quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Nossa riqueza está no ar...

O Professor Hannah Safieh, uma analista apaixonada das possibilidades de desenvolvimento nos trópicos, provoca os seus interlocutores norte-riograndenses questionando-lhes sobre o que vêem como possibilidades de desenvolvimento e riqueza no RN. Não raro, depara-se com generalidades. Nessas situações, com paciência, mas sem abandonar a paixão, enumera os pontos que jusitificariam falar desta pequena província situada na esquina do Atlântico Sul como um Eldorado. Há dez anos, em uma longa conversa que tivemos, ele já mencionava as possibilidades de riqueza geradas pela energia eólica.

Não sei se o Professor Hannah tem acompanhado o debate sobre a regulamentação do setor (e vou procurar saber como ele está analisando o quadro), mas acho que, todos nós, deveríamos nos preocupar um pouco mais com a questão. Pensando nisso, reproduzo aí abaixo artigo de autoria do economista Celso Ming tratando do assunto (bem claro: energia eólica, não RN). Confira!


Riqueza do vento
Celso Ming
O Estado de São Paulo


A energia elétrica produzida pelos ventos (energia eólica) não usa combustíveis (como carvão, gás e outros derivados de petróleo queimados nas termoelétricas). Dispensa despesas com bloqueio de áreas e construção de reservatórios, como nas hidrelétricas. E não precisa de enormes linhas de transmissão porque pode ser instalada em áreas próximas dos centros de consumo. Mas, se é assim, por que é tão cara?

Por praticamente todos os parâmetros pelos quais se analisa, o leilão de venda de energia eólica, o primeiro no Brasil, foi um sucesso. Assegurou o preço médio do megawatt/hora (MWh) de R$ 148, ou 21% mais baixo do que o preço-teto fixado pelo governo. Esse valor já é equivalente ao custo de produção de energia térmica a partir do carvão nacional ou da biomassa. Dá até para se desconfiar de que poderá acontecer com os fornecedores de energia eólica o que já houve com alguns produtores de biodiesel: não serão capazes de entregar o produto aos preços contratados.

Mas, afinal, por que a energia produzida pelo vento é tão cara?

Em primeiro lugar, porque não é possível gerar energia correspondente a 100% da capacidade instalada. Ventos fracos ou inexistentes derrubam a produção assegurada à média de 40%. E isso significa que o custo do capital tem de ser diluído por menos produção. É por isso que a energia eólica desempenha papel complementar na oferta total: é tratada como de reserva; fica disponível para ser acionada quando for preciso.

No Brasil, o setor esbarra com outros multiplicadores de custo. Um deles é a carga tributária mais alta do que no exterior, que incide sobre a produção e venda do equipamento que forma o conjunto de turbinas e pás específicas, os enormes cata-ventos que aparecem nas fotos das fazendas eólicas. No momento, o setor está contemplado por uma redução temporária de impostos.

O outro são as cláusulas de conteúdo nacional do equipamento (obrigatoriedade de produção no País), que bloqueiam a importação de um produto mais barato. O especialista Adriano Pires calcula que a derrubada dessa exigência contribuiria com a redução em cerca de 20% dos custos. Por outro lado, a baixa escala de produção desse equipamento no Brasil é, por si só, fator de elevação de custos, que poderiam cair com um programa de apoio do setor. Enfim, o círculo vicioso “é caro porque não tem demanda e não tem demanda porque é caro” poderia ser quebrado por um empurrão análogo ao que, nos anos 70, foi dado ao Proálcool.

E também não dá para ignorar o impacto ambiental. As fazendas eólicas vêm sendo apontadas como elemento poluidor de paisagem ou como geradoras de ruídos, especialmente para eventuais moradores das regiões próximas às turbinas. Outro problema é a mortandade de morcegos e também de pássaros quando as hélices das turbinas são instaladas nas rotas migratórias. Esta é a razão pela qual os especialistas vêm recomendando que essas fazendas sejam transferidas para áreas no alto-mar, o que não deixa de ser novo fator de aumento de custos.

Em todo o caso, a energia eólica está listada entre as que mais preservam as condições ambientais e, no momento, essa característica pode ajudar a aumentar o interesse pelo setor.

Confira

É novidade que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esteja defendendo um certo déficit nas contas correntes do Brasil (contas externas fora o fluxo de capitais). Normalmente esse rombo é visto como risco de moratória e, portanto, de crise.

No entanto, se o déficit se aprofundar, a cobertura para esse rombo não pode ser feita com empréstimos em dólares (aumento da dívida externa), como no passado.
Se for compensado com aumento do investimento estrangeiro direto e com recursos destinados ao reforço de capital da empresa brasileira, não há o que temer.

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