Segunda-feira. Tudo recomeça. É necessário arrancar forças de algum lugar para retomar a caminhada. Uma boa música sempre ajuda...
segunda-feira, 31 de maio de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
Concurso para professor titular
Acho que o concurso para professor titular em Universidade não deveria, como ocorre na UFRN, se basear apenas em prova de título, defesa de memorial e prova didática. Penso que a melhor maneira de honrar esse cargo, e eu entendo que ele é o último patamar na carreira universitária, deveria ser obrigar os candidatos a defenderem uma tese escrita.
Esse caminho impulsionaria a produção acadêmica e impediria os "caroneiros".
Ah! Já que estou no meu dia de cricri, digo-lhes que acho um absurdo essa exigência de doze anos de atuação na pós para que alguém possa se candidatar ao cargo de titular. Essa é uma daquelas bobagens que alguém lança prá ver se cola, e cola. Que besteira! Doze anos de pós, e até orientar teses de doutorado, não torna alguém mais habilitado para ser titular. E, se torna, não há nenhuma razão para impedir que os "menos habilitados" disputem essa vaga de titular.
E se o concurso é para preencher "vagas", o critério de estabelecimento das mesmas não pode ser o corpo docente existente nos departamentos, mas aquele que se quer constituir. Digo isso porque acho uma coisa sem sentido que um departamento com história e com uma prática consolidada de pesquisa como o de Antropologia não tenha tido direito a vagas. Vá entender...
Giddens e a dificuldade em se produzir uma análise política com profundidade...
No post abaixo, você poderá conferir reações críticas à tentativa do sociólogo Anthony Giddens em situar a derrota do trabalhismo inglês nas recentes eleições ocorridas no país. Fico contente com os comentários, pois, revelam argúcia e capacidade de discernimento do que (não) está em jogo nas análises feitas no calor dos acontecimentos.
Sim! Giddens é um grande cientista social. Não vou dizer que é o mais importante da atualidade, pois, vocês sabem!, acho esses "campeonatos de importância" expressões de provincianismo. Nem sempre acerta a bola no canto, quando o assunto é política contemporânea. Tudo bem! Mas, dado que foi um dos articuladores do chamado "Novo Trabalhismo", suas opiniões são importantes. E, no meu entender, revelam mais as posições de um ator do que aquelas de um autor.
Quanto ao Bourdieu, convocado para dar força ao argumento pelo Cadu, acho que é isso mesmo: um grande cientista social, mas um ator político, no mínimo, "complicado".
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Giddens e a derrota do trabalhismo
Reproduzo abaixo artigo de autoria de Anthony Giddens, publicado orignalmente no jornal argentino CLARIN e traduzido para o português pelo Ex-Blog do César Maia, dando conta da recente derrota eleitoral do trabalhismo inglês. Vale a pena conferir!
ANTHONY GIDDENS, TEÓRICO DA TERCEIRA VIA, EXPLICA O TRABALHISMO APÓS SUA QUEDA!(Clarín, 20)
1. O trabalhismo conseguiu permanecer no poder por mais tempo do que qualquer outro partido de centro-esquerda nos últimos tempos, incluindo os países escandinavos. Foi um feito de grande importância, dado que o partido nunca antes tinha estado no poder durante dois mandatos completos em seus mais de cem anos de existência. As mudanças ideológicas associadas à criação do termo "Novo Trabalhismo" constituíram grande parte da razão de seu sucesso eleitoral.
2. O novo trabalhismo não era uma etiqueta vazia pensada para esconder um vácuo político. Pelo contrário, foi desde o início um forte diagnóstico do porque a inovação era algo necessário na política de centro-esquerda e também uma agenda política clara. Os valores da esquerda - solidariedade, redução das desigualdades, proteção dos menos favorecidos, somados a firme convicção do papel fundamental de um governo ativo para alcançá-los - permaneceram intactos, mas as políticas destinadas para alcançar esses fins tiveram que sofrer uma mudança radical devido às profundas alterações que ocorriam na sociedade.
3. Estas mudanças incluíam a intensificação da globalização, o desenvolvimento de uma economia pós-industrial ou de serviços e, na era da informação, o surgimento de um a cidadania mais volúvel e combativa, menos respeitadora das figuras de autoridade que no passado (um processo que logo o advento da internet expandiu ainda mais). A maioria das políticas trabalhistas derivou dessa análise. A era da gestão da demanda keynesiana, vinculada à direção estatal da economia, havia terminado.
4. Tinha que ser estabelecida uma relação diferente entre o governo e empresas, e reconhecer o papel fundamental das empresas na criação de riqueza, assim como os limites do poder estatal. Nenhum país, por maior e poderoso que fosse, poderia controlar esse mercado. O advento da economia de serviços ou baseada no conhecimento se juntou à redução da classe trabalhadora, reduto tradicional do Partido Trabalhista.
5. Para ganhar as eleições, portanto, um partido de centro-esquerda teria que chegar a um espectro muito mais amplo de eleitores, incluindo aqueles que nunca haviam apoiado o trabalhismo, que já não podia continuar sendo somente um partido de classes. Com Tony Blair, que não era exatamente um trabalhista da velha escola, o partido pareceu ter encontrado o líder perfeito para alcançar esse objetivo.
ANTHONY GIDDENS, TEÓRICO DA TERCEIRA VIA, EXPLICA O TRABALHISMO APÓS SUA QUEDA!(Clarín, 20)
1. O trabalhismo conseguiu permanecer no poder por mais tempo do que qualquer outro partido de centro-esquerda nos últimos tempos, incluindo os países escandinavos. Foi um feito de grande importância, dado que o partido nunca antes tinha estado no poder durante dois mandatos completos em seus mais de cem anos de existência. As mudanças ideológicas associadas à criação do termo "Novo Trabalhismo" constituíram grande parte da razão de seu sucesso eleitoral.
2. O novo trabalhismo não era uma etiqueta vazia pensada para esconder um vácuo político. Pelo contrário, foi desde o início um forte diagnóstico do porque a inovação era algo necessário na política de centro-esquerda e também uma agenda política clara. Os valores da esquerda - solidariedade, redução das desigualdades, proteção dos menos favorecidos, somados a firme convicção do papel fundamental de um governo ativo para alcançá-los - permaneceram intactos, mas as políticas destinadas para alcançar esses fins tiveram que sofrer uma mudança radical devido às profundas alterações que ocorriam na sociedade.
3. Estas mudanças incluíam a intensificação da globalização, o desenvolvimento de uma economia pós-industrial ou de serviços e, na era da informação, o surgimento de um a cidadania mais volúvel e combativa, menos respeitadora das figuras de autoridade que no passado (um processo que logo o advento da internet expandiu ainda mais). A maioria das políticas trabalhistas derivou dessa análise. A era da gestão da demanda keynesiana, vinculada à direção estatal da economia, havia terminado.
4. Tinha que ser estabelecida uma relação diferente entre o governo e empresas, e reconhecer o papel fundamental das empresas na criação de riqueza, assim como os limites do poder estatal. Nenhum país, por maior e poderoso que fosse, poderia controlar esse mercado. O advento da economia de serviços ou baseada no conhecimento se juntou à redução da classe trabalhadora, reduto tradicional do Partido Trabalhista.
5. Para ganhar as eleições, portanto, um partido de centro-esquerda teria que chegar a um espectro muito mais amplo de eleitores, incluindo aqueles que nunca haviam apoiado o trabalhismo, que já não podia continuar sendo somente um partido de classes. Com Tony Blair, que não era exatamente um trabalhista da velha escola, o partido pareceu ter encontrado o líder perfeito para alcançar esse objetivo.
Faces de nossa tragédia...
Matéria publicada na edição de hoje do jornal VALOR ECONÔMICO expressa uma das faces de nossa tragédia. Confira abaixo!
Justiça lenta impede a volta de US$ 3 bi ao país
Cristine Prestes, de São Paulo 28/05/2010
Até hoje, porém, pouco menos de US$ 3 milhões em recursos desviados voltaram ao país por meio desses acordos.
O dinheiro seria suficiente para financiar 40% dos benefícios direcionados ao Bolsa Família pelo governo federal em 2010. Também poderia ter sido usado para quitar 70% dos valores desembolsados nos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no primeiro trimestre deste ano. Mas os US$ 3 bilhões desviados do país ilegalmente nos últimos anos e bloqueados em contas bancárias no exterior não podem voltar ao Brasil enquanto o Poder Judiciário brasileiro não julgar, em definitivo, os autores dos desvios e ainda titulares dos recursos mantidos nos Estados Unidos, Europa, Suíça e em outros paraísos fiscais.
Esses US$ 3 bilhões são o montante que o governo brasileiro encontrou até hoje em investigações de lavagem de dinheiro proveniente de crimes de evasão de divisas, corrupção, tráfico de drogas, contrabando e outros e que motivaram a abertura de ações judiciais. Durante as investigações e os processos, à medida que o Ministério Público encontra indícios de contas bancárias mantidas pelos autores dos crimes fora do país, recorre a acordos de cooperação internacional assinados entre o Brasil e o país onde o dinheiro está depositado para que seja bloqueado e, posteriormente, devolvido.
Até hoje, porém, pouco menos de US$ 3 milhões em recursos desviados voltaram ao país por meio desses acordos. Foram dois casos de evasão de divisas por meio de contas CC5 do antigo Banestado. Os dois estão entre as 684 denúncias por crime de evasão de divisas e lavagem de dinheiro feitas pelo Ministério Público Federal durante a força-tarefa que investigou o uso irregular das CC5 em 2003, quando foi descoberto um esquema gigantesco de desvio de recursos que envolveu mais de mil contas bancárias no exterior. Estima-se que US$ 24 bilhões tenham saído ilegalmente do país pelo Banestado.
Embora a cooperação penal seja considerada um meio eficiente para a recuperação de ativos desviados, no Brasil encontra um entrave: a ausência quase absoluta de condenações definitivas por crimes econômicos. Na maioria dos casos de crimes transnacionais, os países que têm acordos de cooperação aceitam bloquear recursos quando há indícios de crime, mas só concordam em devolvê-los quando a Justiça condena o criminoso. Sem a condenação definitiva, o dinheiro não sai da conta do titular, embora não possa ser movimentado.
A demora na conclusão dos processos por crime econômico na Justiça brasileira acaba por minar o sucesso dos acordos de cooperação - que desde o início do governo Lula são a aposta brasileira para recuperar recursos desviados do país e combater a lavagem de dinheiro, mediante a asfixia financeira dos criminosos com o bloqueio de bens.
Justiça lenta impede a volta de US$ 3 bi ao país
Cristine Prestes, de São Paulo 28/05/2010
Até hoje, porém, pouco menos de US$ 3 milhões em recursos desviados voltaram ao país por meio desses acordos.
O dinheiro seria suficiente para financiar 40% dos benefícios direcionados ao Bolsa Família pelo governo federal em 2010. Também poderia ter sido usado para quitar 70% dos valores desembolsados nos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no primeiro trimestre deste ano. Mas os US$ 3 bilhões desviados do país ilegalmente nos últimos anos e bloqueados em contas bancárias no exterior não podem voltar ao Brasil enquanto o Poder Judiciário brasileiro não julgar, em definitivo, os autores dos desvios e ainda titulares dos recursos mantidos nos Estados Unidos, Europa, Suíça e em outros paraísos fiscais.
Esses US$ 3 bilhões são o montante que o governo brasileiro encontrou até hoje em investigações de lavagem de dinheiro proveniente de crimes de evasão de divisas, corrupção, tráfico de drogas, contrabando e outros e que motivaram a abertura de ações judiciais. Durante as investigações e os processos, à medida que o Ministério Público encontra indícios de contas bancárias mantidas pelos autores dos crimes fora do país, recorre a acordos de cooperação internacional assinados entre o Brasil e o país onde o dinheiro está depositado para que seja bloqueado e, posteriormente, devolvido.
Até hoje, porém, pouco menos de US$ 3 milhões em recursos desviados voltaram ao país por meio desses acordos. Foram dois casos de evasão de divisas por meio de contas CC5 do antigo Banestado. Os dois estão entre as 684 denúncias por crime de evasão de divisas e lavagem de dinheiro feitas pelo Ministério Público Federal durante a força-tarefa que investigou o uso irregular das CC5 em 2003, quando foi descoberto um esquema gigantesco de desvio de recursos que envolveu mais de mil contas bancárias no exterior. Estima-se que US$ 24 bilhões tenham saído ilegalmente do país pelo Banestado.
Embora a cooperação penal seja considerada um meio eficiente para a recuperação de ativos desviados, no Brasil encontra um entrave: a ausência quase absoluta de condenações definitivas por crimes econômicos. Na maioria dos casos de crimes transnacionais, os países que têm acordos de cooperação aceitam bloquear recursos quando há indícios de crime, mas só concordam em devolvê-los quando a Justiça condena o criminoso. Sem a condenação definitiva, o dinheiro não sai da conta do titular, embora não possa ser movimentado.
A demora na conclusão dos processos por crime econômico na Justiça brasileira acaba por minar o sucesso dos acordos de cooperação - que desde o início do governo Lula são a aposta brasileira para recuperar recursos desviados do país e combater a lavagem de dinheiro, mediante a asfixia financeira dos criminosos com o bloqueio de bens.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Serra no seu quadrado
A eleição presidencial de 2010 poderia ser um momento para discussões substantivas sobre políticas concretas de enfrentamento às drogas. Quando todo mundo que soma dois e dois, inclusive FHC e César Gavíria, entendem que as políticas proibicionistas não produzem bons resultados, as principais candidaturas ao Governo Central nada articulam de novo e propositivo em relação à essa espinhosa questão.
Pior que isso! Dado que a questão das drogas é, hoje, uma questão a ser enfrentada de forma global, há que se ter, por parte dos presidenciáveis, elaborações sérias sobre as nossas relações internacionais.
Isto posto, vale a pena chamar a atenção para a notícia abaixo. Nela, como você pode conferir, o tucano assesta as baterias contra a Bolívia e Evo Morales. Faz, por assim dizer, um afago na direita tupiniquim, que adoraria se descolar do resto da América Latina para desejados conúbios com os irmãos do Norte. Cada um tem os seus gostos, não é mesmo? Mas, com essa postura, o Serra apequena-se como candidato e vai fazendo o jogo dos adversários, especialmente do PT, que é encurralá-lo no quadrado reservado à direita.
SERRA ACUSA “CORPO MOLE” DO GOVERNO BOLIVIANO NO COMBATE À COCAÍNA. OU: DOIS HOMENS E UM MESMO COLAR
quarta-feira, 26 de maio de 2010 17:54
Folha Online.
Por Sérgio Torres:
O pré-candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, disse hoje no Rio, em entrevista ao programa “Se liga Brasil”, da “Rádio Globo”, que o governo da Bolívia é “cúmplice” do tráfico de cocaína para o Brasil.
A declaração foi dada quando Serra dissertava novamente sobre a importância, no entender dele, da criação de um ministério da Segurança Pública que combatesse, dentre outros crimes, o tráfico de drogas.
O ex-governador de São Paulo afirmou também que de 80% a 90% da cocaína que entra no Brasil são provenientes da Bolívia.
Logo depois do programa, ao responder aos jornalistas sobre a declaração, Serra afirmou que o governo do país vizinho faz “corpo mole”.
“Vocês acham que poderia entrar toda essa cocaína [no Brasil] se o governo [boliviano] não fizesse corpo mole?”. O pré-candidato do PSDB afirmou que não está fazendo uma “acusação” e sim uma “constatação”.
Pior que isso! Dado que a questão das drogas é, hoje, uma questão a ser enfrentada de forma global, há que se ter, por parte dos presidenciáveis, elaborações sérias sobre as nossas relações internacionais.
Isto posto, vale a pena chamar a atenção para a notícia abaixo. Nela, como você pode conferir, o tucano assesta as baterias contra a Bolívia e Evo Morales. Faz, por assim dizer, um afago na direita tupiniquim, que adoraria se descolar do resto da América Latina para desejados conúbios com os irmãos do Norte. Cada um tem os seus gostos, não é mesmo? Mas, com essa postura, o Serra apequena-se como candidato e vai fazendo o jogo dos adversários, especialmente do PT, que é encurralá-lo no quadrado reservado à direita.
SERRA ACUSA “CORPO MOLE” DO GOVERNO BOLIVIANO NO COMBATE À COCAÍNA. OU: DOIS HOMENS E UM MESMO COLAR
quarta-feira, 26 de maio de 2010 17:54
Folha Online.
Por Sérgio Torres:
O pré-candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, disse hoje no Rio, em entrevista ao programa “Se liga Brasil”, da “Rádio Globo”, que o governo da Bolívia é “cúmplice” do tráfico de cocaína para o Brasil.
A declaração foi dada quando Serra dissertava novamente sobre a importância, no entender dele, da criação de um ministério da Segurança Pública que combatesse, dentre outros crimes, o tráfico de drogas.
O ex-governador de São Paulo afirmou também que de 80% a 90% da cocaína que entra no Brasil são provenientes da Bolívia.
Logo depois do programa, ao responder aos jornalistas sobre a declaração, Serra afirmou que o governo do país vizinho faz “corpo mole”.
“Vocês acham que poderia entrar toda essa cocaína [no Brasil] se o governo [boliviano] não fizesse corpo mole?”. O pré-candidato do PSDB afirmou que não está fazendo uma “acusação” e sim uma “constatação”.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Morre Jean-Paul Brodeur
Na coleção de estudos sobre a polícia, publicado pela Edusp, você encontrará diversos textos escritos por esse eminente professor de criminologia. É com tristeza que anunciamos a sua morte súbita, ocorrida no início deste mês. Leia mais (em francês) sobre o ocorrido aqui.
Clique aqui e leia um resumo do artigo "POR UMA SOCIOLOGIA DA FORÇA PÚBLICA: considerações sobre a força policial e militar", de autoria de Brodeur, que foi publicado no CADERNOS CRH.
Ennio Morricone fazia sucesso... também em Apodi
Início da década de 1970. Finalzinho de tarde, a boca de som do Cine Odeon anunciava a atração da noite. A música de Ennio Morricone ecoava pelas ruas de calçamento irregular. 19 horas, ou uns minutinhos a mais para que "Seu" Altino pudesse garantir a bilheteria e pagar fita, a molecada estava a postos, já impaciente. E eu junto, claro! Por umas duas horas erámos transportados para o mundo mágico do cinema. E faroeste era o nosso gênero favorito.
Um Sérgio Leone memorável...
Todo mundo tem o "seu" filme de Sérgio Leone. O meu é "A fistful of dynamite", que, entre nós, ganhou o feliz título de "Quando explode a vingança". Confira o thriller abaixo.
Na mosca...
Alon, como de costume, acerta o alvo. Abaixo, uma análise com a qual concordo plenamente.
Uma situação bizarra (23/05)
Alon Feuerwerker
Uma acusação que não se faz ao PT é ter inventado a atual política brasileira. A legenda adaptou-se a ela. Agora os adversários lamentam e protestam. Quando as posições se inverterem, um dia, os papeis também se inverterão
A bizarrice da nossa legislação eleitoral chegou ao paroxismo nestas semanas. Se não alcançamos ainda o limite do nonsense, talvez estejamos perto.
Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff vêm sendo seguidamente multados por “campanha antecipada”. O “crime” deriva de uma jabuticaba: aqui a lei prevê dia certo para o início oficial da campanha. Antes disso, nem o candidato pode dizer que é — mesmo sendo —, nem ninguém pode pedir votos para o candidato.
Conte isso a um cidadão de outro país e nos verá como uma nação de loucos. Mas nem tanto. As penas aplicadas pela Justiça são leves, embutem ótima relação custo benefício. Ou seja, nem os tribunais levam a coisa a sério.
Qual seria a saída? Mais rigor? Ou menos? Eu fico com a segunda opção. Todos deveriam ter o direito de fazer campanha na hora em que desejassem, com todos os adereços. Arrecadação inclusive. O que a democracia brasileira perderia? Nada.
O problema da oposição em maio não esteve nos supostos excessos cometidos pela candidatura oficial. A subida de Dilma nas pesquisas aconteceu porque desde o Dia do Trabalho Lula está no campo de jogo, e jogando. Aconteceu agora, como teria acontecido em julho/agosto. Foi só questão de datas.
O fato é que o PT, em todas as esferas, testa os limites, para alavancar seu projeto de continuidade. Faz o papel dele. Nem Lula nem o partido estão preocupados em promover qualquer aperfeiçoamento estrutural das instituições. Também aqui seguem o exemplo dos antecessores.
Há porém um detalhe. Pode-se acusar o PT de escarnecer das regras, mas não de as ter mudado em proveito próprio. Se você quer achar o Arquimedes, procure-o fora do PT. Se o partido de Lula encontra jeito de usar o poder como ponto de apoio para mover o mundo, inclusive nas eleições, é porque já recebeu a receita pronta. E também o bolo.
Quando no Planalto, o PSDB implantou a reeleição (que eu acho boa) e reduziu o tempo de campanha no rádio e na televisão (medida que achei ruim). E instituiu a regra da desincompatibilização assimétrica (péssima). Se você é parlamentar ou concorre à reeleição, pode fazê-lo no cargo. Já se você tem um cargo e vai desafiar um candidato à reeleição, precisa renunciar meio ano antes.
Também foi o PSDB a entronizar o BNDES e os fundos de pensão das estatais como donos do capitalismo brasileiro. O PT só teve o trabalho de tomar conta da máquina e colocá-la para trabalhar no rumo adequado aos novos donos do poder.
Uma acusação que não se faz ao PT é ter inventado a atual política brasileira. A legenda adaptou-se a ela. Agora os adversários lamentam e protestam. Quando as posições se inverterem, um dia, os papeis também se inverterão.
Há alguma saída? Talvez o caminho devesse apontar na contramão do que exige a opinião púbica. Menos regulamentos, menos limites, mais liberdade para a ação política.
Coerência
Quando fala a investidores estrangeiros, o governo bendiz a herança que recebeu. Quando fala ao povo aqui dentro, maldiz. E daí? E daí nada. Quem estiver atrás de coerência que se dedique à vida acadêmica, e olhe lá. Política é — ou tem sido — outra coisa.
A coerência na política não é um valor em si. Se o líder está prestes a conduzir a nação ao desastre, roga-se que seja incoerente e mude o rumo.
De todo modo, resta o esforço humorístico dos que tentam vender no mercado das ideias a tese da ruptura na passagem de Fernando Henrique Cardoso para Lula. Ou na transição do primeiro para o segundo governo do PT.
É gente atrás de algum significado histórico para sua passagem pelo governo. Humanamente compreensível.
Não mas sim
No meio termo entre produzir a bomba brasileira ou não, encontra-se no governo quem especule com um caminho: não fazer, pois a Constituição e os tratados internacionais proíbem, mas estar pronto para fazer quando houver as necessárias condições políticas.
Como pré-requisito, não aderir ao protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação. A adesão permitiria inspeções-surpresa da Agência Internacional de Energia Atômica aqui.
Por “as necessárias condições políticas” entendam-se inclusive as indispensáveis para mudar a Constituição.
Uma situação bizarra (23/05)
Alon Feuerwerker
Uma acusação que não se faz ao PT é ter inventado a atual política brasileira. A legenda adaptou-se a ela. Agora os adversários lamentam e protestam. Quando as posições se inverterem, um dia, os papeis também se inverterão
A bizarrice da nossa legislação eleitoral chegou ao paroxismo nestas semanas. Se não alcançamos ainda o limite do nonsense, talvez estejamos perto.
Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff vêm sendo seguidamente multados por “campanha antecipada”. O “crime” deriva de uma jabuticaba: aqui a lei prevê dia certo para o início oficial da campanha. Antes disso, nem o candidato pode dizer que é — mesmo sendo —, nem ninguém pode pedir votos para o candidato.
Conte isso a um cidadão de outro país e nos verá como uma nação de loucos. Mas nem tanto. As penas aplicadas pela Justiça são leves, embutem ótima relação custo benefício. Ou seja, nem os tribunais levam a coisa a sério.
Qual seria a saída? Mais rigor? Ou menos? Eu fico com a segunda opção. Todos deveriam ter o direito de fazer campanha na hora em que desejassem, com todos os adereços. Arrecadação inclusive. O que a democracia brasileira perderia? Nada.
O problema da oposição em maio não esteve nos supostos excessos cometidos pela candidatura oficial. A subida de Dilma nas pesquisas aconteceu porque desde o Dia do Trabalho Lula está no campo de jogo, e jogando. Aconteceu agora, como teria acontecido em julho/agosto. Foi só questão de datas.
O fato é que o PT, em todas as esferas, testa os limites, para alavancar seu projeto de continuidade. Faz o papel dele. Nem Lula nem o partido estão preocupados em promover qualquer aperfeiçoamento estrutural das instituições. Também aqui seguem o exemplo dos antecessores.
Há porém um detalhe. Pode-se acusar o PT de escarnecer das regras, mas não de as ter mudado em proveito próprio. Se você quer achar o Arquimedes, procure-o fora do PT. Se o partido de Lula encontra jeito de usar o poder como ponto de apoio para mover o mundo, inclusive nas eleições, é porque já recebeu a receita pronta. E também o bolo.
Quando no Planalto, o PSDB implantou a reeleição (que eu acho boa) e reduziu o tempo de campanha no rádio e na televisão (medida que achei ruim). E instituiu a regra da desincompatibilização assimétrica (péssima). Se você é parlamentar ou concorre à reeleição, pode fazê-lo no cargo. Já se você tem um cargo e vai desafiar um candidato à reeleição, precisa renunciar meio ano antes.
Também foi o PSDB a entronizar o BNDES e os fundos de pensão das estatais como donos do capitalismo brasileiro. O PT só teve o trabalho de tomar conta da máquina e colocá-la para trabalhar no rumo adequado aos novos donos do poder.
Uma acusação que não se faz ao PT é ter inventado a atual política brasileira. A legenda adaptou-se a ela. Agora os adversários lamentam e protestam. Quando as posições se inverterem, um dia, os papeis também se inverterão.
Há alguma saída? Talvez o caminho devesse apontar na contramão do que exige a opinião púbica. Menos regulamentos, menos limites, mais liberdade para a ação política.
Coerência
Quando fala a investidores estrangeiros, o governo bendiz a herança que recebeu. Quando fala ao povo aqui dentro, maldiz. E daí? E daí nada. Quem estiver atrás de coerência que se dedique à vida acadêmica, e olhe lá. Política é — ou tem sido — outra coisa.
A coerência na política não é um valor em si. Se o líder está prestes a conduzir a nação ao desastre, roga-se que seja incoerente e mude o rumo.
De todo modo, resta o esforço humorístico dos que tentam vender no mercado das ideias a tese da ruptura na passagem de Fernando Henrique Cardoso para Lula. Ou na transição do primeiro para o segundo governo do PT.
É gente atrás de algum significado histórico para sua passagem pelo governo. Humanamente compreensível.
Não mas sim
No meio termo entre produzir a bomba brasileira ou não, encontra-se no governo quem especule com um caminho: não fazer, pois a Constituição e os tratados internacionais proíbem, mas estar pronto para fazer quando houver as necessárias condições políticas.
Como pré-requisito, não aderir ao protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação. A adesão permitiria inspeções-surpresa da Agência Internacional de Energia Atômica aqui.
Por “as necessárias condições políticas” entendam-se inclusive as indispensáveis para mudar a Constituição.
Blogando com o pé no freio...
Pois é, até o final da próxima, no máximo, estarei de volta com a força de sempre. É que estou envolvido em um conjunto de atividades, uma após a outra, que não dão tempo nem de respirar. Loucura completa. Quando passar a onda, e ela sempre passa, eu estarei aqui...
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Mobilidade urbana sustentável: um desafio em Natal
E um desafio também para as ciências sociais da UFRN. Abaixo, de forma um tanto quanto precária, anoto alguns aspectos devem ser levados na construção de um projeto de investigação sociológico sobre a temática.
O crescimento do mercado automobilístico nos últimos cinco anos tem se conjugado, na região urbana polarizada pela cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, com a incorporação definitiva das paisagens da cidade no mercado imobiliário internacional. Assim, ao lado do crescimento da frota de veículos, temos aqui, como sói ocorrer em outras partes do país, um aumento vertiginoso do preço médio do solo urbano. Uma das traduções da dinâmica do mercado imobiliário local tem sido a rápida transformação territorial nesse espaço regional, como o confirmam, por exemplo, as imagens de satélite mais recentes. A ampliação da mancha urbana da Região Metropolitana de Natal, ao mesmo tempo em que indica a dinâmica do crescimento regional dos últimos anos, autoriza-nos a afirmar que um dos seus desdobramentos tem sido um significativo aumento dos custos individuais e coletivos da mobilidade urbana em seu interior.
O sistema de transporte coletivo da região, assentado em veículos como ônibus e vans, e, marginalmente no transporte ferroviário que liga algumas cidades da região, não se constitui em uma oferta atrativa de deslocamento para os moradores da região. E a opção predominante pelo transporte individual cria problemas importantes para o presente e potencialmente graves para o futuro. Nesse quadro, a análise rigorosa e cientificamente embasada os desafios colocados para a mobilidade urbana na Grande Natal nos dias de hoje pode vir a cumprir um papel estratégico no sentido de fornecer informações sistematizadas e subsídios para a consecução de uma proposta abrangente para a mobilidade urbana sustentável neste espaço metropolitano a curto e médio prazo.
Mas essa é uma empreitada de pesquisa que não pode ser realizada se não estiver encimada por uma perspectiva crítica. O que se traduz por uma ruptura com as noções rentes ao senso comum, que relacionam, ingenuamente, o predomínio da “cultura do automóvel” apenas a um conjunto de escolhas construídas por consumidores. Orientada também por uma preocupação em esboçar alternativas propositivas, a presente investigação não faz concessões a crítica moral e reducionista que deprecia o grande investimento material e simbólico, feito pelas classes populares e pelos estratos inferiores das classes médias, para a aquisição do seu primeiro automóvel.
A suposta elaboração crítica, mencionada mais acima, é, em verdade, uma produção discursiva muito comum nos ambientes ditos intelectualizados. Em realidade, trata-se de uma crítica farisaica, feita por pessoas pertencentes a famílias que ou possuem mais de um automóvel ou residem em áreas urbanas privilegiadas, próximas dos locais de trabalho e dos centros de oferta de serviços.
A crescente demanda por viagens no interior da Grande Natal, algo que, com a perspectiva de expansão da economia de serviços nos próximos anos, impulsionada pelas mudanças provocadas pela adaptação da capital do Rio Grande do Norte para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, tenderá a agravar os problemas de congestionamento, acidentes de trânsito e poluição ambiental. Essa demanda por viagens alimentará a demanda por automóveis individuais, inexoravelmente. Exortações morais contra o uso do carro individual podem muito pouco diante da força de escolhas individuais corroboradas por percepções culturais e sócio-psíquicas profundas, como é o caso da necessidade socialmente produzida do automóvel individual. Até porque, no que diz respeito ao transporte urbano, nem sempre as boas escolhas do ponto de vista sistêmico são boas e positivas escolhas individuais.
O que foi dito acima não implica a complacência com o quadro atual. Muito antes pelo contrário: expressa uma posição que procura não alimentar cândidas ilusões a respeito de um problema estrutural. Referimo-nos, em especial, àqueles discurso que apontam “boa vontade” e “decisão política” dos administradores locais como condições suficientes para a consecução de uma mobilidade urbana sustentável (mais adiante, em outra parte, trataremos mais detidamente este conceito). Por outro lado, há que se levar em conta uma obviedade sempre relegada para o segundo plano: se a mobilidade urbana é definida por condicionantes físicos, ambientais e tecnológicos, ela também o é pela estrutura social. E isso significa que, nessa dimensão fundamental da vida urbana contemporânea, a desigualdade social se superpõe à mobilidade.
Assumindo que a mobilidade urbana, de algum modo, reproduz as assimetrias de classe e gênero, buscamos, trata-se de analisar como a segurança pública impacta a mobilidade urbana na chamada Grande Natal e se constitui em óbice importante para a implantação de uma mobilidade urbana sustentável na região metropolitana. Na medida em que, como parece consensual entre os estudiosos da mobilidade urbana, há uma exposição diferenciada de condutores de veículos, passageiros de transportes coletivos, pedestres e condutores de veículos não-motorizados à acidentes, riscos e formas de violência nos seus deslocamentos no espaço urbano, assumimos, neste trabalho, a tarefa de mapear os medos e as vitimizações que estão subjacentes aos “projetos”* de mobilidade no espaço urbano que pretendemos estudar. Trata-se também de identificar os ambientes, distribuição espacial dos efetivos policiais e estruturas arquitetônicas e viárias que impactam negativamente na segurança pública dos agentes sociais acima identificados. Reforçando a dimensão sócio-antropológica do trabalho, propomo-nos ainda a empreender uma análise a respeito das necessidades e sentidos atribuídos pelas pessoas aos seus deslocamentos no espaço regional delimitado como lócus do projeto e de que como a segurança pública determina escolhas e projetos de mudança de formas de deslocamento (do transporte coletivo para o automóvel individual, por exemplo).
* Esses projetos, expressos nos primas de condutas diárias, são limitados tanto pelas posições sociais (de classe e de gênero, em especial) quanto por apreensões subjetivas, mas nem por infundadas, como a “sensação de segurança”.
O crescimento do mercado automobilístico nos últimos cinco anos tem se conjugado, na região urbana polarizada pela cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, com a incorporação definitiva das paisagens da cidade no mercado imobiliário internacional. Assim, ao lado do crescimento da frota de veículos, temos aqui, como sói ocorrer em outras partes do país, um aumento vertiginoso do preço médio do solo urbano. Uma das traduções da dinâmica do mercado imobiliário local tem sido a rápida transformação territorial nesse espaço regional, como o confirmam, por exemplo, as imagens de satélite mais recentes. A ampliação da mancha urbana da Região Metropolitana de Natal, ao mesmo tempo em que indica a dinâmica do crescimento regional dos últimos anos, autoriza-nos a afirmar que um dos seus desdobramentos tem sido um significativo aumento dos custos individuais e coletivos da mobilidade urbana em seu interior.
O sistema de transporte coletivo da região, assentado em veículos como ônibus e vans, e, marginalmente no transporte ferroviário que liga algumas cidades da região, não se constitui em uma oferta atrativa de deslocamento para os moradores da região. E a opção predominante pelo transporte individual cria problemas importantes para o presente e potencialmente graves para o futuro. Nesse quadro, a análise rigorosa e cientificamente embasada os desafios colocados para a mobilidade urbana na Grande Natal nos dias de hoje pode vir a cumprir um papel estratégico no sentido de fornecer informações sistematizadas e subsídios para a consecução de uma proposta abrangente para a mobilidade urbana sustentável neste espaço metropolitano a curto e médio prazo.
Mas essa é uma empreitada de pesquisa que não pode ser realizada se não estiver encimada por uma perspectiva crítica. O que se traduz por uma ruptura com as noções rentes ao senso comum, que relacionam, ingenuamente, o predomínio da “cultura do automóvel” apenas a um conjunto de escolhas construídas por consumidores. Orientada também por uma preocupação em esboçar alternativas propositivas, a presente investigação não faz concessões a crítica moral e reducionista que deprecia o grande investimento material e simbólico, feito pelas classes populares e pelos estratos inferiores das classes médias, para a aquisição do seu primeiro automóvel.
A suposta elaboração crítica, mencionada mais acima, é, em verdade, uma produção discursiva muito comum nos ambientes ditos intelectualizados. Em realidade, trata-se de uma crítica farisaica, feita por pessoas pertencentes a famílias que ou possuem mais de um automóvel ou residem em áreas urbanas privilegiadas, próximas dos locais de trabalho e dos centros de oferta de serviços.
A crescente demanda por viagens no interior da Grande Natal, algo que, com a perspectiva de expansão da economia de serviços nos próximos anos, impulsionada pelas mudanças provocadas pela adaptação da capital do Rio Grande do Norte para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, tenderá a agravar os problemas de congestionamento, acidentes de trânsito e poluição ambiental. Essa demanda por viagens alimentará a demanda por automóveis individuais, inexoravelmente. Exortações morais contra o uso do carro individual podem muito pouco diante da força de escolhas individuais corroboradas por percepções culturais e sócio-psíquicas profundas, como é o caso da necessidade socialmente produzida do automóvel individual. Até porque, no que diz respeito ao transporte urbano, nem sempre as boas escolhas do ponto de vista sistêmico são boas e positivas escolhas individuais.
O que foi dito acima não implica a complacência com o quadro atual. Muito antes pelo contrário: expressa uma posição que procura não alimentar cândidas ilusões a respeito de um problema estrutural. Referimo-nos, em especial, àqueles discurso que apontam “boa vontade” e “decisão política” dos administradores locais como condições suficientes para a consecução de uma mobilidade urbana sustentável (mais adiante, em outra parte, trataremos mais detidamente este conceito). Por outro lado, há que se levar em conta uma obviedade sempre relegada para o segundo plano: se a mobilidade urbana é definida por condicionantes físicos, ambientais e tecnológicos, ela também o é pela estrutura social. E isso significa que, nessa dimensão fundamental da vida urbana contemporânea, a desigualdade social se superpõe à mobilidade.
Assumindo que a mobilidade urbana, de algum modo, reproduz as assimetrias de classe e gênero, buscamos, trata-se de analisar como a segurança pública impacta a mobilidade urbana na chamada Grande Natal e se constitui em óbice importante para a implantação de uma mobilidade urbana sustentável na região metropolitana. Na medida em que, como parece consensual entre os estudiosos da mobilidade urbana, há uma exposição diferenciada de condutores de veículos, passageiros de transportes coletivos, pedestres e condutores de veículos não-motorizados à acidentes, riscos e formas de violência nos seus deslocamentos no espaço urbano, assumimos, neste trabalho, a tarefa de mapear os medos e as vitimizações que estão subjacentes aos “projetos”* de mobilidade no espaço urbano que pretendemos estudar. Trata-se também de identificar os ambientes, distribuição espacial dos efetivos policiais e estruturas arquitetônicas e viárias que impactam negativamente na segurança pública dos agentes sociais acima identificados. Reforçando a dimensão sócio-antropológica do trabalho, propomo-nos ainda a empreender uma análise a respeito das necessidades e sentidos atribuídos pelas pessoas aos seus deslocamentos no espaço regional delimitado como lócus do projeto e de que como a segurança pública determina escolhas e projetos de mudança de formas de deslocamento (do transporte coletivo para o automóvel individual, por exemplo).
* Esses projetos, expressos nos primas de condutas diárias, são limitados tanto pelas posições sociais (de classe e de gênero, em especial) quanto por apreensões subjetivas, mas nem por infundadas, como a “sensação de segurança”.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Charutos cubanos no céu...
O céu deve estar em festa. O fumacê por lá não deve ser pequeno nos últimos dias. Por que? Ora, ô meu, então não sabes que o cubano Alejandro Robaina, uma espécie de Pelé dos charutos, se foi? Pois é, pelo que ele fez pelo prazer dos outros, deve estar no céu...
Como aficcionado de um bom cubano que sou, te juro!, o Rabaina deve estar sendo tratado assim como um Rei, um paxá. Nada menos! Ele que conhecia tudo sobre charuto, deve ter ensinado anjos e arcanjos a colher um fumo de primeiro nas planícies celestais. Um produto quase igual àquele que só existe na sua, agora ex, Ilha Caliente.
Queres saber mais sobre a figura? Sem problemas! Confira abaixo matéria publicada na última edição da revista PIAUÍ.
MORRE UM PURO
Alejandro Robaina, o cubano que virou fumaça
DORRIT HARAZIM
Instado a definir felicidade, o comediante americano George Burns foi claro: "Felicidade? Um bom charuto, uma boa refeição, um bom charuto, uma boa mulher - ou mesmo uma não tão boa - um bom charuto... Depende da quantidade de felicidade que você consegue administrar." Burns administrou charutos, refeições e mulheres até morrer, com 100 anos de idade, em 1996.
O cubano Alejandro Robaina, o mais reverenciado conhecedor de tabaco do mundo, contribuiu a vida inteira para a felicidade de aficionados como Burns. Morreu no mês passado, aos 91 anos, e foi enterrado na fazenda familiar La Piña, ao lado da plantação de 16 hectares que, desde 1845, sobrevive intacta a todos os solavancos políticos e econômicos de Cuba.
As sedosas folhas verdes da terra dos Robaina, que já eram colhidas quando a então colônia ainda pertencia aos reis da Espanha, atravessaram soberanamente a história da ilha. De safra em safra, abasteceram de "puros" os tempos de José Martí, a geração da guerra da independência, o período de domínio americano, as três encarnações da ditadura Fulgencio Batista. Dois nomes estelares dos puros, os Cohiba Espléndidos e os Hoyo de Monterrey Double Coronas, vêm das folhas plantadas por Robaina.
Mesmo depois de 1959, ano em que os barbudos de Fidel Castro proclamaram Cuba um Estado revolucionário, o status de Alejandro Robaina como produtor autônomo permaneceu inalterado. "Fidel queria que eu fizesse parte de uma cooperativa, mas recusei. Expliquei que queria continuar trabalhando com minha família", ele contou à revista Cigar Aficionado, em 2006. "El Comandante acabou entendendo, visto que hoje boa parte da terra voltou para as mãos de pequenos agricultores."
De fato, na Cuba em transição de Fidel para Raúl Castro, 80% das plantações de tabaco da região de Pinar del Río estão em mãos privadas. Mas o governo de Havana continua a ser o único comprador. Fidel continuou degustando charutos até 1985, quando cedeu a ordens médicas de abandonar o vício mantido ao longo de 44 anos. Em entrevista concedida uma década mais tarde, contou que combatia a abstinência dos seus Habanos sonhando com eles.
Filho de um camponês sem instrução, Robaina começou a trabalhar no cultivo do tabaco aos 10 anos de idade, junto ao pai. Em meados dos anos 90, já septuagenário, recebeu das mãos de Fidel Castro o título de melhor tabaquero de Cuba. A consagração maior, contudo, lhe foi proporcionada pela empresa mista Habanos S.A., responsável pela comercialização e distribuição de charutos cubanos no mundo todo: em 1997, ela criou uma marca de charuto em sua homenagem, o Vegas Robaina. No espanhol falado em Cuba, a palavra vega designa plantação de tabaco.
Foi a primeira vez na história da produção tabaqueira que se batizou um selo novo com o nome de um guajiro, um simples homem do campo. E, ainda por cima, em vida. A partir daí, a Finca La Piña passou a integrar o roteiro turístico da ilha. Apreciadores do mundo inteiro não se constrangiam em pedir a Don Alejandro que autografasse a caixa de puros com a sua imagem, cuja produção anual chega a três milhões de unidades. Caravanas de ônibus de turismo despejavam curiosos que queriam ver de perto o personagem de rosto sulcado pelo sol. "Já não preciso mais viajar pelo mundo: o mundo está vindo a mim", comentou dois meses atrás ao jornalista James Suckling, da Cigar Aficionado, referindo-se aos anos em que desempenhou o papel de embaixador itinerante do produto de exportação mais cobiçado de Cuba.
Por diferenças na linha do tempo, desencontros da história e malvadezas do destino, Alejandro Robaina jamais cruzou com Sigmund Freud, que fumava vinte símbolos fálicos por dia. Tampouco pôde ouvir de Winston Churchill o quanto era difícil fumar um puro quando se está com uma máscara de oxigênio tapando boca e nariz. Para manter sua média de oito a dez charutos diários durante a Segunda Guerra Mundial, mesmo quando a bordo de aviões não pressurizados, Churchill ordenou a invenção de uma máscara que atendesse a seus hábitos.
Dentre tantas figuras da história que frequentam a lista dos dependentes das plantações de Pinar del Río, coube a John F. Kennedy assumir de forma mais explícita o seu temor de ficar sem seus charutos preferidos. Corria o ano de 1962 e o presidente americano estava prestes a decretar o embargo que proibiria a entrada nos Estados Unidos de qualquer produto proveniente de Cuba. Antes, porém, escalou Pierre Salinger, seu assessor de imprensa e homem de confiança, para a missão sigilosa: obter mil unidades de cubanos Petit Upmann, no prazo máximo de 24 horas. Salinger se revelou à altura da tarefa: conseguiu arrebanhar 1 200 exemplares para o ocupante da Casa Branca.
Alejandro Robaina ainda fumava cinco charutos por dia no final da vida. Morreu de câncer e foi enterrado na finca da família. Não conheceu John Kennedy nem qualquer um dos nove presidentes americanos que o sucederam. Quanto ao embargo decretado em 1962, está em vigor até hoje.
Como aficcionado de um bom cubano que sou, te juro!, o Rabaina deve estar sendo tratado assim como um Rei, um paxá. Nada menos! Ele que conhecia tudo sobre charuto, deve ter ensinado anjos e arcanjos a colher um fumo de primeiro nas planícies celestais. Um produto quase igual àquele que só existe na sua, agora ex, Ilha Caliente.
Queres saber mais sobre a figura? Sem problemas! Confira abaixo matéria publicada na última edição da revista PIAUÍ.
MORRE UM PURO
Alejandro Robaina, o cubano que virou fumaça
DORRIT HARAZIM
Instado a definir felicidade, o comediante americano George Burns foi claro: "Felicidade? Um bom charuto, uma boa refeição, um bom charuto, uma boa mulher - ou mesmo uma não tão boa - um bom charuto... Depende da quantidade de felicidade que você consegue administrar." Burns administrou charutos, refeições e mulheres até morrer, com 100 anos de idade, em 1996.
O cubano Alejandro Robaina, o mais reverenciado conhecedor de tabaco do mundo, contribuiu a vida inteira para a felicidade de aficionados como Burns. Morreu no mês passado, aos 91 anos, e foi enterrado na fazenda familiar La Piña, ao lado da plantação de 16 hectares que, desde 1845, sobrevive intacta a todos os solavancos políticos e econômicos de Cuba.
As sedosas folhas verdes da terra dos Robaina, que já eram colhidas quando a então colônia ainda pertencia aos reis da Espanha, atravessaram soberanamente a história da ilha. De safra em safra, abasteceram de "puros" os tempos de José Martí, a geração da guerra da independência, o período de domínio americano, as três encarnações da ditadura Fulgencio Batista. Dois nomes estelares dos puros, os Cohiba Espléndidos e os Hoyo de Monterrey Double Coronas, vêm das folhas plantadas por Robaina.
Mesmo depois de 1959, ano em que os barbudos de Fidel Castro proclamaram Cuba um Estado revolucionário, o status de Alejandro Robaina como produtor autônomo permaneceu inalterado. "Fidel queria que eu fizesse parte de uma cooperativa, mas recusei. Expliquei que queria continuar trabalhando com minha família", ele contou à revista Cigar Aficionado, em 2006. "El Comandante acabou entendendo, visto que hoje boa parte da terra voltou para as mãos de pequenos agricultores."
De fato, na Cuba em transição de Fidel para Raúl Castro, 80% das plantações de tabaco da região de Pinar del Río estão em mãos privadas. Mas o governo de Havana continua a ser o único comprador. Fidel continuou degustando charutos até 1985, quando cedeu a ordens médicas de abandonar o vício mantido ao longo de 44 anos. Em entrevista concedida uma década mais tarde, contou que combatia a abstinência dos seus Habanos sonhando com eles.
Filho de um camponês sem instrução, Robaina começou a trabalhar no cultivo do tabaco aos 10 anos de idade, junto ao pai. Em meados dos anos 90, já septuagenário, recebeu das mãos de Fidel Castro o título de melhor tabaquero de Cuba. A consagração maior, contudo, lhe foi proporcionada pela empresa mista Habanos S.A., responsável pela comercialização e distribuição de charutos cubanos no mundo todo: em 1997, ela criou uma marca de charuto em sua homenagem, o Vegas Robaina. No espanhol falado em Cuba, a palavra vega designa plantação de tabaco.
Foi a primeira vez na história da produção tabaqueira que se batizou um selo novo com o nome de um guajiro, um simples homem do campo. E, ainda por cima, em vida. A partir daí, a Finca La Piña passou a integrar o roteiro turístico da ilha. Apreciadores do mundo inteiro não se constrangiam em pedir a Don Alejandro que autografasse a caixa de puros com a sua imagem, cuja produção anual chega a três milhões de unidades. Caravanas de ônibus de turismo despejavam curiosos que queriam ver de perto o personagem de rosto sulcado pelo sol. "Já não preciso mais viajar pelo mundo: o mundo está vindo a mim", comentou dois meses atrás ao jornalista James Suckling, da Cigar Aficionado, referindo-se aos anos em que desempenhou o papel de embaixador itinerante do produto de exportação mais cobiçado de Cuba.
Por diferenças na linha do tempo, desencontros da história e malvadezas do destino, Alejandro Robaina jamais cruzou com Sigmund Freud, que fumava vinte símbolos fálicos por dia. Tampouco pôde ouvir de Winston Churchill o quanto era difícil fumar um puro quando se está com uma máscara de oxigênio tapando boca e nariz. Para manter sua média de oito a dez charutos diários durante a Segunda Guerra Mundial, mesmo quando a bordo de aviões não pressurizados, Churchill ordenou a invenção de uma máscara que atendesse a seus hábitos.
Dentre tantas figuras da história que frequentam a lista dos dependentes das plantações de Pinar del Río, coube a John F. Kennedy assumir de forma mais explícita o seu temor de ficar sem seus charutos preferidos. Corria o ano de 1962 e o presidente americano estava prestes a decretar o embargo que proibiria a entrada nos Estados Unidos de qualquer produto proveniente de Cuba. Antes, porém, escalou Pierre Salinger, seu assessor de imprensa e homem de confiança, para a missão sigilosa: obter mil unidades de cubanos Petit Upmann, no prazo máximo de 24 horas. Salinger se revelou à altura da tarefa: conseguiu arrebanhar 1 200 exemplares para o ocupante da Casa Branca.
Alejandro Robaina ainda fumava cinco charutos por dia no final da vida. Morreu de câncer e foi enterrado na finca da família. Não conheceu John Kennedy nem qualquer um dos nove presidentes americanos que o sucederam. Quanto ao embargo decretado em 1962, está em vigor até hoje.
Campanhas de esclarecimento sobre a AIDS
Veja abaixo uma peça publicitária interessante. Foi produzida pela ONG canadense ONE LIFE.
A tradução da frase diz tudo: "cada vez que você dorme com alguém, você dorme com o seu passado".
A tradução da frase diz tudo: "cada vez que você dorme com alguém, você dorme com o seu passado".
A versão argentina do clipe contra a homofobia
O clipe corre o mundo e faz um enorme sucesso. Tem humor, mas é um tapa na cara do preconceito. Agora, aproveitando-se das oportunidades criada pela internet, multiplicam-se as versões nacionais. Clique abaixo e confira a versão produzida na Argentina.
terça-feira, 18 de maio de 2010
A sociologia de Gabriel Tarde na análise de César Maia
O César Maia é incansável. Atira para todos os lados, não é verdade? Como não gostar dos seus escritos? Da persona política, aí depende do posicionamento e são outros quinhentos... Mas, convenhamos!, lê-lo é sempre um bom remédio contra a mesmice do debate político. Confira abaixo texto publicado no seu "ex-blog".
MICRO-POLÍTICA E FORMAÇÃO DE OPINIÃO PÚBLICA!
Trechos da coluna de Cesar Maia na Folha de SP (15).
1. Gabriel Tarde (1843-1904), sociólogo francês, pai da microssociologia e da micropolítica, viu suas ideias serem atropeladas pelas escolas estruturalistas, como as de Marx, Durkheim, Weber, etc, que prevaleceram no século 20. Sua obra capital foi "Les Lois de l'Imitation" (1890), texto fundamental para entender a lógica da internet, 110 anos depois. Em "Leis da Imitação", Tarde analisa o processo de formação de opinião a partir das relações entre os indivíduos.
2. Nos termos de hoje: os meios de comunicação, sistemas de publicidade, etc, distribuem informações, que são filtradas pelos indivíduos. Para assumi-las como opinião sua, o indivíduo as testa com alguém em cuja opinião confia e então ele afirma ou não a informação como opinião e a repassa. Esse processo ocorre em pontos infinitos, que vão formando fluxos de opinamento. Alguns são linhas tênues, que desfalecem. Outros fluxos se ampliam e vão avançando com diversas intensidades viróticas.
3. Para Tarde, há três tipos de indivíduos: os "loucos", que iniciam fluxos de opinamento; os "tímidos", que são repassadores de fluxos, ou imitadores, na expressão de Tarde; os "tolos", ou "descrentes", que pouco repassam os fluxos recebidos. Por esse processo se formam as instituições e a opinião pública. Se um grupo social afirma ideias, outros podem repassá-las por "imitação".
4. Olhando para os meios de comunicação de hoje, que são os mais importantes distribuidores de informação, estes obedecem à lógica da audiência, pois esta define sua competitividade. Estrito senso, os meios de comunicação não formam opinião, mas reforçam opinião formada. Mas, como estão inseridos socialmente, por sensibilidade, ou pesquisas, dão conta de fluxos de opinamento em formação sustentada.
5. Quando propagam esses fluxos, aceleram enormemente a velocidade de transformação deles em opinião pública. Fluxos que constituiriam opinião pública em, por exemplo, dois anos, podem ser acelerados pela TV e formar opinião em duas horas, como ocorre algumas vezes.
6. A lógica da internet e de suas redes é essa, agregada à diversidade informacional de hoje. "Louco" é quem cria um fluxo e vê sua repetição às centenas e aos milhares nas redes, no YouTube... "Tímidos" são os mais importantes para os iniciadores e estimuladores de fluxos (políticos entre estes).7. São os "tímidos" que garantirão aos fluxos os múltiplos acessos e a aceleração na formação de opinião e o voto. Um processo muito mais complexo e difícil que na TV dos anos 70/80.
MICRO-POLÍTICA E FORMAÇÃO DE OPINIÃO PÚBLICA!
Trechos da coluna de Cesar Maia na Folha de SP (15).
1. Gabriel Tarde (1843-1904), sociólogo francês, pai da microssociologia e da micropolítica, viu suas ideias serem atropeladas pelas escolas estruturalistas, como as de Marx, Durkheim, Weber, etc, que prevaleceram no século 20. Sua obra capital foi "Les Lois de l'Imitation" (1890), texto fundamental para entender a lógica da internet, 110 anos depois. Em "Leis da Imitação", Tarde analisa o processo de formação de opinião a partir das relações entre os indivíduos.
2. Nos termos de hoje: os meios de comunicação, sistemas de publicidade, etc, distribuem informações, que são filtradas pelos indivíduos. Para assumi-las como opinião sua, o indivíduo as testa com alguém em cuja opinião confia e então ele afirma ou não a informação como opinião e a repassa. Esse processo ocorre em pontos infinitos, que vão formando fluxos de opinamento. Alguns são linhas tênues, que desfalecem. Outros fluxos se ampliam e vão avançando com diversas intensidades viróticas.
3. Para Tarde, há três tipos de indivíduos: os "loucos", que iniciam fluxos de opinamento; os "tímidos", que são repassadores de fluxos, ou imitadores, na expressão de Tarde; os "tolos", ou "descrentes", que pouco repassam os fluxos recebidos. Por esse processo se formam as instituições e a opinião pública. Se um grupo social afirma ideias, outros podem repassá-las por "imitação".
4. Olhando para os meios de comunicação de hoje, que são os mais importantes distribuidores de informação, estes obedecem à lógica da audiência, pois esta define sua competitividade. Estrito senso, os meios de comunicação não formam opinião, mas reforçam opinião formada. Mas, como estão inseridos socialmente, por sensibilidade, ou pesquisas, dão conta de fluxos de opinamento em formação sustentada.
5. Quando propagam esses fluxos, aceleram enormemente a velocidade de transformação deles em opinião pública. Fluxos que constituiriam opinião pública em, por exemplo, dois anos, podem ser acelerados pela TV e formar opinião em duas horas, como ocorre algumas vezes.
6. A lógica da internet e de suas redes é essa, agregada à diversidade informacional de hoje. "Louco" é quem cria um fluxo e vê sua repetição às centenas e aos milhares nas redes, no YouTube... "Tímidos" são os mais importantes para os iniciadores e estimuladores de fluxos (políticos entre estes).7. São os "tímidos" que garantirão aos fluxos os múltiplos acessos e a aceleração na formação de opinião e o voto. Um processo muito mais complexo e difícil que na TV dos anos 70/80.
O PT joga a bola pro mato, pois o jogo é de campeonato
Ok. Eu aqui, enfurnado na minha sala, fungando (de resfriado, fique claro!) feito um condenado, e querendo dar os meus pitacos nas coisas. Falo o que quero e escuto tudo. Bom é assim, não é? Meu amigo Beto Hugo, no post que eu fiz sobre o Programa do PT na TV, coloca os pingos nos "is". E, para completar, faz um resgate histórico da trajetória de uns tantos que imaginaram assaltar os céus do socialismo em pleno início da reestruturação capitalista, lá no comecinho da dita "década perdida" de 1980...
O fato é que eu fico querendo "futebol arte" em jogo de campeonato. Ora, a verdade é que a felicidade de técnico, jogadores e, em especial, da torcida, parece advir, sempre, do malhado "futebol de resultados".
Valeu, Beto! Deixa as coisas assentarem (e o resfriado ir embora) que a gente toma uns chopes e devora um steak tartare...
E Viva Dunga!
O fato é que eu fico querendo "futebol arte" em jogo de campeonato. Ora, a verdade é que a felicidade de técnico, jogadores e, em especial, da torcida, parece advir, sempre, do malhado "futebol de resultados".
Valeu, Beto! Deixa as coisas assentarem (e o resfriado ir embora) que a gente toma uns chopes e devora um steak tartare...
E Viva Dunga!
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Dilma sobe
Primeiro o Vox Populi, agora a pesquisa CNT/Sensus. Nos dois levantamentos, a candidata do PT, Dilma Roussef está, na margem de erro, ultrapassando José Serra. É o rescaldo do bombardeio de propagandas petistas na TV ou é algo consistente? É esperar para ver o desdobrar... E as próximas pesquisas.
Até o início da campanha, após o término da Copa do Mundo, viveremos, parece-me, à custa das emoções baratas dos levantamentos dos institutos de pesquisa.
Até o início da campanha, após o término da Copa do Mundo, viveremos, parece-me, à custa das emoções baratas dos levantamentos dos institutos de pesquisa.
A morte sobre duas rodas: os acidentes de motos como objeto de pesquisa nas ciências sociais
Eis um bom tema de pesquisa para as ciências sociais. Espero que algum aluno de graduação (eles sempre são mais afoitos, e, por isso mesmo, mais criativos do que os seus colegas de pós) o assuma. Por enquanto, aponto abaixo alguns elementos para a abordagem dessa importante temática.
Os dados relativos aos acidentes de trânsito no Brasil não deixam espaço para dúvidas: os números apontam para um problema de segurança pública central na agenda contemporânea do país. Tomando como base o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), no período de 1990 a 2000, constatamos que, em onze anos, morreram 337.227 pessoas em acidentes no país, uma cifra que é superior à população de algumas capitais, ou ainda ao número de civis mortos em alguns dos conflitos armados em andamento no planeta. Diante desses números, mais do que perplexidade e desolação, devemos assumir a tarefa de investigar, compreender a apontar caminhos que possam servir de subsídios para políticas públicas orientadas para a redução da mortalidade e dos custos econômicos e sociais desses acidentes.
A redução da mortalidade por causas externas, um dos eixos orientadores do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP) e um dos pressupostos de muitas das ações e projetos conduzidos ou estimulados pelo Ministério da Saúde, tem, no enfrentamento (visando a sua diminuição) dos acidentes de trânsito, um dos seus maiores desafios. Salvar vidas, reduzir seqüelas, racionalizar recursos e ampliar os espaços de uma cultura de respeito à vida, eis alguns dos pontos que devem ser colocados no horizonte de qualquer intervenção na dramática questão social que os números dos acidentes de trânsito traduzem.
Em países como a Austrália e a Nova Zelândia, por exemplo, centros de pesquisas de importantes universidades, trabalhando de forma interdisciplinar, têm aportado dados e informações valiosas para a gestão dos serviços de saúde. Essa, infelizmente, ainda é uma prática pouco disseminada no Brasil. Assim sendo, no momento de elaboração de projetos de enfrentamento pelo SUS dos agravos por causas externas, as informações disponíveis (se bem que a base de dados tenha crescido e se complexificado nos últimos anos) sobre acidentes de trânsito ainda é pouca sistematizada. E, o que é pior, as análises dos dados disponibilizados ainda estão subordinadas ao impressionismo e/ou pautadas pelo sensacionalismo da imprensa.
O aprofundamento do conhecimento sobre os acidentes de moto tem um sentido estratégico para a gestão do SUS em todos os estados nordestinos e, em especial, no Rio Grande do Norte. Não apenas porque os custos que esses eventos causam ao sistema são significativos, mas também porque as incomensuráveis seqüelas desses acidentes produzem dores e sofrimentos que implicam em perdas na qualidade de vida para as vítimas, para as famílias e para a sociedade local.
De outro lado, há a necessidade que as informações de que se valem os gestores do SUS sejam alicerçadas em dados e análises que possibilitem a apreensão das singularidades locais e regionais.
Os dados relativos aos acidentes de trânsito no Brasil não deixam espaço para dúvidas: os números apontam para um problema de segurança pública central na agenda contemporânea do país. Tomando como base o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), no período de 1990 a 2000, constatamos que, em onze anos, morreram 337.227 pessoas em acidentes no país, uma cifra que é superior à população de algumas capitais, ou ainda ao número de civis mortos em alguns dos conflitos armados em andamento no planeta. Diante desses números, mais do que perplexidade e desolação, devemos assumir a tarefa de investigar, compreender a apontar caminhos que possam servir de subsídios para políticas públicas orientadas para a redução da mortalidade e dos custos econômicos e sociais desses acidentes.
A redução da mortalidade por causas externas, um dos eixos orientadores do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP) e um dos pressupostos de muitas das ações e projetos conduzidos ou estimulados pelo Ministério da Saúde, tem, no enfrentamento (visando a sua diminuição) dos acidentes de trânsito, um dos seus maiores desafios. Salvar vidas, reduzir seqüelas, racionalizar recursos e ampliar os espaços de uma cultura de respeito à vida, eis alguns dos pontos que devem ser colocados no horizonte de qualquer intervenção na dramática questão social que os números dos acidentes de trânsito traduzem.
Em países como a Austrália e a Nova Zelândia, por exemplo, centros de pesquisas de importantes universidades, trabalhando de forma interdisciplinar, têm aportado dados e informações valiosas para a gestão dos serviços de saúde. Essa, infelizmente, ainda é uma prática pouco disseminada no Brasil. Assim sendo, no momento de elaboração de projetos de enfrentamento pelo SUS dos agravos por causas externas, as informações disponíveis (se bem que a base de dados tenha crescido e se complexificado nos últimos anos) sobre acidentes de trânsito ainda é pouca sistematizada. E, o que é pior, as análises dos dados disponibilizados ainda estão subordinadas ao impressionismo e/ou pautadas pelo sensacionalismo da imprensa.
O aprofundamento do conhecimento sobre os acidentes de moto tem um sentido estratégico para a gestão do SUS em todos os estados nordestinos e, em especial, no Rio Grande do Norte. Não apenas porque os custos que esses eventos causam ao sistema são significativos, mas também porque as incomensuráveis seqüelas desses acidentes produzem dores e sofrimentos que implicam em perdas na qualidade de vida para as vítimas, para as famílias e para a sociedade local.
De outro lado, há a necessidade que as informações de que se valem os gestores do SUS sejam alicerçadas em dados e análises que possibilitem a apreensão das singularidades locais e regionais.
Marcadores:
Acidentes de trânsito,
motos
Um vídeo para você pensar um pouco sobre a educação...
Dá pra rir, mas você também vai parar para refletir um pouco sobre o tédio mortal que domina nossas salas de aula. Está em espanhol, mas faça um esforcinho e assista-o.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
A diferença que Mineiro faz
Quando a vida política submerge em períodos de mediocridade e no rebaixamento da discussão da coisa pública, os atores com substância fazem a diferença. A Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, acho que você sabe e tem acompanhado, está em uma queda de braço com o Governador Iberê Ferreira. Não, não estou aqui a defender que o Iberê tem razão. Apenas estou a ressalvar o fato de que a oposição (leia-se liderados das candidaturas demistas de Rosalba e Jose Agripino) está usando as trincheiras da Assembléia para criar dificuldades, como a interdição ao remanejamento do Orçamento, para o Governador e candidato.
Ora, o presidente da AL, Robinson Faria é o candidato a vice-governador de Rosalba. Até ontem, estava aboletado na gestão pessebista e as relações entre o legislativo e o executivo eram, se não boas, ao menos razoáveis. De uma hora para outra, tudo azedou.
Mas, como eu dizia no início do post, nesses momentos especiais, os poucos que têm substância (e fazem política com P maiúsculo) se sobressaem. Esse é o caso do Deputado Fernando Mineiro. Mineiro, corajosamente, tem desnudado o engodo por trás de algumas decisões recentes da “Casa”. E assumido a defesa da transparência nas decisões do legislativo.
Ora, o presidente da AL, Robinson Faria é o candidato a vice-governador de Rosalba. Até ontem, estava aboletado na gestão pessebista e as relações entre o legislativo e o executivo eram, se não boas, ao menos razoáveis. De uma hora para outra, tudo azedou.
Mas, como eu dizia no início do post, nesses momentos especiais, os poucos que têm substância (e fazem política com P maiúsculo) se sobressaem. Esse é o caso do Deputado Fernando Mineiro. Mineiro, corajosamente, tem desnudado o engodo por trás de algumas decisões recentes da “Casa”. E assumido a defesa da transparência nas decisões do legislativo.
O Programa do PT na TV foi uma oportunidade perdida
Deu saudade dos velhos tempos! Quando os programas de TV do PT eram ousados, criativos e, dentro dos limites, criativos. Ontem, com um tempo razoável (dez minutos, acho), o partido perdeu uma boa oportunidade de estreitar o seu relacionamento com aquela fatia do eleitorado na qual vai mal: a classe média, a juventude e os setores escolarizados.
Isso porque o programa de TV apresentado ontem foi medíocre. Só o Lula, carismático e com a capacidade de comunicação de sempre, fez a diferença. Mesmo assim, no discurso, seguiu o tom maniqueísta que dominou o programa: ou nós ganhamos ou é o retorno da barbárie. Esse tipo de elaboração, muito bom para açular e cativar a “militância” (essa entidade mítica cuja existência eu ponho em dúvida), é, no mínimo, desrespeitosa para quem quer pensar (ou pensa que pensa, vá lá!) o mundo para além das fórmulas fáceis do “bem” contra o “mal”.
Para completar, eis que colocaram a Dilma contracenando com beneficiários do Programa Luz para Todos e falando platitudes demagógicas. E a candidata, além disso, tem limitações gigantescas na comunicação via TV...
Para coroar, nada de estrelas partidárias, apenas ministros. Aquelas falas burocráticas e de homens com cara de poder de sempre.
Depois do que eu vi ontem, fiquei com a sensação de que o PT está, cada vez mais e em todos os sentidos, com o seu destino atrelado às decisões de Lula. Conformado a essa condição de ator coadjuvante, o partido vai destruindo mitos fundantes que legitimavam a sua contrução como "diferente de tudo que está aí". Dentre esses mitos, aquele de que a novidade política do partido se expressava em uma proposta de comunicação renovadora, crítica e criativa. O que vimos ontem, infelizmente para a candidatura Dilma, foi a repetição do velho padrão despolitizado e demagógico com o que os partidos tradicionais preenchem, há décadas, o horário televisivo.
Isso porque o programa de TV apresentado ontem foi medíocre. Só o Lula, carismático e com a capacidade de comunicação de sempre, fez a diferença. Mesmo assim, no discurso, seguiu o tom maniqueísta que dominou o programa: ou nós ganhamos ou é o retorno da barbárie. Esse tipo de elaboração, muito bom para açular e cativar a “militância” (essa entidade mítica cuja existência eu ponho em dúvida), é, no mínimo, desrespeitosa para quem quer pensar (ou pensa que pensa, vá lá!) o mundo para além das fórmulas fáceis do “bem” contra o “mal”.
Para completar, eis que colocaram a Dilma contracenando com beneficiários do Programa Luz para Todos e falando platitudes demagógicas. E a candidata, além disso, tem limitações gigantescas na comunicação via TV...
Para coroar, nada de estrelas partidárias, apenas ministros. Aquelas falas burocráticas e de homens com cara de poder de sempre.
Depois do que eu vi ontem, fiquei com a sensação de que o PT está, cada vez mais e em todos os sentidos, com o seu destino atrelado às decisões de Lula. Conformado a essa condição de ator coadjuvante, o partido vai destruindo mitos fundantes que legitimavam a sua contrução como "diferente de tudo que está aí". Dentre esses mitos, aquele de que a novidade política do partido se expressava em uma proposta de comunicação renovadora, crítica e criativa. O que vimos ontem, infelizmente para a candidatura Dilma, foi a repetição do velho padrão despolitizado e demagógico com o que os partidos tradicionais preenchem, há décadas, o horário televisivo.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
O Taliban e a droga
O fundamentalismo, dizia-nos Giddens, mesmo ele, não é uma expressão de uma sociedade tradicional. Pelo contrário, é uma escolha possibilitada pelo advento da modernidade. Mesmo um grupo ultra-religioso como o Taliban maneja instrumentos técnicos sofisticados e utiliza-se do mercado (de drogas, por exemplo) para ampliar o seu raio de ação. A entrevista abaixo, publicada no EL PAÍS, é ilustrativa do que apontei acima. Faça um esforço e leia.
ENTREVISTA: ANTONIO MARIA COSTA Director de la Oficina de la ONU para la Droga y el Delito
"Los agricultores de opio pueden ser tentados a unirse a los talibanes"
"Entre los agricultores se ha extendido la idea de que la infección no es natural sino causada por la presencia militar y el uso de agente químicos. No creo que sea verdad"
La reducción de un tercio de las cosechas de opio causada por un hongo puede convertirse en un nuevo elemento de riesgo en la estrategia militar estadounidense en Afganistán. El director de la Oficina de Naciones Unidas contra la Droga y el Delito (ONUDD), Antonio Maria Costa, en conversación telefónica desde Nueva York, ha explicado que se ha extendido entre los agricultores locales la idea de que la infección no es un fenómeno natural sino causado por la presencia militar y el uso de sustancias químicas.
Pregunta. En el último informe publicado por la Agencia se preveía una producción estable para 2010. ¿La aparición del hongo es reciente? ¿Es la primera vez que ocurre?
Respuesta. La infección ha aparecido en las últimas semanas. Suele producirse en primavera y ya pasó en 2004-2005, pero la diferencia importante es que, mientras en ese entonces afectó al norte, ahora ha afectado a las zonas del sur, en particular las provincias de Helmand y Kandahar, donde se concentra la producción. El daño es más alto.
P. ¿Qué reducción estimáis y cuáles son las zonas más afectadas?
R. En todo el país hemos estimado una reducción de la producción de un 25-30%, sobre todo en el sur. En la provincia de Helmand la reducción puede llegar al 50%, en Kandahar a un 20%.
P. ¿Puede tener consecuencias en términos de aumento del precio a medio y largo plazo?
R. Creemos que el aumento fortísimo que se está registrando en el precio, de un 60%, no está justificado por la reducción de las cosechas. Porque aunque se hayan perdido unas 2.000 o 3.000 toneladas, Afganistán sigue produciendo una cantidad de opio superior a la demanda global. No hay escasez. Pero hablamos del precio para los agricultores, el llamado farm gate price, y ésta es la reacción de quienes ven el propio producto destruido en su totalidad o en parte. Pero creo que habrá consecuencias sobre el aumento del precio a medio y largo plazo.
P. ¿La subida en el precio puede beneficiar a los talibanes?
R. La subida puede beneficiar a quienes tienen los inventarios. Automáticamente tendríamos una revaluación del valor de las existencias. Si el precio se mantiene alto o la infección se extiende a otras provincias, los talibanes podrían verse beneficiados porque tienen grandes cantidades en sus manos, ya que el 90% de la producción se encuentra en las zonas que controlan o sobre las que tienen influencia.
P. ¿Qué consecuencias va a tener para la estrategia militar estadounidense?
R. Entre los agricultores se ha extendido la idea de que la infección no es natural sino causada por la presencia militar y el uso de agente químicos. No creo que sea verdad, pensamos que es un fenómeno natural. Pero si los agricultores pierden sus rentas y siguen creyendo que la propagación de la infección se debe a la presencia de los militares, esto se convertirá en un riesgo estratégico. Podrían verse tentados a alistarse en las filas talibanes.
P. ¿De qué forma se puede gestionar la reducción de la producción en el marco de la estrategia norteamericana?
R. Si esta crisis en el mercado del opio -bienvenida porque la reducción de la producción siempre es bienvenida- sigue, si se ofrecen microcréditos y subsidios a los agricultores a cambio del compromiso de que no regresarán a ese cultivo, esto podría convertirse en un factor positivo.
Pipa? Não! Sibaúma...
Leia abaixo esclarecimento feito pelo Guru e que não pode ficar escondido nos comentários.
Sobre Pipa nããão, sobre Sibaúma!
Augusto Maux, Guru
Jolúzia, o relatório de Julie está disponível na biblioteca setorial do CCHLA e aborda com mais detalhes esta disputa interna. Há também a dissertação de Ciro, que talvez já esteja na mesma biblioteca, mas ela não foca nessas disputas; e um TCC-documentário de jornalismo da UFRN também que toca o conflito. De fato, a história é meio intricada e não cabe em poucas linhas. Resumidamente, duas associações possuíam projetos distintos, inicialmente incompatíveis, para o futuro do grupo. Com o tempo e o acirramento das disputas, decidiram por uma "trégua", não sei até que ponto duradoura. Eu não tenho frequentado Sibaúma, mas pelo fim de minhas pesquisas (2 anos atrás) por lá percebi que o antagonismo tinha dado lugar a um ambiente um tanto quanto mais equilibrado e resignado entre as associações. Coisas chatas como ameaças, até onde sei, terminaram. Não tenho idéia de como vão lidar neste momento com este resort que, pelo vídeo promocional, vai suprimir a maior parte do espaço ocupado pelo grupo. Um fato notável, entretando, é que nenhum dos "mega-empreendimentos" de turismo do RN saiu do papel.
Sobre Pipa nããão, sobre Sibaúma!
Augusto Maux, Guru
Jolúzia, o relatório de Julie está disponível na biblioteca setorial do CCHLA e aborda com mais detalhes esta disputa interna. Há também a dissertação de Ciro, que talvez já esteja na mesma biblioteca, mas ela não foca nessas disputas; e um TCC-documentário de jornalismo da UFRN também que toca o conflito. De fato, a história é meio intricada e não cabe em poucas linhas. Resumidamente, duas associações possuíam projetos distintos, inicialmente incompatíveis, para o futuro do grupo. Com o tempo e o acirramento das disputas, decidiram por uma "trégua", não sei até que ponto duradoura. Eu não tenho frequentado Sibaúma, mas pelo fim de minhas pesquisas (2 anos atrás) por lá percebi que o antagonismo tinha dado lugar a um ambiente um tanto quanto mais equilibrado e resignado entre as associações. Coisas chatas como ameaças, até onde sei, terminaram. Não tenho idéia de como vão lidar neste momento com este resort que, pelo vídeo promocional, vai suprimir a maior parte do espaço ocupado pelo grupo. Um fato notável, entretando, é que nenhum dos "mega-empreendimentos" de turismo do RN saiu do papel.
Pior do que ter inimigos, vejam só!, é ter amigos no poder...
Encontrei, semana passada, um velho amigo. Petista das origens e ainda militante da sigla. Fiquei tocado com o seu estado de alma. Tem sofrido tanto nos últimos dias, coitado. Todo mundo quer que ele explica a, como direi?, "política de alianças" do partido. E ele, velho combatente da prática política anterior, na qual o partido se lixava para o jogo presente e apostava tudo na sua afirmação identitária, é cobrado pelas alegres companhias de agora.
Mas, o pior mesmo, é que o meu amigo, toda vez que escuta alguma denúncia sobre traquinagens políticas (e outras nem tanto!), fica se perguntando: será que tem algum dos nossos envolvidos? E aí, já viu, né?, noites e mais noites de sono perdidas...
Eis aí o ônus de ter amigos no poder. Meu amigo tem saudades do tempo em que os inimigos é que estavam lá. Ele dormia o sono dos justos e tinha uma definição clara sobre os objetivos em jogo.
Caro amigo, daqui deste espaço, manto-te um abraço, com esperanças de que o seu sofrimento seja atenuado.
Mas, o pior mesmo, é que o meu amigo, toda vez que escuta alguma denúncia sobre traquinagens políticas (e outras nem tanto!), fica se perguntando: será que tem algum dos nossos envolvidos? E aí, já viu, né?, noites e mais noites de sono perdidas...
Eis aí o ônus de ter amigos no poder. Meu amigo tem saudades do tempo em que os inimigos é que estavam lá. Ele dormia o sono dos justos e tinha uma definição clara sobre os objetivos em jogo.
Caro amigo, daqui deste espaço, manto-te um abraço, com esperanças de que o seu sofrimento seja atenuado.
Marina pode surpreender
Tenho conversado com muita gente jovem nos últimos dias. Não é fácil fazê-los(as) falarem sobre as eleições vindouras. Mas, quando falam, botam os pingos nos is. Tenho observado, especialmente entre jovens escolarizados (com ensino médio concluído ou estudantes universitários), um certo brilho no olhar quando abordam a candidatura de Marina Silva.
Eles e elas estão, para dizer o mínimo, entusiamados com a candidatura verde. Tá, tá, não é nenhuma amostra. E o meu "universo" é mais do que restrito, mas que isso indica alguma coisa, vamos lá!, indica... Ao menos que a Marina Silva pode conquistar muito mais do que os 10% de votos que as pesquisas eleitorais até agora realizadas indicam.
Eles e elas estão, para dizer o mínimo, entusiamados com a candidatura verde. Tá, tá, não é nenhuma amostra. E o meu "universo" é mais do que restrito, mas que isso indica alguma coisa, vamos lá!, indica... Ao menos que a Marina Silva pode conquistar muito mais do que os 10% de votos que as pesquisas eleitorais até agora realizadas indicam.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Sobre Pipa, quilombolas e meio ambiente
Recebi uma mensagem que faço questão de transcrevê-la aqui. Aborda questões importantes e que não podem ficar circunscritas às listas de e-mails. A autora é a Professor Julie Cavignac, do Departamento de Antropologia da UFRN.
Prezados,
Recebi a informaçao do site do Resort "Nova Pipa" a ser implantado na
comunidade quilombola de Sibauma que entrou com processo junto ao INCRA em
2005 e cuja area a ser titulada ainda encontra-se em discussao.
Nova Pipa
Além disso, me parece que o projeto em questao a ser instalado na orla
maritima e na embocadura do RIo Catu fere o Código Florestal (Lei no.
4.771, de 15 de setembro de 1965), artigo 2o, alínea “a”, item 1, que
estabelece como área de preservação permanente as florestas e demais
formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer
curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal, com largura
mínima de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez)
metros de largura.
Vejam o parecer conclusivo do relatorio antropologico elaborado em 2006:
"A titulação coletiva da terra foi vista, após haver várias reuniões
públicas, como uma necessidade, em primeiro lugar, para consolidação do
grupo cuja integridade encontra-se hoje ameaçada. Entre as razões
evocadas, precisa ser destacada a importância do território tradicional na
vida cotidiana, pois a coesão social passa necessariamente por um
compartilhamento de um espaço comum, permitindo a inscrição material da
história do grupo e o uso comum da terra; como vimos, o uso coletivo do
espaço natural e cultivado foi, durante o passado, uma estratégia
escolhida para que o grupo se mantivesse no local, a terra aparecendo como
essencial para a subsistência das famílias e a reprodução dos valores
comuns.
Para as famílias quilombolas, a titulação irá assegurar o domínio e a
posse de suas terras tradicionais. Além de suprir as necessidades
econômicas do grupo, a terra tem um valor histórico-cultural inestimável:
o território sustenta os processos que visam o reconhecimento e a
elaboração de uma história diferenciada em nível local. Garante a
continuidade das famílias quilombolas, sua reprodução física, além de
permitir o reconhecimento político e a valorização de um grupo
historicamente marginalizado e que continua ser alvo de preconceitos.
Como já mostramos, a identidade coletiva deve ser levada em conta na
questão fundiária: elementos diferenciais como a identidade étnica, a
ancestralidade comum, as formas de organização social e política
distintas, os elementos lingüísticos e religiosos devem entrar em
consideração na discussão da demanda territorial a ser realizada pelos
quilombolas.
Como mostra a pesquisa histórico-documental e com referências à memória
genealógica, Sibaúma é ocupada de maneira contínua desde, pelo menos, os
meados do século XIX, com contínuos conflitos territoriais. Temos,
também, documentos declaratórios de cadastro de imóvel rural datados de
1978 e 1981, em nome de moradores da comunidade, atestando uma ocupação
agrícola que foi que historicamente interrompida a partir dos anos 1980.
A titulação do território da comunidade quilombola de Sibaúma se adequa
ainda aos objetivos do Programa Brasil quilombola, que visa a melhoria
das condições de vida e ao fortalecimento da organização das comunidades
remanescentes de quilombos por meio da promoção do acesso aos bens e
serviços sociais necessários ao desenvolvimento, considerando os
princípios sócio-culturais dessas comunidades. As políticas públicas a
serem implementadas devem ser voltadas para o desenvolvimento da
comunidade, respeitar a singularidade cultural do grupo e as práticas
sociais tradicionais e comunitárias.
Das razões para titulação:
1. A ocupação ancestral do território pelo grupo foi comprovada
documentalmente e pela pesquisa etnográfica. Apesar de não haver títulos
de propriedades emitidos em nome dos quilombolas, existe um uso contínuo
do território requerido; o que tem como conseqüência a aplicação do
direito constitucional. Até a década de 1980, a população tirou seu
sustento do rio (água potável e pesca), dos terrenos cultiváveis e das
matas nativas. A partir dessa época, os moradores sofreram pressões por
parte do atual proprietário da “Agro Comercial de Bovino ldta.” (Milson
dos Anjos) para sair dos seus lugares tradicionais de moradia e foram
impossibilitados de ocupar certas áreas indispensáveis à reprodução de um
modo de vida tradicional, o que acelerou a desintegração do grupo;
2. Existem registros orais comprovados documentalmente apontando que,
desde a década de 1920, houve uma pressão por parte dos herdeiros de
Miguel Soares Raposo da Câmara (1838-1923) para vender partes do
território ocupado pelas famílias quilombolas. Por outro lado, nos anos
1980, há comprovação do uso de má fé na cessão das terras por parte de
compradores, entre outros, de Walter Soares de Paula;
3. A população local não pode usufruir plenamente dos recursos naturais
necessários para o seu sustento (rio, mar, mata). Há mais de vinte anos, a
comunidade sofre com as conseqüências de um desenvolvimento predatório,
com o desmatamento da maior parte do seu território tradicional (Milson
dos Anjos), de danos irrecuperáveis no mangue e no rio após a construção
de viveiros de Camarão (Francisco de Assis Medeiros) e de uma exploração
imobiliária desenfreada, o que representa um perigo para a integridade do
grupo e sua reprodução. De fato, os quilombolas foram lesados com esses
danos ambientais e por diversos compradores que cercaram os terrenos e o
acesso ao rio. Devem ser indenizados;
4. As terras que foram cedidas por membros da comunidades e que
encontram-se de posse de indivíduos externos à comunidade não atendem à
função social da terra, pois não são produtivas e servem à especulação
imobiliária. Por tanto, recomenda-se a aplicação da legislação em vigor
para o benefício de uma população que encontra-se numa situação de risco
social;
5. São necessárias ações urgentes visando a preservação do meio ambiente
que encontra-se seriamente degradado e a aplicação das diferentes
legislações ambientais, pois parte da comunidade esta situada num parque
estadual, numa APA e em terras da União (mar e rio). Também, recomenda-se
que haja uma aplicação firme das leis ambientais no sentido da melhoria
das condições de vida atuais e futuras das populações locais;
6. São necessárias ações urgentes de preservação de uma história e de uma
cultura diferenciada, sendo do dever do Estado em preservar um patrimônio
histórico nacional (sítios arqueológicos) e, conforme a legislação em
curso, sobretudo àquele pertencendo a remanescentes de quilombolas ;
7. Recomenda-se que o processo em curso deve ser acompanhado por
representantes de órgãos governamentais, no que diz respeito a discussão
da proposta do território a ser identificado bem como elaboração de
projetos coletivos. Também, é necessário que haja um empenho do poder
público na aplicação das decisões judiciais já tomadas;
8. Finalmente, medidas devem ser tomadas para impedir que se continue a
venda de terrenos na área em discussão, para frear a especulação
imobiliária já importante."
"E agora?" Quem pergunta é a professora Julie.
Prezados,
Recebi a informaçao do site do Resort "Nova Pipa" a ser implantado na
comunidade quilombola de Sibauma que entrou com processo junto ao INCRA em
2005 e cuja area a ser titulada ainda encontra-se em discussao.
Nova Pipa
Além disso, me parece que o projeto em questao a ser instalado na orla
maritima e na embocadura do RIo Catu fere o Código Florestal (Lei no.
4.771, de 15 de setembro de 1965), artigo 2o, alínea “a”, item 1, que
estabelece como área de preservação permanente as florestas e demais
formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer
curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal, com largura
mínima de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez)
metros de largura.
Vejam o parecer conclusivo do relatorio antropologico elaborado em 2006:
"A titulação coletiva da terra foi vista, após haver várias reuniões
públicas, como uma necessidade, em primeiro lugar, para consolidação do
grupo cuja integridade encontra-se hoje ameaçada. Entre as razões
evocadas, precisa ser destacada a importância do território tradicional na
vida cotidiana, pois a coesão social passa necessariamente por um
compartilhamento de um espaço comum, permitindo a inscrição material da
história do grupo e o uso comum da terra; como vimos, o uso coletivo do
espaço natural e cultivado foi, durante o passado, uma estratégia
escolhida para que o grupo se mantivesse no local, a terra aparecendo como
essencial para a subsistência das famílias e a reprodução dos valores
comuns.
Para as famílias quilombolas, a titulação irá assegurar o domínio e a
posse de suas terras tradicionais. Além de suprir as necessidades
econômicas do grupo, a terra tem um valor histórico-cultural inestimável:
o território sustenta os processos que visam o reconhecimento e a
elaboração de uma história diferenciada em nível local. Garante a
continuidade das famílias quilombolas, sua reprodução física, além de
permitir o reconhecimento político e a valorização de um grupo
historicamente marginalizado e que continua ser alvo de preconceitos.
Como já mostramos, a identidade coletiva deve ser levada em conta na
questão fundiária: elementos diferenciais como a identidade étnica, a
ancestralidade comum, as formas de organização social e política
distintas, os elementos lingüísticos e religiosos devem entrar em
consideração na discussão da demanda territorial a ser realizada pelos
quilombolas.
Como mostra a pesquisa histórico-documental e com referências à memória
genealógica, Sibaúma é ocupada de maneira contínua desde, pelo menos, os
meados do século XIX, com contínuos conflitos territoriais. Temos,
também, documentos declaratórios de cadastro de imóvel rural datados de
1978 e 1981, em nome de moradores da comunidade, atestando uma ocupação
agrícola que foi que historicamente interrompida a partir dos anos 1980.
A titulação do território da comunidade quilombola de Sibaúma se adequa
ainda aos objetivos do Programa Brasil quilombola, que visa a melhoria
das condições de vida e ao fortalecimento da organização das comunidades
remanescentes de quilombos por meio da promoção do acesso aos bens e
serviços sociais necessários ao desenvolvimento, considerando os
princípios sócio-culturais dessas comunidades. As políticas públicas a
serem implementadas devem ser voltadas para o desenvolvimento da
comunidade, respeitar a singularidade cultural do grupo e as práticas
sociais tradicionais e comunitárias.
Das razões para titulação:
1. A ocupação ancestral do território pelo grupo foi comprovada
documentalmente e pela pesquisa etnográfica. Apesar de não haver títulos
de propriedades emitidos em nome dos quilombolas, existe um uso contínuo
do território requerido; o que tem como conseqüência a aplicação do
direito constitucional. Até a década de 1980, a população tirou seu
sustento do rio (água potável e pesca), dos terrenos cultiváveis e das
matas nativas. A partir dessa época, os moradores sofreram pressões por
parte do atual proprietário da “Agro Comercial de Bovino ldta.” (Milson
dos Anjos) para sair dos seus lugares tradicionais de moradia e foram
impossibilitados de ocupar certas áreas indispensáveis à reprodução de um
modo de vida tradicional, o que acelerou a desintegração do grupo;
2. Existem registros orais comprovados documentalmente apontando que,
desde a década de 1920, houve uma pressão por parte dos herdeiros de
Miguel Soares Raposo da Câmara (1838-1923) para vender partes do
território ocupado pelas famílias quilombolas. Por outro lado, nos anos
1980, há comprovação do uso de má fé na cessão das terras por parte de
compradores, entre outros, de Walter Soares de Paula;
3. A população local não pode usufruir plenamente dos recursos naturais
necessários para o seu sustento (rio, mar, mata). Há mais de vinte anos, a
comunidade sofre com as conseqüências de um desenvolvimento predatório,
com o desmatamento da maior parte do seu território tradicional (Milson
dos Anjos), de danos irrecuperáveis no mangue e no rio após a construção
de viveiros de Camarão (Francisco de Assis Medeiros) e de uma exploração
imobiliária desenfreada, o que representa um perigo para a integridade do
grupo e sua reprodução. De fato, os quilombolas foram lesados com esses
danos ambientais e por diversos compradores que cercaram os terrenos e o
acesso ao rio. Devem ser indenizados;
4. As terras que foram cedidas por membros da comunidades e que
encontram-se de posse de indivíduos externos à comunidade não atendem à
função social da terra, pois não são produtivas e servem à especulação
imobiliária. Por tanto, recomenda-se a aplicação da legislação em vigor
para o benefício de uma população que encontra-se numa situação de risco
social;
5. São necessárias ações urgentes visando a preservação do meio ambiente
que encontra-se seriamente degradado e a aplicação das diferentes
legislações ambientais, pois parte da comunidade esta situada num parque
estadual, numa APA e em terras da União (mar e rio). Também, recomenda-se
que haja uma aplicação firme das leis ambientais no sentido da melhoria
das condições de vida atuais e futuras das populações locais;
6. São necessárias ações urgentes de preservação de uma história e de uma
cultura diferenciada, sendo do dever do Estado em preservar um patrimônio
histórico nacional (sítios arqueológicos) e, conforme a legislação em
curso, sobretudo àquele pertencendo a remanescentes de quilombolas ;
7. Recomenda-se que o processo em curso deve ser acompanhado por
representantes de órgãos governamentais, no que diz respeito a discussão
da proposta do território a ser identificado bem como elaboração de
projetos coletivos. Também, é necessário que haja um empenho do poder
público na aplicação das decisões judiciais já tomadas;
8. Finalmente, medidas devem ser tomadas para impedir que se continue a
venda de terrenos na área em discussão, para frear a especulação
imobiliária já importante."
"E agora?" Quem pergunta é a professora Julie.
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segunda-feira, 10 de maio de 2010
Sobre plágio
Você se interessa pela discussão a respeito de plágio? Bueno, então leia trechos de um, publicado na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo.
Inteligência/Roger Cohen
Plágio para todos
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Apaga-se a divisão entre propriedade e originalidade
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NOVA YORK - T. S. Eliot certa vez observou que "os poetas imaturos imitam, os poetas maduros furtam". Isso foi antes da agregação, do cortar-e-colar e, sejamos francos, do roubo descarado da era digital. Hoje em dia é tão fácil entrar na rede, ler um artigo e copiá-lo que os professores escolares dizem ter dificuldade para fazer as crianças entenderem o que é plágio.
A agência de notícias Associated Press ficou tão irritada com o furto de seus textos que está montando um registro digital de notícias destinado a proteger seu conteúdo contra o uso não autorizado, por meio de tags (etiquetas) e rastreamento de reportagens. Rupert Murdoch parece estar igualmente irritado e planeja cobrar por todo o conteúdo on-line de seus jornais.
Resta ver se essas tentativas de controlar um meio eletrônico, cuja essência é sua capacidade viral de se propagar, darão certo. Tenho minhas dúvidas. Não há nada de novo no plágio, é claro. Escritores de todas as eras, de Virgílio a Goethe, às vezes escorregaram na fina linha entre o emprestado e o original.
O que parece ser novo, porém, é a erosão da própria consciência de distinção entre originalidade e plágio; ou, para colocar de outra maneira, o surgimento da ideia de que o próprio ato criativo pode ser nada mais que cortar e colar ideias de outros para expressar a natureza dos tempos que correm. Se nosso mundo on-line é cada vez mais o nosso mundo propriamente dito, como podem os autores refletir a realidade sem recorrer à moeda plagiária da web?
Essa pergunta pode parecer estranha. Plagiadores furtam trechos ou ideias sem atribuí-los ao autor. Não há nada intrínseco ao universo digital que impeça dar crédito onde é devido. Exceto que a própria facilidade e o volume do que "está aí" cria um universo em que a propriedade se torna imprecisa.
Nesse contexto, fiquei intrigado pelo caso da autora alemã de 17 anos Helene Hegemann, cuja obra "Axolotl Roadkill", uma crônica da louca e intoxicada cena noturna de Berlim, foi um best-seller. O livro conquistou muitos elogios antes que se apontasse que parte dele fora retirado de um romance chamado "Strobo", de um blogueiro chamado Airen, cuja frase "Berlim existe para se misturar tudo com tudo" é reproduzida no livro.
(...)
Portanto, "Axolotl Roadkill" é "autêntico" porque reflete o universo de uma alemã de 17 anos, no qual, como diz uma personagem do livro, "eu me sirvo onde quer que encontre inspiração". Hegemann também disse que "não há absolutamente nada de mim mesma" no livro, acrescentando que nem sequer possui a si própria.
Como indicou Laura Miller em Salon.com -crédito onde é devido-, "é como se as pessoas de menos de 25 anos tivessem se tornado equivalentes a uma tribo amazônica isolada da qual não se pode esperar compreensão de nossas proibições do primeiro mundo contra a poligamia ou o canibalismo -apesar do fato de terem crescido entre nós".
(...)
Duas últimas coisas. Primeira, é tamanha a cacofonia reinante que acho que a única maneira de começar a pensar por mim mesmo é simplesmente sair do ar de vez em quando. A segunda é que a agregação é muito mais barata que a originalidade. Custa dinheiro narrar um fato, em vez de "agregá-lo". A economia do século 21 é uma máquina geradora de plágios. A questão é: o que acontece quando ninguém quer pagar para gerar conteúdo original e não há mais nada para plagiar?
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Inteligência/Roger Cohen
Plágio para todos
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Apaga-se a divisão entre propriedade e originalidade
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NOVA YORK - T. S. Eliot certa vez observou que "os poetas imaturos imitam, os poetas maduros furtam". Isso foi antes da agregação, do cortar-e-colar e, sejamos francos, do roubo descarado da era digital. Hoje em dia é tão fácil entrar na rede, ler um artigo e copiá-lo que os professores escolares dizem ter dificuldade para fazer as crianças entenderem o que é plágio.
A agência de notícias Associated Press ficou tão irritada com o furto de seus textos que está montando um registro digital de notícias destinado a proteger seu conteúdo contra o uso não autorizado, por meio de tags (etiquetas) e rastreamento de reportagens. Rupert Murdoch parece estar igualmente irritado e planeja cobrar por todo o conteúdo on-line de seus jornais.
Resta ver se essas tentativas de controlar um meio eletrônico, cuja essência é sua capacidade viral de se propagar, darão certo. Tenho minhas dúvidas. Não há nada de novo no plágio, é claro. Escritores de todas as eras, de Virgílio a Goethe, às vezes escorregaram na fina linha entre o emprestado e o original.
O que parece ser novo, porém, é a erosão da própria consciência de distinção entre originalidade e plágio; ou, para colocar de outra maneira, o surgimento da ideia de que o próprio ato criativo pode ser nada mais que cortar e colar ideias de outros para expressar a natureza dos tempos que correm. Se nosso mundo on-line é cada vez mais o nosso mundo propriamente dito, como podem os autores refletir a realidade sem recorrer à moeda plagiária da web?
Essa pergunta pode parecer estranha. Plagiadores furtam trechos ou ideias sem atribuí-los ao autor. Não há nada intrínseco ao universo digital que impeça dar crédito onde é devido. Exceto que a própria facilidade e o volume do que "está aí" cria um universo em que a propriedade se torna imprecisa.
Nesse contexto, fiquei intrigado pelo caso da autora alemã de 17 anos Helene Hegemann, cuja obra "Axolotl Roadkill", uma crônica da louca e intoxicada cena noturna de Berlim, foi um best-seller. O livro conquistou muitos elogios antes que se apontasse que parte dele fora retirado de um romance chamado "Strobo", de um blogueiro chamado Airen, cuja frase "Berlim existe para se misturar tudo com tudo" é reproduzida no livro.
(...)
Portanto, "Axolotl Roadkill" é "autêntico" porque reflete o universo de uma alemã de 17 anos, no qual, como diz uma personagem do livro, "eu me sirvo onde quer que encontre inspiração". Hegemann também disse que "não há absolutamente nada de mim mesma" no livro, acrescentando que nem sequer possui a si própria.
Como indicou Laura Miller em Salon.com -crédito onde é devido-, "é como se as pessoas de menos de 25 anos tivessem se tornado equivalentes a uma tribo amazônica isolada da qual não se pode esperar compreensão de nossas proibições do primeiro mundo contra a poligamia ou o canibalismo -apesar do fato de terem crescido entre nós".
(...)
Duas últimas coisas. Primeira, é tamanha a cacofonia reinante que acho que a única maneira de começar a pensar por mim mesmo é simplesmente sair do ar de vez em quando. A segunda é que a agregação é muito mais barata que a originalidade. Custa dinheiro narrar um fato, em vez de "agregá-lo". A economia do século 21 é uma máquina geradora de plágios. A questão é: o que acontece quando ninguém quer pagar para gerar conteúdo original e não há mais nada para plagiar?
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O Brasil que os franceses estão descobrindo
Teatro para crianças de todas as idades
Nos dias 15 e 16 de maio, no Teatro Alberto Maranhão, aqui em Natal, você e seus filhos terão a oportunidade de assistir a um espetáculo teatral que encanta as crianças e diverte os adultos. Ou será o contrário? Trata-se de uma adaptação do clássico de Charles Perrault, "A bela adormecida", feita pelas atrizes e diretores Mônica Biel e Ana Barroso. O título da peça é "A Bela Adormecida por Lasanha e Ravioli". Abaixo uma sinopse da peça.
Lasanha e Ravioli são convidados para apresentar a peça A Bela Adormecida em um Festival de Teatro. Aceitam o convite animadamente e, só depois, se dão conta de que não possuem este espetáculo em seu repertório. Decidem, então, montá-lo com os recursos que dispõem.
A partir daí, o público acompanhará o processo de criação destes dois clowns, em que desenvolvem, sob sua ótica particular, o famoso conto de Charles Perrault. Lasanha e Ravioli se divertem criando personagens e situações, improvisando figurinos e cenários, sempre com muita liberdade e bom humor.
Ah! O horário do espetáculo? 17 horas...
sábado, 8 de maio de 2010
Um sonho com Edivan Pinto
Há quase um ano, Edivan Pinto se foi. De uma maneira trágica que chocou e fez sofrer a todos nós que tanto o amávamos. Sofri muito com essa perda. Era uma amizade de décadas, cultivada com cuidado, embora nem sempre a gente estivesse se encontrando nos últimos anos.
Pois bem, na noite de quinta para sexta-feira sonhei com o meu amigo. No meu sonho, eu estava caminhando entre as árvores da Praça da Maternidade, lá em Apodi, e ele, de repente, aparecia. Com um sorriso no rosto e vestindo uma roupa de festa, ele corria para me abraçar. Com uma gargalhada, dizia, bem ao seu jeito:
- Porra, chefe, me levaram...Mas fique na paz, cara.
Logo depois, eu acordei. E fiquei um bom tempo remoendo as lembranças. Mas, não sei te explicar o por quê, um sentimento de calma e tranquilidade tomou minha alma. E eu voltei a dormir...
Pois bem, na noite de quinta para sexta-feira sonhei com o meu amigo. No meu sonho, eu estava caminhando entre as árvores da Praça da Maternidade, lá em Apodi, e ele, de repente, aparecia. Com um sorriso no rosto e vestindo uma roupa de festa, ele corria para me abraçar. Com uma gargalhada, dizia, bem ao seu jeito:
- Porra, chefe, me levaram...Mas fique na paz, cara.
Logo depois, eu acordei. E fiquei um bom tempo remoendo as lembranças. Mas, não sei te explicar o por quê, um sentimento de calma e tranquilidade tomou minha alma. E eu voltei a dormir...
Ainda blogando com o freio de mão puxado
Pois é, mais uma semana devagar, quase parando. Prometi voltar com tudo, mas não deu. “As coisas” foram mais fortes do que eu. Estou, desde quinta-feira, adoentado. Assim que eu estiver 100%, espero que isso ocorra logo, estarei a postos, com a força de sempre. Conto com a sua paciência.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Jornalismo?
Passei na banca, hoje de manhã, e me deparei com a capa do jornal FOLHA DE SÃO PAULO de ontem. É estarrecedora a manchete a respeito de um suposto estímulo do governo para que as mães portadoras do vírus HIV tenham filhos. Cultiva o preconceito e estimula a ignorância. Meu Deus! Logo a Folha... E pensar que é o jornal que faz a cabeça da "elite pensante"...
É a lama para aonde nos leva o vale-tudo eleitoral... O fito, claro!, é bater no governo. Mas descendo assim...
É a lama para aonde nos leva o vale-tudo eleitoral... O fito, claro!, é bater no governo. Mas descendo assim...
Quem tudo quer...
Lula joga para levar tudo. Essa, nem sempre, é a melhor postura de um jogador. Mas Lula tem experiência e já demonstrou competência em garantir o seu projeto. Nem que, para isso, tenha que destroçar o PT. Leia abaixo a análise de Feuerwerker a respeito.
Escravo da ribalta (04/05)
Alon Feuerwerker.
Mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade. Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto?A largada desta etapa da “pré-campanha” presidencial neutralizou o ambiente de euforia no campo governista que marcou os primeiros meses do ano. A oposição mostrou duas coisas não exibidas até então: disposição para o embate e capacidade de articular um discurso. Acostumados a jogarem sozinhos ao longo de muito tempo, o presidente da República e o PT dão sinais de, como se diz no boxe, terem sentido o golpe.
Um sintoma é o pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva em rede nacional de TV por motivo do Dia do Trabalho. Questões procedimentais à parte, ele provoca pelo menos uma dúvida: por que o presidente precisa adotar comportamento algo heterodoxo agora, se daqui a pouquinho ele terá o gordo tempo de televisão de Dilma Rousseff na campanha, para se fartar de mandar o eleitor votar nela?
A resposta deve ser buscada na lógica das construções políticas. O presidente entrou em campo nos últimos dias menos para impressionar o público — ainda nem aí para a eleição — e mais para causar boa impressão aos aliados. O processo eleitoral entra agora na fase decisiva da costura de alianças, e Lula quis deixar claro aos amigos em potencial que ele tem sim um discurso para, como se diz nas entranhas do governo, desconstruir a oposição.
Isso para os potencialmente amigos não cederem à tentação de virarem inimigos. Um fenômeno sempre ameaçador em exércitos que, antes de tudo, estão juntos por interesses apenas materiais.
Assim, mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade.
Lula tem objetivos ambiciosos em 2010. Além de eleger Dilma, pretende remover o PSDB do poder em São Paulo e Minas Gerais, e também encerrar a carreira política dos que lhe fizeram oposição cerrada no Congresso Nacional, com foco no Senado. Ali, Lula projeta construir para Dilma uma maioria folgada, deixando o futuro governo petista de mãos livres para as reformas constitucionais que bem entender.
Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto? Quais são os trunfos de Dilma e de Lula na eleição? A aliança dos maiores partidos, o maior tempo na tevê, a popularidade do presidente.
Tempo de TV é importante, mas a história das eleições brasileiras está cheia de exemplos de não ser tudo. As alianças são importantes, mas eleição presidencial embute bom grau de autonomia do eleitor na relação com os candidatos. E o apoio de Lula, qual será o peso efetivo dele na hora da decisão?
Há certezas e dúvidas sobre como o cidadão comum enxerga o presidente. Certezas? Ele o vê como alguém que faz um bom governo, de realizações reconhecidas. E valoriza sua trajetória. As dúvidas estão em outro lugar. Até que ponto Lula é um líder a quem a maioria seguirá incondicionalmente? Até que ponto o pragmatismo presidencial não acabou diluindo, no transcorrer do governo, uma certa relação afetiva que o eleitor não petista talvez mantivesse com o líder histórico do PT?
O filme sobre a vida de Lula, por exemplo, não foi um sucesso de bilheteria. Ao contrário. Uns dizem que a fita é simplesmente ruim, mas o insucesso não foi previsto quando ela estreou, ou pré-estreou. Muita gente boa que viu na época apostou na capacidade de a obra galvanizar emocionalmente o país, com óbvios efeitos no processo eleitoral. Simplesmente não aconteceu.
Num extremo, o entorno de Lula busca convencê-lo de que se transformou num guia condutor de almas, para além da simples racionalidade. No outro, a oposição gostaria de acreditar que Lula só transferirá a Dilma os votos que ela já teria por ser a candidata do PT. A verdade está em algum lugar no meio. Onde? Ninguém, no governo ou na oposição, tem certeza. Daí que Lula tenha precisado voltar à ribalta. De onde não consegue sair sem gerar na turma dele uma sensação chata de insegurança.
(...)
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (04) no Correio Braziliense.
Escravo da ribalta (04/05)
Alon Feuerwerker.
Mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade. Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto?A largada desta etapa da “pré-campanha” presidencial neutralizou o ambiente de euforia no campo governista que marcou os primeiros meses do ano. A oposição mostrou duas coisas não exibidas até então: disposição para o embate e capacidade de articular um discurso. Acostumados a jogarem sozinhos ao longo de muito tempo, o presidente da República e o PT dão sinais de, como se diz no boxe, terem sentido o golpe.
Um sintoma é o pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva em rede nacional de TV por motivo do Dia do Trabalho. Questões procedimentais à parte, ele provoca pelo menos uma dúvida: por que o presidente precisa adotar comportamento algo heterodoxo agora, se daqui a pouquinho ele terá o gordo tempo de televisão de Dilma Rousseff na campanha, para se fartar de mandar o eleitor votar nela?
A resposta deve ser buscada na lógica das construções políticas. O presidente entrou em campo nos últimos dias menos para impressionar o público — ainda nem aí para a eleição — e mais para causar boa impressão aos aliados. O processo eleitoral entra agora na fase decisiva da costura de alianças, e Lula quis deixar claro aos amigos em potencial que ele tem sim um discurso para, como se diz nas entranhas do governo, desconstruir a oposição.
Isso para os potencialmente amigos não cederem à tentação de virarem inimigos. Um fenômeno sempre ameaçador em exércitos que, antes de tudo, estão juntos por interesses apenas materiais.
Assim, mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade.
Lula tem objetivos ambiciosos em 2010. Além de eleger Dilma, pretende remover o PSDB do poder em São Paulo e Minas Gerais, e também encerrar a carreira política dos que lhe fizeram oposição cerrada no Congresso Nacional, com foco no Senado. Ali, Lula projeta construir para Dilma uma maioria folgada, deixando o futuro governo petista de mãos livres para as reformas constitucionais que bem entender.
Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto? Quais são os trunfos de Dilma e de Lula na eleição? A aliança dos maiores partidos, o maior tempo na tevê, a popularidade do presidente.
Tempo de TV é importante, mas a história das eleições brasileiras está cheia de exemplos de não ser tudo. As alianças são importantes, mas eleição presidencial embute bom grau de autonomia do eleitor na relação com os candidatos. E o apoio de Lula, qual será o peso efetivo dele na hora da decisão?
Há certezas e dúvidas sobre como o cidadão comum enxerga o presidente. Certezas? Ele o vê como alguém que faz um bom governo, de realizações reconhecidas. E valoriza sua trajetória. As dúvidas estão em outro lugar. Até que ponto Lula é um líder a quem a maioria seguirá incondicionalmente? Até que ponto o pragmatismo presidencial não acabou diluindo, no transcorrer do governo, uma certa relação afetiva que o eleitor não petista talvez mantivesse com o líder histórico do PT?
O filme sobre a vida de Lula, por exemplo, não foi um sucesso de bilheteria. Ao contrário. Uns dizem que a fita é simplesmente ruim, mas o insucesso não foi previsto quando ela estreou, ou pré-estreou. Muita gente boa que viu na época apostou na capacidade de a obra galvanizar emocionalmente o país, com óbvios efeitos no processo eleitoral. Simplesmente não aconteceu.
Num extremo, o entorno de Lula busca convencê-lo de que se transformou num guia condutor de almas, para além da simples racionalidade. No outro, a oposição gostaria de acreditar que Lula só transferirá a Dilma os votos que ela já teria por ser a candidata do PT. A verdade está em algum lugar no meio. Onde? Ninguém, no governo ou na oposição, tem certeza. Daí que Lula tenha precisado voltar à ribalta. De onde não consegue sair sem gerar na turma dele uma sensação chata de insegurança.
(...)
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (04) no Correio Braziliense.
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terça-feira, 4 de maio de 2010
A análise das pesquisas eleitorais
Transcrevo abaixo artigo de autoria de César Maia a respeito de como analisar as pesquisas eleitorais. Acredito que seja do interesse de todos quantos se interessam pela análise eleitoral.
PESQUISAS ELEITORAIS E "JOGO DE COORDENAÇÃO"!
Trechos da coluna de Cesar Maia na Folha de SP (01).
1. Uma pesquisa de opinião pública, sobre qualquer questão, depende da informação ter chegado às pessoas. Fazer uma pesquisa de opinião no Brasil sobre os conflitos subnacionais na Bélgica neste momento não dará nenhum resultado, mesmo que parte das pessoas marque uma resposta. Da mesma forma, quando a informação a ser pesquisada é restrita, a pesquisa não testa opinião pública. Por exemplo: você acha que o Copom vai aumentar, diminuir ou deixar os juros iguais?
2. O processo básico para que uma pesquisa eleitoral traduza o que pensa a opinião pública é que o "jogo de coordenação" (expressão técnica) tenha se desenvolvido. Num processo eleitoral, a opinião das pessoas vai se formando em contato com a opinião de outras pessoas. Elas recebem informações dos candidatos e dos meios de comunicação e conversam entre si. É esse processo de tomada de decisão, a partir das conversas entre as pessoas, o que se chama de "jogo de coordenação".
3. Longe do processo eleitoral, quando os partidos ainda não iniciaram suas campanhas, sem sua própria TV/rádio e a imprensa ainda não priorizou a cobertura, as informações que chegam aos eleitores ainda são diluídas. Vale a memória dos nomes. No caso da eleição presidencial deste ano, um dos candidatos tem o nome mais conhecido por sua participação em outras eleições e em governos. O presidente da República, por um ano e meio, foi reduzindo essa vantagem, divulgando o nome de sua candidata e buscando colá-la às realizações do governo.
4. Mas quando o processo se abre e a mídia amplia os espaços pré-eleitorais é que se inicia o "jogo de coordenação". Os candidatos procuram colocar seus nomes e propostas no meio desse "jogo", assim como desqualificar os seus adversários. As pessoas passam a tratar do tema progressivamente. As pesquisas, portanto, medem, de início, opiniões frias e vão retratando de forma crescente a tendência efetiva da opinião eleitoral, a meio do "jogo de coordenação".
5. Os fatos eleitorais vão afetando essa opinião pública, mantendo ou alternando tendências. Dessa forma, as pesquisas divulgadas nestes meses falam da opinião pública antes do "jogo de coordenação". Os candidatos, em suas campanhas, vão influenciando esse "jogo" de maneira a que as conversas estimuladas pela propaganda, direta e indireta, produzam, no final, decisões a seu favor. E as pesquisas, que no início apenas faziam diagnóstico, no final passam a fazer prognóstico.
PESQUISAS ELEITORAIS E "JOGO DE COORDENAÇÃO"!
Trechos da coluna de Cesar Maia na Folha de SP (01).
1. Uma pesquisa de opinião pública, sobre qualquer questão, depende da informação ter chegado às pessoas. Fazer uma pesquisa de opinião no Brasil sobre os conflitos subnacionais na Bélgica neste momento não dará nenhum resultado, mesmo que parte das pessoas marque uma resposta. Da mesma forma, quando a informação a ser pesquisada é restrita, a pesquisa não testa opinião pública. Por exemplo: você acha que o Copom vai aumentar, diminuir ou deixar os juros iguais?
2. O processo básico para que uma pesquisa eleitoral traduza o que pensa a opinião pública é que o "jogo de coordenação" (expressão técnica) tenha se desenvolvido. Num processo eleitoral, a opinião das pessoas vai se formando em contato com a opinião de outras pessoas. Elas recebem informações dos candidatos e dos meios de comunicação e conversam entre si. É esse processo de tomada de decisão, a partir das conversas entre as pessoas, o que se chama de "jogo de coordenação".
3. Longe do processo eleitoral, quando os partidos ainda não iniciaram suas campanhas, sem sua própria TV/rádio e a imprensa ainda não priorizou a cobertura, as informações que chegam aos eleitores ainda são diluídas. Vale a memória dos nomes. No caso da eleição presidencial deste ano, um dos candidatos tem o nome mais conhecido por sua participação em outras eleições e em governos. O presidente da República, por um ano e meio, foi reduzindo essa vantagem, divulgando o nome de sua candidata e buscando colá-la às realizações do governo.
4. Mas quando o processo se abre e a mídia amplia os espaços pré-eleitorais é que se inicia o "jogo de coordenação". Os candidatos procuram colocar seus nomes e propostas no meio desse "jogo", assim como desqualificar os seus adversários. As pessoas passam a tratar do tema progressivamente. As pesquisas, portanto, medem, de início, opiniões frias e vão retratando de forma crescente a tendência efetiva da opinião eleitoral, a meio do "jogo de coordenação".
5. Os fatos eleitorais vão afetando essa opinião pública, mantendo ou alternando tendências. Dessa forma, as pesquisas divulgadas nestes meses falam da opinião pública antes do "jogo de coordenação". Os candidatos, em suas campanhas, vão influenciando esse "jogo" de maneira a que as conversas estimuladas pela propaganda, direta e indireta, produzam, no final, decisões a seu favor. E as pesquisas, que no início apenas faziam diagnóstico, no final passam a fazer prognóstico.
Violência na escola
A nota abaixo, transcrita do Ex-Blog do César Maia, vale como ponto de apoio para uma reflexão mais profunda.
BULLYING NAS ESCOLAS CHILENAS!
Fonte: María Isabel Toledo, Facultad de Psicología, UDP (emol, 27).
28% dos alunos dizem não se sentir felizes em suas escolas \ 30% dos alunos da quinta série foram agredidos no mês passado \ Os professores acham que são 51% \ 30% dos estudantes se sentem excluídos das atividades em classe \ 4% dos alunos são agredidos mais de uma vez ao dia \ 24% do bullying acontece nas salas de aula \ As intimidações ocorrem 10% a mais entre os meninos.
BULLYING NAS ESCOLAS CHILENAS!
Fonte: María Isabel Toledo, Facultad de Psicología, UDP (emol, 27).
28% dos alunos dizem não se sentir felizes em suas escolas \ 30% dos alunos da quinta série foram agredidos no mês passado \ Os professores acham que são 51% \ 30% dos estudantes se sentem excluídos das atividades em classe \ 4% dos alunos são agredidos mais de uma vez ao dia \ 24% do bullying acontece nas salas de aula \ As intimidações ocorrem 10% a mais entre os meninos.
Blogando com o pé no freio...
Cansaço. Em meio a uma correria sem sentido - a alma não acompanha o corpo nesses dias, não tenho tido muito tempo para esse espaço que é fonte de prazer e alegria. Vou retomando aos poucos. Peço-lhes um cadinho de paciência. Já, já, volto com tudo.
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