Marcos Rolim, ex-deputado federal do PT gaucho, atualmente dedicado à consultorias nas áreas de direitos humanos e segurança pública, escreveu um artigo definitivo sobre a lama que o César Benjamim, apoiado pela Folha, quis lançar contra a honra do Lula.
Em tempo: Rolim não pertence mais aos quadros do PT, daí o seu artigo torna-se mais importante ainda, pois, está descolado de qualquer compromisso político-partidário com o Presidente.
SOBRE O ARTIGO DE CESAR BENJAMIN
Marcos Rolim
O jornal “Folha de São Paulo” trouxe, na edição desta sexta (29), um artigo de César Benjamin que relata sua experiência de prisão na época da ditadura.
O jornal “Folha de São Paulo” trouxe, na edição desta sexta (29), um artigo de César Benjamin que relata sua experiência de prisão na época da ditadura. César foi preso quando tinha 17 anos, foi torturado e, depois, colocado junto com presos comuns para que fosse abusado sexualmente. Os presos, entretanto, o acolheram de forma respeitosa. Enquanto fala destas coisas, o artigo é muito interessante. Ocorre que, no meio do texto, o autor insere outra história, vivida em 1994. Relata, então, ter ouvido de Lula um comentário sobre os 30 dias de prisão que ele – Lula - amargou na época em que era líder sindical. A fala atribuída a Lula é de uma singular baixeza e atenta, claramente, contra sua honra. Por esta razão, não a reproduzo.
Os adversários de Lula terão, agora, uma conversinha nova em seus comentários particulares. Os defensores de Lula, é claro, dirão que Cesar Benjamim é um doente mental. A dedução tem uma base, digamos, “estatística”. O problema, entretanto, é muito diverso.
Quem conhece o Presidente Lula, sabe que ele sempre tenta fazer graça ao se relacionar com as pessoas. Às vezes, a intenção constrói afirmações nada engraçadas que terminam por revelar seus próprios preconceitos (como ocorreu, por exemplo, no comentário homofóbico feito há alguns anos para Fernando Marroni em uma campanha eleitoral em Pelotas). Não conheço César Benjamim, mas vamos lhe conceder o benefício da dúvida e imaginar que seja possível que ele tenha ouvido algo semelhante ao que conta. A questão que me parece relevante, entretanto, é: temos o direito de relatar publicamente algo que pode destruir a honra de alguém sem possui qualquer evidência que o comprove? A questão deve ser respondida sem que pensemos na figura do Lula. Poderia ser qualquer outra pessoa.
Minha resposta é não. Não temos este direito. Cesar pode ter toda a razão do mundo se pensa em desconstruir esta babaquice do endeusamento do Lula. Todos nós sabemos o quanto estas coisas são, mais que falsas, perigosas. Mas penso que não pode atacar a honra de Lula – ou de quem quer que seja - a menos que tenha como provar o que disse, o que não parece ser o caso. A própria Folha não deveria ter publicado o artigo pelas mesmas razões. Excluída a menção feita ao que Lula teria dito sobre sua experiência na prisão, o artigo de César Benjamim é muito bom. O problema é que ninguém se lembrará do artigo, mas apenas da acusação feita contra Lula, que aparece como um ataque gratuito cuja ferocidade não se pode aceitar.
Não seria demais lembrar, também, que todos nós - a depender do tipo de interação que mantemos com as pessoas e de seus contextos - podemos eventualmente dizer impropriedades ou fazer brincadeiras que, fora daquele ambiente de intimidade, poderiam ser consideradas ofensivas ou de mau gosto. É possível que o relato de Cesar diga respeito a uma destas interações. Reproduzir enunciados que surgiram em contextos do tipo não me parece configurar conduta ética. O fato do Jornal Folha de São Paulo ter publicado a passagem que atinge a honra de Lula, por outro lado, é igualmente deplorável e abre perigoso precedente.
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