Marcos Rolim, ex-vereador em Santa Maria (RS), ex-deputado estadual e ex-deputado federal pelo PT do RS, é um dos políticos mais inteligentes, críticos e honestos que eu tive oportunidade de conhecer. Quando o encontrei, há décadas, eramos, ambos, militantes de uma organização de esquerda já extinta. Em um ambiente pouco propício à reflexão, Rolim afirmava-se com as suas proposições e posicionamentos.
Para dizer a verdade, penso agora, era um quadro político com pouco futuro. Ético e intransigente na defesa dos seus princípios, Rolim não tinha mesmo muito lugar na realpolitik brasileira. Em 2o02, dizem-me conhecidos, tiraram o seu tapete e ele, apesar de mais de 70 mil votos, não conseguiu se reeleger para a Câmara dos Deputados. Pelo PT, partido ao qual pertencera por mais de duas décadas.
No PT, pelo que acompanhei de longe, ainda tentou articular uma corrente "humanista". Deu com a cara na parede. Percebeu, em algum momento da caminhada, que, no partido, não existia mais espaço para a política que sempre sonhou: alicerçada na disputa racional de posições.
Fora da política partidária, mas atuante, Rolim mantém um ótimo site (que você pode acessar aqui), e tem atuado como consultor na área de segurança pública. Etornou-se uma referência em relação à esta temática tão carente de reflexões sérias e inovadoras.
Fora do PT, tem contribuído com a candidatura da ex-ministra Marina Silva. Não o sigo nessa caminhada, mas, cá do meu canto provinciano, acompanho e partilho com muitos dos seus posicionamentos. Como não tenho a sua verve, transcrevo, abaixo, artigo em que ele comenta o Arrudagate. E fornece lições que vão além da denúncia moralista tão em voga na internet.
AO VENCEDOR, OS PANETONES
Marcos Rolim
I – O livro de Ori e Rom Brafmam, “A Força do Absurdo” (Objetiva, 228p.) me permitiu conhecer o professor do curso de Administração em Harvard Max Bazernan.
Ele inventou um jogo muito simples para demonstrar a irracionalidade de determinados comportamentos. No primeiro dia de aula, balançando uma nota de 20 dólares, ele propõe aos alunos um leilão por ela. Todos podem fazer ofertas, obedecendo a duas regras: a) os lances devem ser de um dólar e b) o vencedor leva a nota, mas aquele que ofereceu a penúltima oferta perde o valor de seu lance. Pela regra, então, o segundo colocado no leilão é o perdedor. Percebendo a chance de ganhar a nota por um pequeno valor, os estudantes começam a levantar as mãos. Há uma certa agitação até as ofertas alcançarem algo entre 12 e 16 dólares. Neste ponto todos desistem, menos os dois responsáveis pelas ofertas mais altas. Estes ficam em um beco sem saída. O próximo lance será de 17 dólares. A desistência do competidor que ofereceu 16 acarretará um prejuízo razoável, então ele faz o lance de $18 e, assim, sucessiva e alternadamente. Logo, os lances serão superiores a 20 dólares. É comum que, no jogo, os rivais cheguem a mais de 100 dólares e, em uma oportunidade, a disputa terminou em 204 dólares! Ou seja: quanto mais fundo é o buraco que cavam, mais eles cavam. O erro dos participantes é considerar apenas seus próprios interesses, sem se dar conta que o leilão conduzirá ambos à derrota. Não sei por que me lembrei desta história...
II- Quando tudo vai bem, somos todos muito bons. Temos princípios, claro. Mas conhecemos a realidade dos nossos valores quando as coisas vão mal. É sob pressão, nas condições mais estressantes ou atemorizadoras que emerge aquilo que temos de melhor ou de pior. Então, o gentil vizinho vira um delator sob a ditadura ou o garoto tímido e frágil é o herói da resistência ou o amor de tantos anos e juras se converte em lâmina na separação. Ser honesto é simples. Até um famoso banqueiro – ainda solto - te oferecer uma consultoria de 3 milhões. Então nos descobrimos. Por isso, demonstra conduta ética aquele que ignora ou coloca em risco seus próprios interesses para fazer o que julga ser sua obrigação. Aquele que age em conformidade com o dever, para usar a expressão kantiana. Agora comecei a me lembrar por que me pareceu importante falar disso...
III – Quincas Borba contou a Rubião sobre as duas tribos famintas que disputam uma pequena quantidade de batatas, suficiente apenas para alimentar uma tribo. Se dividirem a comida, nenhuma delas terá força para transpor a montanha e chegar, muito depois, à vertente onde há batatas em abundância. Para Quincas Borba, a paz, neste caso, é a destruição e a guerra, a salvação. Assim, sentencia: “ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor as batatas”. A política no Brasil tem sido regrada pela mesma lei da selva em prol do mais forte. Há novidades, é claro. Afinal, agora os pufs são verdes, corruptos rezam e os panetones substituíram as batatas, triunfantes.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
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