quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A onda verde está esmorecendo? Veja a análise de Celso de Barros

Ah! O nome do cara que pilota o ótimo blogue Na prática a teoria é outra chama-se Celso de Barros. Ele é o que se convenciona chamar de "petista de carteirinha". Mas é um analista sério pacas. Faz análise a partir de um ponto (a sua posição de petista), mas consegue, como diria o Max Weber em clássico texto, escrever de uma forma que até um chinês entenderia. O que se pode traduzir por objetividade na análise. Então, leia a sua avaliação sobre o que eu denominei (seguindo outros, claro, não sou tão original assim) de "onda verde". No final, comento alguma coisa.

A Onda Verde e a Chance de Segundo Turno
Celso de Barros

Posso estar dramaticamente errado no que vou dizer, mas tenho crédito: passei um bom tempo aqui dizendo que a Dilma era favorita e aguentando gente me chamando de maluco. Posso arriscar um pouco de credibilidade aqui, e é o que vou fazer agora.

Acho que a onda verde começa a refluir. Eu acho que Marina está com mais do que a pesquisa está dando, ou, pelo menos, já esteve com mais, mas vou supor que os institutos estejam certos. Eu acho que tem gente desanimando no campo verde, e as adesões estão rareando. E tem sinal de alerta acendendo na direita.

A onda verde, na verdade, começou tarde. É muito difícil que Marina passe Serra essa semana (não é impossível, mas, se a pesquisa estiver certa, é muito voto para tirar). Meus amigos marinistas parariam tudo que estão fazendo para fazer campanha para Marina vencer, mas não estão tão animados em mandar o Serra para o segundo turno e aguentar mais algumas Vejas de polvo. Se a situação fosse essa 3 semanas atrás, a campanha pegaria fogo, e com certeza haveria segundo turno (que seria, ainda com toda probabilidade, vencido pela Dilma, mas Marina teria marcado um golaço).

Se nós formos ao segundo turno por isso, tranquilo, porque, com toda probabilidade (supondo, novamente, que as pesquisas estejam certas) não vamos com a Marina, força ascendente: vamos com aquele cara que vai no debate para ser escada das piadas do Plínio. E temos tudo para recuperar o voto que foi para a Marina, SE NÃO FORMOS IDIOTAS DE HOSTILIZAR OS MARINISTAS NO FINAL DO PRIMEIRO TURNO. É hora de debater com os verdes, não de descer-lhes o pau.

Porque quem começou a hostilizar Marina foi o lado de lá. Quem? Quem? Ora, quem (hat tip: twitter da @fcera). As lajes de Marina Silva e dos Serra Palins são longe demais para churrasco conjunto (pra começar, Marina come churrasco?). Essa radicalização do final baixou muito o potencial de aliança do Serra. A turma lá não está mais fazendo campanha, está fazendo catarse.

Eu acho que, na direita, essa semana, vai ter gente querendo barrar a onda verde. Ninguém na elite acredita, mesmo, nessas besteiras de polvo, e todo mundo sabe o que esperar de um governo Dilma, o que não é necessariamente verdade no caso de Marina. Aliás, eu não estranharia se, depois da eleição, houvesse um endurecimento de um discurso de direita Serra Palin, que começasse a descartar gente como o Gabeira, o Aécio, e, se bobear, boa parte do PSDB.

Mas pra eu não dizer que nunca concordei com o Reinaldo Azevedo, esse sujeito ingrato, que não reconhece que Marina Silva, como ecologista, defende os direitos de todas as formas de vida, por mais esquisitas que sejam, a verdade é que Marina, no segundo turno, com toda probabilidade declara neutralidade. Pra gente tá bom.

E aí é esse Serra aí que a gente tem visto por mais umas semanas. Debate só com ele, sem se preocupar com as tiradas do Plínio e da Marina, mais carismáticos. Prefeitos do PMDB de São Paulo agora no campo dilmista. Vários governadores situacionistas já eleitos, prontos para fazer campanha. E, talvez, Alckmin tendo que defender território em um Estado em que Dilma deve ganhar e Lula deve já começar a visitar pra procurar apartamento.

O Segundo Turno seria cansativo, mas não é nada que assuste. Claro, sempre é possível perder. O Aécio tem 70% das intenções de voto, mas se resolver, sei lá, estuprar uma freira, ou ir a um debate e dizer “Ah, o Mengele, aquele sabia das coisas”, ele perde.

Mas porque a gente faria algo assim? É manter o sangue frio e continuar fazendo o que estamos fazendo. Se houver segundo turno contra um candidato que só caiu (e só teria chegado no segundo turno beneficiado por Marina), a estratégia não é nem complicada nem de difícil execução.

A propósito, mantenho meu respeito por Marina Silva intocado. Não voto nela porque (a) não acho que acrescentaria muito (não que não acrescentasse, ou, por outro lado, subtraísse, nada) ao que seria um novo governo do PT, (b) não tenho vontade de assistir de novo a peça “ela era tão honesta, mas teve que fazer alianças tão ruins”, desilusão, chororô em CPI, essas coisas, (c) a chance da direita dar mole para a Marina, e permitir a tal conciliação, é zero. Quem topa conversar com a Dilma toparia conversar com a Marina, mas, na primeira crise, a turma de sempre ia desencavar o passado petista da Marina, ia ter polvo verde na capa da Veja, etc. Imagina a festa que iam fazer com essa coisa dela ser amiga de ONG? “Quer entregar a Amazônia para os americanos”, “Vai proibir comer picanha”, o Roberto Freire ia dizer que ele e o Blairo Maggi são os verdadeiros ecologistas, etc.

No mais, continua a ser um grande quadro, com muito a oferecer ao país no futuro.

Tendo dito isso, vou gastar aqui minha credibilidade: acho que não tem segundo turno. Porque eu acho que, até a eleição, o Serra cai. E vai ter gente no campo dele optando por abreviar o sofrimento. Se errar, errei, não vai ser a primeira vez nem a última.

Bom. Gostei do tom do Celso. Mas, caro, esse não é o tom que domina nos arraiás petistas. Infelizmente. Veja só as sandices que o Emir Sader escreveu sobre a candidata do PV. Aliás, tá cada vez mais díficil levar a sério o Emir Sader, não é?

Concordo com o Celso no seguinte: o eleitorado que, na última semana, despencou-se da Dilma e foi prá Marina, em um segundo turno, que eu acho mais provável do que ele, votará na Dilma. Esse é o fenômeno da "ressaca ética da onda vermelha". Pode ser que, de última hora, bata uma nóis, sei lá, e esse pessoal, que adoraria votar logo na Dilma, mas tá com vontade de dar um castiguinho no PT, voto no 13. Se o jogo fosse tão previsível, a gente não se envolvia tanto. Não se emocionava além da conta, não é?

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