Os novos sentidos da interdisciplinaridade*
Otávio Velho
Professor emérito do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social/ Museu Nacional/ UFRJ. E-mail:
1. Gostaria inicialmente de agradecer o convite. E lembrar que havia sido chamado pelos alunos para participar do seminário interno do PPGAS e que, portanto, me sinto também convidado por eles, o que é uma satisfação, pois certamente uma das coisas de que mais se sente falta com a aposentadoria é o contato com os alunos. É também bem-vinda a oportunidade de retornar a uma atividade nesta instituição onde me formei como mestre (para quem não sabe, fui o primeiro mestre formado pelo PPGAS) e à qual dediquei toda a minha vida profissional, ainda mais em ocasião tão especial como esta, que remete justamente ao nosso fundador e meu orientador, Roberto Cardoso de Oliveira (RCO).
2. Não vou falar diretamente de RCO (fiz isto recentemente na conferência de abertura da RAM — Reunião de Antropologia do Mercosul), mas vou tratar de um tema — a interdisciplinaridade — que lhe era caro, sendo testemunhas disto tantos de nós que viemos para cá oriundos de uma formação que não era exclusivamente antropológica. Gostaria assim de começar fazendo uma ponte entre o assunto que pretendo tratar e a nossa instituição, deixando claro que o objetivo principal é somente compartilhar algumas informações que me parecem úteis para que cada um possa tomar a sua posição diante de questões do pensamento contemporâneo que dão a impressão de ser incontornáveis.
Na conferência de abertura da RAM eu recordei que, quando ingressei no Museu Nacional em 1966 (dois anos, portanto, antes do início das atividades do PPGAS), eu o fiz como auxiliar de pesquisa de Roberto Cardoso de Oliveira num projeto intitulado "Estudo do 'Colonialismo Interno' no Brasil". Pois bem: a principal inspiração para este título do projeto e para a sua concepção fora o sociólogo mexicano Pablo González Casanova e o seu conceito de colonialismo interno — inspiração coerente com os interesses e a bagagem cultural e política de Roberto Cardoso de que tentei explorar uma das suas vertentes naquela conferência, o pensamento crítico latino-americano. Esforço que me parece coerente com a proposta do nosso colega Afrânio Garcia Jr. (2009) no seu artigo sobre o PPGAS no último número de Mana, ao chamar a atenção para a heterogeneidade fundadora do PPGAS, o que penso ser importante para rechaçar uma tendência compreensível de com o tempo cristalizar-se uma versão simplificadora, academicista e anacrônica dessa história que de fato pode significar um empobrecimento do nosso legado que, aliás, não é só nosso.
Pois vejam: este senhor, Pablo González Casanova, nascido em Toluca a 11 de fevereiro de 1922, e tendo hoje, portanto, 88 anos de idade, está em plena atividade. E tornou-se uma referência no que diz respeito à interdisciplinaridade. Queria, desta forma, em homenagem a nosso projeto fundador, utilizar um recente livro seu como ponto de partida, o que poderia, aliás, render como subproduto e, num exercício de "pensamento frouxo", como diria Gregory Bateson, ajudar a pensar outros mundos possíveis para nós mesmos além daquele que o tempo e as circunstâncias tornaram mais "real".
Tá gostando? Então, tá esperando o quê? Se avexe, leia o resto do artigo aqui.
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