Se você digitar “Arruda” no you tube, tenho certeza!, vai se deparar com algumas dezenas de links direcionando-o para alguns dos vídeos nos quais o Governador demo do DF e alguns dos seus metem literalmente a mão em dinheiro de origem duvidosa. Também no you tube, você poderá se deparar com o vídeo com o qual um vereador de Curitiba pretendeu garantir um lugar na próxima edição do Big Brother, da TV Globo.
Gostem ou não os atores do campo (parlamentares, assessores, consultores, jornalistas e todo um conjunto de agentes que constroem e estruturam o nosso mundo político...), as atividades enquadradas na rubrica de “política”, cada vez mais, produzem imagens e narrativas que alimentam as relações que são consumidas da mesma forma que o são as performances das celebridades, as bizarrices dos esportistas milionários e as cenas de sexo de modelos e atrizes de terceira linha.
Se o espaço público tradicional sempre demarcou fronteiras entre o que “está na frente” (público) e o que fica nos “bastidores” (atrás), agora tudo mudou. O voyeurismo embaralhou as fronteiras e os políticos, assim como todas as outras celebridades, nos jogam na cara suas velhacarias mais íntimas. E há sempre uma câmera a registrar seja a atriz sem calcinha ou o deputado que coloca dinheiro na cueca... Por quê? Ora, não nos deliciamos todos com as cenas mais íntimas e depravadas. E as imagens não mentem, repetem os especialistas da mesmice. “Eu assisti tudo na TV”, dizem muitos. “Dei uma olhada na internet”, repetem outros.
Por outro lado, cada vez mais políticos, assim como jogadores de futebol, não dão um passo ou abrem a boca sem antes consultar um consultor de imagem pessoal. E todo ato público é pensado, teatralizado, como se fora uma performance teatral. Já que o distinto público quer consumir o que é distinto, então, tome distinção fabricada. E tome publicização da vida privada. Se brincar, teremos todo um bloco do principal telejornal da noite dedicado à vida da cadela do Presidente Barak Obama.
Por estas paragens, acreditem!, a coisa não é diferente. O blog dedicado ao jornalismo político no RN que recebe o maior número de visitas presenteia os internautas com fotos e mais fotos das festas de aniversários de políticos e seus familiares. Ou, quando se dedica a “cobrir” uma campanha política, ao “pé inchado” de um deputado.
Não por acaso, Sabrina Sato é a estrela do Senado. Todos os parlamentares querem aparecer no programa televisivo pilotado pela apresentadora. E esta, dizem os bem-informados, é namorada de um deputado cuja performance política é medida pelos casos amorosos que coleciona com celebridades...
E os novos mídias ajustam-se bem a essa transformação dos políticos em celebridades. Com o twitter, por exemplo, o voyeurismo avança um pouco mais. Propalado como uma das “ferramentas” responsáveis pela vitória democrata nos EUA, o programa passou a ser usado largamente pelos políticos brasileiros. Com essa “rede social”, dizem os especialistas, é possível acompanhar o “fazer político”. “Dá mais transparência”, ouvi um precoce candidato a conselheiro do Príncipe anunciar com a solenidade empolada dos medíocres.
O espaço público, pelo menos aquele tradicionalmente concebido por defensores da res publica e da polis, pressupunha discussão e deliberação. Na atualidade, com a força da TV e da internet, ele se transforma mais e mais em espaço de “revelação” de segredos, intimidades e bizarrices íntimas.
Bueno, e daí? Ora, a primeira lição a tirar do acima exposto é que aquela simpática (e, segundo Bourdieu, em seu cortante, “Meditações Pascalianas”, um tanto quanto cristã) idéia de uma esfera pública racional, propugnada pelo filósofo Jürgen Habermas, parece ter cada vez menos chão social para se firmar. Uma segunda lição é a de que aquelas cândidas elaborações sobre a internet como uma espécie de ágora pós-moderna é uma fantasia de conseqüências políticas danosas.
Isso não significa, longe de mim essa idéia pessimista!, assumir a proposição de que as novas tecnologias ameaçam a democracia. Pelo contrário! Elas podem ajudar, sim, a construir espaços democráticos. E, na medida em que têm ajudado efetivamente a formar opiniões e articular redes de opiniões, têm contribuído para, de alguma forma, dar sustentabilidade ao ideal democrático na contemporaneidade.
Entretanto, os ganhos acima mencionados se estiolam caso não estejamos vigilantes em relação às mazelas referidas mais acima.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
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