preparada, ainda, com os complementos urbanos banais como os transportes de massa que interliguem todos os pontos da cidade e não apenas o aeroporto aos hotéis com o VLP. Ampliar as possibilidades de transportes cruzados como entre as quadras 400 e 900 Sul e Norte; linhas de ônibus da Asa Norte para o Mirante de Niemeyer, em construção no alto do Colorado, ou para o Catetinho. Igualmente esses pontos merecerão complementos para o conforto dos visitantes.
Além disso, guias turísticos capacitados — bi ou trilíngues — serão importantes para a comunicação entre as pessoas. Estão se providenciando banheiros públicos, espalhados no centro e nos bairros? As pessoas terão um conjunto de mapas para se orientar na capital? Há bancos nas praças para o descanso dos passantes? Brasília possui um guia turístico com indicação de museus, templos e monumentos?
É hora de correr contra o tempo, avaliar impactos sobre o ambiente e sobre o equipamento urbano. Impõe-se ampliar a arborização e os jardins do Plano Piloto e de todos os bairros. Afinal, a Copa do Mundo será oportunidade de implantar os complementos urbanos e embelezar a capital. Deseja-se que os visitantes entendam a geografia do DF e possamos obter um saldo positivo com retorno dos investimentos realizados.
Professor emérito e pesquisador associado da UnB.
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Mobilidade Urbana
A economia nordestina
Se você se interessa pelo tema, vai querer ler a matéria abaixo, transcrita do jornal VALOR ECONÔMICO.
Novo mapa do leite
Produção de leite deslancha no Nordeste
Autor(es): Por Murillo Camarotto | De Imperatriz e Ribamar Fiquene (MA)
Valor Econômico - 29/09/2011
A produção de leite no Nordeste cresceu 89,5%, muito acima dos 54,8% da média nacional. Depois de aceitar a contragosto 13 vacas leiteiras como pagamento de uma dívida, Renato José Pereira acabou se tornando, dez anos depois, um dos maiores produtores do sudeste do Maranhão
Cansado de um credor que o "enrolava" havia alguns meses, o empresário mineiro Renato José Pereira acabou aceitando, relutante, 13 vacas leiteiras como pagamento da dívida. Na época, 2002, ele ainda era "carne nova" no sudeste do Maranhão, onde começava a criar gado de corte. Quase dez anos depois, Pereira é um dos principais produtores da região que recentemente passou a ser chamada, com um certo exagero, de "nova fronteira do leite no Nordeste". Luminosidade elevada, solo de boa qualidade e período seco curto (entre três e quatro meses no ano) favorecem a pecuária leiteira.
Puxada pelo crescimento do consumo das famílias, a produção de leite nordestina aumentou 89,5% entre 2000 e 2010, bem acima dos 54,8% da média nacional. No período, os Estados da região colocaram 2 bilhões de litros de "leite novo" no mercado brasileiro, quase o mesmo volume acrescentado pelo Sudeste, o maior produtor do país. O cenário positivo tem incentivado investimentos de laticínios regionais.
A principal bacia leiteira do Maranhão está na chamada região tocantina, próxima às divisas com Tocantins e Pará e distante mais de 500 quilômetros da capital, São Luís. A fazenda Medalha Milagrosa fica em Ribamar Fiquene. De lá saem todos os dias, em média, 950 litros de leite, volume que, apesar de não saltar aos olhos, põe Pereira entre os maiores da região. "A produção aqui ainda é muito picada. Tem gente que vende três litros por dia", conta Osmani Ferreira, gerente do laticínio Palate, o mais importante do Maranhão.
Segundo estimativas da Embrapa, o Maranhão produziu quase 362 milhões de litros no ano passado, o quarto maior volume do Nordeste. Nos últimos anos, porém, o Estado vem ampliando sua fatia no bolo da produção regional, assim como Bahia (1,3 bilhão de litros) e Pernambuco (861 milhões de litros), os dois maiores produtores. Já o Ceará, o terceiro, com 445 milhões de litros, perde espaço. Segundo Alexandre Ataíde, presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados do Maranhão (Sindileite), a previsão é de um aumento de 15% no volume beneficiado este ano sobre 2010.
"É importante lembrar que viemos de uma base pequena, o que explica parte desse crescimento elevado. As principais bacias já estavam desenvolvidas nos anos anteriores, enquanto que o Maranhão estava muito aquém", diz. A formalização de muitos produtores, especialmente os menores, também ajuda a engordar os números do Estado.
É o caso de Serafim Araújo, que além de produtor de leite é dono de uma mercearia. Há pouco mais de um ano, ele ainda vendia na porta do estabelecimento os cerca de 250 litros tirados por dia em sua fazenda, em Imperatriz. Com o aperto da fiscalização, passou a entregar o leite à Palate, que chegou à cidade em fevereiro de 2010. "Antes conseguia mais de R$ 1 por litro. Agora não passa de R$ 0,70", queixa-se, carrancudo.
Já para Renato Pereira, a instalação da Palate, controlada pelo grupo paulista CBA, foi o divisor de águas da bacia leiteira local. "A história mudou, passou a ter mais seriedade a produção. Pagamento em dia, preço justo. Antes, o produtor era refém dos laticínios pequenos", recorda o fazendeiro, hoje com um rebanho de 150 animais da raça Girolando. "Até um ano e meio atrás, pagavam R$ 0,30 no litro do leite, o que não compensa nem você dar o que comer à vaca. O produtor não investia", acrescenta ele, que diz ter aplicado R$ 500 mil no negócio de leite.
Com capacidade para beneficiar 130 mil litros por dia, a Palate compra de mais de mil produtores espalhados em 21 cidades da bacia de Imperatriz. A coleta só é feita nas 350 fazendas que têm os tanques de resfriamento fornecidos pela empresa.
Ainda se preparando para sua estreia no setor leiteiro, a Sabe Alimentos, do grupo Albano Franco, de Sergipe, já distribuiu 135 tanques de resfriamento. A empresa investe R$ 80 milhões em uma planta com capacidade para 330 mil litros diários em Muribeca, a 72 quilômetros de Aracaju. Vai produzir leite longa vida, iogurtes, leite condensado, creme de leite e bebidas lácteas.
O diretor-executivo da empresa, Albérgio Lima, acredita que todo o leite para a operação poderá vir de Sergipe, onde a produção cresceu 170% nos últimos 10 anos. "Há um ano e meio estamos desenvolvendo nossos fornecedores com investimentos em infraestrutura, na higiene da ordenha, nos insumos e utensílios e em genética, na qual cada propriedade recebe treinamento para inseminação e botijão com 30 doses iniciais de sêmen", detalhou o executivo, por e-mail.
Segundo maior produtor do Nordeste e oitavo do país, Pernambuco é onde se verificam os maiores índices de crescimento da produção de leite, que triplicou entre 2000 e 2010, especialmente no agreste do Estado. O avanço pode ser explicado em parte pelo elevado consumo de queijo no Estado, o maior do Nordeste. De acordo com o Sebrae, os pernambucanos gastam cerca R$ 25 milhões por mês com queijo. Na Bahia, com população 60% maior, o gasto mensal fica em torno de R$ 16,5 milhões.
Atento ao cenário promissor, o laticínio Faco, instalado em Ribeirão, a 90 quilômetros do Recife, investe no aumento da produção de queijos, entre os quais mussarela, fresco, coalho e minas. O proprietário, Horácio Franca Corrêa, espera dobrar até o início de 2012 a capacidade de beneficiamento, hoje de 15 mil litros/ dia.
Na Bahia, principal produtora de leite do Nordeste, os laticínios mais importantes também investem em expansão, segundo Francisco Benjamin Filho, gerente de programas do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). O problema no Estado, contudo, é a produtividade do rebanho, a segunda pior do Nordeste. Segundo o IBGE, cada vaca baiana produziu 555 litros de leite em 2009, contra uma média nacional de 1.297 litros.
"Dois terços da área do Estado da Bahia estão no semi-árido, uma região sem recursos e sem clima para a produção de leite. Lá é que a gente encontra a famosa vaca "pé duro", como é conhecido o animal adaptado a esse meio", explica Benjamin.
O período sem chuvas é crítico para a cadeia do leite, pois a pastagem seca não oferece ao animal os nutrientes necessários à produção. Por esse motivo é fundamental que os produtores invistam na estocagem de alimentos, o que ainda é raro no Nordeste. "O produtor tem que fazer sua parte, com genética e alimentação. Sem suplemento alimentar, a produção cai estupidamente no tempo seco", concorda o secretário de Desenvolvimento Econômico de Imperatriz, Sabino Costa.
Sem se preocupar com "essas coisas de nutriente", Serafim Araújo viu cair pela metade o volume de leite produzido por suas vacas no último ano. "Eu tirava bem mais antes. Agora elas tão fraquinhas demais, meu filho", lamenta.
Novo mapa do leite
Produção de leite deslancha no Nordeste
Autor(es): Por Murillo Camarotto | De Imperatriz e Ribamar Fiquene (MA)
Valor Econômico - 29/09/2011
A produção de leite no Nordeste cresceu 89,5%, muito acima dos 54,8% da média nacional. Depois de aceitar a contragosto 13 vacas leiteiras como pagamento de uma dívida, Renato José Pereira acabou se tornando, dez anos depois, um dos maiores produtores do sudeste do Maranhão
Cansado de um credor que o "enrolava" havia alguns meses, o empresário mineiro Renato José Pereira acabou aceitando, relutante, 13 vacas leiteiras como pagamento da dívida. Na época, 2002, ele ainda era "carne nova" no sudeste do Maranhão, onde começava a criar gado de corte. Quase dez anos depois, Pereira é um dos principais produtores da região que recentemente passou a ser chamada, com um certo exagero, de "nova fronteira do leite no Nordeste". Luminosidade elevada, solo de boa qualidade e período seco curto (entre três e quatro meses no ano) favorecem a pecuária leiteira.
Puxada pelo crescimento do consumo das famílias, a produção de leite nordestina aumentou 89,5% entre 2000 e 2010, bem acima dos 54,8% da média nacional. No período, os Estados da região colocaram 2 bilhões de litros de "leite novo" no mercado brasileiro, quase o mesmo volume acrescentado pelo Sudeste, o maior produtor do país. O cenário positivo tem incentivado investimentos de laticínios regionais.
A principal bacia leiteira do Maranhão está na chamada região tocantina, próxima às divisas com Tocantins e Pará e distante mais de 500 quilômetros da capital, São Luís. A fazenda Medalha Milagrosa fica em Ribamar Fiquene. De lá saem todos os dias, em média, 950 litros de leite, volume que, apesar de não saltar aos olhos, põe Pereira entre os maiores da região. "A produção aqui ainda é muito picada. Tem gente que vende três litros por dia", conta Osmani Ferreira, gerente do laticínio Palate, o mais importante do Maranhão.
Segundo estimativas da Embrapa, o Maranhão produziu quase 362 milhões de litros no ano passado, o quarto maior volume do Nordeste. Nos últimos anos, porém, o Estado vem ampliando sua fatia no bolo da produção regional, assim como Bahia (1,3 bilhão de litros) e Pernambuco (861 milhões de litros), os dois maiores produtores. Já o Ceará, o terceiro, com 445 milhões de litros, perde espaço. Segundo Alexandre Ataíde, presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados do Maranhão (Sindileite), a previsão é de um aumento de 15% no volume beneficiado este ano sobre 2010.
"É importante lembrar que viemos de uma base pequena, o que explica parte desse crescimento elevado. As principais bacias já estavam desenvolvidas nos anos anteriores, enquanto que o Maranhão estava muito aquém", diz. A formalização de muitos produtores, especialmente os menores, também ajuda a engordar os números do Estado.
É o caso de Serafim Araújo, que além de produtor de leite é dono de uma mercearia. Há pouco mais de um ano, ele ainda vendia na porta do estabelecimento os cerca de 250 litros tirados por dia em sua fazenda, em Imperatriz. Com o aperto da fiscalização, passou a entregar o leite à Palate, que chegou à cidade em fevereiro de 2010. "Antes conseguia mais de R$ 1 por litro. Agora não passa de R$ 0,70", queixa-se, carrancudo.
Já para Renato Pereira, a instalação da Palate, controlada pelo grupo paulista CBA, foi o divisor de águas da bacia leiteira local. "A história mudou, passou a ter mais seriedade a produção. Pagamento em dia, preço justo. Antes, o produtor era refém dos laticínios pequenos", recorda o fazendeiro, hoje com um rebanho de 150 animais da raça Girolando. "Até um ano e meio atrás, pagavam R$ 0,30 no litro do leite, o que não compensa nem você dar o que comer à vaca. O produtor não investia", acrescenta ele, que diz ter aplicado R$ 500 mil no negócio de leite.
Com capacidade para beneficiar 130 mil litros por dia, a Palate compra de mais de mil produtores espalhados em 21 cidades da bacia de Imperatriz. A coleta só é feita nas 350 fazendas que têm os tanques de resfriamento fornecidos pela empresa.
Ainda se preparando para sua estreia no setor leiteiro, a Sabe Alimentos, do grupo Albano Franco, de Sergipe, já distribuiu 135 tanques de resfriamento. A empresa investe R$ 80 milhões em uma planta com capacidade para 330 mil litros diários em Muribeca, a 72 quilômetros de Aracaju. Vai produzir leite longa vida, iogurtes, leite condensado, creme de leite e bebidas lácteas.
O diretor-executivo da empresa, Albérgio Lima, acredita que todo o leite para a operação poderá vir de Sergipe, onde a produção cresceu 170% nos últimos 10 anos. "Há um ano e meio estamos desenvolvendo nossos fornecedores com investimentos em infraestrutura, na higiene da ordenha, nos insumos e utensílios e em genética, na qual cada propriedade recebe treinamento para inseminação e botijão com 30 doses iniciais de sêmen", detalhou o executivo, por e-mail.
Segundo maior produtor do Nordeste e oitavo do país, Pernambuco é onde se verificam os maiores índices de crescimento da produção de leite, que triplicou entre 2000 e 2010, especialmente no agreste do Estado. O avanço pode ser explicado em parte pelo elevado consumo de queijo no Estado, o maior do Nordeste. De acordo com o Sebrae, os pernambucanos gastam cerca R$ 25 milhões por mês com queijo. Na Bahia, com população 60% maior, o gasto mensal fica em torno de R$ 16,5 milhões.
Atento ao cenário promissor, o laticínio Faco, instalado em Ribeirão, a 90 quilômetros do Recife, investe no aumento da produção de queijos, entre os quais mussarela, fresco, coalho e minas. O proprietário, Horácio Franca Corrêa, espera dobrar até o início de 2012 a capacidade de beneficiamento, hoje de 15 mil litros/ dia.
Na Bahia, principal produtora de leite do Nordeste, os laticínios mais importantes também investem em expansão, segundo Francisco Benjamin Filho, gerente de programas do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). O problema no Estado, contudo, é a produtividade do rebanho, a segunda pior do Nordeste. Segundo o IBGE, cada vaca baiana produziu 555 litros de leite em 2009, contra uma média nacional de 1.297 litros.
"Dois terços da área do Estado da Bahia estão no semi-árido, uma região sem recursos e sem clima para a produção de leite. Lá é que a gente encontra a famosa vaca "pé duro", como é conhecido o animal adaptado a esse meio", explica Benjamin.
O período sem chuvas é crítico para a cadeia do leite, pois a pastagem seca não oferece ao animal os nutrientes necessários à produção. Por esse motivo é fundamental que os produtores invistam na estocagem de alimentos, o que ainda é raro no Nordeste. "O produtor tem que fazer sua parte, com genética e alimentação. Sem suplemento alimentar, a produção cai estupidamente no tempo seco", concorda o secretário de Desenvolvimento Econômico de Imperatriz, Sabino Costa.
Sem se preocupar com "essas coisas de nutriente", Serafim Araújo viu cair pela metade o volume de leite produzido por suas vacas no último ano. "Eu tirava bem mais antes. Agora elas tão fraquinhas demais, meu filho", lamenta.
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Um enigma chamado "Classe C"
Transcrevo abaixo matéria a respeito desse enigma que atormenta o jornalismo pátrio: a Classes C.
Classe C começa a vencer a resistência aos plásticos
Autor(es): Por Lázaro de Souza | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 29/09/2011
Embora ainda tenham certa resistência ao uso de cartão de crédito, as classes C, D e E vêm mudando esse comportamento. A estabilidade econômica e o fim da inflação, aliadas ao aumento da renda dos últimos anos, fizeram com que esse público passasse a enxergar no cartão um instrumento confiável de crédito. "Hoje, a cada 12 cartões de crédito expedidos pelas administradoras, sete estão nas mãos de pessoas da classe C", afirma Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular, especializado em estudos das camadas C, D e E.
Diferentemente das classes A e B que usam o cartão por uma questão de comodidade, para o consumidor das classes C, D e E, o cartão é efetivamente um instrumento de crédito. "O cartão funciona como um tapa buraco. Esse mecanismo permite parcelar a compra em três vezes sem juros", explica Meirelles
O levantamento da Data Popular mostra que 49% dos consumidores das classes C e D sentem-se confortáveis com o uso de cartão de crédito, ante 67% das pessoas das classes A e B. Para Meirelles, algumas pessoas das classes mais populares tiveram experiências ruins com esse instrumento de crédito e isso criou resistências ao cartão. Isso sem falar no fato de que algumas delas compraram compulsivamente e depois enfrentaram dificuldade na hora do pagamento, o que contribuiu para gerar uma percepção negativa do meio de pagamento. "Há casos de pessoas que chegam ao extremo de pedir aos familiares para esconder o cartão para não "cair na tentação" de usá-lo de forma descontrolada", conta o diretor do Data Popular.
Há também uma mensagem equivocada por parte das administradoras. "Em alguns casos, elas desqualificam o usuário pobre, com as classificações de classe "platinum", "ouro" e outras denominações. Assim, dão a entender que quem não tem aquelas categorias de cartões estão alijados do processo consumidor", diz. "Isso está mudando com as classificações por afinidades e grupos, não mais focados na renda e, sim, em categorias".
Outra pesquisa recente da Visa confirma o expressivo aumento no uso dos cartões entre as classes de renda mais baixas. Em 2010, 71% das compras feitas pela classe C na internet e 54% dos pagamentos de passagens aéreas foram feitos com cartão de crédito. O estudo aponta ainda que os hábitos de utilização dos cartões são bem semelhantes aos das demais classes sociais.
O estudo da Visa aponta a existência de um amplo espaço para crescimento. Nas áreas de restaurantes e lojas de conveniências, por exemplo, os pagamentos em dinheiro pela classe C ainda são maioria: 69% e 76%, respectivamente. "Gradativamente, as classes de renda mais baixas abandonarão dinheiro e cheques como meio de pagamento", avalia Percival Jabotá, diretor de produtos sênior da Visa do Brasil.
Classe C começa a vencer a resistência aos plásticos
Autor(es): Por Lázaro de Souza | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 29/09/2011
Embora ainda tenham certa resistência ao uso de cartão de crédito, as classes C, D e E vêm mudando esse comportamento. A estabilidade econômica e o fim da inflação, aliadas ao aumento da renda dos últimos anos, fizeram com que esse público passasse a enxergar no cartão um instrumento confiável de crédito. "Hoje, a cada 12 cartões de crédito expedidos pelas administradoras, sete estão nas mãos de pessoas da classe C", afirma Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular, especializado em estudos das camadas C, D e E.
Diferentemente das classes A e B que usam o cartão por uma questão de comodidade, para o consumidor das classes C, D e E, o cartão é efetivamente um instrumento de crédito. "O cartão funciona como um tapa buraco. Esse mecanismo permite parcelar a compra em três vezes sem juros", explica Meirelles
O levantamento da Data Popular mostra que 49% dos consumidores das classes C e D sentem-se confortáveis com o uso de cartão de crédito, ante 67% das pessoas das classes A e B. Para Meirelles, algumas pessoas das classes mais populares tiveram experiências ruins com esse instrumento de crédito e isso criou resistências ao cartão. Isso sem falar no fato de que algumas delas compraram compulsivamente e depois enfrentaram dificuldade na hora do pagamento, o que contribuiu para gerar uma percepção negativa do meio de pagamento. "Há casos de pessoas que chegam ao extremo de pedir aos familiares para esconder o cartão para não "cair na tentação" de usá-lo de forma descontrolada", conta o diretor do Data Popular.
Há também uma mensagem equivocada por parte das administradoras. "Em alguns casos, elas desqualificam o usuário pobre, com as classificações de classe "platinum", "ouro" e outras denominações. Assim, dão a entender que quem não tem aquelas categorias de cartões estão alijados do processo consumidor", diz. "Isso está mudando com as classificações por afinidades e grupos, não mais focados na renda e, sim, em categorias".
Outra pesquisa recente da Visa confirma o expressivo aumento no uso dos cartões entre as classes de renda mais baixas. Em 2010, 71% das compras feitas pela classe C na internet e 54% dos pagamentos de passagens aéreas foram feitos com cartão de crédito. O estudo aponta ainda que os hábitos de utilização dos cartões são bem semelhantes aos das demais classes sociais.
O estudo da Visa aponta a existência de um amplo espaço para crescimento. Nas áreas de restaurantes e lojas de conveniências, por exemplo, os pagamentos em dinheiro pela classe C ainda são maioria: 69% e 76%, respectivamente. "Gradativamente, as classes de renda mais baixas abandonarão dinheiro e cheques como meio de pagamento", avalia Percival Jabotá, diretor de produtos sênior da Visa do Brasil.
Ser professor...
Não há salário que pague o trabalho de um professor. Não, não me refiro aos professores universitários. Desculpem-me colegas! Refiro-me aos mestres (na verdade, mestras, pois, a maioria são mulheres) que cuidam das crianças e adolescentes. Não que o que fazemos nós não seja importante. Mas o que fazem eles e elas? Meu Deus! Toda dia quando deixo minha filha na escola, olho com referência as professoras de sua escola.
Todos nós deveríamos, como sociedade, tratar melhor aquelas que alimentam a alma de nossos filhos. E é em homenagem às professoras de crianças e adolescentes que eu coloco o vídeo abaixo. Está em espanhol, mas você vai entender. É tão lindo e singelo que, talvez, você fique a pensar muito tempo após assisti-lo.
Não, não é nada de muito dramático. Trata-se de um fato que deve ocorrer aos montes em algumas áreas do Brasil. No vídeo, uma professora tenta acalmar os seus alunos e lhes dar alguma proteção enquanto um tiroteio ocorre ao lado.
O que a professora faz, como ela age, é uma demonstração tão grande de responsabilidade e cuidado do outro que a gente fica com vergonha de nossas pequenas mesquinharias e indiferenças.
O fato se deu no México. Como você sabe, o país está sendo arrasado por uma guerra entre o governo e os narcotraficantes e entre estes. A vítima, como sempre, é a população inocente.
Todos nós deveríamos, como sociedade, tratar melhor aquelas que alimentam a alma de nossos filhos. E é em homenagem às professoras de crianças e adolescentes que eu coloco o vídeo abaixo. Está em espanhol, mas você vai entender. É tão lindo e singelo que, talvez, você fique a pensar muito tempo após assisti-lo.
Não, não é nada de muito dramático. Trata-se de um fato que deve ocorrer aos montes em algumas áreas do Brasil. No vídeo, uma professora tenta acalmar os seus alunos e lhes dar alguma proteção enquanto um tiroteio ocorre ao lado.
O que a professora faz, como ela age, é uma demonstração tão grande de responsabilidade e cuidado do outro que a gente fica com vergonha de nossas pequenas mesquinharias e indiferenças.
O fato se deu no México. Como você sabe, o país está sendo arrasado por uma guerra entre o governo e os narcotraficantes e entre estes. A vítima, como sempre, é a população inocente.
Arma não é brinquedo
Existem, segundo estimativas conservadoras, 190 milhões de armas em mãos privadas em todo o mundo. No Brasil, quantas são? Nem me arrisco a especular. Mas todos nós sabemos, por experiência, que não é coisa pouca.
Quando ocorrem tragédias como aquela do menino que baleou a professora e, em seguida, suicidou, é que acordamos para esta brutal realidade.
A arma do adulto pode se transformar em brinquedo na mão de uma criança. Brinquedo? Arma não é brinquedo.
Os recursos do pré-sal
Trata-se de um debate importante para ficar restrito aos limites do Congresso. Por isso, abaixo, transcrevo artigo de Alon Feuerwerker sobre o assunto. Qual? Os royalties do pré-sal. Confira!
O que falta mostrar (27/09)
Alon Feuerwerker
Será que as unidades federativas privilegiadas até agora na repartição do dinheiro da extração petrolífera, no pré-sal ou nas fontes tradicionais, estão gastando bem?
O Congresso Nacional está para apreciar o veto à lei que democratiza o acesso aos royalties do petróleo do pré-sal. Nesse debate o governo anterior avaliou mal a relação de forças e legou uma encrenca de bom tamanho.
O erro essencial do então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, foi imaginar que um acordo dele com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, bastaria para pôr fim à disputa entre os estados pela verba das novas províncias petrolíferas.
Ou talvez o erro maior tenha sido do próprio Cabral, por achar que acertando os ponteiros com Lula liquidaria o assunto.
O modelo para aquela negociação reproduziu uma falha mais estrutural: considerar que o tema é monopólio dos assim chamados estados produtores. Ou extratores, numa definição mais precisa. Pois o homem não produz petróleo. Extrai.
O pré-sal é do Brasil, e o Brasil tem 26 estados e um Distrito Federal. Como ficou demonstrado nas votações sobre o assunto no Congresso. Cada pedacinho do Brasil deseja, com legitimidade, participar do progresso trazido pela nova riqueza.
Não basta Cabral repetir à exaustão que o formato por ele defendido reproduz os termos do acordo costurado com Lula. O governador ainda não mostrou que a proposta original do Executivo é a melhor para o Brasil.
E dificilmente conseguirá mostrar, como provam as dificuldades no Legislativo. Sobrou tempo aos defensores do texto original para vender o peixe, mas não está fácil.
A Câmara representa o povo e o Senado representa a Federação. Ou, pelo menos, deveriam representar. Nem sempre conseguem, mas quando a oportunidade se coloca os políticos costumam farejar com antecedência.
Não há como o político chegar no seu estado ou município e dizer que, simplesmente, abriu mão dos recursos. Essa lógica vale para todos os políticos. Dos estados hoje com a parte do leão e dos demais. E estes são em bem mais número.
E ainda falta aprofundar outro ângulo da polêmica.
Um problema bem discutido na batalha dos royalties do pré-sal é quanto deveria caber a cada um.
Mas há outro ponto, talvez até mais importante. Será que as unidades federativas privilegiadas até agora na repartição do dinheiro da extração petrolífera, no pré-sal ou nas fontes tradicionais, estão gastando bem?
A educação e a saúde melhoraram nesses estados? Há algum projeto social revolucionário financiado com os recursos? Das mistificações sabemos, mas, e no essencial? Como tem sido, por exemplo, a evolução do desempenho no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) dos estudantes das regiões produtoras?
É o que falta aos estados produtores mostrar. Como não o fizeram, pelo menos até agora, abrem ainda mais caminho à aspiração legítima dos demais.
A favor dos produtores/extratores pode-se argumentar sobre a necessidade de mais investimentos públicos em regiões expostas ao crescimento econômico proporcionado pelo petróleo.
Ao que é possível também contra-argumentar: a elevação de receitas gerada pelo aquecimento da economia deveria dar conta desse recado. Impostos existem para isso mesmo.
Se o petróleo é um recurso estratégico, talvez fosse mais adequado concentrar o manejo das receitas nas mãos da União. Mas a tendência no Congresso vai no sentido oposto. Usar o pedaço que cabe à União para acomodar politicamente as disputas entre estados.
Será uma pena se a solução para o impasse caminhar por aí. Os federalistas que me perdoem, mas neste caso talvez seja mesmo melhor deixar o grosso do dinheiro na esfera federal e vincular a destinação. Para a saúde, a educação e o desenvolvimento científico-tecnológico.
Melhor que o quadro atual, de pulverização e desperdício.
Estou errado? Tragam números que comprovem o erro.
O que falta mostrar (27/09)
Alon Feuerwerker
Será que as unidades federativas privilegiadas até agora na repartição do dinheiro da extração petrolífera, no pré-sal ou nas fontes tradicionais, estão gastando bem?
O Congresso Nacional está para apreciar o veto à lei que democratiza o acesso aos royalties do petróleo do pré-sal. Nesse debate o governo anterior avaliou mal a relação de forças e legou uma encrenca de bom tamanho.
O erro essencial do então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, foi imaginar que um acordo dele com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, bastaria para pôr fim à disputa entre os estados pela verba das novas províncias petrolíferas.
Ou talvez o erro maior tenha sido do próprio Cabral, por achar que acertando os ponteiros com Lula liquidaria o assunto.
O modelo para aquela negociação reproduziu uma falha mais estrutural: considerar que o tema é monopólio dos assim chamados estados produtores. Ou extratores, numa definição mais precisa. Pois o homem não produz petróleo. Extrai.
O pré-sal é do Brasil, e o Brasil tem 26 estados e um Distrito Federal. Como ficou demonstrado nas votações sobre o assunto no Congresso. Cada pedacinho do Brasil deseja, com legitimidade, participar do progresso trazido pela nova riqueza.
Não basta Cabral repetir à exaustão que o formato por ele defendido reproduz os termos do acordo costurado com Lula. O governador ainda não mostrou que a proposta original do Executivo é a melhor para o Brasil.
E dificilmente conseguirá mostrar, como provam as dificuldades no Legislativo. Sobrou tempo aos defensores do texto original para vender o peixe, mas não está fácil.
A Câmara representa o povo e o Senado representa a Federação. Ou, pelo menos, deveriam representar. Nem sempre conseguem, mas quando a oportunidade se coloca os políticos costumam farejar com antecedência.
Não há como o político chegar no seu estado ou município e dizer que, simplesmente, abriu mão dos recursos. Essa lógica vale para todos os políticos. Dos estados hoje com a parte do leão e dos demais. E estes são em bem mais número.
E ainda falta aprofundar outro ângulo da polêmica.
Um problema bem discutido na batalha dos royalties do pré-sal é quanto deveria caber a cada um.
Mas há outro ponto, talvez até mais importante. Será que as unidades federativas privilegiadas até agora na repartição do dinheiro da extração petrolífera, no pré-sal ou nas fontes tradicionais, estão gastando bem?
A educação e a saúde melhoraram nesses estados? Há algum projeto social revolucionário financiado com os recursos? Das mistificações sabemos, mas, e no essencial? Como tem sido, por exemplo, a evolução do desempenho no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) dos estudantes das regiões produtoras?
É o que falta aos estados produtores mostrar. Como não o fizeram, pelo menos até agora, abrem ainda mais caminho à aspiração legítima dos demais.
A favor dos produtores/extratores pode-se argumentar sobre a necessidade de mais investimentos públicos em regiões expostas ao crescimento econômico proporcionado pelo petróleo.
Ao que é possível também contra-argumentar: a elevação de receitas gerada pelo aquecimento da economia deveria dar conta desse recado. Impostos existem para isso mesmo.
Se o petróleo é um recurso estratégico, talvez fosse mais adequado concentrar o manejo das receitas nas mãos da União. Mas a tendência no Congresso vai no sentido oposto. Usar o pedaço que cabe à União para acomodar politicamente as disputas entre estados.
Será uma pena se a solução para o impasse caminhar por aí. Os federalistas que me perdoem, mas neste caso talvez seja mesmo melhor deixar o grosso do dinheiro na esfera federal e vincular a destinação. Para a saúde, a educação e o desenvolvimento científico-tecnológico.
Melhor que o quadro atual, de pulverização e desperdício.
Estou errado? Tragam números que comprovem o erro.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Rock in Rio?
Sobre o aumento do IPI dos importados
Lá no post O Dem é a favor do emprego, mas não no Brasil postei um comentário em resposta ao Guru e ao Daniel.
A dor pela morte de alguém próximo...
Habitus e reflexividade segundo Margareth Archer
Lí o texto abaixo há algum tempo. Na época, comentei com alguns alunos. Dia desses, na Cooperativa, encontrei o intrépido Cadu e ele me falou dessa tradução. Beleza! Então, transcrevo-a para que você também confira o texto que é uma interessante abordagem da instigante questão sociológica que é a reflexividade.
Dado que, como já se disse alhures a respeito de Freud, Bourdieu faz parte da atmosfera de nosso tempo nas ciências sociais, os comentários da autora a respeito do conceito de habitus são, do meu modesto e provinciano ponto de vista, aportes para uma discussão mais fecundo sobre a articulação entre disposições e reflexividade.
Bueno, deixemos de coisas e vamos ao texto?
Habitus, reflexividade e realismo*
Margareth Archer
O papel do hábito - a ação habitual, rotinizada ou costumeira - possui uma trajetória extremamente longa na teoria social. Os teóricos possuem uma dívida com Charles Camic (1986) por ter ele demonstrado que os "hábitos" desempenharam um papel maior nas teorizações clássicas do que é geralmente reconhecido. Sua definição também é agradavelmente direta e ecumênica: "O termo 'hábito' geralmente denomina uma disposição mais ou menos auto-realizadora ou uma tendência a engajar-se em uma forma de ação previamente adotada ou adquirida" (1986:1044). Contudo, é difícil concordar com suas afirmações ousadas de que "a sociologia contemporânea praticamente dispensou o conceito" (1986:1040); de que "não há necessidade de seguir adiante no tempo com essa investigação" (1986:1076) - referindo-se a além das primeiras décadas do século XX - ou aceitar que o fim do hábito na teoria social resultou de uma bem-sucedida apropriação por parte da psicologia behaviorista, apoiada pela substituição, por Talcott Parsons, da habituação pela regulação normativa. Mais difícil ainda de aceitar é o ponto de vista de Camic acerca da reflexividade como usurpadora da ação habitual: "O modelo reflexivo já passou a parecer tão obviamente adequado que aqueles que o utilizam raramente se preocupam em fornecer uma defesa razoável, ou mesmo uma justificação explícita, da prática de uniformemente projetar a conduta humana de acordo com esse único molde" (1986:1041). No que segue, quero questionar a morte do hábito; pretendo ainda sugerir que há muitas razões para se atentar para a reflexividade atualmente; por fim, buscarei desafiar a noção de que hábito e reflexividade configuraram uma relação de soma zero ao longo dos últimos cem anos de teorização.
Quando escrevia, em 1986, era compreensível que Camic ainda não pudesse detectar a nascente revitalização do pragmatismo, porém era menos admissível que não tivesse se dado conta de que a reformulação do habitus operada por Bourdieu já começava a se tornar o que Scott Lash chamou de "o único jogo cultural na praça" (há uma única referência no artigo de Camic à Reprodução (1970)). Além disso, havia bons motivos, que foram reforçados ao longo das duas últimas décadas do século XX, para que se atentasse à ação reflexiva. Contudo, os que aqui apresentarei não são idênticos àqueles que Alexander, já intuindo algo, expôs em 1982 (1982:67ss). Finalmente, a atitude predominante na teoria social está longe de ser um endosso de um molde único da ação reflexiva, mas, em vez disso, o que vemos são esforços bastante distintos no sentido de hibridizar hábito e reflexividade.
Há, entretanto, um quebra cabeças envolvendo certas convergências teóricas que pavimentaram o caminho para a popularidade desses esforços atuais de hibridização. Por um lado, os pragmatistas modernos têm se tornado muito mais preocupados não com a rotina, mas, como no título de seu livro mais emblemático, com A Criatividade da Ação (Joas [1992] 1996). Inversamente, vários adeptos do realismo crítico, formados na base do "modelo transformacional da ação social" (Bhaskar [1979] 1989) e outros pela "abordagem morfogenética" (Archer 1979, 1988, 1995), estão hoje entre os principais defensores das noções de ação rotineira, hábitos e habitus. Em outras palavras, pragmatistas e realistas aparecem "nos lados errados" na discussão acerca da reflexividade - com os pragmatistas cada vez mais propensos a enfatizar a contribuição da ação inovadora, ao passo que certos realistas são firmes defensores das disposições habituais.
Esta sobreposição carece de uma explicação. Temos a impressão de que os dois lados buscam fortalecer seus flancos mais vulneráveis numa época de rápidas mudanças. Os pragmatistas estadunidenses clássicos sempre mantiveram que a reflexividade (exercida por meio da conversação interna) surgia no momento em que a ação habitual era bloqueada por circunstâncias problemáticas. Poder-se-ia argumentar que a globalização cria muito mais problemas refratários a respostas rotineiras tradicionais e, portanto, gera um aumento de deliberações reflexivas. Contudo, isso seria perfeito demais, pois Joas enfatiza a criatividade situada de toda ação (em oposição a orientações de ação propositada, normativa ou racional-instrumental) sem incrementar o papel da reflexividade, já que supõe que a criatividade - cuja falta de definição nos instiga - não envolve premeditação.
Inversamente, o realismo crítico entrou em cena oferecendo uma ontologia de profundidade (Bhaskar [1979] 1989), mas tem enfrentado duas críticas recorrentes. Por um lado, a acusação de reificação tem sido constante, levando alguns a enfatizar apenas a análise sincrônica. Isso fica claríssimo no trabalho de Manicas, que, apesar de incluir realismo no título de seu último livro, A Realist Philosophy of Social Science, concentra-se exclusivamente na dimensão sincrônica, tratando a distribuição diacrônica da estruturação dos papéis, regras e recursos, e interesses como "questões a serem trabalhadas" (Manicas 2006:75ss). Indagações sobre como tal estruturação adquiriu essa conformação e não outra permanecem sem resposta. Por outro lado, apesar da insistência do realismo na dependência da ação e na relacionalidade, de modo geral os realistas enxergam as relações sociais como fundadas em interesses objetivos compartilhados e nos seus efeitos associados sobre a motivação da ação. Em suma, o flanco mais vulnerável do realismo resume-se à ausência de uma teoria robusta e relacional da integração social. Parece que a invocação, de resto intrigante, do hábito, feita por tantos realistas, constitui uma tentativa de preencher esse vazio.
O que estes desenvolvimentos buscam satisfazer são as objeções basicamente razoáveis - embora muitas vezes exageradamente unilaterais - no sentido de apontar que as influências da ordem social sobre a agência não devem ser localizadas nem inteiramente no interior dos agentes nem inteiramente fora deles. O primeiro tem causado certo incômodo para o pragmatismo; o segundo para o realismo. Apesar da alta proporção de socialidade internalizada, sobretudo no pragmatismo de Mead, o próprio fato de que os agentes enfrentam obstáculos externos que frustram suas rotinas habituais e excedem seus repertórios habituais significa que nem todas as influências sociais podem ser subcutâneas - o que deixaria o "eu" espontâneo permanentemente desempregado. O constante jogo, no pragmatismo contemporâneo, entre problemas situados e criatividade situada nivela e distribui a carga de trabalho entre o "eu" (sempre muito mais um realizador de tarefas do que um passional id freudiano) e o Outro Generalizado, equilibrando o social interno e social externo.
Por sua vez, o realismo nunca localizou a socialidade inteiramente fora da agência; se tivesse feito isso, suas referências frequentes à mistificação ideológica e, de fato, às falácias epistêmicas, seriam incompreensíveis. Aqueles que já tentaram fazer a crítica de que o realismo filia-se ao individualismo monádico num mundo social totalmente exterior (Dépelteau, 2008; King, 1999, 2007) têm dificuldade para explicar a importância que o realismo sempre atribuiu à crítica explanatória e ideológica (Bhaskar, 1989:60-71; Collier, 1994:101-104, 170-190). No entanto, a recente incorporação do hábito e do habitus presumivelmente dá conta deste tipo de crítica ao permitir que uma dose maior do social seja injetada sob a pele do agente.
A minha própria versão da teoria social realista - a abordagem morfogenética - não é muito receptiva ao atual entusiasmo em relação à ação habitual por parte dos realistas por duas razões. As duas dizem respeito àquilo que a abordagem morfogenética é e faz: (i) trata-se de uma moldura explanatória utilizada para examinar o jogo entre estrutura e agência e seus resultados e (ii) trata-se de uma caixa de ferramentas para o desenvolvimento de histórias analíticas da emergência de determinadas formações sociais, estruturas institucionais e formas organizacionais. Em outras palavras, a abordagem morfogenética é, ao mesmo tempo, um programa explicativo (o complemento metodológico do realismo crítico) e uma forma de dar conta das trajetórias e dinâmicas das formações sociais.
Morfogênese refere-se "àqueles processos que tendem a elaborar ou modificar a forma, estrutura ou estado de um dado sistema" (Buckley, 1967:58), ao passo que a morfostase refere-se a processos no interior de um sistema complexo que tendem a preservá-lo sem mudanças. Como uma moldura explicativa, a abordagem morfogenética endossa uma ontologia estratificada para estruturas (Archer, 1995), culturas (Archer, 1988) e agentes (Archer, 2000), dado que todas possuem propriedades e poderes emergentes e irredutíveis - e explica todo resultado social como o produto de suas relações. Os resultados, que podem ser amplamente reprodutivos ou largamente transformativos, dependem do entrelaçamento da estrutura, da cultura e da agência, mas sem considerá-las inseparáveis, como na "conflação central" (Archer, 1995:93-134) de Giddens, Bourdieu e Beck, que resulta num amálgama que impede o exame de sua interação. Tampouco se trata de codeterminismo, o que sugeriria uma abordagem dualística - no sentido de literalmente possuir duas abordagens (Dépelteau, 2008)1; a morfogênese não é senão um dualismo analítico. Fundamentalmente, o que se perde com tal codeterminismo é, inter alia, a dupla morfogênese na qual os próprios atores mudam no processo em que tentam ativamente transformar a ordem social. Isto pode ser visto como uma das principais formas não meadianas pelas quais o social é interiorizado.
Meu objetivo genérico consiste em dar conta das formas de interação que geram a morfogênese, num extremo e a morfostase, no outro, seja no nível micro, meso ou macrossocial. Para discutir o impacto dessa abordagem realista para a relação entre hábito e reflexividade, será necessário recorrer a ela como, simultaneamente, uma moldura explicativa e uma história analítica da emergência. A discussão de ambos os aspectos requer uma breve inspeção do ciclo morfogenético básico. A partir daí, primeiro situarei a importância diferencial do hábito sobre o continuum morfostático-morfogenético, que é também a trajetória histórica do mundo desenvolvido. Segundo, efetuarei críticas à natureza ahistórica do debate hábito/ação habitual, o que me permitirá também situar a importância da reflexividade no panorama histórico da transformação estrutural e agêntica (i.e. a dupla morfogênese e suas consequências epocais).
LEIA O TEXTO COMPLETO AQUI.
Dado que, como já se disse alhures a respeito de Freud, Bourdieu faz parte da atmosfera de nosso tempo nas ciências sociais, os comentários da autora a respeito do conceito de habitus são, do meu modesto e provinciano ponto de vista, aportes para uma discussão mais fecundo sobre a articulação entre disposições e reflexividade.
Bueno, deixemos de coisas e vamos ao texto?
Habitus, reflexividade e realismo*
Margareth Archer
O papel do hábito - a ação habitual, rotinizada ou costumeira - possui uma trajetória extremamente longa na teoria social. Os teóricos possuem uma dívida com Charles Camic (1986) por ter ele demonstrado que os "hábitos" desempenharam um papel maior nas teorizações clássicas do que é geralmente reconhecido. Sua definição também é agradavelmente direta e ecumênica: "O termo 'hábito' geralmente denomina uma disposição mais ou menos auto-realizadora ou uma tendência a engajar-se em uma forma de ação previamente adotada ou adquirida" (1986:1044). Contudo, é difícil concordar com suas afirmações ousadas de que "a sociologia contemporânea praticamente dispensou o conceito" (1986:1040); de que "não há necessidade de seguir adiante no tempo com essa investigação" (1986:1076) - referindo-se a além das primeiras décadas do século XX - ou aceitar que o fim do hábito na teoria social resultou de uma bem-sucedida apropriação por parte da psicologia behaviorista, apoiada pela substituição, por Talcott Parsons, da habituação pela regulação normativa. Mais difícil ainda de aceitar é o ponto de vista de Camic acerca da reflexividade como usurpadora da ação habitual: "O modelo reflexivo já passou a parecer tão obviamente adequado que aqueles que o utilizam raramente se preocupam em fornecer uma defesa razoável, ou mesmo uma justificação explícita, da prática de uniformemente projetar a conduta humana de acordo com esse único molde" (1986:1041). No que segue, quero questionar a morte do hábito; pretendo ainda sugerir que há muitas razões para se atentar para a reflexividade atualmente; por fim, buscarei desafiar a noção de que hábito e reflexividade configuraram uma relação de soma zero ao longo dos últimos cem anos de teorização.
Quando escrevia, em 1986, era compreensível que Camic ainda não pudesse detectar a nascente revitalização do pragmatismo, porém era menos admissível que não tivesse se dado conta de que a reformulação do habitus operada por Bourdieu já começava a se tornar o que Scott Lash chamou de "o único jogo cultural na praça" (há uma única referência no artigo de Camic à Reprodução (1970)). Além disso, havia bons motivos, que foram reforçados ao longo das duas últimas décadas do século XX, para que se atentasse à ação reflexiva. Contudo, os que aqui apresentarei não são idênticos àqueles que Alexander, já intuindo algo, expôs em 1982 (1982:67ss). Finalmente, a atitude predominante na teoria social está longe de ser um endosso de um molde único da ação reflexiva, mas, em vez disso, o que vemos são esforços bastante distintos no sentido de hibridizar hábito e reflexividade.
Há, entretanto, um quebra cabeças envolvendo certas convergências teóricas que pavimentaram o caminho para a popularidade desses esforços atuais de hibridização. Por um lado, os pragmatistas modernos têm se tornado muito mais preocupados não com a rotina, mas, como no título de seu livro mais emblemático, com A Criatividade da Ação (Joas [1992] 1996). Inversamente, vários adeptos do realismo crítico, formados na base do "modelo transformacional da ação social" (Bhaskar [1979] 1989) e outros pela "abordagem morfogenética" (Archer 1979, 1988, 1995), estão hoje entre os principais defensores das noções de ação rotineira, hábitos e habitus. Em outras palavras, pragmatistas e realistas aparecem "nos lados errados" na discussão acerca da reflexividade - com os pragmatistas cada vez mais propensos a enfatizar a contribuição da ação inovadora, ao passo que certos realistas são firmes defensores das disposições habituais.
Esta sobreposição carece de uma explicação. Temos a impressão de que os dois lados buscam fortalecer seus flancos mais vulneráveis numa época de rápidas mudanças. Os pragmatistas estadunidenses clássicos sempre mantiveram que a reflexividade (exercida por meio da conversação interna) surgia no momento em que a ação habitual era bloqueada por circunstâncias problemáticas. Poder-se-ia argumentar que a globalização cria muito mais problemas refratários a respostas rotineiras tradicionais e, portanto, gera um aumento de deliberações reflexivas. Contudo, isso seria perfeito demais, pois Joas enfatiza a criatividade situada de toda ação (em oposição a orientações de ação propositada, normativa ou racional-instrumental) sem incrementar o papel da reflexividade, já que supõe que a criatividade - cuja falta de definição nos instiga - não envolve premeditação.
Inversamente, o realismo crítico entrou em cena oferecendo uma ontologia de profundidade (Bhaskar [1979] 1989), mas tem enfrentado duas críticas recorrentes. Por um lado, a acusação de reificação tem sido constante, levando alguns a enfatizar apenas a análise sincrônica. Isso fica claríssimo no trabalho de Manicas, que, apesar de incluir realismo no título de seu último livro, A Realist Philosophy of Social Science, concentra-se exclusivamente na dimensão sincrônica, tratando a distribuição diacrônica da estruturação dos papéis, regras e recursos, e interesses como "questões a serem trabalhadas" (Manicas 2006:75ss). Indagações sobre como tal estruturação adquiriu essa conformação e não outra permanecem sem resposta. Por outro lado, apesar da insistência do realismo na dependência da ação e na relacionalidade, de modo geral os realistas enxergam as relações sociais como fundadas em interesses objetivos compartilhados e nos seus efeitos associados sobre a motivação da ação. Em suma, o flanco mais vulnerável do realismo resume-se à ausência de uma teoria robusta e relacional da integração social. Parece que a invocação, de resto intrigante, do hábito, feita por tantos realistas, constitui uma tentativa de preencher esse vazio.
O que estes desenvolvimentos buscam satisfazer são as objeções basicamente razoáveis - embora muitas vezes exageradamente unilaterais - no sentido de apontar que as influências da ordem social sobre a agência não devem ser localizadas nem inteiramente no interior dos agentes nem inteiramente fora deles. O primeiro tem causado certo incômodo para o pragmatismo; o segundo para o realismo. Apesar da alta proporção de socialidade internalizada, sobretudo no pragmatismo de Mead, o próprio fato de que os agentes enfrentam obstáculos externos que frustram suas rotinas habituais e excedem seus repertórios habituais significa que nem todas as influências sociais podem ser subcutâneas - o que deixaria o "eu" espontâneo permanentemente desempregado. O constante jogo, no pragmatismo contemporâneo, entre problemas situados e criatividade situada nivela e distribui a carga de trabalho entre o "eu" (sempre muito mais um realizador de tarefas do que um passional id freudiano) e o Outro Generalizado, equilibrando o social interno e social externo.
Por sua vez, o realismo nunca localizou a socialidade inteiramente fora da agência; se tivesse feito isso, suas referências frequentes à mistificação ideológica e, de fato, às falácias epistêmicas, seriam incompreensíveis. Aqueles que já tentaram fazer a crítica de que o realismo filia-se ao individualismo monádico num mundo social totalmente exterior (Dépelteau, 2008; King, 1999, 2007) têm dificuldade para explicar a importância que o realismo sempre atribuiu à crítica explanatória e ideológica (Bhaskar, 1989:60-71; Collier, 1994:101-104, 170-190). No entanto, a recente incorporação do hábito e do habitus presumivelmente dá conta deste tipo de crítica ao permitir que uma dose maior do social seja injetada sob a pele do agente.
A minha própria versão da teoria social realista - a abordagem morfogenética - não é muito receptiva ao atual entusiasmo em relação à ação habitual por parte dos realistas por duas razões. As duas dizem respeito àquilo que a abordagem morfogenética é e faz: (i) trata-se de uma moldura explanatória utilizada para examinar o jogo entre estrutura e agência e seus resultados e (ii) trata-se de uma caixa de ferramentas para o desenvolvimento de histórias analíticas da emergência de determinadas formações sociais, estruturas institucionais e formas organizacionais. Em outras palavras, a abordagem morfogenética é, ao mesmo tempo, um programa explicativo (o complemento metodológico do realismo crítico) e uma forma de dar conta das trajetórias e dinâmicas das formações sociais.
Morfogênese refere-se "àqueles processos que tendem a elaborar ou modificar a forma, estrutura ou estado de um dado sistema" (Buckley, 1967:58), ao passo que a morfostase refere-se a processos no interior de um sistema complexo que tendem a preservá-lo sem mudanças. Como uma moldura explicativa, a abordagem morfogenética endossa uma ontologia estratificada para estruturas (Archer, 1995), culturas (Archer, 1988) e agentes (Archer, 2000), dado que todas possuem propriedades e poderes emergentes e irredutíveis - e explica todo resultado social como o produto de suas relações. Os resultados, que podem ser amplamente reprodutivos ou largamente transformativos, dependem do entrelaçamento da estrutura, da cultura e da agência, mas sem considerá-las inseparáveis, como na "conflação central" (Archer, 1995:93-134) de Giddens, Bourdieu e Beck, que resulta num amálgama que impede o exame de sua interação. Tampouco se trata de codeterminismo, o que sugeriria uma abordagem dualística - no sentido de literalmente possuir duas abordagens (Dépelteau, 2008)1; a morfogênese não é senão um dualismo analítico. Fundamentalmente, o que se perde com tal codeterminismo é, inter alia, a dupla morfogênese na qual os próprios atores mudam no processo em que tentam ativamente transformar a ordem social. Isto pode ser visto como uma das principais formas não meadianas pelas quais o social é interiorizado.
Meu objetivo genérico consiste em dar conta das formas de interação que geram a morfogênese, num extremo e a morfostase, no outro, seja no nível micro, meso ou macrossocial. Para discutir o impacto dessa abordagem realista para a relação entre hábito e reflexividade, será necessário recorrer a ela como, simultaneamente, uma moldura explicativa e uma história analítica da emergência. A discussão de ambos os aspectos requer uma breve inspeção do ciclo morfogenético básico. A partir daí, primeiro situarei a importância diferencial do hábito sobre o continuum morfostático-morfogenético, que é também a trajetória histórica do mundo desenvolvido. Segundo, efetuarei críticas à natureza ahistórica do debate hábito/ação habitual, o que me permitirá também situar a importância da reflexividade no panorama histórico da transformação estrutural e agêntica (i.e. a dupla morfogênese e suas consequências epocais).
LEIA O TEXTO COMPLETO AQUI.
A economia é uma ciência social
Os economistas querem que a compremos como uma ciência exata. É a sua "reserva de mercado". Schumpeter disse certa vez que a sociologia e a economia cultivam, uma em relação a outra, uma ignorância grandiosa. Com a predominância de um paradigma único na economia, muitos cientistas sociais quiseram transformar essa ignorância em virtude. Um desastre para o entendimento dos desafios colocados para o nosso mundo.
Mas algo se move. O renascimento da sociologia econômica, hoje um interlocutor legítimo da economia enquanto disciplina no mundo acadêmico, é o anúncio de que aquele cultivo da ignorância mútua começa a ser superado. Há também um questionamento, cada vez maior, da incapacidade da economia enquanto disciplina lidar com a complexidade de questões que envolvem saberes e práticas de campos disciplinares adjacentes. Especialmente, em meio à turbulência da crise financeira que se avizinha.
Resgatar a idéia de que a economia, ao fim e ao cabo, não é do mundo das exatas, mas uma ciência social, eis aí algo que, por ser tão óbvio, precisa ser sempre lembrado.
Levando em conta o acima exposto, abaixo transcrevo alguns artigos que incidem sobre a necessidade de revisão dos fundamentos disciplinares da economia. São chutes, com certeza, mas vale a pena levá-los em conta. Convido-o a lê-los. O espanhol, sei, não será um obstáculo para você. Foram transcritos do jornal argentino PÁGINA 12.
Cambiar el mundo académico
Por Mariano Kestelboim y Mercedes LaGioiosa *
La crisis del paradigma neoliberal abre la oportunidad de dar un debate que una década atrás parecía imposible. La ortodoxia, como visión hegemónica, no es capaz de explicar el derrumbe de las economías centrales, ni ofrece soluciones viables. El análisis de esta crisis requiere comprender el proceso histórico, social y político que lo generó. A principios de los años ’70, el incremento de los costos productivos vinculados, en gran medida, a las demandas salariales de una clase obrera organizada y a la crisis del petróleo, provocó la caída de los niveles de rentabilidad de las grandes corporaciones de las naciones más desarrolladas del mundo. Como respuesta, los grupos de poder avanzaron con una estrategia de reducción de costos a través de la fragmentación del proceso productivo y de su relocalización, lo que derivó en una nueva división internacional del trabajo. Las naciones desarrolladas conservaron y promovieron las actividades de mayor alcance científico-tecnológico y, a través de los canales comerciales y financieros, lograron controlar las cadenas de valor globales. En el resto de la periferia, en general, se profundizó la explotación de los recursos naturales y se desmantelaron las jóvenes estructuras industriales, nacidas mayoritariamente en la primera fase de la Guerra Fría.
El plan se apoyó en tres ejes fundamentales: la eliminación de las barreras al comercio de bienes industriales y al movimiento de capitales financieros, el desarrollo de nuevas tecnologías de la información y de la comunicación, y la aplicación de programas económicos de concepción neoclásica. Los contenidos teóricos impuestos en las altas casas de estudio exacerbaron la formalización matemática de la economía y su abstracción, alejaron al Estado de la administración de la economía y recortaron el análisis de los procesos históricos y sociales, así como de las transformaciones de las estructuras productivas. De esta manera se buscó borrar la esencia política y social del estudio de la economía y marginar a la población de la discusión sobre el impacto de las políticas aplicadas en el marco de la estrategia neoliberal, que perjudicaban los intereses nacionales e implicaban el desmantelamiento de las bases productivas y las instituciones públicas, la destrucción de puestos de trabajo y una creciente desigualdad social.
En esta nueva etapa, las economías emergentes están pudiendo recuperarse de las consecuencias de las políticas neoliberales a través del desarrollo de una visión genuina y singular del funcionamiento de sus economías en el marco de un mundo globalizado. Al mismo tiempo, los países centrales –principales promotores de las políticas ortodoxas– atraviesan una crisis de envergadura e intentan trasladar sus efectos negativos a los países más débiles. Para ello, además de contar con instituciones financieras y políticas tanto locales como multilaterales de diversa índole, se amparan en un relato académico que de manera filantrópica y casi científica ofrece el marco teórico necesario. Sin embargo, esta acción institucional simultánea pierde legitimidad ante la evidencia irrefutable de los discordantes presentes. El desempeño de los países emergentes apuntala el consenso político-social alrededor de una visión que incorpora el estudio de la problemática nacional y latinoamericana en una perspectiva histórica, y que plantea respuestas ante la existencia de economías con estructura productiva desequilibrada y ante la necesidad de avanzar en la integración financiera regional.
Este floreciente escenario es acompañado, no obstante, de manera tibia y expectante por el mundo académico que prefiere mantenerse al margen de los cambios que se plantean desde la sociedad ante el temor de que ello pudiera hacer mella sobre el rigor científico de las carreras dictadas. En este sentido se torna necesario llevar al seno de la formación universitaria, las ideas y enfoques alternativos, que fueron sistemáticamente segregados de los planes de estudio, como un elemento clave en la construcción y el desarrollo de un sistema de conocimiento que permita una comprensión acabada de la realidad y que comience a desempeñar un rol activo en la formación de jóvenes portadores de un saber global, pero desde una óptica nacional y regional.
El camino hasta aquí recorrido, y el anhelo de ver a la Argentina como un país industrial y de vanguardia tecnológica, requiere el cuestionamiento de la visión hegemónica y de las instituciones a partir de las cuales ésta se reproduce. El desafío es, entonces, construir una universidad que cuestione su rol en la sociedad y que se permita discutir contenidos curriculares, brindando un claro ejemplo de evolución, democracia y pluralidad.
* Economistas de La graN maKro.
La reforma en la UNLP
Por Facundo Crosta *
El Departamento de Economía de la Universidad Nacional de La Plata viene trabajando en una reforma de su plan de estudios, que amplíe y mejore la formación de los economistas egresados de esa universidad pública. El largo proceso iniciado en 2002 incluyó numerosas reuniones abiertas con alumnos, graduados y profesores, de las cuales surgieron modificaciones y cambios, hasta converger en la propuesta actual. Esa propuesta reconoce la necesidad de mantener el nivel de excelencia en la formación técnica que ha caracterizado a la licenciatura de la UNLP por décadas, pero avanza en la dirección de dotarla de un mayor número de materias de especialización, permitir al alumno un mayor margen de elección, aumentar la interacción con otras disciplinas y expandir el contenido social de la carrera.
En la última versión de la propuesta del plan de estudios se establecen como obligatorios un curso de Sociología, dos cursos de Historia Económica y Social y un curso de Historia del Pensamiento Económico. Comparado con el plan vigente, la propuesta agrega un curso de Economía Social y Laboral destinado enteramente a estudiar temas como pobreza, exclusión, marginalidad, vulnerabilidad, desigualdad, polarización, desempleo, discriminación e informalidad, y un curso de Economía Ambiental, tema central para el Desarrollo Sustentable.
La propuesta del Departamento incluye una materia optativa a cursar en otra facultad, que permite a los alumnos la posibilidad de profundizar sus estudios en áreas sociales como Historia o Sociología, asistiendo a cátedras especializadas en la Facultad de Humanidades, la cual ofrece un conjunto de cursos relevantes para la formación de un economista. Adicionalmente, la propuesta refuerza en los contenidos mínimos de varias materias el estudio del contexto histórico y social en el que se desarrollan los fenómenos económicos.
La propuesta de reforma del plan de estudios incluye, además de los cambios mencionados, un curso de Finanzas, indispensable para aquellos graduados que quieren trabajar en el sector privado o que quieren profundizar el estudio de temas financieros, tan relevantes en la coyuntura actual, y un curso introductorio de Comportamiento Estratégico y Problemas de Información, un área de enorme relevancia para entender las fallas de mercado, los problemas de coordinación, la toma de decisiones y la acción pública, temas en los que han contribuido economistas prestigiosos como el Premio Nobel Joseph Stiglitz.
Por otro lado, la propuesta pretende garantizar el ámbito de pluralidad que caracteriza a la carrera de Economía de la UNLP donde, pese a su tamaño que impide la existencia de cátedras paralelas como en la UBA, conviven profesores de distintas corrientes económicas, e identificados con diferentes ideas políticas, tanto de la oposición como del actual Gobierno. Es larga la lista de profesores y graduados de la Licenciatura en Economía de la UNLP que ejercieron y ejercen cargos importantes en el Gobierno actual y gobiernos anteriores de diverso signo político, lo cual confirma la amplitud de ideas y conocimientos que se imparten en la carrera. El plan de estudios actualmente en discusión busca preservar los aspectos positivos que han cimentado esos logros, enriqueciéndolos con los bienvenidos progresos de la ciencia económica en años recientes, enmarcados en un saludable debate sobre el rol social del economista.
Esta concepción del plan de estudios es coherente con el perfil de los profesores e investigadores que desarrollan su trabajo en esta institución. El Departamento de Economía de la UNLP incluye investigadores en muchas ramas de la Economía, pero se especializa en temas laborales y sociales, áreas en las que investiga la mayoría de sus profesores con dedicación exclusiva. Una proporción importante del cuerpo docente del Departamento de Economía de la UNLP está compuesto por investigadores con la máxima calificación académica, formados en la universidad pública y que forman parte del sistema público de investigación y participan seriamente en el debate sobre la realidad económica y social, aportando evidencia y discutiendo ideas.
La reforma del plan de estudios es sólo un aspecto de algunos de los cambios impulsados desde el Departamento –debatidos con cada cátedra y con los estudiantes– para dotar a la carrera de un enfoque más amplio y aplicado a la realidad argentina, pero sin resignar la sólida formación técnica básica que permite a los graduados de La Plata desempeñarse con éxito en la academia, en el sector privado y en el Gobierno.
* Director del Departamento de Economía, UNLP.
Mas algo se move. O renascimento da sociologia econômica, hoje um interlocutor legítimo da economia enquanto disciplina no mundo acadêmico, é o anúncio de que aquele cultivo da ignorância mútua começa a ser superado. Há também um questionamento, cada vez maior, da incapacidade da economia enquanto disciplina lidar com a complexidade de questões que envolvem saberes e práticas de campos disciplinares adjacentes. Especialmente, em meio à turbulência da crise financeira que se avizinha.
Resgatar a idéia de que a economia, ao fim e ao cabo, não é do mundo das exatas, mas uma ciência social, eis aí algo que, por ser tão óbvio, precisa ser sempre lembrado.
Levando em conta o acima exposto, abaixo transcrevo alguns artigos que incidem sobre a necessidade de revisão dos fundamentos disciplinares da economia. São chutes, com certeza, mas vale a pena levá-los em conta. Convido-o a lê-los. O espanhol, sei, não será um obstáculo para você. Foram transcritos do jornal argentino PÁGINA 12.
Cambiar el mundo académico
Por Mariano Kestelboim y Mercedes LaGioiosa *
La crisis del paradigma neoliberal abre la oportunidad de dar un debate que una década atrás parecía imposible. La ortodoxia, como visión hegemónica, no es capaz de explicar el derrumbe de las economías centrales, ni ofrece soluciones viables. El análisis de esta crisis requiere comprender el proceso histórico, social y político que lo generó. A principios de los años ’70, el incremento de los costos productivos vinculados, en gran medida, a las demandas salariales de una clase obrera organizada y a la crisis del petróleo, provocó la caída de los niveles de rentabilidad de las grandes corporaciones de las naciones más desarrolladas del mundo. Como respuesta, los grupos de poder avanzaron con una estrategia de reducción de costos a través de la fragmentación del proceso productivo y de su relocalización, lo que derivó en una nueva división internacional del trabajo. Las naciones desarrolladas conservaron y promovieron las actividades de mayor alcance científico-tecnológico y, a través de los canales comerciales y financieros, lograron controlar las cadenas de valor globales. En el resto de la periferia, en general, se profundizó la explotación de los recursos naturales y se desmantelaron las jóvenes estructuras industriales, nacidas mayoritariamente en la primera fase de la Guerra Fría.
El plan se apoyó en tres ejes fundamentales: la eliminación de las barreras al comercio de bienes industriales y al movimiento de capitales financieros, el desarrollo de nuevas tecnologías de la información y de la comunicación, y la aplicación de programas económicos de concepción neoclásica. Los contenidos teóricos impuestos en las altas casas de estudio exacerbaron la formalización matemática de la economía y su abstracción, alejaron al Estado de la administración de la economía y recortaron el análisis de los procesos históricos y sociales, así como de las transformaciones de las estructuras productivas. De esta manera se buscó borrar la esencia política y social del estudio de la economía y marginar a la población de la discusión sobre el impacto de las políticas aplicadas en el marco de la estrategia neoliberal, que perjudicaban los intereses nacionales e implicaban el desmantelamiento de las bases productivas y las instituciones públicas, la destrucción de puestos de trabajo y una creciente desigualdad social.
En esta nueva etapa, las economías emergentes están pudiendo recuperarse de las consecuencias de las políticas neoliberales a través del desarrollo de una visión genuina y singular del funcionamiento de sus economías en el marco de un mundo globalizado. Al mismo tiempo, los países centrales –principales promotores de las políticas ortodoxas– atraviesan una crisis de envergadura e intentan trasladar sus efectos negativos a los países más débiles. Para ello, además de contar con instituciones financieras y políticas tanto locales como multilaterales de diversa índole, se amparan en un relato académico que de manera filantrópica y casi científica ofrece el marco teórico necesario. Sin embargo, esta acción institucional simultánea pierde legitimidad ante la evidencia irrefutable de los discordantes presentes. El desempeño de los países emergentes apuntala el consenso político-social alrededor de una visión que incorpora el estudio de la problemática nacional y latinoamericana en una perspectiva histórica, y que plantea respuestas ante la existencia de economías con estructura productiva desequilibrada y ante la necesidad de avanzar en la integración financiera regional.
Este floreciente escenario es acompañado, no obstante, de manera tibia y expectante por el mundo académico que prefiere mantenerse al margen de los cambios que se plantean desde la sociedad ante el temor de que ello pudiera hacer mella sobre el rigor científico de las carreras dictadas. En este sentido se torna necesario llevar al seno de la formación universitaria, las ideas y enfoques alternativos, que fueron sistemáticamente segregados de los planes de estudio, como un elemento clave en la construcción y el desarrollo de un sistema de conocimiento que permita una comprensión acabada de la realidad y que comience a desempeñar un rol activo en la formación de jóvenes portadores de un saber global, pero desde una óptica nacional y regional.
El camino hasta aquí recorrido, y el anhelo de ver a la Argentina como un país industrial y de vanguardia tecnológica, requiere el cuestionamiento de la visión hegemónica y de las instituciones a partir de las cuales ésta se reproduce. El desafío es, entonces, construir una universidad que cuestione su rol en la sociedad y que se permita discutir contenidos curriculares, brindando un claro ejemplo de evolución, democracia y pluralidad.
* Economistas de La graN maKro.
La reforma en la UNLP
Por Facundo Crosta *
El Departamento de Economía de la Universidad Nacional de La Plata viene trabajando en una reforma de su plan de estudios, que amplíe y mejore la formación de los economistas egresados de esa universidad pública. El largo proceso iniciado en 2002 incluyó numerosas reuniones abiertas con alumnos, graduados y profesores, de las cuales surgieron modificaciones y cambios, hasta converger en la propuesta actual. Esa propuesta reconoce la necesidad de mantener el nivel de excelencia en la formación técnica que ha caracterizado a la licenciatura de la UNLP por décadas, pero avanza en la dirección de dotarla de un mayor número de materias de especialización, permitir al alumno un mayor margen de elección, aumentar la interacción con otras disciplinas y expandir el contenido social de la carrera.
En la última versión de la propuesta del plan de estudios se establecen como obligatorios un curso de Sociología, dos cursos de Historia Económica y Social y un curso de Historia del Pensamiento Económico. Comparado con el plan vigente, la propuesta agrega un curso de Economía Social y Laboral destinado enteramente a estudiar temas como pobreza, exclusión, marginalidad, vulnerabilidad, desigualdad, polarización, desempleo, discriminación e informalidad, y un curso de Economía Ambiental, tema central para el Desarrollo Sustentable.
La propuesta del Departamento incluye una materia optativa a cursar en otra facultad, que permite a los alumnos la posibilidad de profundizar sus estudios en áreas sociales como Historia o Sociología, asistiendo a cátedras especializadas en la Facultad de Humanidades, la cual ofrece un conjunto de cursos relevantes para la formación de un economista. Adicionalmente, la propuesta refuerza en los contenidos mínimos de varias materias el estudio del contexto histórico y social en el que se desarrollan los fenómenos económicos.
La propuesta de reforma del plan de estudios incluye, además de los cambios mencionados, un curso de Finanzas, indispensable para aquellos graduados que quieren trabajar en el sector privado o que quieren profundizar el estudio de temas financieros, tan relevantes en la coyuntura actual, y un curso introductorio de Comportamiento Estratégico y Problemas de Información, un área de enorme relevancia para entender las fallas de mercado, los problemas de coordinación, la toma de decisiones y la acción pública, temas en los que han contribuido economistas prestigiosos como el Premio Nobel Joseph Stiglitz.
Por otro lado, la propuesta pretende garantizar el ámbito de pluralidad que caracteriza a la carrera de Economía de la UNLP donde, pese a su tamaño que impide la existencia de cátedras paralelas como en la UBA, conviven profesores de distintas corrientes económicas, e identificados con diferentes ideas políticas, tanto de la oposición como del actual Gobierno. Es larga la lista de profesores y graduados de la Licenciatura en Economía de la UNLP que ejercieron y ejercen cargos importantes en el Gobierno actual y gobiernos anteriores de diverso signo político, lo cual confirma la amplitud de ideas y conocimientos que se imparten en la carrera. El plan de estudios actualmente en discusión busca preservar los aspectos positivos que han cimentado esos logros, enriqueciéndolos con los bienvenidos progresos de la ciencia económica en años recientes, enmarcados en un saludable debate sobre el rol social del economista.
Esta concepción del plan de estudios es coherente con el perfil de los profesores e investigadores que desarrollan su trabajo en esta institución. El Departamento de Economía de la UNLP incluye investigadores en muchas ramas de la Economía, pero se especializa en temas laborales y sociales, áreas en las que investiga la mayoría de sus profesores con dedicación exclusiva. Una proporción importante del cuerpo docente del Departamento de Economía de la UNLP está compuesto por investigadores con la máxima calificación académica, formados en la universidad pública y que forman parte del sistema público de investigación y participan seriamente en el debate sobre la realidad económica y social, aportando evidencia y discutiendo ideas.
La reforma del plan de estudios es sólo un aspecto de algunos de los cambios impulsados desde el Departamento –debatidos con cada cátedra y con los estudiantes– para dotar a la carrera de un enfoque más amplio y aplicado a la realidad argentina, pero sin resignar la sólida formación técnica básica que permite a los graduados de La Plata desempeñarse con éxito en la academia, en el sector privado y en el Gobierno.
* Director del Departamento de Economía, UNLP.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Classe média brasileira: decifraremos o enigma?
O fantasma ronda as ciências sociais e o jornalismo pátrio. Nenhum articulista ou cientista social foge da sedutora tarefa de enfrentá-lo. Trata-se do fantasma da apreensão da emergente classe média brasileira.
Marcelo Neri, pesquisador dos melhores, tem tentando apontar elementos para superarmos o temor desse fantasma. E tirarmos lições sociológicas que tenham alguma serventia para o entendimento do mundo social nas terras situadas abaixo da linha do Equador. Seus artigos no VALOR ECONÔMICO são de leitura obrigatória. Então, confira o último, publicado hoje, aí embaixo.
A classe média tupiniquim
Marcelo Côrtes Neri
Valor Econômico - 27/09/2011
No pico histórico da desigualdade brasileira de 1989, os 50% mais pobres tinham 10,56% da renda, os 10% mais ricos 50,97%. Números invertidos e fáceis de guardar. Os 40% do meio auferiam quase a mesma parcela na renda. Esse foi o ponto de partida para análise da classe média em termos relativos na minha tese de mestrado sobre o boom de consumo do Cruzado. Os limites da classe média seriam as fronteiras para o lado indiano e para o lado belga da Belíndia brasileira, auferindo a renda média da sociedade, ou seja, seria a classe média no sentido estatístico.
Na década passada, os lados indiano e belga brasileiro parecem ter se espelhado no crescimento dos respectivos homônimos. A renda dos nossos 50% mais pobres cresceu 67,93% contra 10,03% dos 10% mais ricos. Hoje a metade mais pobre tem 15,4% da renda agregada e os 10% mais ricos 42,8%. Segundo David Lam, o que diferencia a concentração de renda no Brasil da dos Estados Unidos, que não é um país particularmente igualitário, são justamente os 10% mais ricos. Estudo do qual participei com Sam Morley confirma o peso dos 10% mais ricos para explicar a desigualdade de renda brasileira e latino-americana.
Utilizamos aqui o conceito de polarização para debater e precisar o que é ser (ou estar) classe média. A fim de diferenciar o significado de polarização e desigualdade, lançamos mão de um exemplo simples. Seja uma sociedade de seis pessoas chamadas de A, B, C, D, E e F com rendas de R$ 5, R$ 4, R$ 3, R$ 2, R$ 1 e 0, respectivamente. Suponha que se transfira um real de D para F e de A para C. As medidas de desigualdade que respeitam o princípio das transferências vão cair. Reparem, entretanto que, depois das mudanças, teremos toda a distribuição polarizada em dois pontos, a saber: renda R$ 1 para as pessoas D, E e F e renda R$ 4 para as pessoas A, B e C. A sociedade agora está dividida em dois grupos polarizados que são internamente homogêneos. Apesar de menos desigual a sociedade se tornou mais polarizada em extremos que tendem a antagonizar uns aos outros. Podendo levar a piora de conflitos, violência e instabilidade política entre outros males.
O exemplo artificial foi propositalmente formulado para diferenciar os conceitos de desigualdade e polarização. Em geral os dois caminham na mesma direção. Se calculamos a polarização de Esteban e Ray (1994) e o Gini, a primeira tem queda mais expressiva que a desigualdade até 2001, mas posteriormente acontece o reverso, de forma que no período 1992 a 2009 o deslocamento observado é similar.
A nossa definição é consistente com outra medida de polarização proposta por Esteban, Gradin e Ray (2007), apelidada de EGR. A estratégia EGR nos interessa, por gerar de maneira endógena os cortes de renda da distribuição de renda observada na prática. A combinação de nossas classes econômicas D e E resulta quase perfeitamente no estrato inferior do EGR. A combinação de nossa classe econômica central está 4 pontos de porcentagem menor que o estrato intermediário gerado pela metodologia EGR.
Os cortes escolhidos são os que melhor distinguem os grupos no sentido de tornar menores possíveis as diferenças internas desses grupos de renda e em contrapartida maximizar as diferenças entre estes grupos. Calculamos os grupos de renda para o caso de três segmentos que, segundo os autores, é aquele que, para os países analisados por eles, maximiza o critério de polarização estendida proposto. Nossa estratégia aqui é gerar medidas relativas e depois mantemos constantes os valores inicialmente arbitrados em 2002 antes da mesma retomar a sua trajetória iniciada no pós Plano Real. O objetivo é medir mudanças absolutas no tamanho das classes no tempo.
A distribuição de renda no Brasil é próxima daquela observada no mundo. Temos uma renda ajustada por paridade de poder de compra (PPC) similar à mundial, e o Gini interno é similar àqueles observados entre o Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre países. Logo, conceitos extraídos diretamente delas são necessariamente similares.
A nossa classe média é mais representativa da classe média mundial do que a americana. A renda média americana, mesmo depois da crise, caiu para US$ 400 dia PPC por família de quatro pessoas. Logo, quase todos os países que se compararem aos padrões americanos serão considerados pobres, sejam africanos ou latino-americanos. O "american way of life" é para poucos. O americano mediano, isto é, aquele que está no meio da distribuição de renda americana tem 94% da população mundial mais pobre que ele. Já o brasileiro mediano tem 62% da aldeia global abaixo dele, na China esse número cai para 43% e na Índia 18%.
A classe média tupiniquim é uma boa fotografia da classe média mundial. Não é a toa que Obama aqui falou dela. Obviamente, conceitos são arbitrários. Aí justamente reside a vantagem da estratégia EGR de fixação de classes econômicas, derivados da distribuição de renda de maneira a maximizar o poder explicativo entre classes. Por exemplo, as classes econômicas da FGV conseguem explicar a desigualdade entre grupos num dado ponto do tempo quase 20 pontos percentuais acima da distribuição em três grupos de tamanhos iguais.
Marcelo Côrtes Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais e professor da EPGE, Fundação Getulio Vargas. Autor dos livros "Ensaios Sociais", "Cobertura Previdenciária: Diagnóstico e Propostas" e "Microcrédito, o Mistério Nordestino e o Grammen brasileiro".
Marcelo Neri, pesquisador dos melhores, tem tentando apontar elementos para superarmos o temor desse fantasma. E tirarmos lições sociológicas que tenham alguma serventia para o entendimento do mundo social nas terras situadas abaixo da linha do Equador. Seus artigos no VALOR ECONÔMICO são de leitura obrigatória. Então, confira o último, publicado hoje, aí embaixo.
A classe média tupiniquim
Marcelo Côrtes Neri
Valor Econômico - 27/09/2011
No pico histórico da desigualdade brasileira de 1989, os 50% mais pobres tinham 10,56% da renda, os 10% mais ricos 50,97%. Números invertidos e fáceis de guardar. Os 40% do meio auferiam quase a mesma parcela na renda. Esse foi o ponto de partida para análise da classe média em termos relativos na minha tese de mestrado sobre o boom de consumo do Cruzado. Os limites da classe média seriam as fronteiras para o lado indiano e para o lado belga da Belíndia brasileira, auferindo a renda média da sociedade, ou seja, seria a classe média no sentido estatístico.
Na década passada, os lados indiano e belga brasileiro parecem ter se espelhado no crescimento dos respectivos homônimos. A renda dos nossos 50% mais pobres cresceu 67,93% contra 10,03% dos 10% mais ricos. Hoje a metade mais pobre tem 15,4% da renda agregada e os 10% mais ricos 42,8%. Segundo David Lam, o que diferencia a concentração de renda no Brasil da dos Estados Unidos, que não é um país particularmente igualitário, são justamente os 10% mais ricos. Estudo do qual participei com Sam Morley confirma o peso dos 10% mais ricos para explicar a desigualdade de renda brasileira e latino-americana.
Utilizamos aqui o conceito de polarização para debater e precisar o que é ser (ou estar) classe média. A fim de diferenciar o significado de polarização e desigualdade, lançamos mão de um exemplo simples. Seja uma sociedade de seis pessoas chamadas de A, B, C, D, E e F com rendas de R$ 5, R$ 4, R$ 3, R$ 2, R$ 1 e 0, respectivamente. Suponha que se transfira um real de D para F e de A para C. As medidas de desigualdade que respeitam o princípio das transferências vão cair. Reparem, entretanto que, depois das mudanças, teremos toda a distribuição polarizada em dois pontos, a saber: renda R$ 1 para as pessoas D, E e F e renda R$ 4 para as pessoas A, B e C. A sociedade agora está dividida em dois grupos polarizados que são internamente homogêneos. Apesar de menos desigual a sociedade se tornou mais polarizada em extremos que tendem a antagonizar uns aos outros. Podendo levar a piora de conflitos, violência e instabilidade política entre outros males.
O exemplo artificial foi propositalmente formulado para diferenciar os conceitos de desigualdade e polarização. Em geral os dois caminham na mesma direção. Se calculamos a polarização de Esteban e Ray (1994) e o Gini, a primeira tem queda mais expressiva que a desigualdade até 2001, mas posteriormente acontece o reverso, de forma que no período 1992 a 2009 o deslocamento observado é similar.
A nossa definição é consistente com outra medida de polarização proposta por Esteban, Gradin e Ray (2007), apelidada de EGR. A estratégia EGR nos interessa, por gerar de maneira endógena os cortes de renda da distribuição de renda observada na prática. A combinação de nossas classes econômicas D e E resulta quase perfeitamente no estrato inferior do EGR. A combinação de nossa classe econômica central está 4 pontos de porcentagem menor que o estrato intermediário gerado pela metodologia EGR.
Os cortes escolhidos são os que melhor distinguem os grupos no sentido de tornar menores possíveis as diferenças internas desses grupos de renda e em contrapartida maximizar as diferenças entre estes grupos. Calculamos os grupos de renda para o caso de três segmentos que, segundo os autores, é aquele que, para os países analisados por eles, maximiza o critério de polarização estendida proposto. Nossa estratégia aqui é gerar medidas relativas e depois mantemos constantes os valores inicialmente arbitrados em 2002 antes da mesma retomar a sua trajetória iniciada no pós Plano Real. O objetivo é medir mudanças absolutas no tamanho das classes no tempo.
A distribuição de renda no Brasil é próxima daquela observada no mundo. Temos uma renda ajustada por paridade de poder de compra (PPC) similar à mundial, e o Gini interno é similar àqueles observados entre o Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre países. Logo, conceitos extraídos diretamente delas são necessariamente similares.
A nossa classe média é mais representativa da classe média mundial do que a americana. A renda média americana, mesmo depois da crise, caiu para US$ 400 dia PPC por família de quatro pessoas. Logo, quase todos os países que se compararem aos padrões americanos serão considerados pobres, sejam africanos ou latino-americanos. O "american way of life" é para poucos. O americano mediano, isto é, aquele que está no meio da distribuição de renda americana tem 94% da população mundial mais pobre que ele. Já o brasileiro mediano tem 62% da aldeia global abaixo dele, na China esse número cai para 43% e na Índia 18%.
A classe média tupiniquim é uma boa fotografia da classe média mundial. Não é a toa que Obama aqui falou dela. Obviamente, conceitos são arbitrários. Aí justamente reside a vantagem da estratégia EGR de fixação de classes econômicas, derivados da distribuição de renda de maneira a maximizar o poder explicativo entre classes. Por exemplo, as classes econômicas da FGV conseguem explicar a desigualdade entre grupos num dado ponto do tempo quase 20 pontos percentuais acima da distribuição em três grupos de tamanhos iguais.
Marcelo Côrtes Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais e professor da EPGE, Fundação Getulio Vargas. Autor dos livros "Ensaios Sociais", "Cobertura Previdenciária: Diagnóstico e Propostas" e "Microcrédito, o Mistério Nordestino e o Grammen brasileiro".
Chile: a explicitação do fracasso de um modelo
Nestas plagas, dia sim e outro também, durante anos, ouvimos louvações ao modelo econômico adotado no Chile (não esquecer: introduzido pela ditadura de Pinochet). Bueno, eis que, agora, com os estudantes nas ruas, apontando a insustentabilidade da excludente política educacional regida pela lógica da desregulamentação, nenhum daqueles arautos vem a público defendê-lo.
Aproveito para transcrever, abaixo, artigo explicitando o nó da questão educacional chilena.
O que está acontecendo no Chile?
Camilla Croso*
Correio Braziliense - 27/09/2011
O que está acontecendo no Chile desmascara o que se acreditava ser um modelo educacional a ser seguido. Há cerca de quatro meses, o movimento estudantil, com multidões de cidadãos e cidadãs, exige que a educação seja reconhecida como direito humano fundamental e que o Estado assuma seu papel de proteger, respeitar e realizar esse direito, que ratificou em vários tratados internacionais.
Boa parte da educação privada no Chile é subsidiada pelo Estado. As "escolas subvencionadas", mesmo recebendo recursos públicos, podem selecionar os estudantes, cobrar taxas das famílias e lucrar com o ensino. O resultado é uma verdadeira segregação entre pessoas de diferentes níveis de renda, fenômeno que vem sendo conhecido como "apartheid educacional".
Em decorrência, o acesso à educação de qualidade está restrito a quem pode arcar com seus custos; o sistema educativo chileno se converte em uma das principais fontes de crescimento da desigualdade entre os mais e os menos vulneráveis economicamente — o que não deve ser ignorado, visto que mais de 3 milhões de chilenos vivem abaixo da linha de pobreza, incluindo 500 mil que vivem em extrema pobreza, segundo estudo da OCDE divulgado em abril deste ano.
Diante disso, a cidadania chilena foi às ruas inúmeras vezes nos últimos meses, em manifestações públicas envolvendo até 700 mil pessoas. Suas demandas centrais são a gratuidade da educação pública e o fim do lucro na educação. De fato, pesquisa de opinião pública do Centro de Estudos Públicos (CEP) do Chile, lançada em julho de 2011, demonstra que 80% da população chilena rejeitam a lógica do lucro que se instaurou na educação do país.
O movimento segue resistindo e protestando porque, apesar de sua expressão massiva, não obteve até o momento uma resposta à altura do governo. Este tem feito propostas que apenas tangenciam as questões de fundo do sistema educacional chileno, mas não alteram a estrutura, fundamentada na lógica de mercado.
Os entusiastas do modelo vigente enfatizam o aumento na matrícula, mas ignoram a segregação social. É preocupante que, nos últimos 30 anos, as matrículas nas escolas urbanas tenham caído de 75% a 42% e que, nos últimos 15 anos, 707 escolas municipais tenham fechado suas portas, enquanto 2.540 escolas privadas (e subvencionadas) tenham sido abertas. Deve-se admitir o que é evidente: a segregação social produzida no interior do sistema educacional é per si discriminatória e compromete uma aprendizagem em sintonia com o conjunto dos direitos humanos.
As críticas ao modelo chileno que hoje vêm a público são feitas há muito tempo por organismos internacionais. O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU, por exemplo, questiona a qualidade segmentada por condição de renda e o fato de o governo subvencionar escolas privadas em vez de promover escolas públicas. Em carta enviada ao relator especial sobre o direito à educação das Nações Unidas, Kishore Singh, entidades de acadêmicos e o Foro Nacional Educação de Qualidade para Todos, do Chile, apontam a diminuição da oferta da educação gratuita como uma violação. O documento mostra que não só a gratuidade da educação não progrediu, como a oferta de educação gratuita regrediu. Uma expressão disso é a queda no percentual do PIB dedicado à educação: de 1970 até agora, desceu da faixa dos 7% a parcos 4,4%.
Mas não é apenas o direito à educação que está sendo violado no Chile. É também o direito à vida e à liberdade de expressão. A crescente criminalização do movimento cidadão é da maior gravidade e já levou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos a solicitar informações ao governo chileno sobre os episódios de violência durante os protestos de 4 de agosto, incluindo o uso desproporcional da força, detenções arbitrárias e centenas de feridos. Ao longo do mês, o uso da violência escalou, passando de bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água a armas de fogo, culminando com a morte do estudante Manuel Gutiérrez, de 16 anos, baleado no peito.
Os acontecimentos no Chile vêm repercutindo em todo o mundo, deixando em evidência que a concepção de educação como direito humano fundamental está em risco, assim como o direito à livre manifestação.
* Coordenadora da Campanha Latino-americana pelo Direito à Educação (Clade) e presidente da Campanha Mundial pela Educação (CME)
Aproveito para transcrever, abaixo, artigo explicitando o nó da questão educacional chilena.
O que está acontecendo no Chile?
Camilla Croso*
Correio Braziliense - 27/09/2011
O que está acontecendo no Chile desmascara o que se acreditava ser um modelo educacional a ser seguido. Há cerca de quatro meses, o movimento estudantil, com multidões de cidadãos e cidadãs, exige que a educação seja reconhecida como direito humano fundamental e que o Estado assuma seu papel de proteger, respeitar e realizar esse direito, que ratificou em vários tratados internacionais.
Boa parte da educação privada no Chile é subsidiada pelo Estado. As "escolas subvencionadas", mesmo recebendo recursos públicos, podem selecionar os estudantes, cobrar taxas das famílias e lucrar com o ensino. O resultado é uma verdadeira segregação entre pessoas de diferentes níveis de renda, fenômeno que vem sendo conhecido como "apartheid educacional".
Em decorrência, o acesso à educação de qualidade está restrito a quem pode arcar com seus custos; o sistema educativo chileno se converte em uma das principais fontes de crescimento da desigualdade entre os mais e os menos vulneráveis economicamente — o que não deve ser ignorado, visto que mais de 3 milhões de chilenos vivem abaixo da linha de pobreza, incluindo 500 mil que vivem em extrema pobreza, segundo estudo da OCDE divulgado em abril deste ano.
Diante disso, a cidadania chilena foi às ruas inúmeras vezes nos últimos meses, em manifestações públicas envolvendo até 700 mil pessoas. Suas demandas centrais são a gratuidade da educação pública e o fim do lucro na educação. De fato, pesquisa de opinião pública do Centro de Estudos Públicos (CEP) do Chile, lançada em julho de 2011, demonstra que 80% da população chilena rejeitam a lógica do lucro que se instaurou na educação do país.
O movimento segue resistindo e protestando porque, apesar de sua expressão massiva, não obteve até o momento uma resposta à altura do governo. Este tem feito propostas que apenas tangenciam as questões de fundo do sistema educacional chileno, mas não alteram a estrutura, fundamentada na lógica de mercado.
Os entusiastas do modelo vigente enfatizam o aumento na matrícula, mas ignoram a segregação social. É preocupante que, nos últimos 30 anos, as matrículas nas escolas urbanas tenham caído de 75% a 42% e que, nos últimos 15 anos, 707 escolas municipais tenham fechado suas portas, enquanto 2.540 escolas privadas (e subvencionadas) tenham sido abertas. Deve-se admitir o que é evidente: a segregação social produzida no interior do sistema educacional é per si discriminatória e compromete uma aprendizagem em sintonia com o conjunto dos direitos humanos.
As críticas ao modelo chileno que hoje vêm a público são feitas há muito tempo por organismos internacionais. O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU, por exemplo, questiona a qualidade segmentada por condição de renda e o fato de o governo subvencionar escolas privadas em vez de promover escolas públicas. Em carta enviada ao relator especial sobre o direito à educação das Nações Unidas, Kishore Singh, entidades de acadêmicos e o Foro Nacional Educação de Qualidade para Todos, do Chile, apontam a diminuição da oferta da educação gratuita como uma violação. O documento mostra que não só a gratuidade da educação não progrediu, como a oferta de educação gratuita regrediu. Uma expressão disso é a queda no percentual do PIB dedicado à educação: de 1970 até agora, desceu da faixa dos 7% a parcos 4,4%.
Mas não é apenas o direito à educação que está sendo violado no Chile. É também o direito à vida e à liberdade de expressão. A crescente criminalização do movimento cidadão é da maior gravidade e já levou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos a solicitar informações ao governo chileno sobre os episódios de violência durante os protestos de 4 de agosto, incluindo o uso desproporcional da força, detenções arbitrárias e centenas de feridos. Ao longo do mês, o uso da violência escalou, passando de bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água a armas de fogo, culminando com a morte do estudante Manuel Gutiérrez, de 16 anos, baleado no peito.
Os acontecimentos no Chile vêm repercutindo em todo o mundo, deixando em evidência que a concepção de educação como direito humano fundamental está em risco, assim como o direito à livre manifestação.
* Coordenadora da Campanha Latino-americana pelo Direito à Educação (Clade) e presidente da Campanha Mundial pela Educação (CME)
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segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Danton e a corrupção
Em inspirado artigo, publicado no sempre bom jornal VALOR ECONÔMICO, Renato Janine Ribeiro assesta as suas baterias analíticas contra a corrupção. Vale a pena conferir!
Danton deveria ter roubado mais?
Autor(es): Renato Janine Ribeiro
Valor Econômico - 26/09/2011
"Danton fez bem em roubar?", pergunta Julien Sorel a sua quase-namorada, no romance mais famoso de Stendhal, "O vermelho e o negro". Matilde perguntou-lhe o que está pensando e leva um susto ao ouvir seu raciocínio: "Os revolucionários do Piemonte, da Espanha, deveriam comprometer o povo com crimes? Dar a pessoas mesmo sem mérito todos os postos do Exército? Quem os recebesse não temeria a volta do rei? Deveriam ter saqueado o tesouro de Turim? Numa palavra, senhorita - disse, aproximando-se dela com um ar terrível -, o homem que quiser expulsar da terra a ignorância e o crime deve passar como a tempestade e espalhar o mal ao acaso?"
Não é preciso concordar com Julien Sorel, que, aliás, faz uma pergunta, não uma resposta; mas quem não meditar essas palavras duras, quem não pensar a fundo o que ele diz em 1830, não vai entender a política, mesmo atual, mesmo democrática. Quem deseja expulsar o crime e a ignorância precisa causar muitos males enquanto promove o grande bem? Os fins justificam os meios? Não é isso. Porque Julien não fala de qualquer fim, mas do fim mais nobre que há: introduzir o conhecimento e o bem. No entanto, para isso, será preciso cooptar os corruptos?
Essas questões de alta literatura me vieram à mente quando me lembrei de um líder da base governista que, indignado com medidas anti-corrupção da presidente Dilma, teria dito que "ela não sabe que está brincando com fogo". Em valor literário, a diferença entre o personagem de Stendhal e o nosso é gigantesca. Mas não estarão falando de coisas parecidas - com a ressalva de que o parlamentar se empenha em vantagens sem ética, e Julien numa ética maior?
Vivemos hoje a luta entre duas grandes ideias sobre a política. A primeira vem da experiência e diz: governar e ser honesto, a um só tempo, raia o impossível. Não quero dizer que todo governante é desonesto; apenas noto que há um fator poderoso que leva, para obter maiorias, à aliança com políticos de má catadura. Curiosamente, em cada país isso se atribui a causas diferentes. Aqui, uns dizem que acabando com o presidencialismo de coalizão, adotando o voto distrital ou a lista fechada, tudo há de melhorar. Em outros países, recomenda-se o contrário. Mas, em suma, primeira convicção: governabilidade e ética não são amigas de infância. Mesmo quem não é Maquiavel, que defendia que o príncipe mantivesse a todo custo seu Estado, e se bate por valores nobres, precisa sujar as mãos. A expressão é de Sartre. Sem sujá-las, não se faz política.
Mas há uma segunda e poderosa ideia: os valores democráticos. A palavra "democracia", que no começo significava essencialmente a escolha pelo povo, fica tão rica desde a II Guerra Mundial que anexa os direitos humanos, e também os valores éticos. Combater a corrupção, a exploração das mulheres pelos homens e até a exploração do homem pelo homem tornam-se preceitos fundamentais. O problema: como ligar este ponto com o anterior? Por um lado, temos uma forte demanda ética, que deseja espraiar-se pela política e talvez nunca tenha atingido tal dimensão em regime democrático. Talvez. Por outro, queremos dos governos que nos deem ou ao menos nos permitam prosperidade. Estamos divididos, os cidadãos, entre o conforto e a ética. Derrubamos Collor em nome da "ética na política", mas ele não teria caído caso seu governo desse bons frutos. Se caiu, foi porque tinha pouco apoio nos partidos e porque não efetuou o salto para o Primeiro Mundo, que prometera na campanha.
Resumindo, vivemos em dilemas. Do ponto de vista do cidadão, quer-se ética - nem sempre por razões éticas, mas também porque, se todos andarem pelo acostamento, a estrada trava. Mas o mesmo cidadão deseja conforto, prosperidade, uma fatia maior do PIB. Rachado entre os princípios morais e a ambição pela prosperidade, nem sempre crava a escolha na ética, que pode exigir renúncia, sacrifício e derrota. Não é à toa que uns chamam de "ético" quem, para outros, é um perdedor.
Já do ponto de vista do governante, e penso na presidente que mostra menos complacência com a corrupção desde Itamar Franco, a escolha também é difícil. Alguns analistas a condenam ora porque lhe falta jogo de cintura, ora porque demora a demitir acusados de corrupção. Mas jogo de cintura é, nove vezes em dez, complacência com os malfeitos! É esse o seu dilema e o de muitos governantes decentes. O que fazem então os governos? Exceto quando são essencialmente corruptos, procuram manter a flexibilização da ética longe do cerne do poder. Tentam preservar o centro do governo. Vejam o curiosíssimo instituto das emendas parlamentares à lei orçamentária. Duas décadas atrás, José Serra propôs que o orçamento fosse aprovado sem nenhuma emenda. Isso era tão absurdo quanto são as emendas parlamentares de hoje. A democracia surge na Inglaterra com o poder, dos eleitos do povo, de votar e rejeitar impostos e despesas. Aprovar o orçamento é o apogeu desse ritual democrático, quando a sociedade decide o que é prioritário e o que não é. Os Estados Unidos conservam isso, tanto que no governo Clinton ficaram um dia sem orçamento e o governo federal, literalmente, fechou. Mas aqui, se o Parlamento não vota o orçamento, ele é assim mesmo executado. E muitas das emendas, que Serra condenava, são penduricalhos pelos quais o parlamentar atende sua base para conseguir se reeleger - algumas delas, sem necessidade sequer para sua base.
Há saída para esses dilemas? Espero que sim. Mas notem que são dois dilemas. Um é do governo, outro dos cidadãos. Não basta cobrar do governo, se os cidadãos não cobrarem ética de si mesmos.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feiras
Danton deveria ter roubado mais?
Autor(es): Renato Janine Ribeiro
Valor Econômico - 26/09/2011
"Danton fez bem em roubar?", pergunta Julien Sorel a sua quase-namorada, no romance mais famoso de Stendhal, "O vermelho e o negro". Matilde perguntou-lhe o que está pensando e leva um susto ao ouvir seu raciocínio: "Os revolucionários do Piemonte, da Espanha, deveriam comprometer o povo com crimes? Dar a pessoas mesmo sem mérito todos os postos do Exército? Quem os recebesse não temeria a volta do rei? Deveriam ter saqueado o tesouro de Turim? Numa palavra, senhorita - disse, aproximando-se dela com um ar terrível -, o homem que quiser expulsar da terra a ignorância e o crime deve passar como a tempestade e espalhar o mal ao acaso?"
Não é preciso concordar com Julien Sorel, que, aliás, faz uma pergunta, não uma resposta; mas quem não meditar essas palavras duras, quem não pensar a fundo o que ele diz em 1830, não vai entender a política, mesmo atual, mesmo democrática. Quem deseja expulsar o crime e a ignorância precisa causar muitos males enquanto promove o grande bem? Os fins justificam os meios? Não é isso. Porque Julien não fala de qualquer fim, mas do fim mais nobre que há: introduzir o conhecimento e o bem. No entanto, para isso, será preciso cooptar os corruptos?
Essas questões de alta literatura me vieram à mente quando me lembrei de um líder da base governista que, indignado com medidas anti-corrupção da presidente Dilma, teria dito que "ela não sabe que está brincando com fogo". Em valor literário, a diferença entre o personagem de Stendhal e o nosso é gigantesca. Mas não estarão falando de coisas parecidas - com a ressalva de que o parlamentar se empenha em vantagens sem ética, e Julien numa ética maior?
Vivemos hoje a luta entre duas grandes ideias sobre a política. A primeira vem da experiência e diz: governar e ser honesto, a um só tempo, raia o impossível. Não quero dizer que todo governante é desonesto; apenas noto que há um fator poderoso que leva, para obter maiorias, à aliança com políticos de má catadura. Curiosamente, em cada país isso se atribui a causas diferentes. Aqui, uns dizem que acabando com o presidencialismo de coalizão, adotando o voto distrital ou a lista fechada, tudo há de melhorar. Em outros países, recomenda-se o contrário. Mas, em suma, primeira convicção: governabilidade e ética não são amigas de infância. Mesmo quem não é Maquiavel, que defendia que o príncipe mantivesse a todo custo seu Estado, e se bate por valores nobres, precisa sujar as mãos. A expressão é de Sartre. Sem sujá-las, não se faz política.
Mas há uma segunda e poderosa ideia: os valores democráticos. A palavra "democracia", que no começo significava essencialmente a escolha pelo povo, fica tão rica desde a II Guerra Mundial que anexa os direitos humanos, e também os valores éticos. Combater a corrupção, a exploração das mulheres pelos homens e até a exploração do homem pelo homem tornam-se preceitos fundamentais. O problema: como ligar este ponto com o anterior? Por um lado, temos uma forte demanda ética, que deseja espraiar-se pela política e talvez nunca tenha atingido tal dimensão em regime democrático. Talvez. Por outro, queremos dos governos que nos deem ou ao menos nos permitam prosperidade. Estamos divididos, os cidadãos, entre o conforto e a ética. Derrubamos Collor em nome da "ética na política", mas ele não teria caído caso seu governo desse bons frutos. Se caiu, foi porque tinha pouco apoio nos partidos e porque não efetuou o salto para o Primeiro Mundo, que prometera na campanha.
Resumindo, vivemos em dilemas. Do ponto de vista do cidadão, quer-se ética - nem sempre por razões éticas, mas também porque, se todos andarem pelo acostamento, a estrada trava. Mas o mesmo cidadão deseja conforto, prosperidade, uma fatia maior do PIB. Rachado entre os princípios morais e a ambição pela prosperidade, nem sempre crava a escolha na ética, que pode exigir renúncia, sacrifício e derrota. Não é à toa que uns chamam de "ético" quem, para outros, é um perdedor.
Já do ponto de vista do governante, e penso na presidente que mostra menos complacência com a corrupção desde Itamar Franco, a escolha também é difícil. Alguns analistas a condenam ora porque lhe falta jogo de cintura, ora porque demora a demitir acusados de corrupção. Mas jogo de cintura é, nove vezes em dez, complacência com os malfeitos! É esse o seu dilema e o de muitos governantes decentes. O que fazem então os governos? Exceto quando são essencialmente corruptos, procuram manter a flexibilização da ética longe do cerne do poder. Tentam preservar o centro do governo. Vejam o curiosíssimo instituto das emendas parlamentares à lei orçamentária. Duas décadas atrás, José Serra propôs que o orçamento fosse aprovado sem nenhuma emenda. Isso era tão absurdo quanto são as emendas parlamentares de hoje. A democracia surge na Inglaterra com o poder, dos eleitos do povo, de votar e rejeitar impostos e despesas. Aprovar o orçamento é o apogeu desse ritual democrático, quando a sociedade decide o que é prioritário e o que não é. Os Estados Unidos conservam isso, tanto que no governo Clinton ficaram um dia sem orçamento e o governo federal, literalmente, fechou. Mas aqui, se o Parlamento não vota o orçamento, ele é assim mesmo executado. E muitas das emendas, que Serra condenava, são penduricalhos pelos quais o parlamentar atende sua base para conseguir se reeleger - algumas delas, sem necessidade sequer para sua base.
Há saída para esses dilemas? Espero que sim. Mas notem que são dois dilemas. Um é do governo, outro dos cidadãos. Não basta cobrar do governo, se os cidadãos não cobrarem ética de si mesmos.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feiras
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José Serra
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Desempenho escolar e classe social
Hélio Scwartsman pilota uma das colunas mais inteligentes da grande rede. Ancorada no UOL, a coluna trata, com criatividade, de temas geralmente negligenciados ou tratados com ligeireza pela imprensa diária. Leia abaixo uma instigante análise do resultado do ENEM recentemente divulgado. Repare, em especial, na mobilização criativa que o autor faz do clássico estudo de Coleman.
A escola serve para alguma coisa?
hélio schwartsman
Todo ano é a mesma coisa. O Ministério da Educação divulga os resultados do Enem por escola, os jornais montam os rankings de melhores e piores e diretores de colégios se lançam num recorrente bate-boca em que um acusa os truquezinhos utilizados pelo outro para inflar as notas médias e todos se queixam dos critérios utilizados para estabelecer a pontuação.
São questões legítimas, mas que às vezes me dão a impressão de passar ao largo do ponto central do debate. Pelo menos desde os anos 60, sociólogos, economistas e estatísticos tentam determinar o que chamam de "efeitos da escola". Numa tradução rude, tentam responder se a escola serve para alguma coisa --e a resposta tem sido mais negativa do que positiva.
Quem começou tudo foi o sociólogo James Samuel Coleman (1926-1995), que, a pedido do governo dos EUA, analisou dados de centenas de milhares de estudantes e professores e publicou em 1966 um relatório de mais de 700 páginas que mudaria para sempre o paradigma dos estudos educacionais. No que provavelmente é o maior achado do ªColeman Reportº, o autor mostrou que a extração familiar e a condição socioeconômica do estudante eram fatores muito mais importantes para explicar seu sucesso (ou fracasso) do que variáveis mais específicas como a qualidade dos professores, o gasto médio por aluno etc.
O trabalho de Coleman também revelou que jovens negros pobres se beneficiavam de estudar em instituições com garotos brancos de classe média, no que foi a justificativa pedagógica para a política de dessegregação racial das escolas americanas no final dos anos 60, mas essa é outra história.
De lá para cá, inúmeras pesquisas confirmaram o enorme peso das variáveis família e status socioeconômico, a ponto de alguns estudiosos chegarem muito perto de afirmar que matricular seu filho nas melhores escolas é irrelevante.
(...)
LEIA A COLUNA INTEIRA AQUI.
A escola serve para alguma coisa?
hélio schwartsman
Todo ano é a mesma coisa. O Ministério da Educação divulga os resultados do Enem por escola, os jornais montam os rankings de melhores e piores e diretores de colégios se lançam num recorrente bate-boca em que um acusa os truquezinhos utilizados pelo outro para inflar as notas médias e todos se queixam dos critérios utilizados para estabelecer a pontuação.
São questões legítimas, mas que às vezes me dão a impressão de passar ao largo do ponto central do debate. Pelo menos desde os anos 60, sociólogos, economistas e estatísticos tentam determinar o que chamam de "efeitos da escola". Numa tradução rude, tentam responder se a escola serve para alguma coisa --e a resposta tem sido mais negativa do que positiva.
Quem começou tudo foi o sociólogo James Samuel Coleman (1926-1995), que, a pedido do governo dos EUA, analisou dados de centenas de milhares de estudantes e professores e publicou em 1966 um relatório de mais de 700 páginas que mudaria para sempre o paradigma dos estudos educacionais. No que provavelmente é o maior achado do ªColeman Reportº, o autor mostrou que a extração familiar e a condição socioeconômica do estudante eram fatores muito mais importantes para explicar seu sucesso (ou fracasso) do que variáveis mais específicas como a qualidade dos professores, o gasto médio por aluno etc.
O trabalho de Coleman também revelou que jovens negros pobres se beneficiavam de estudar em instituições com garotos brancos de classe média, no que foi a justificativa pedagógica para a política de dessegregação racial das escolas americanas no final dos anos 60, mas essa é outra história.
De lá para cá, inúmeras pesquisas confirmaram o enorme peso das variáveis família e status socioeconômico, a ponto de alguns estudiosos chegarem muito perto de afirmar que matricular seu filho nas melhores escolas é irrelevante.
(...)
LEIA A COLUNA INTEIRA AQUI.
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Dilma avança, o Mercado ruge.
Leia o artigo abaixo, publicado no VALOR ECONÔMICO. É uma análise bem consistente dos desafios colocados para a gestão econômica de nossa presidenta.
Dia D de Dilma
Autor(es): Marco Aurélio Cabral
Valor Econômico - 23/09/2011
Contrariados como meninos mimados, participantes do "mercado" se exasperam nas críticas às supostas interferências políticas sobre o Banco Central, com alardes sombrios sobre o futuro próximo de todos os brasileiros. Ocorre que Banco Central independente é suposto como aquele que resiste a pressões políticas, seja de governos ou de "mercados", para o benefício dos interesses difusos, usualmente silenciosos no debate sobre juros. Nestes termos, ao reduzir juros em 31 de agosto, o Poder Executivo parece alinhar expectativas do "mercado" com o pragmatismo do agravamento da situação econômica internacional. Crises históricas são fenômenos distintos de pânico nos "mercados". Desdobram-se em acontecimentos aparentemente contraditórios se percebidos como simples sobe e desce de indicadores. Vistas de longe, as ondas longas do historiador Fernand Braudel parecem apontar para crises que se somam no momento presente dos fatos. Crises políticas e econômicas que se realimentam e se desenvolvem lentamente. E o pior. Inevitavelmente, para nós brasileiros.
Não se resolve nada ao fingir que o problema não existe e que há "normalidade" nos "mercados". A revisão do produto nos EUA para este ano aponta para taxas de crescimento negativas ao término de 2011. Aproximadamente metade dos espanhóis jovens encontra-se desempregada. Não há recuperação do Japão por conta do acidente nuclear. Pelo contrário, a chance mais concreta é que venhamos a assistir proliferação de favelas em Tóquio.
Diante disso, pragmatismo explica porque o objetivo de manutenção dos investimentos industriais previstos não é tarefa simples nestes tempos e, portanto, tanto o crescimento quanto o emprego devem ser defendidos pelo Estado brasileiro. O mesmo senso de realidade parece justificar a reorientação da política monetária em favor do enfrentamento da guerra cambial, que beneficia minoria próspera e mina a vitalidade competitiva de pequenos e grandes empresários brasileiros.
Cumpre-se lembrar que meio por cento de redução na taxa básica de juros implica em economia de cerca de R$ 7 bilhões ao ano no pagamento de juros, contribuição mais do que significativa no esforço de melhoria do resultado nominal. Caso mantida gradualismo na queda do diferencial das taxas reais interna e internacional até os níveis de 3% a 5% do "prêmio Brasil", seria necessário cerca de um ano com reduções em juros. Ao cabo deste período, estaríamos economizando cerca de R$ 70 bilhões anuais, esforço do tamanho do montante que será gasto em educação pública no país em 2011.
O Brasil de hoje se encontra em situação bem diferente daquela enfrentada ao final do século passado, quando convivia alta inflação e baixo crescimento. Após uma década de geração de empregos e renda, a fração de brasileiros sem cobertura do sistema bancário caiu, compreendendo-se hoje cerca de 40% da população (estima-se que em 1999 eram cerca de dois terços).
Da mesma maneira, a inflação que vier a resultar no futuro, se vier, pode ser reduzida considerando-se que outras instituições podem participar do esforço de contenção de preços. A Petrobrás já o faz com o preço da gasolina, vilão do passado. Mas poderiam ajudar também as agências reguladoras, em esforço coordenado de desindexação de contratos de concessão. As compensações à vista para as empresas poderiam ser canalizadas para redução de dívidas, principalmente em moeda estrangeira.
Da mesma maneira, a necessidade de redução nos juros poderia ser menor se fossem ativados mecanismos de exportação de capital via apoio financeiro público à aquisição de empresas no exterior por operadores brasileiros. Dado que a crise afeta poderosa e negativamente o segmento de bens de capital e, dado que este segmento gera inovações tecnológicas relevantes para competitividade das cadeias produtivas, espera-se que surjam oportunidades para transferência de tecnologia obtida nos países centrais para grupos industriais brasileiros. Neste contexto, os Ministérios de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e de Ciência e Tecnologia (MCT) poderiam acumular, de forma integrada e coordenada, inteligência tecnológica e competitiva para identificação de setores e tecnologias prioritárias. O BNDES-Exim poderia operacionalizar recursos financeiros para aquisições no exterior com emprego do Fundo Soberano.
Há ainda a opção de se introduzirem controles cambiais, sendo esta alternativa de mais difícil implementação que a penalização dos capitais de curto prazo via impostos sobre movimentações financeiras.
Finalmente, os mecanismos responsáveis pela expansão da oferta, infraestrutura e indústria, devem ser ancorados em estratégias de longo prazo, obedecendo-se a critérios de planejamento da ocupação racional e sustentável do território brasileiro. Com isso, possíveis aumentos de preços poderão ser neutralizados pelo crescimento homogêneo da renda e do emprego, principalmente nas regiões mais pobres do país.
A importância histórica do Copom de agosto de 2011 parece ser a de encerrar período marcado pela retomada do desenvolvimento (2003-2010), iniciando-se novo período de implementação de projeto nacional de desenvolvimento - só que desta vez em ambiente democrático e inclusivo, ao contrário dos nossos rivais chineses.
Em síntese, a decisão de revisão dos juros, em 31.08.2011, parece inaugurar novo período na história econômica do país. Período em que medidas de proteção ao mercado interno e regras que limitam fluxos financeiros internacionais pautarão o novo nacionalismo brasileiro. Para desgosto dos "mercados", contudo, não parece haver qualquer componente ideológico ou politiqueiro por detrás disso. Apenas o velho e bom pragmatismo de proteção do bem coletivo diante de inevitável aumento da ameaça externa.
Marco Aurélio Cabral é professor da Universidade Federal Fluminense
Dia D de Dilma
Autor(es): Marco Aurélio Cabral
Valor Econômico - 23/09/2011
Contrariados como meninos mimados, participantes do "mercado" se exasperam nas críticas às supostas interferências políticas sobre o Banco Central, com alardes sombrios sobre o futuro próximo de todos os brasileiros. Ocorre que Banco Central independente é suposto como aquele que resiste a pressões políticas, seja de governos ou de "mercados", para o benefício dos interesses difusos, usualmente silenciosos no debate sobre juros. Nestes termos, ao reduzir juros em 31 de agosto, o Poder Executivo parece alinhar expectativas do "mercado" com o pragmatismo do agravamento da situação econômica internacional. Crises históricas são fenômenos distintos de pânico nos "mercados". Desdobram-se em acontecimentos aparentemente contraditórios se percebidos como simples sobe e desce de indicadores. Vistas de longe, as ondas longas do historiador Fernand Braudel parecem apontar para crises que se somam no momento presente dos fatos. Crises políticas e econômicas que se realimentam e se desenvolvem lentamente. E o pior. Inevitavelmente, para nós brasileiros.
Não se resolve nada ao fingir que o problema não existe e que há "normalidade" nos "mercados". A revisão do produto nos EUA para este ano aponta para taxas de crescimento negativas ao término de 2011. Aproximadamente metade dos espanhóis jovens encontra-se desempregada. Não há recuperação do Japão por conta do acidente nuclear. Pelo contrário, a chance mais concreta é que venhamos a assistir proliferação de favelas em Tóquio.
Diante disso, pragmatismo explica porque o objetivo de manutenção dos investimentos industriais previstos não é tarefa simples nestes tempos e, portanto, tanto o crescimento quanto o emprego devem ser defendidos pelo Estado brasileiro. O mesmo senso de realidade parece justificar a reorientação da política monetária em favor do enfrentamento da guerra cambial, que beneficia minoria próspera e mina a vitalidade competitiva de pequenos e grandes empresários brasileiros.
Cumpre-se lembrar que meio por cento de redução na taxa básica de juros implica em economia de cerca de R$ 7 bilhões ao ano no pagamento de juros, contribuição mais do que significativa no esforço de melhoria do resultado nominal. Caso mantida gradualismo na queda do diferencial das taxas reais interna e internacional até os níveis de 3% a 5% do "prêmio Brasil", seria necessário cerca de um ano com reduções em juros. Ao cabo deste período, estaríamos economizando cerca de R$ 70 bilhões anuais, esforço do tamanho do montante que será gasto em educação pública no país em 2011.
O Brasil de hoje se encontra em situação bem diferente daquela enfrentada ao final do século passado, quando convivia alta inflação e baixo crescimento. Após uma década de geração de empregos e renda, a fração de brasileiros sem cobertura do sistema bancário caiu, compreendendo-se hoje cerca de 40% da população (estima-se que em 1999 eram cerca de dois terços).
Da mesma maneira, a inflação que vier a resultar no futuro, se vier, pode ser reduzida considerando-se que outras instituições podem participar do esforço de contenção de preços. A Petrobrás já o faz com o preço da gasolina, vilão do passado. Mas poderiam ajudar também as agências reguladoras, em esforço coordenado de desindexação de contratos de concessão. As compensações à vista para as empresas poderiam ser canalizadas para redução de dívidas, principalmente em moeda estrangeira.
Da mesma maneira, a necessidade de redução nos juros poderia ser menor se fossem ativados mecanismos de exportação de capital via apoio financeiro público à aquisição de empresas no exterior por operadores brasileiros. Dado que a crise afeta poderosa e negativamente o segmento de bens de capital e, dado que este segmento gera inovações tecnológicas relevantes para competitividade das cadeias produtivas, espera-se que surjam oportunidades para transferência de tecnologia obtida nos países centrais para grupos industriais brasileiros. Neste contexto, os Ministérios de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e de Ciência e Tecnologia (MCT) poderiam acumular, de forma integrada e coordenada, inteligência tecnológica e competitiva para identificação de setores e tecnologias prioritárias. O BNDES-Exim poderia operacionalizar recursos financeiros para aquisições no exterior com emprego do Fundo Soberano.
Há ainda a opção de se introduzirem controles cambiais, sendo esta alternativa de mais difícil implementação que a penalização dos capitais de curto prazo via impostos sobre movimentações financeiras.
Finalmente, os mecanismos responsáveis pela expansão da oferta, infraestrutura e indústria, devem ser ancorados em estratégias de longo prazo, obedecendo-se a critérios de planejamento da ocupação racional e sustentável do território brasileiro. Com isso, possíveis aumentos de preços poderão ser neutralizados pelo crescimento homogêneo da renda e do emprego, principalmente nas regiões mais pobres do país.
A importância histórica do Copom de agosto de 2011 parece ser a de encerrar período marcado pela retomada do desenvolvimento (2003-2010), iniciando-se novo período de implementação de projeto nacional de desenvolvimento - só que desta vez em ambiente democrático e inclusivo, ao contrário dos nossos rivais chineses.
Em síntese, a decisão de revisão dos juros, em 31.08.2011, parece inaugurar novo período na história econômica do país. Período em que medidas de proteção ao mercado interno e regras que limitam fluxos financeiros internacionais pautarão o novo nacionalismo brasileiro. Para desgosto dos "mercados", contudo, não parece haver qualquer componente ideológico ou politiqueiro por detrás disso. Apenas o velho e bom pragmatismo de proteção do bem coletivo diante de inevitável aumento da ameaça externa.
Marco Aurélio Cabral é professor da Universidade Federal Fluminense
O DEM é a favor do emprego, mas não no Brasil
O DEM é impagável. Não tem jeito mesmo. Pois não é que a tchurma vai entrar no STF contra o aumento do IPI para os carros importados? Acredite! Pois é, os demos acolheraram a chiadeira dos importadores e, of course, do pessoal do andar de cima, que quer por que quer trocar de carro importado todo ano.
Confira a notícia no site da TRIBUNA DO NORTE, clique aqui.
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O Estado Palestino
O Presidente da Autoridade Palestina formaliza o pedido de reconhecimento do seu Estado na ONU. O assunto é muito importante para quem lida (e se preocupa com as relações internacionais).
Há controvérsias e não está dado que esse é o melhor caminho para a conquista de uma paz sustentável entre palestinos e israelenses.
É sempre bom levar em conta as diversas posições em jogo. Como a posição israelense tende a ser jogada de escanteio no mundo político dito de esquerda no Brasil, transcrevo mais abaixo um artigo de autoria do embaixador de Israel na ONU. O texto foi publicado no jornal VALOR ECONÔMICO. Confira abaixo!
A fantasia Abbas na ONU
Autor(es): Ron Prosor
Valor Econômico - 23/09/2011
No clássico de Lewis Carroll, "Alice no País das Maravilhas", a heroína cai em uma toca de coelho onde encontra um mundo confuso de fantasias. Se estivesse escrevendo essa mesma história hoje, Carroll poderia ter colocado Alice na 66 ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, onde o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, busca o reconhecimento da ONU para um Estado Palestino. Se Alice ficou perplexa com o Chapeleiro Louco ou a Rainha de Copas, seria interessante ver a reação da jovem diante da ação de um presidente, cujo mandato expirou há muito tempo, pedindo a criação de um Estado em um território que ele mesmo tem medo de visitar certas áreas. A confusão da personagem seria agravada ao descobrir que muitos dos países que fazem parte da Organização estão felizes em ceder a essa fantasia.
A proposta da Autoridade Palestina tem grande possibilidade de passar na Assembleia Geral, onde a dinâmica da votação efetivamente garante que quase todos os caprichos dos palestinos sejam validados. A verdade é que o chefe da Autoridade Palestina não possui, absolutamente, nenhuma autoridade na Faixa de Gaza. Abbas não pôs os pés em Gaza desde que a organização terrorista Hamas realizou um sangrento golpe e tomou o controle da área em 2007. Fazendo um paralelo, seria como se o prefeito eleito da cidade de Nova York fosse incapaz de andar pelas ruas do Brooklyn.
As conversas inevitáveis com Israel não serão tão fáceis e implicarão em um trabalho árduo. Apenas no mundo real, com o diálogo direto permeado de verdades difíceis e compromissos sérios, israelenses e palestinos podem tecer uma paz viável, segura e duradoura.
Cada Estado reconhecido pelas Nações Unidas tem a obrigação de estar disposto e apto a exercer sua autoridade sobre seu próprio território. Abbas está disposto a exercer essa autoridade e é capaz de controlar o Hamas? Talvez os cidadãos do sul de Israel, semipermanentes residentes de abrigos antibomba, possam oferecer uma resposta para essa questão. A chuva contínua de foguetes, morteiros e mísseis do Hamas contra casas, hospitais e escolas israelenses nos fornece uma vívida ilustração de que a Autoridade Palestina não quer e é incapaz de sustentar esse requisito básico.
Ao apoiar essa iniciativa, muitos na comunidade internacional parecem dispostos a varrer para debaixo do tapete as questões sobre o terrorismo palestino, o incitamento e a falta de uma governança coerente. Estão apenas cedendo a uma marcha da insensatez. A Assembleia Geral não pode criar um Estado Palestino pois uma ação unilateral não seria apenas maléfica para a paz, mas para a região e, acima de tudo, para o avanço nas aspirações dos palestinos de um Estado genuíno.
Muitos líderes palestinos, incluindo o primeiro-ministro Salam Fayyad, entendem que, como resultado direto de uma forte cooperação econômica e de segurança entre israelenses e palestinos, a economia palestina experimentou um crescimento de 10% em 2010. A única região do mundo que pode ostentar esses números é a Cisjordânia. Aqueles que conseguem compreender o esforço necessário para a criação de um verdadeiro estado não desejam colocar em risco esse progresso com uma declaração prematura e fantasiosa de um estado imaginário.
O que aconteceria com a decisão favorável à criação de um Estado Palestino na Assembleia Geral da ONU?
Em primeiro lugar, isso iria alimentar uma fantasia de que compromissos alcançados nas negociações podem ser ignorados. John F. Kennedy descreveu uma vez a impossibilidade de trabalhar com aqueles que dizem "o que é meu é meu e o que é seu é negociável". A premissa básica do apelo palestino nas Nações Unidas é a seguinte: Nos dê tudo, sem negociação, e depois vamos negociar o resto.
Os verdadeiros amigos dos palestinos na comunidade internacional devem incentivá-los a retomar imediatamente as conversações diretas com Israel. Ninguém, além de israelenses e palestinos, por conta própria, na mesa de negociações, pode enfrentar os grandes desafios que devem ser abordados para que a paz seja alcançada. Essa ação unilateral faz o oposto, permitindo que a Autoridade Palestina contorne o caminho das negociações, enquanto viola todos os acordos bilaterais entre líderes palestinos e israelenses desde os acordos realizados em Oslo.
Além disso, incentiva comportamentos imprudentes em uma região já fragilizada. Aprovar essa manobra unilateral é uma receita para a instabilidade, o colapso das cooperações e, potencialmente, a violência. Aprovar resoluções na Assembleia Geral não requer concessões, não demanda liderança e também não cobra responsabilidade por parte dos palestinos. As conversas inevitáveis com Israel não serão tão fáceis e implicarão em um trabalho árduo, frustrações e muitas noites sem dormir, porém, as negociações continuam a ser única forma para conseguir avanços.
Enquanto os líderes palestinos clamam pelo reconhecimento unilateral, aqueles que apoiam essa medida podem, em breve, estar chorando por suas consequências.
A busca de um Estado virtual incide na mesma esfera de fantasia que Alice descobre no país das maravilhas, todos os coelhos brancos e arenques vermelhos. Apenas no mundo real, com o diálogo direto permeado de verdades difíceis e compromissos sérios, israelenses e palestinos podem tecer uma paz viável, segura e duradoura.
Ron Prosor é embaixador de Israel na Organização das Nações Unidas.
Há controvérsias e não está dado que esse é o melhor caminho para a conquista de uma paz sustentável entre palestinos e israelenses.
É sempre bom levar em conta as diversas posições em jogo. Como a posição israelense tende a ser jogada de escanteio no mundo político dito de esquerda no Brasil, transcrevo mais abaixo um artigo de autoria do embaixador de Israel na ONU. O texto foi publicado no jornal VALOR ECONÔMICO. Confira abaixo!
A fantasia Abbas na ONU
Autor(es): Ron Prosor
Valor Econômico - 23/09/2011
No clássico de Lewis Carroll, "Alice no País das Maravilhas", a heroína cai em uma toca de coelho onde encontra um mundo confuso de fantasias. Se estivesse escrevendo essa mesma história hoje, Carroll poderia ter colocado Alice na 66 ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, onde o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, busca o reconhecimento da ONU para um Estado Palestino. Se Alice ficou perplexa com o Chapeleiro Louco ou a Rainha de Copas, seria interessante ver a reação da jovem diante da ação de um presidente, cujo mandato expirou há muito tempo, pedindo a criação de um Estado em um território que ele mesmo tem medo de visitar certas áreas. A confusão da personagem seria agravada ao descobrir que muitos dos países que fazem parte da Organização estão felizes em ceder a essa fantasia.
A proposta da Autoridade Palestina tem grande possibilidade de passar na Assembleia Geral, onde a dinâmica da votação efetivamente garante que quase todos os caprichos dos palestinos sejam validados. A verdade é que o chefe da Autoridade Palestina não possui, absolutamente, nenhuma autoridade na Faixa de Gaza. Abbas não pôs os pés em Gaza desde que a organização terrorista Hamas realizou um sangrento golpe e tomou o controle da área em 2007. Fazendo um paralelo, seria como se o prefeito eleito da cidade de Nova York fosse incapaz de andar pelas ruas do Brooklyn.
As conversas inevitáveis com Israel não serão tão fáceis e implicarão em um trabalho árduo. Apenas no mundo real, com o diálogo direto permeado de verdades difíceis e compromissos sérios, israelenses e palestinos podem tecer uma paz viável, segura e duradoura.
Cada Estado reconhecido pelas Nações Unidas tem a obrigação de estar disposto e apto a exercer sua autoridade sobre seu próprio território. Abbas está disposto a exercer essa autoridade e é capaz de controlar o Hamas? Talvez os cidadãos do sul de Israel, semipermanentes residentes de abrigos antibomba, possam oferecer uma resposta para essa questão. A chuva contínua de foguetes, morteiros e mísseis do Hamas contra casas, hospitais e escolas israelenses nos fornece uma vívida ilustração de que a Autoridade Palestina não quer e é incapaz de sustentar esse requisito básico.
Ao apoiar essa iniciativa, muitos na comunidade internacional parecem dispostos a varrer para debaixo do tapete as questões sobre o terrorismo palestino, o incitamento e a falta de uma governança coerente. Estão apenas cedendo a uma marcha da insensatez. A Assembleia Geral não pode criar um Estado Palestino pois uma ação unilateral não seria apenas maléfica para a paz, mas para a região e, acima de tudo, para o avanço nas aspirações dos palestinos de um Estado genuíno.
Muitos líderes palestinos, incluindo o primeiro-ministro Salam Fayyad, entendem que, como resultado direto de uma forte cooperação econômica e de segurança entre israelenses e palestinos, a economia palestina experimentou um crescimento de 10% em 2010. A única região do mundo que pode ostentar esses números é a Cisjordânia. Aqueles que conseguem compreender o esforço necessário para a criação de um verdadeiro estado não desejam colocar em risco esse progresso com uma declaração prematura e fantasiosa de um estado imaginário.
O que aconteceria com a decisão favorável à criação de um Estado Palestino na Assembleia Geral da ONU?
Em primeiro lugar, isso iria alimentar uma fantasia de que compromissos alcançados nas negociações podem ser ignorados. John F. Kennedy descreveu uma vez a impossibilidade de trabalhar com aqueles que dizem "o que é meu é meu e o que é seu é negociável". A premissa básica do apelo palestino nas Nações Unidas é a seguinte: Nos dê tudo, sem negociação, e depois vamos negociar o resto.
Os verdadeiros amigos dos palestinos na comunidade internacional devem incentivá-los a retomar imediatamente as conversações diretas com Israel. Ninguém, além de israelenses e palestinos, por conta própria, na mesa de negociações, pode enfrentar os grandes desafios que devem ser abordados para que a paz seja alcançada. Essa ação unilateral faz o oposto, permitindo que a Autoridade Palestina contorne o caminho das negociações, enquanto viola todos os acordos bilaterais entre líderes palestinos e israelenses desde os acordos realizados em Oslo.
Além disso, incentiva comportamentos imprudentes em uma região já fragilizada. Aprovar essa manobra unilateral é uma receita para a instabilidade, o colapso das cooperações e, potencialmente, a violência. Aprovar resoluções na Assembleia Geral não requer concessões, não demanda liderança e também não cobra responsabilidade por parte dos palestinos. As conversas inevitáveis com Israel não serão tão fáceis e implicarão em um trabalho árduo, frustrações e muitas noites sem dormir, porém, as negociações continuam a ser única forma para conseguir avanços.
Enquanto os líderes palestinos clamam pelo reconhecimento unilateral, aqueles que apoiam essa medida podem, em breve, estar chorando por suas consequências.
A busca de um Estado virtual incide na mesma esfera de fantasia que Alice descobre no país das maravilhas, todos os coelhos brancos e arenques vermelhos. Apenas no mundo real, com o diálogo direto permeado de verdades difíceis e compromissos sérios, israelenses e palestinos podem tecer uma paz viável, segura e duradoura.
Ron Prosor é embaixador de Israel na Organização das Nações Unidas.
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Terrorismo
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Quem faltou na foto?
Todos juntos, de novo. A foto expressa um fato singular: na esquina do Atlântico, uma inusitada aliança une um Ministro da Presidente Dilma, o líder do principal partido da base aliada na Câmara e o Presidente do partido que mais faz oposição à presidenta? Quem está sendo traído com o conchavo que a foto expressa?
Um ótimo debate sobre o futuro do automóvel
Neste momento, na Globo News, no programa Entre Aspas, está ocorrendo um ótimo debate a respeito do futuro da mobilidade urbana. O foco é: qual o papel do automóvel nesse futuro? Debatendo,com a argúcia de sempre, o Professor Ricardo Abramovay.
Papa corta o barato da freira
Pô, assim não pode; assim, não dá. Que é que é isso? O Papa proibiu a freirinha bailarina, uma ex-stripper, de continuar fazendo suas apresentações artísticas na igreja.
Refiro-me à Irmã Anna Nobili, que se tornou freira há poucos anos, e vinha fazendo um enorme sucesso nas missas pelas terras européias.
Para teres uma idéia do potencial artístico da religiosa, confira abaixo uma de suas performances.
Voltei!
Tem posts novos. Desde ontem. Confira! Agora, é correr atrás do prejuízo, não é? Foi uma semana díficil, mas a gente não se rende...
Algo que vai ficando no passado...
Humm! De que falo? Bueno, leia a matéria abaixo, publicada no sempre muito bom EL PAÍS, e descubra.
El posmodernismo se convierte en historia moderna
Londres revisa el ascenso y caída del polémico movimiento cultural
P. TUBELLA / J. R. MARCOS - Londres / Madrid - 22/09/2011
Perfiles de edificios que juguetean de forma irreverente con diversos estilos arquitectónicos, en abierto desafío a la sobriedad del movimiento moderno; productos de uso doméstico, como una simple tetera, cuyas formas caprichosas priman la estética frente a todo sentido práctico; revolucionarios diseños gráficos y estrellas musicales decididas a abanderar la subversión con estilo. Y finalmente la rendición, el culto al dinero. Ese cajón de sastre que, bajo la etiqueta de posmodernismo, fue sinónimo de libertad radical hasta convertirse en el estilo del consumismo exacerbado, protagoniza el estreno de la nueva temporada museística en Londres.
Como herederos suyos, ¿somos víctimas o beneficiarios? Los artífices de la exposición que el museo Victoria & Albert abre este sábado (Posmodernismo: Estilo y Subversión 1970-90) no quieren entrar en disquisiciones filosóficas sobre un fenómeno que desafía una definición compacta. Su propuesta se centra en la historia reciente del arte y el diseño, en cómo un movimiento provocador nacido en el universo de la arquitectura acabó extendiendo su influencia en todas las áreas de la cultura popular, incluidos el cine, la música y la moda.
Frente a las connotaciones negativas que arrastra la etiqueta, la muestra explora a través de dos centenares y medio de piezas la vocación rupturista con el pasado inmediato, la pluralidad que reniega de toda narrativa dominante, también un estilo irónico y multifacético que abrió un sinfín de posibilidades.
"El posmodernismo toma fragmentos de estilos ya existentes y los reúne a modo de collage para crear algo diferente", subraya la comisaria de la exposición, Jane Pavitt, sobre una de las características principales del movimiento. Cuando Philip Johnson inauguró hace más de cinco lustros su diseño del rascacielos de la compañía AT&T (hoy edificio Sony) en Nueva York, que talla con un agujero circular el vértice del frontón triangular de la fachada, fue tildado de traidor. El arquitecto -como muestra uno de los bocetos que exhibe el V&A- rebatía la ortodoxia cúbica racionalista, de la que hasta entonces él mismo había sido adalid. El gesto entroncó con una joven generación que miraba con ironía hacia los monumentos del pasado, los reciclaba y combinaba.
Uno de los grandes exponentes del diseño y la arquitectura posmoderna en España fue Oscar Tusquets, cuyo Belvedere Georgina, construido en Llofriu (Gerona) en 1972, fue calificado como "la primera obra posmoderna sin mala conciencia". Lo hizo Charles Jencks, a cuyo ensayo El lenguaje de la arquitectura posmoderna, de 1977, se atribuye la popularización del término que puso nombre al cambio de sensibilidad apuntada ya en textos de Robert Venturi como Complejidad y contradicción en la arquitectura o Aprendiendo de Las Vegas.
Desde su estudio de Barcelona, Tusquets sostiene que "tenía que venir una revisión de esa época". No para reproducir su estética, aclara, sino para reconocer el valor que tuvo: "Fue una reacción de hartazgo contra el monolitismo puritano del movimiento moderno, que despreciaba el gusto de la gente y le decían cómo tenía que vivir. Lo tildaron de snob y reaccionario capitalista porque los modernos decían construir para los obreros, pero resulta que a los obreros les gustaban las cubiertas a dos aguas".
Si aquellas ideas no acabaron de encajar entre el público de los setenta, los diseños posmodernos logran en la siguiente década, con su boom económico, la aceptación de las masas, especialmente en su traslación a los objetos de la vida cotidiana. Los muebles de Ettore Sottsass, fundador del grupo Memphis, o los estilosos artículos domésticos de la firma Alessi, anteponen la originalidad y la ostentación a cualquier otra función, y aparecen como objetos irresistibles en las revistas de estilo que empiezan a proliferar. Todo era una declaración de estilo en aquella "década del diseño" que también impregnó el mundo de la música y a sus intérpretes, exponentes de la teatralidad, el colorido y la exageración. Jane Pavitt alega que el look de personajes tan diversos como David Byrne, Annie Lennox o la diva Grace Jones (a cuyos estilismos se dedica una sala) contribuyó a cuestionar las nociones de género, sexo e identidad, acarreando consigo nuevos aires de libertad.
La resistencia a la autoridad, en el ámbito artístico y en el social, que quiso encarnar el posmodernismo acabó cediendo a la seducción del dinero, simbolizados en el cuadro de Andy Warhol que en el tramo final de la exposición toma como estrella el signo del dólar. El arte como mercancía, la subversión que en realidad persigue el gancho comercial, la superficie a expensas de la profundidad.
"¿Frívola?", se resiste Tusquets. "Comparada con los edificios-estrella que han venido después y que ignoran olímpicamente el contexto en el que se levantan, la arquitectura posmoderna era de un rigor absoluto", ironiza. "En 20 años veremos que los proyectos de Zaha Hadid, por no hablar del Hotel Puerta América de Madrid, se aguantan menos que los de Michael Graves".
Con todo, el arquitecto catalán reconoce que "la desobediencia a Mies y Le Corbusier" y la recuperación de valores de la arquitectura tradicional no siempre encontró una creatividad a la altura de su ambición. Eso y la implantación arrolladora que conoció en los ochenta -"en EE UU Graves anunciaba tarjetas de crédito por televisión y el único arquitecto italiano al que conocían los alumnos era Aldo Rossi"- determinó su caída: "Su descrédito fue proporcional a su éxito". Posmoderno se convirtió en un insulto casi. Nada nuevo según Tusquets: "Cuando yo era niño, el modernismo, Gaudí incluido, era de mal gusto. Si no tiraron el Palau de la Música fue porque no había dinero".
Los detractores del fenómeno encuentran sus argumentos en los años noventa, cuando el posmodernismo, efectivamente, sucumbe ante su propio éxito. Por eso el Victoria & Albert remata ahora una programación que ha revisado los movimientos artísticos y del diseño en el siglo XX con una mirada retrospectiva hacia una escuela multiforme. Un movimiento que, en palabras de Pavitt, "lo adores o lo odies, tuvo en su momento el poder de inflamar", de socavar los dictados de la uniformidad, de abrazar "un diseño radical" y de abrir impensables vías de expresión.
A privatização da Universidade
A privatização da Universidade pública é insidiosa e ocorre sob formas sutis. Confira como lendo trechos de uma matéria publicada hoje no jornal FOLHA DE SÃO PAULO.
Professor usa laboratório da USP para dar curso pago
Depois de receber críticas, universidade suspende uso de instalações
Estudantes de fora da instituição pagavam R$ 1.980 para ter treinamento no laboratório de medicina
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
Professores da Faculdade de Medicina da USP utilizaram um laboratório da instituição pública para oferecer um curso de extensão pago.
Ao menos três turmas, com 110 alunos no total, se formaram no curso -a maioria médicos de fora de São Paulo, ou seja, estudantes que não são da faculdade.
Segundo o site que ofereceu vagas, o treinamento prático e teórico custou R$ 1.980.
Um atrativo era o certificado assinado pelo professor titular Irineu Velasco, da disciplina de emergências clínicas, ex-diretor da faculdade.
Alunos e funcionários da faculdade tomaram conhecimento do curso há algumas semanas e passaram a pressionar a direção da escola.
Ontem, um dia após questionamento da Folha, a direção da faculdade afirmou ter suspendido o curso.
Incomodou parte da faculdade o fato de o laboratório de uma instituição pública -modernizado em 2009 com recursos públicos e privados- ser utilizado para a realização de curso pago, ainda que aos finais de semana.
Também houve a suspeita de que a extensão -chamada Treinamento em Habilidades e Procedimentos em Emergências- poderia ser usada como preparação de candidatos para a prova de residência da faculdade. Isso deixaria os estudantes da faculdade em desvantagem na hora de tentar uma vaga na residência.
(...)
ASSINANTE UOL LÊ A MATÉRIA COMPLETA AQUI.
Professor usa laboratório da USP para dar curso pago
Depois de receber críticas, universidade suspende uso de instalações
Estudantes de fora da instituição pagavam R$ 1.980 para ter treinamento no laboratório de medicina
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
Professores da Faculdade de Medicina da USP utilizaram um laboratório da instituição pública para oferecer um curso de extensão pago.
Ao menos três turmas, com 110 alunos no total, se formaram no curso -a maioria médicos de fora de São Paulo, ou seja, estudantes que não são da faculdade.
Segundo o site que ofereceu vagas, o treinamento prático e teórico custou R$ 1.980.
Um atrativo era o certificado assinado pelo professor titular Irineu Velasco, da disciplina de emergências clínicas, ex-diretor da faculdade.
Alunos e funcionários da faculdade tomaram conhecimento do curso há algumas semanas e passaram a pressionar a direção da escola.
Ontem, um dia após questionamento da Folha, a direção da faculdade afirmou ter suspendido o curso.
Incomodou parte da faculdade o fato de o laboratório de uma instituição pública -modernizado em 2009 com recursos públicos e privados- ser utilizado para a realização de curso pago, ainda que aos finais de semana.
Também houve a suspeita de que a extensão -chamada Treinamento em Habilidades e Procedimentos em Emergências- poderia ser usada como preparação de candidatos para a prova de residência da faculdade. Isso deixaria os estudantes da faculdade em desvantagem na hora de tentar uma vaga na residência.
(...)
ASSINANTE UOL LÊ A MATÉRIA COMPLETA AQUI.
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