terça-feira, 28 de setembro de 2010

O segundo turno, a onda verde e os desafios do PT

Marina cresceu o dobro do Serra no período entre a penúltima e a última pesquisa do Datafolha. Com isso, deveremos ter segundo turno na eleição presidencial, ao contrário de previsão furada que fiz aqui.

Pestistas, não se desesperem. Mantenham o sangue frio. Muita calma, hein? Ora, a onda verde (mais uma ondinha, tá certo?) cresce na ressaca ética da onda vermelha. O eleitorado de esquerda, anti-Tucano, mas também ainda não completamente dominado pelo realismo político, não quer ficar se justificando (especialmente para o espelho, já que, em público, como todo "homem líquido", foge da polêmica) e carregando no colo a família Guerra. Esse eleitorado, caso o segundo turno ocorra, como é mais provável pelos dados de hoje, e a disputa se dê entre Serra e Dilma, votará majoritariamente em Dilma.

Há riscos, é verdade. O Serra pode ir mais para a direita e fazer uma campanha mais moralista (em torno de temas como o aborto, por exemplo). Mas aí, nesse caso, perderá de vez o contato com uma parte do eleitorado de Marina, muito embora possa vicejar no fundamentalismo cristão. Nunca se sabe para aonde as coisas vão depois que os atores ensaiam suas operetas...

Voltando ao que interessa... Mesmo quem acha que Marina não tem projeto para o país, votará nela no primeiro turno. O PT precisa ter cuidado para não sair atirando, especialmente com baixaria, na Marina. Uma conseqüência é se afastar de vez desse pessoal.

Esse voto de última hora em Marina pode ser lido também como o voto limpo possível. Mas não só. Se você olhar com um pouco mais de distaciamento a disputa, muito díficil isso, eu sei!, talvez descubra que, das três candidaturas com chances, apenas a de Marina é de uma candidata a Presidente da República. Dilma e Serra são candidatos(as), em verdade, ao cargo de GERENTE do Brasil. São candidaturas meio tecnocáticas, alicerçadas no discurso meritocrático.

Marina, goste-se ou não, representa algo diferente. É o Lula do século XXI, a Obama tropical... Ela tem alma, é gente, e o que ela fala é conectado com a sua biografia. Tem substância e exequibilidade? Para ser sincero, acho que não. Mas, o que importa? Eu estou tentando entender o fenômeno, não pedindo votos (já passei dessa fase...). Seria uma boa presidente? Tenho dúvidas. Dilma pode funcionar melhor? Sim. Mas Dilma é casamento tradicional, que se mantém pela inércia, embora dê resultados, mantenha os filhos bem educados e casa funcionando. Marina, não. É paixão, emoção, tesão... Sacou? Os petistas lembrar-se-ão: um dia, há décadas, a política significou isso para eles...

Bom, os petistas retrucarão: "tudo muito lindo, mas Marina ajuda Serra." Ah, é? E ontem, o PT não ajudava Maluf e PFL, insistindo com candidaturas próprias, quando o PMDB disputava com chances governos estaduais e a Prefeitura de São Paulo? Seguindo-se essa lógica, o PT gaucho elegeu Jair Soares (PDS), em 1982; e o PT paulista deu a prefeitura paulista a Jânio Quadros, em 1985. Cuidado com a lógica, pessoal! Sim, o voto em Marina pode levar Serra para o segundo turno, concordo. Mas, vem cá!, quem embalou Erenice Guerra e parentada no colo não tem nenhuma responsabilidade nessa história, não? Fala sério!

Então, meu conselho gratuito (que os petistas, obviamente, não o levarão a sério) é o seguinte: tratem com carinho o eleitorado de Marina, vocês precisarão desses preciosos votos no final de outubro...

3 comentários:

Roberto Torres disse...

Caro Edimilson,

a imagem de Dilma como tecnocrata e sem alma para mim só reflete a visão de uma parcela da classe média, e não leva em conta que o eleitorado pobre convertido ao lulismo também pode se apaixonar pela política e ver alma em Dilma.

Gosto muito da Marina e concordo com tudo que voce disse sobre ela, mas vejo sua distinção sobre ter ou não ter alma muito mais como militância do que como análise.

Um abraço

Anônimo disse...

Confirmado, Edmilson: você olha para Marina e se vê na juventude. São olhos de quem tem saudades do tempo passado.

Edmilson Lopes Júnior disse...

Hummm!

Vamos lá, então. Poderia usar um argumento de autoridade, aqui. Qual? Votarei na Dilma. É isso mesmo, vou votar na Dilma. Com o pessimismo da razão, vá lá, mas vou...
Eu não acho que inexista paixão no voto pela Dilma. Tem, sim. Paixão pelo Lula e pelo que ele representa. Não dá prá negar isso...
Mas, talvez tenha exagerado mesmo... E aí o puxão de orelha do Roberto me traz de volta à realidade. Tento não ser, mas, não raramente, quedo-me em um sentimentalismo piegas pacas.
Brigadão, Roberto!
Agora o simpático anônimo.
Ok, concordo também contigo. É saudade mesmo, tá certo. Mas, vem cá, não sei você, mas é bom ter saudades de vez em quando, não? Esse conservadorismo (pois essa saudade quando transplantada para a política, quase sempre, transmuda-se em conservadorismo) é mais do que justificável...
Seu avô, sua mãe, seu pai e seus tios também sentem saudades do passado... Claro, saudade é uma coisa e saudade guiando a análise do presente é outra...
De qualquer forma, acho que batestes na tecla certa.
Eu sou assim mesmo, acostume-se. Bato e assopro (he, he, he.)

Veleu, gente!