segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Entrevista do Celso Rocha de Barros na Folha

Confira abaixo trechos da entrevista de Celso Rocha de Barros, sobre quem comentei no post abaixo, que é o piloto do blogue Na Prática a Teoria é Outra.

"O PT pode ser salvo de si mesmo", diz sociólogo
Petista, doutor em sociologia foge do fundamentalismo político na internet

Autor do blog NPTO critica intelectualidade do partido e afirma que a sigla "não é mais corrupta" do que outras

UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO

O blogueiro Celso Rocha de Barros, autor do blog NPTO - Na Prática a Teoria É Outra, é figura rara na internet brasileira. "Meio esquerdoso", como se define, escreve sobre política, mas fica de fora da polarização radical entre "petralhas" e "PIGs" que habitam a blogosfera.
Doutor em sociologia pela prestigiosa Universidade de Oxford (Inglaterra), Barros, 37, afirma que a polarização na internet "é altamente contagiosa" e que "é difícil não cair na tentação de radicalizar para o outro lado".
Na entrevista a seguir, ele explica por que acredita que "o PT pode ser salvo de si mesmo", defende "abraçar a social-democracia com entusiasmo", critica parte da intelectualidade petista e afirma que "o PT não é mais corrupto que os outros partidos".

Folha - O seu blog parece não cair na polarização radical que, segundo vários estudos, é a norma na blogosfera política. Você inclusive indica sites com visões diferentes da sua. Como você vê o fundamentalismo político on-line? Celso Rocha de Barros - Há, sim, uma tendência à polarização que é altamente contagiosa. Você começa com uma posição ponderada, mas aparecem comentários tão radicais e agressivos que é difícil não cair na tentação de radicalizar para o outro lado.
Por exemplo, você começa dizendo que tanto Lula quanto FHC fizeram bons governos (o que eu acho), mas que Lula foi melhor (o que eu também acho). Aparece alguém e diz que eu sou um petralha, que mato criancinha nos campos de concentração das Farc. É forte a tentação de responder à altura.
Imagino que tenha petista produzindo esse mesmo efeito em blogs de direita.


E por que você se mantém fora desse clima?
Os caras que estudam redes sociais já dizem: entre pessoas iguais, grande parte da informação que circula é eco. Seria idiotice desperdiçar a oportunidade de conhecer outras perspectivas e aprender novas coisas, e para isso a web oferece inúmeras oportunidades.
Lendo o NPTO, você vai ver que minhas leituras são bastante diversas. Boa parte do que eu leio e comento é escrito por economistas.
Seria uma estupidez me recusar a aprender uma economiazinha lá no Alexandre Schwartsman, como vou aprender lendo o [Paul] Krugman, o [Dani] Rodrik ou o [Tyler] Cowen, que faz o melhor blog do mundo (o Marginal Revolution).
Até porque, como sempre digo, eu sou um petista bem mais simpático a essas coisas do que a média de meus companheiros de partido.


Na sua apresentação do blog, você diz acreditar que o PT pode ser salvo de si mesmo. O que você quer dizer com isso?
O saldo da experiência petista é bastante bom. O PT incorporou novos atores à vida política como protagonistas. Não como claque do oligarca populista da vez, mas como atores independentes.
Ainda não sabemos como vai se comportar politicamente a massa de pobres ascendentes no pós-Lula, mas é inegável que as chances de que participem mais ativamente agora que escaparam da miséria absoluta são bem melhores do que antes.
O que não quer dizer, naturalmente, que obrigatoriamente se tornarão petistas.
O PT, por outro lado, sempre foi ideologicamente confuso. Em 1989, o socialismo acabava no mundo todo e, no Brasil, o PT quase ganhava com um discurso que, se não era de corte bolchevique, já era claramente anacrônico.
Essa recusa de se aprofundar sobre 1989 foi o grande pecado do PT e, em especial, dos intelectuais petistas.


Quais foram as consequências dessa atitude?
Esse fechamento do discurso isolou o PT de forças políticas que poderiam ter sido nossas aliadas, como o PSDB, no início dos anos 90, e importantes setores da classe média.


E você vê o partido caminhando nessa direção?
Depois do sucesso do governo Lula, acho que essa oportunidade está mais aberta do que nunca para o PT.
Precisamos abraçar a social-democracia com entusiasmo, construir o Estado de bem-estar social brasileiro, aprofundar nossa democracia, tirando a ênfase do velho programa desenvolvimentista -que já rendeu o que tinha que render (e não foi pouco)- e pensando em como vamos nos tornar produtores de tecnologia, que diálogo teremos com o que há de mais moderno na economia.


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