quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Palestra no CCHLA: A DISSEMINAÇÃO DO PENSAMENTO DE MICHEL FOUCAULT NO BRASIL

Amanhã, a partir das 09:30 hs, a Profª Luzinete Simões Minella (do Doutorado em Ciências Humanas da UFSC) proferirá palestra sobre a difusão do pensamento de Michel Foucault no Brasil. O local do evento será o Auditório B do NAPP.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Um ótimo artigo no Terra Magazine

Acesse o Terra Magazine, dirigido pelo sempre competente Bob Fernandes, e leia o ótimo artigo do jornalista Christopher Hitchens, do The New York Times, a respeito dos porcos (ou da matança deles) no Egito. Clique aqui e confira!

Honduras: Kotsho põe o dedo na ferida

O jornalista Ricardo Kotsho não perde tempo com rodeios, vai ao nó da questão. Leia abaixo a sua análise sobre a situação em Honduras e descubra o por quê. Acesse aqui o blog do jornalista.

Crise em Honduras e campanha antecipada: festival de hipocrisia
Ricardo Kotsho

Venho notando nos últimos dias que um festival de hipocrisia está assolando o Brasil. Já tivemos o Febeapa (Festival de Besteiras que Assola o País), imortal criação do Stanislaw Ponte Preta, e agora é só trocar besteiras por hipocrisia que dá na mesma.

Até agora não fiz nenhum comentário sobre a grave crise que se prolonga em Honduras e envolve seriamente o Brasil porque é tão grande a confusão por lá que não dá para sair por aí alegremente dizendo quem é bandido e quem é mocinho nesta história.Se você não tem o que dizer e não consegue nem entender o que está acontecendo, vai explicar o quê? Melhor é ficar calado.Mas, diante do que li hoje no noticiário, com todo mundo metendo o bedelho, me deu vontade de entrar no assunto só para destacar a quantidade de besteiras e de hipocrisia que se está produzindo em torno da crise naquele pequeno e desconhecido país.

Que esse Manuel Zalaya é um tremendo maluco que não merece a menor confiança de ninguém, estamos todos de acordo. Ocorre que ele foi eleito pelo povo de Honduras e derrubado de pijama pelos militares porque queria fazer uma consulta popular para poder se candidatar à reeleição.

Qual é o crime? Por que no mundo inteiro a reeleição é considerada democrática, mas só não pode existir em Honduras, na Venezuela e nos seus aliados bolivarianos? Por que Fernando Henrique Cardoso não foi chamado de golpista ao mudar a Constituição para disputar mais um mandato, utilizando métodos, digamos, pouco ortodoxos?O Brasil, os Estados Unidos, a ONU, a OEA, todos condenaram o golpe em Honduras que derrubou Zalaya. Golpe é golpe, não tem outro nome, e o presidente eleito tinha todo o direito de lutar para voltar ao seu cargo.Na ausência de outras crises internas, agora o governo brasileiro é criticado por abrigar o dito cujo em sua embaixada em Tegucigalpa. Queriam o que? Que o embaixador fechasse o portão e chamasse a polícia dos golpistas?Entramos numa tremenda roubada porque esse tal de Zalaya, uma caricatura do Ratinho, não está respeitando a casa de quem lhe deu abrigo e quer botar fogo no circo escondido atrás dos muros da embaixada.

O problema é que o Brasil continua lutando por uma saída diplomática e pacífica, mas está cada vez mais pendurado na brocha no momento em que os organismos internacionais nada fazem para resolver o conflito.Hipocrisia é chamar de ditador o celerado presidente venezuelano Hugo Chaves, também eleito e reeleito, quando fecha arbitrariamente emissoras de rádio e televisão de oposição, e achar bonito quando o “presidente de facto”, Roberto Micheletti, faz a mesma coisa em Honduras.Assim como é hipocrisia ficar a toda hora denunciando o presidente Lula de antecipar a campanha eleitoral e fazer exatamente a mesma coisa. O que é feio para uns, fica bonito nos outros, é natural. Ou as viagens que os outros candidatos presidenciais fazem pelo país, assim como Dilma, são apenas de turismo, para conhecer melhor o Brasil?Serra, Aécio, Ciro, Marina, todos eles estão toda semana viajando, procurando cavar seu espaço para cativar o eleitorado com vistas a 2010. É direito deles, qual o crime? Pois nesta segunda-feira, no Rio, onde está em plena campanha, minha amiga Marina Silva achou bonito criticar a “antecipação do debate político sobre a eleição do próximo ano”.

No domingo passado, cercada pelos óculos escuros de Gabeira e Sirkis, Marina foi fazer o que caminhando com faixas e bandeiras pelas praias cariocas? Tomar sorvete, catar conchinhas, ou não estaria dando início à sua campanha presidencial também?Diz a notícia da Folha: “Marina aprovou a avaliação do presidente do PV no Estado do Rio, vereador Alfredo Sirkis, que culpou o presidente Lula pela discussão eleitoral antecipada”. Que maravilha! O valente ex-guerrilheiro e ex-secretário de Cesar Maia agora é o guru de Marina.

Por que nós temos este costume de não chamar as coisas pelos nomes certos e só achar errado o que fazem os que não pensam como nós?Por acaso foi também por culpa de Lula que o governador José Serra resolveu aumentar em 43% a verba de publicidade do seu governo este ano?Seria apenas para dar mais trabalho às agências de publicidade e ocupar os espaços ociosos dos intervalos comerciais porque o povo não é capaz de enxergar a grande obra que ele vem fazendo em São Paulo?Cada um pode enxergar a paisagem como quiser, já escrevi aqui outro dia, mas um pouco de semancol nas declarações não faria mal a ninguém. Estão exagerando na hipocrisia.

Honduras e o anti-golpismo seletivo

Ligo na CBN e a cantilena é mesma: crítica superficial à diplomacia brasileira pela sua atuação em Honduras. Os mesmos que vociferam contra a ação de Hugo Chavez contra os meios de comunicação na Venezuala agora se calam quando um candidato a tiranete fecha rádios e TVs no país centro-americano. Por isso mesmo, acredito, vale a pena ler o artigo abaixo, de autoria do jornalista Jânio de Freitas, publicado no jornal Folha de São Paulo.

Os erros, ou nem tanto
Jânio de Freitas
A situação de Manuel Zelaya na embaixada depende muito dos pressupostos políticos de quem a considere

OS GOLPISTAS DE Honduras cometeram seus dois primeiros erros táticos. Um, ao empurrar os diplomatas acomodados na Organização dos Estados Americanos, como representantes dos nossos países, para a possível admissão de alguma atitude em defesa da entidade.Considerados os seus fins, os golpistas vinham agindo com bastante habilidade tática, e por isso mantendo os países adversários do golpe entre acuados e omissos. Mas barrar a entrada de funcionários da OEA, que preparariam a visita de uma comissão de diplomatas assim impedida também, soa como um despertador na organização caída em letargia desde o fim da Guerra Fria.

Um erro seguido de outro é, em geral, tomado como indício de perda de controle. Mas tanto pode ser isso quanto o oposto: a atitude mal pensada por excesso de confiança.As duas interpretações cabem, a gosto do freguês, no segundo erro dos golpistas hondurenhos, simultâneo ao outro. É o ultimato dado ao governo Lula para definir em dez dias (agora oito), nos termos das convenções internacionais, a situação em que o derrubado Manuel Zelaya se abriga na embaixada brasileira. Ultimato acompanhado da ameaça de cassação das imunidades e outros direitos da embaixada, o que implica ameaças piores.

Em termos políticos, Lula está posto sob pressão ainda maior do que a OEA. É o seu prestígio internacional, joia maior das suas atuais vaidades, que está posto em xeque pelos hondurenhos do golpe.O risco de uma situação ainda mais complicada é real, caso a OEA se mantenha em reuniões, consultas, sondagens, emissários inúteis e outras habituais protelações. E o Conselho de Segurança da ONU, já enrolado com o Irã e a Coreia do Norte, ainda ache que o impasse entre Brasil e Honduras vale apenas uma nota. Posição do conselho (e, nele, em especial dos Estados Unidos) que sugere uma subjacente represália à insistência do Brasil em integrá-lo, e em ver esse poder mundial reformado e compartilhado por mais países.

A situação de Zelaya na embaixada depende muito dos pressupostos políticos de quem a considere. Os opositores ao governo Lula, os de visão mais convencional e conservadora, são incessantes na opinião de que Zelaya fazer política de dentro da embaixada “é um absurdo”, “transformou a embaixada na casa da mãe joana”, e por aí. Mas se Zelaya é o presidente legítimo de Honduras e está na embaixada apenas na condição de hóspede, como considera o governo Lula, então o absurdo estaria em tolher-lhe a palavra e o direito de usá-la em defesa da causa democrática. Censura que, de sua parte, o governo golpista aprofundou agora, cassando por oposição ao golpe a Rádio Globo, claro que a de lá, e um canal de TV. Seria o suficiente para avolumar-se uma campanha contra os novos inimigos declarados da liberdade de informação e opinião. Mas o antigolpismo é seletivo, como ensinou a imorredoura doutrina da Guerra Fria. Então, o que podia ser o terceiro erro tático é, na prática, só mais uma atitude lógica, do ponto de vista do poder golpista.

Amanhã, se estiver melhor, volto...

Ando meio quebrado. Todo segundo semestre é assim. Tudo se avoluma. Uma correria danada. Aí o corpo não aceita a dinâmica e a imunidade despenca. Estou me arrastando nesses dias. Assim que tiver mais forças, volto a postar com mais freqüência.

Um abração.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

DNA e a privacidade

Transcrevo mais abaixo material enviado pelo Ex-Blog do César Maia. Trata-se de interessante artigo, publicado inicialmente no jornal argentino La Nacion. A responsabilidade da tradução é do César Maia. Confira!

DNA: INTIMIDADE E IDENTIDADE! QUEM DECIDE? COMO?
Trechos do artigo de Viviana Bernarth, doutora em biologia molecular. (La Nacion, 19/09)


1. Em 2001, E.V. foi notificada pela Justiça Argentina para que se submetesse a um teste de DNA. Existiam elementos para se suspeitar que era filha de pessoas desaparecidas. A jovem, que já tinha atingido a maioridade, negou submeter-se ao exame. Argumentou que os resultados poderiam afetar as pessoas que a criaram. Para sustentar sua recusa, ela recorreu ao direito à privacidade. O caso de E.V. abriu um precedente. Pela primeira vez o STF privilegiou o direito à privacidade em relação ao direito à identidade. É compreensível que, no caso desta menina, a lei tenha considerado essencial garantir seu direito à privacidade.

2. O que é o direito à privacidade? É o direito que toda pessoa tem de decidir se torna público ou não a sua privacidade. E o que é o direito à identidade? É aquele que tem qualquer pessoa de ter um nome e uma nacionalidade, a conhecer seus pais e a ser cuidada por eles. Aonde nos leva esta distinção entre os dois direitos? A uma questão controversa que nos faz pensar sobre qual deles dever ser respaldado pela lei em cada caso, se o direito à privacidade ou o direito à identidade. Tanto a Declaração dos Direitos Humanos (1948), como a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (1989), argumentam que o direito à privacidade e o direito à identidade deve ser invioláveis.

3. São inúmeros os homens que através de exames de DNA, descobrem que não são os pais biológicos das crianças que criaram. O que ocorre então com o vínculo amoroso desenvolvido entre eles? E com essas mães que, conscientemente, atribuíram a seus filhos paternidades fraudulentas? Deveriam ser punidas? Em qual dos dois direitos à lei deve se fundamentar para decidir a quem proteger? Na França, é difícil realizar um teste de DNA só porque você deseja resolver uma dúvida pessoal. Somente uma petição judicial pode autorizar a realização destes testes. Esta prática é ilegal na esfera privada.

4. Na Espanha, Inglaterra e Argentina, o teste de paternidade pode ser feito particularmente e extra judicialmente. Qualquer pessoa tem a liberdade para solicitá-lo. Por outro lado existem leis, como a alemã, que também levam em conta efeitos psicológicos que podem recair sobre os homens que suspeitam terem sido enganados por suas esposas em relação à sua paternidade, e recentemente uma lei torna mais fácil, para os pais que duvidam da sua paternidade, o processo para esclarecer a origem de seus alegados filhos. Para isso, não precisam necessariamente romper os vínculos legais com o filho não biológico, caso se confirme a suspeita da não paternidade.

5. A qual direito deve ser dada prioridade: o direito a intimidade, ou a identidade? O que deve prevalecer: a consideração da família biológica ou o vínculo emocional? O teste de DNA não deve ser a única variável levada em conta no momento de se decidir se o homem envolvido tem que continuar agindo ou não como pai, devendo ir além do eventual vínculo biológico com seu filho. O problema decorrente do exame de DNA não é apenas jurídico ou científico. Também não é apenas um problema psicológico. É todo esse conjunto.

6. Portanto, estabelecer uma jurisprudência geral, implica correr o risco de subestimar ou ignorar as especificidades. Cada pessoa envolvida em caso de DNA deveria ser capaz de decidir de forma autônoma, se prefere preservar o direito à privacidade ou o direito à identidade. Isso sempre que a sua decisão não prejudique terceiros ou envolva a ocultação de um crime. Generalizar, nesse sentido, é extremamente difícil e pode vir a ser arbitrário. Portanto a Justiça, antes de se decidir, deve incluir todas as variáveis em jogo e contemplar a singularidade no momento de avaliar o que será preservado: se o direito à privacidade ou identidade.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Reproduzo mais abaixo artigo de autoria de Ricardo Abramavay, publicado na edição de final de semana do jornal Valor Econômico. Confira!

Responsabilidade social empresarial dois ponto zero
Ricardo Abramovay*


Uma empresa não tem por vocação resolver os problemas de nossa sociedade mas é notável a ampliação do leque de questões que o mundo corporativo se propõe explicitamente enfrentar. A RSE 2.0 (responsabilidade social empresarial dois ponto zero) é uma nova etapa de mudança social que se distingue das anteriores por três traços fundamentais:

o primeiro é que a sustentabilidade está no centro da inovação de produtos e serviços da economia contemporânea. Isso vai além da descarbonização da vida econômica, e refere-se ao uso de energia, de água, de biodiversidade e do conjunto dos recursos materiais de que a reprodução da empresa depende. A marca da inovação contemporânea é que ela se volta a um objetivo muito preciso, que é o de promover um novo tipo de relação entre economia e natureza. É aí que estão os movimentos empresariais mais promissores. É isso que alarga o horizonte intelectual a partir do qual as ciências sociais concebem a empresa privada: os processos contemporâneos de inovação têm objetivos que envolvem uma dimensão política e cultural valorativa que supera a ideia de obter ganhos econômicos. Uma empresa que se defina apenas pela missão de fazer bem feito o que oferece a sua clientela e que não incorpora sua relação com os ecossistemas e com a sociedade a seu processo de tomada de decisões está muito aquém daquilo que os desafios da inovação contemporânea impõem.

O segundo traço dessa nova etapa é que ela traz a marca da participação de organizações da sociedade civil em dimensões básicas da própria vida empresarial. Um exemplo emblemático, nessa direção, é o do Forest Stewardship Council, que reúne ONGs, empresas, trabalhadores, institutos de certificação e representantes de povos da floresta. O Marine Stewardship Council (em que, vergonhosamente, o Brasil não tem qualquer iniciativa) responde ao mesmo princípio, com relação a recursos pesqueiros. Além dessas instâncias organizadas, que se multiplicam hoje em mesas-redondas setoriais, há uma pressão geral à qual respondem as empresas em torno da maneira como utilizam seus recursos.

Daí a importância da terceira característica da RSE 2.0: um aprofundamento impressionante da rastreabilidade e da elaboração de parâmetros que exprimam o ciclo de vida dos produtos (seu uso de materiais e de energia) bem como os efeitos sociais de sua produção e de seu consumo. Estão aí em jogo a razão de ser e as finalidades da empresa privada - duas questões que, no horizonte de Karl Marx e de Friedrich Von Hayek, não teriam sentido para uma economia capitalista e que, no entanto, hoje, dão o rumo da corrida competitiva.

Ricardo Abramovay é professor da FEA/USP.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Entrevista de Márcio Pochmann

Márcio Pochmann, presidente do IPEA, é um dos economistas contemporâneos que mais tem se preocupado em produzir reflexões globais sobre a realidade econômica e social brasileira. Ocupando, desde há algum tempo, a direção do reconhecido instituto de pesquisa, encontra-se em uma posição privilegiada (pela possibilidade de acesso a resultados fresquinhos de pesquisas de ponta) para a produção de análises qualificadas sobre o país. Por tudo isso, vale a pena assistir a entrevista concedida por ele ao Programa Jogo do Poder da CNT. Acesse-a aqui (no Blog do Alon Feuerwerker).

A Argentina e o acerto de contas com o passado

Nenhum outro país da América Latina, que sofreu sob o jugo de ditadura militar nas décadas de 60 e 70, fez o acerto de contas com o passado com a profundidade que os argentinos fizeram e ainda estão a fazer. Desde o primeiro governo civil pós-ditadura, o de Raul Alfonsin, os argentinos têm colocado nos bancos dos reus os responsáveis pelos anos de terror. Trata-se de um movimento de longo curso, com alguns recuos. Sob alguns governos há avanços; em outros, como aquele de Carlos Menem, retrocessos. Mas há uma linha em direção ao futuro a qual leva a punição dos criminosos de ontem.

Na "guerra suja" contra a esquerda, os militares argentinos recorreram aos métodos mais cruéis. Um deles foi a realização dos chamados "vôos da morte". Militantes políticos eram jogados vivos, de aviões, em alto mar. Leio na edição de hoje do Página 12 que um dos responsáveis por esses infames vôos, que vivia tranquilamente na Holanda e que trabalhava como piloto da aviação civil, foi preso ontem. Por ordem da aguerrida justiça espanhola. O genocida estava em Veneza. Na sua casa, na Holanda, a polícia encontrou provas da sua atividade criminosa na época da ditadura. Leia aqui a notícia completa (em espanhol).

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Perfil dos ingressantes no curso de Ciências Sociais da UFRN

Com base em dados produzidos pela COMPERVE, o órgão responsável pelo vestibular na UFRN, organizei um conjunto de planilhas sobre o perfil dos ingressantes no curso de Ciências Sociais no ano de 2009. Confira aqui o resultado.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Atílio Boron e o golpe em Honduras

O sociólogo e politólogo argentino Atílio Boron escreveu, na edição de hoje do jornal Página 12, uma análise da situação política em Honduras. Agora, que o Brasil está atolado até o pescoço no conflito, acredito, você deve perder um tempinho procurando entender o que se passa. Acesse aqui o artigo mencionado.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Assista uma parte do "Paz sin fronteras"

Clique aqui e assista uma parte do evento musical que reuniu, ontem, um milhão de cubanos. Pura magia!

Um milhão de cubanos nas ruas...






Havana viveu ontem um dos dias mais agitados de sua história recente. Mais de um milhão de jovens ocuparam a Praça da Revolução. Não, não, não era uma comício de Fidel. E nem contra ele, para tristeza de não poucos. Moças e rapazes estavam ali para ouvir e dançar boa música. E celebrar a paz.

Juanes, esse colombiano que é hoje um dos maiores nomes da música latino-americana, levou a rapaziada à loucura ao afirmar, antes de começar a cantar, que "é tempo de trocar o ódio pelo amor". Não satisfeito, o colombiano fez referência ao tema da campanha do Obama: "it`s time to change".

O evento, que reuniu nomes consagrados da música latina, foi intitulado "Paz sin fronteras". Pelo que li de órgãos insuspeitos (por não serem exatamente pró-cubanos), como o espanhol EL PAÍS, o show foi um sucesso.


Éxito total del concierto por la paz de Juanes en Cuba
VIDEO - AGENCIA ATLAS - 21-09-2009
Parecía que Fidel iba a dar de nuevo un discurso en la plaza de la Revolución de La Habana. Miles de personas concentradas bajo el sofocante sol caribeño. Pero en esta ocasión, las palabras llevaban música. Tiempo de cambio capitaneado por Lo había pedido y ayer su concierto Paz sin Fronteras en la capital cubana se hacía realidad. 15 artistas, entre ellos Miguel Bose, Victor Manuel o Aute se unían en este frente común. En una nueva revolución, que empezaba a las dos en punto a ritmo de merengue. Las consignas ahora eran estribillo, tarareados por más de un millón de personas. Público entregado a cualquier ritmo.Distintos ritmos con igual vestido. Camiseta blanca arriba y abajo del escenario.Iguales los de allí y los que viven sólo a 370 kilómetros, pero en otro mundo. Los cubanos exiliados en Miami que tan duramente le han criticado.Ningún nubarrón mitigó el calor humano, ni los más de 30 grados que se vivieron durante las cinco horas que duró el evento. Porque en La Habana no hay sitio para hacer una cosa así con luz artificial. Este es el segundo macroconcierto que organiza Juanes. El primero se celebró en marzo de 2008, en la frontera entre Colombia y Venezuela. El escenario para el tercero ya está en su mente: México o incluso Miami.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A cor do paraíso

Talvez seja um dos melhores filmes que eu já assisti. A narrativa criativa e a beleza da fotografica transformam "A cor do paraíso" em uma das obras-primas do cinema mundial deste início século. O melhor do cinema iraniano. Imperdível! Vá a uma boa locadora, alugue e confira.

O Grupo Baader-Meinhof: o filme.

Ontem, como estava hospedado na Acadêmica de Tênis de Brasília, um espaço que conta com nada menos que dez salas de cinema, fui ver um dos filmes em cartaz. Assisti ao filme "O Grupo Baader-Meinhof". A película (gostou da palavra?) conquistou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano. Posso lhe assegurar que a premiação foi justa. O filme é uma narrativa relativamente honesta (e, por isso mesmo, ousada) de um dos momentos mais marcantes (e sangrentos) da extrema-esquerda ocidental na década de 1970. Refiro-me à história do grupo de guerrilha urbana alemão auto-identificado como "Facção do Exército Vermelhor", mas que ficou conhecido mesmo pelos sobrenomes de dois dos seus mais conhecidos militantes: Andreas Baader e Ulrik Meinhof. A história do envolvimento da jornalista Meinhof, então já gozando de certo reconhecimento, com o grupo terrorista tem a estrutura de um enredo psicológico. Um filme para ser visto e analisado!

A (in) sustentabilidade das candidaturas de Marina e Ciro, na avaliação de César Maia.

Leia a análise de César Maia sobre os limites e possibilidades das candidaturas de Marina Silva e Ciro Gomes. Vale a pena conferir!


1. A dinâmica das candidaturas a presidente da república obedece a duas grandes etapas. Na primeira, há um equilíbrio nas condições sob as quais as candidaturas são desenvolvidas, seja em relação à propaganda partidária, como a cobertura geral da imprensa. Leva vantagem quem governa e pode ser candidato a reeleição. Mesmo no caso de ministros candidatos a presidente, que tem alguma vantagem com a desincompatibilização, retoma-se o equilíbrio.

2. No caso de candidaturas que surgem como novidades -esse ano Marina Silva, em 2006 Heloísa Helena (HH)-, mesmo em partidos pequenos, a mídia espontânea tem dado um destaque até mais que proporcional. Essa primeira etapa se encerra com as convenções de junho do ano da eleição, 2010, no caso.

3. Na segunda etapa, que começa após estas convenções, o jogo fica progressivamente desequilibrado e o auge se dá a partir de 15 de agosto, quando o tempo de TV afeta a competitividade. A internet, bem usada, pode reduzir esta desproporcionalidade, mas não de forma radical. As pesquisas vão definindo favoritos e os financiamentos se dão de forma proporcional. E com mais recursos, se tem mais visibilidade, criando uma percepção de candidaturas fortes ou mais fracas.

4. No entanto, há um elemento muito importante e que pode reforçar ou debilitar as candidaturas: a articulação com as candidaturas estaduais de governadores, que ocupam espaços destacados nas ruas, na imprensa e na TV dos partidos. HH entrou em julho de 2006 numa curva ascendente e apontou ultrapassar os 15%. Era a estrela da vez. O próprio Cristóvam Buarque cresceu, passando dos 5% e não foi além porque sua candidatura não era a de presidente, mas a de defesa do tema educação, sem outra preocupação.

5. A partir do final de julho o processo eleitoral polarizou entre Lula e Alckmin, e HH foi definhando, com 6% e Buarque com 2%. A razão da insustentabilidade era a falta de capilaridade pela ausência de candidatos a governador com visibilidade. Buarque ainda teve uns 3. Mas HH nenhum.

6. Ciro pode vir a ter alguns candidatos a governador competitivos como o de Pernambuco, mas, por enquanto, não serão mais que uns 4, o que é pouco. Mesmo que fosse para formar base regional, teria que trazer para o "sacrifício" candidatos a governador em vários estados.

7. Marina, até aqui, tem apenas um: Gabeira, no Rio. É muito pouco. Da mesma forma, para que sua candidatura tenha sustentabilidade, precisa de candidaturas a governador, mesmo que nomes da sociedade civil, intelectuais, ou personagens emblemáticos... Não sendo assim, sua candidatura terá as luzes que tem até junho e depois irá inevitavelmente minguar. Ter candidatos a governador é tão importante quanto o tempo de TV: um sem o outro a sinergia é negativa.

Blogando com dificuldade

Estou com conjuntivite. Incomoda demais essa coisa! Por isso, não postei nada ontem. Se bem que estava o dia todo envolvido em uma atividade promovida pelo INEP, aqui em Brasília. Agora, no Aeroporto e com um longo tempo de espera, tento colocar alguma neste espaço.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Um outro 11 de setembro


Na foto acima, de autor desconhecido, você vê o ataque ao Palácio de La Moneda, no dia 11 de setembro de 1973. Resistindo, dentro da sede do governo, o presidente eleito Salvador Allende. Os golpistas chilenos davam início, naquele dia que entraria para a história devido a um outro ataque igualmente selvagem e paraticados por outros inimigos dos valores democráticos, a uma das mais sangrentas ditaduras desta América Latina tão pródiga em regimes autoritários no sofrido século XX.

Partidos? Ora, partidos...

Do Blog da jornalista Ana Ruth Dantas colho as manchetes abaixo.
Luiz Almir afirma que ainda não decidiu novo partido

Robinson Faria se filiará ao PP na próxima semana

No jogo político da província os partidos são como que capitanias hereditárias. Pequenos bastiões burocráticos que servem apenas para referendar projetos construídos em outras instâncias, quando não meros interesses individuais.

Neste momento, marcado pela arrumação do palco para as disputas eleitorais, o troca-troca de legendas expressa a pobreza e a mediocridade que marcam a vida política na província. Partidos? Ora, partidos....

Palestra imperdível

No próximo dia 21 de setembro, segunda-feira, no horário das 14 horas, no Auditório do Laboratório de Filosofia da Psicologia da UFRN, o Professor Daniel Durante, do Departamento de Filosofia (também da UFRN), proferirá uma palestra intitulada "O conceito de paradigma: a filosofia da ciência de Thomas Kuhn".

Palavra e democracia

Reprouzo mais abaixo artigo de autoria do jornalista Marcos Rolim. Ex-deputado federal pelo PT do RS, Rolim atualmente se dedica a uma ativa militância em defesa dos direitos humanos e ao trabalho de consultor na área de segurança pública. Sua verve crítica e a sua crítica rigorosa ao empobrecimento da vida política nacional transparecem no pequeno texto que disponibilizo. Boa leitura!


PALAVRA E DEMOCRACIA
Marcos Rolim
Jornalista

Em um sentido aristotélico, “retórica” era a virtude da persuasão. Uma capacidade essencial para a democracia ateniense, onde as decisões dependiam do encantamento produzido pelo discurso. Platão se tornou um crítico da retórica, porque a identificou com a manipulação da verdade pelos sofistas; mas nunca a abandonou, chegando a sonhar com uma arte da argumentação capaz de convencer os deuses; ou seja, uma virtude comunicativa que, para além de toda demagogia, pudesse convencer a audiência mais exigente.

Devemos em grande parte ao filósofo polonês Chaim Perelman a revalorização moderna da retórica, após longo período de aniquilamento positivista. Como arte da argumentação, a retórica é um recurso da democracia, porque necessária à persuasão, única forma de superar conflitos que não estão dispostos pela ordem da verdade. Sem a palavra bem disposta, afinal, não há como produzir acordo sobre o justo, ou o bom; nem como decidir diante de antagonistas com interesses legítimos.

Por isso, quando a palavra perde seu valor, é a democracia que adoece. Quando a palavra é pouco mais que um gesto avulso; quando o discurso é só artifício; quando o que foi dito ontem já não vale; quando minha palavra é “ética” a depender da rua por onde ando, então não há acordo possível e duas portas se abrem: a do cinismo e a da violência.

A democracia que temos já não tem política. Nela, o futuro se ausentou porque as palavras não autorizam expectativas. Será preciso reinventá-la, entretanto, antes de desesperar. Porque o desespero é só silêncio e o melhor do humano é a palavra.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A academia em foco

Leia abaixo artigo publicado no jornal Folha de São Paulo. Leitura obrigatória!

LUIZ FELIPE PONDÉ

Um relatório para a Academia

--------------------------------------------------------------------------------
Cálculos para garantia do emprego ocupam o tempo da classe acadêmica
--------------------------------------------------------------------------------



CLÓVIS ROSSI pergunta em sua coluna do dia 8 de setembro, página A2, se no Brasil vivemos algo como o que acontece na vida universitária da Espanha hoje: desinteresse dos alunos e asfixia burocrática dos professores. Sim, há semelhanças.

Nos anos 50, o filósofo norte-americano Russel Kirk descrevia um fenômeno interessante nas universidades americanas.

A partir do momento em que a vida acadêmica se tornou objetivo da "classe média", gente sem posses, a vida universitária entrou em agonia porque a proletarização dos acadêmicos se tornou inevitável.

Dar aula numa universidade passou a ter algum significado de ascensão social. A partir de então o carreirismo necessariamente assolaria a academia, assim como assola qualquer emprego.
Cálculos estratégicos para garantia do emprego passaram a ocupar o tempo da classe acadêmica. E muita gente que vai dar aulas na universidade não é tão brilhante assim ou tão interessada em conhecimento.
O cálculo estratégico hoje passa pelo número de alunos que implica uma redução ou não de aulas e orientações de teses.
Ou mesmo nas públicas, onde você está mais protegido da proletarização imediata, uma verba maior ou menor para seu projeto e mais ou menos discípulos causarão impacto na renda final e na imagem pública.


Daí o desenvolvimento em nós de um espírito selvagem: o corporativismo em detrimento do ensino ou o ethos de gangues em meio à retórica da qualidade.
Muitas pessoas (alunos e professores) buscam a universidade não para "conhecer" o mundo, mas sim "para transformá-lo" ou ascender socialmente.


E aqui, revolucionários ("criando o mundo que eles acham melhor") e burgueses (interessados em aprender informática para "melhorarem de vida") se dão as mãos.

Este pode ser mais individualista do que o outro, mas ambos fazem da universidade uma tenda de utilidades.

Para mim não faz muita diferença, para a banalização da universidade, se você quer formar gestores de negócios ou gestores de favelas. Nenhum dos dois está interessado em "conhecer" o mundo, mas sim "transformá-lo".

É claro que nos gestores de favelas o espírito selvagem pode funcionar tão bem quanto entre os gestores de negócios. A obrigação da universidade em produzir "conhecimento de impacto social" é tão instrumental quanto produzir especialistas na última versão do Windows.
O utilitarismo quase sempre ama a mediocridade intelectual. Falemos a verdade: a mediocridade funciona.


Ela gera lealdades, produz resultados em massa, convive bem com a estatística, evita grandes ideias. Enfim, caminha bem entre pessoas acuadas pela demanda de sobreviver.
A instrumentalização é quase sempre outro nome para utilitarismo. Isso não quer dizer que devamos excluir da universidade as almas que querem ser gestores de negócios ou gestores de favelas -elas é que excluem todo o resto.


Precisamos dos dois tipos de almas, e cá entre nós, acho que os gestores de favelas são moralmente mais perigosos do que os gestores de negócios. Como todos nós, ambos irão para o inferno, a diferença é que os gestores de favelas acham que não.

E a asfixia burocrática? Ahhh, a asfixia burocrática! Esta contamina tudo e em nome da democratização da produção e da produtividade da produção.

A burocracia na universidade nasce, como toda burocracia, da necessidade de organização, controle, avaliação.

Não é um sintoma externo a busca de aperfeiçoamento do sistema, é parte intrínseca ao sistema. A pressão pela produtividade proletariza tanto quanto a pressão pela carreira.
Soa absurdo, caro leitor? Quer mais?


Em nome da transparência da produção, atolamos esses indivíduos de classe média na burocracia da transparência e do acesso à produção universitária.
Enfim, a "produção" asfixia a universidade em nome de uma "universidade mais produtiva, democrática e transparente em sua produtividade". Estamos sim falando da passagem da universidade a banal categoria de indústria de conhecimento aplicado, e sob as palmas bobas de quem quer "fazer o mundo melhor". Tudo bem que queira, mas reconheça sua participação na comédia.


Kafka, em seu conto "Um Relatório para a Academia", já colocava um ex-macaco, recém-homem, fazendo um relatório para os acadêmicos.
Ali ele já suspeitava que a academia continha algo de circo ou show de variedades. Hoje sabemos que isto já aconteceu.

Sociologia da criança

Reproduzo mais abaixo matéria publicada no site A página sobre a sociologia da criança. Vale a pena conferir!

Criança tem voz própria
(Pelo menos para a Sociologia da Infância)

Ideia chave que ressalta da entrevista à professora Manuela Ferreira da FPCE da Universidade do Porto

Professora auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação na Universidade do Porto, Manuela Ferreira inicia o seu percurso profissional como educadora de infância, trabalhando em jardins da rede pública. Posteriormente licencia-se em Ciências da Educação na FPCE-UP, onde, desde então, tem leccionado as disciplinas de Ciências Sociais e Sociologia da Educação. Tem desenvolvido investigação na área da Sociologia da Infância - tema da entrevista que se segue - e dos Estudos de Género.

A Sociologia da Infância é uma área das ciências sociais com uma implantação relativamente recente no universo académico. Em que contexto surge?

A preocupação em estudar a criança do ponto de vista da Sociologia não é propriamente recente, basta pensar no conceito de socialização. O que é novo, é uma inversão do olhar que, ao assumir a autonomia conceptual das crianças e da infância, advoga que as suas culturas e relações sociais são dignas de serem estudadas em si mesmas, no presente e não no seu futuro como adultas, a partir da sua própria voz e não apenas através daquilo que os adultos dizem delas. Trata-se de colocar as crianças em equidade conceptual relativamente a outros grupos ou categorias sociais, uma vez que se considera que elas são seres activos na construção e determinação das suas vidas e dos que as rodeiam, adultos e outras crianças. Ora, é fundamentalmente a partir dos anos oitenta, que ganha visibilidade no mundo anglo-saxónico um conjunto de estudos de diversas áreas, desde a História Social, à Antropologia, Economia e Sociologia, que têm em comum a criança como unidade de observação. Claro que esta deslocação do foco para a acção da criança e a sua consideração como actor social não pode ser compreendida se não se entrar em linha de conta com as transformações que ocorreram dentro do próprio campo sociológico, nomeadamente dos debates entre as perspectivas mais estruturalistas e as que põem a tónica na acção social.

De que forma caracterizaria o campo de acção da Sociologia da Infância?

Como já referi, a Sociologia da Infância procura tomar as crianças como o seu centro de interesse, a partir de si próprias e não da sua dedução dos quadros instituídos de que estão dependentes. Essa preocupação tem-se traduzido em modos diferentes de construir sociologicamente a infância, tanto do ponto de vista teórico como metodológico. Há perspectivas que têm tido como preocupação mostrar que a infância não é uma realidade finita com uma forma única mas antes uma pluralidade de concepções que co-existem e são produto de uma construção social e histórica. Outras, procuram mostrar que mesmo que a infância varie historicamente e os seus membros mudem continuamente, a infância é uma categoria estrutural distinta e permanente das sociedades humanas. Aqui, a tónica é sobretudo colocada nas características sociais mais uniformes que permitem defini-la como grupo social constitutivo da sociedade, à semelhança de outras categorias estruturais como o género ou a classe social. Outras ainda, procuram enfatizar as crianças como actores sociais competentes, ou seja; com poder de acção e tomada de iniciativa, valorizando a sua capacidade de produção simbólica e a constituição das suas práticas, representações, crenças e valores em sistemas organizados social e culturalmente. Ou seja, as crianças serem reconhecidas como uma estrutura e um grupo social próprio... Exactamente. Não pode haver sociedades sem infância, por isso ela é uma categoria estrutural permanente. Para pensar a infância como categoria estrutural distinta de outras categorias como a classe social, o género ou etnia, a idade torna-se uma variável importante porque singulariza as crianças de acordo com as suas características mais comuns, sejam elas físicas, psicológicas, morais, afectivas, sociais. Isso permite uma maior compreensão da sua situação estrutural por referência ao adultos de quem estão ou são vistas como dependentes e perante quem têm menos poder e uma maior evidência de que também elas estão sujeitas às mesmas possibilidades e constrangimentos que são colocados pelos sistemas e estruturas sociais, geracionais e genderizados. Neste sentido, as crianças são vistas como uma categoria universal, um grupo social, que emerge dos constrangimentos que as estruturas sociais, económicas e determinadas políticas lhes colocam e que sistematicamente as excluem daquelas esferas sociais. De outro ângulo, uma vez que é nas instituições e nas acções sociais que aí desenvolvem que a infância é socialmente construída tanto pelas próprias crianças como pelos adultos, também se pode compreender melhor como é que no quotidiano, quando ali se encontram, jogam e negoceiam as suas diferentes e desiguais posições sociais de classe social, idade, género, estatuto, poder, elas se constituem como grupo social. Refere, em texto recente, que a Sociologia da Infância, abordando a criança como uma construção social, "procura suspender significados tidos como certos, evidentes e inquestionáveis".

A que significados se refere?

Refiro-me fundamentalmente às concepções tradicionais dominantes acerca das crianças e da infância que as definem como um ser irresponsável, imaturo, incompetente, irracional, amoral, a-social, a-cultural, seres em défice, simples objectos passivos e meros receptáculos de uma acção de socialização. Refiro-me também à própria concepção de socialização como um processo singular, progressivo, concertado, unívoco e vertical, reduzido às relações com os adultos que o encimam, localizado numa instituição com objectivos claramente definidos e em prol da reprodução social. Refiro-me à concepção do brincar como uma acção meramente natural e espontânea das crianças, uma espécie de credo e emblema único das actividades da infância que esgota a multiplicidade das suas acções e torna opacos os modos como criam realidade social. Refiro-me à concepção de grupo de pares como forma relação e de organização assente na homogeneidade e de onde estão ausentes relações sociais desiguais e a presença de relações estratégicas, de poder e contra-poder.

Contributos para uma cidadania da infância

Que contributos pode trazer a Sociologia da Infância para a redefinição, entre outras, da prática pedagógica dos educadores?

Quando uma das principais preocupações da sociologia da infância é, por um lado, mostrar que o modo como nós, adultos, vemos e pensamos as crianças interfere no modo como nos relacionamos com elas e, por outro, que as crianças são actores sociais dotados de pensamento reflexivo e crítico, daí que a relevância que se pretende atribuir às suas acções como prova de si e do que são como seres inteligentes, socialmente competentes e com capacidades de realização, dotados de emoções e sentimentos à luz das suas próprias evidências, parece-me que estão dadas as grandes coordenadas. A concretização desta segunda coordenada requer do adulto-educador uma outra atenção além da observação que se preocupe com a escuta das crianças, por forma a tornar-se um intérprete e tradutor competente das crianças, a partir dos pontos de vista delas e dos vários sentidos que estão envolvidos na situação, e isso não é possível sem estar disposto a deixar-se surpreender pelas crianças e a seguir atrás delas para aceder aos seus mundos. Sem esta aceitação de uma inversão das suas posições e papéis tradicionais, o que implica uma reflexão acerca das desiguais relações de poder entre adultos e crianças, não é possível promover a participação das crianças na tomada de decisão e gestão das suas actividades e, muito menos, no planeamento do quotidiano do jardim de infância.

Ou seja, levar a sério o actor social que ela de facto representa e reconhecer o seu direito à palavra...

Sim. Só que não basta reconhecer o direito à palavra das crianças. É preciso ter consciência de que essa palavra é dominada, dita e manipulada diversa e desigualmente pelas diferentes crianças. Se pensarmos, por exemplo, que os momentos de reunião colectiva no jardim de infãncia são um encontro público em que as crianças têm oportunidade de exprimir as suas opiniões, interesses, conhecimentos, etc, e que o seu modo privilegiado é a palavra oral, não é difícil imaginar do ponto de vista sócio-cultural quem serão as crianças que, muito provavelmente e em grande parte do tempo, ocuparão e dominarão esse espaço! O mesmo acontece quando as crianças brincam e desenvolvem acções comuns entre elas: não é a mesma coisa ser-se menino ou menina, ser da classe média ou de um grupo social com parcos recursos económicos, ser mais velho ou mais novo, veterano ou novato!… Isto para dizer que o contributo da Sociologia da Infância para pensar a redefinição da prática pedagógica dos educadores passa, sobretudo pelo desenvolvimento de uma sensibilidade aos processos sociais que impregnam o quotidiano do jardim de infância, tanto nas relações entre as crianças como entre adultos e crianças e pelo exercício do espírito crítico e da reflexividade como instrumentos para uma intervenção pedagógica avisada, capaz de desconstruir as subtilezas de que se revestem as relações de poder e dominação.

A Sociologia da Infância é apenas mais um contributo para o estudo da criança ou assume-se como uma dimensão inovadora nesse campo?

A Sociologia da Infância com os seus estudos das crianças deseja contribuir para o alargamento do campo das Ciências da Educação e das Ciências Sociais, não tanto por via do seu espartilhar com o acréscimo de mais uma disciplina e de um objecto, mas antes pelo participar na sua recomposição, uma vez que se considera que a sua inclusão obriga ao exercício crítico da própria sociologia, em particular, da sociologia da educação. Por exemplo: a inclusão das crianças e do seu ponto de vista no seio das problemáticas da sociologia da educação convida à ruptura com as concepções sociológicas tradicionais e normativas que, ao tomarem a escola ou o jardim de infância como os seus objectos de estudo, deduziram as crianças mais dos quadros instituídos do que das suas acções; a consideração das crianças como unidade de observação pode contribuir para pôr em diálogo áreas da sociologia como a educação, família ou lazer, por exemplo, e assim dar conta dos meandros nos quais se movem as crianças e de qual é o seu papel dentro e entre elas. O mesmo, em relação à articulação de diferentes disciplinas das Ciências Sociais. Trata-se de indagar a teoria disponível a partir dos problemas particulares colocados por este objecto/sujeito e de mobilizar uma heterogeneidade de olhares para compreender os fenómenos, de combinar várias abordagens teóricas, recorrer a conceitos provenientes de escolas de pensamento diferentes… Trata-se também de realizar estudos não apenas sobre as crianças, de como é que os adultos disseram as crianças, mas agora, com crianças para descobrir o actor-criança e a sua agência "escondida", dando-lhes voz, isto é: reconhecê-las como produtoras de sentido, com o direito de se apresentarem como sujeitos de conhecimento e assumir como legítimas as suas formas de comunicação e relação. Claro que para isso é necessário o recurso a metodologias interpretativas e etnográficas que convocam os adultos a desafiarem as barreiras do seu próprio adultocentrismo.

Como tem sido aceite esta área de investigação no meio académico?

O meio académico, incluindo a própria sociologia, não é impermeável às concepções dominantes da sociedade e, portanto, não é indiferente o desigual conhecimento e reconhecimento das diferentes idades de vida como realidades humanas e sociais relevantes, dos que contam ou não como seres sociais e da sua importância no quadro da hierarquização das categorias sociais: o adulto, o jovem, a criança e os idosos. O lugar marginal e o desinteresse a que têm sido remetidas as crianças, tanto maiores quanto menores são as suas idades, é sintomático disso. Também não é por acaso que mesmo tendo mantido um crescimento sustentado ao longo das últimas três décadas, a Sociologia da Infância tenha sido apenas reconhecida pela Associação Internacional de Sociologia em 1990. De facto, entre um discurso dos direitos da criança e as dificuldades no reconhecimento da sua cidadania epistemológica - o reconhecimento das crianças como protagonistas e repórteres competentes das suas experiências de vida -, aquilo que se sabe acerca dos seus mundos sociais é quase nada… mas é inegável que desde então os progressos vão sendo cada vez mais visíveis.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Não rias da Argentina

Esta deve ser uma das poucas postagens sobre futebol neste blog. Isso ocorre não porque eu não goste do nobre esporte bretão, mas porque, devo confessar, sinto-me incompetente para analisar o rico e complexo mundo desse que é o esporte (ainda) preferido dos brasileiros. Mas, diante das últimas partidas da seleção argentina, não consegui me furtar à tentação de um comentário.

Eu sempre gostei da garra dos jogadores argentinos. Claro, claro, de vez em quando eles botavam prá fora umas coisas horrorosas, como certas demonstrações racistas, mas, no geral, eram, pelo menos prá mim, a expressão da boa valentia que se deve ter em campo. Em algumas das copas das décadas de oitenta e noventa, a Argentina salvava o futebol latino-americano, essa é que é a verdade.

Mas, desde sábado, a equipe argentina desce a ladeira e arrasta consigo esse quase-mito que é Maradona. É um espetáculo triste de se ver! Não, eu não gosto de patriotada. Tento, portanto, não misturar futebol com amor à pátria. Eu amo o futebol. O bom futebol. E quem quer que seja que jogue, pode apostar, tem o meu respeito e a minha admiração. Portanto, quando um time com tradição torna-se um ator tacanho, fico com a sensação de que estou perdendo algo.

A derrota de ontem, para o Paraguai, ameça tirar a Argentina da próxima copa. Isso não é nenhum motivo de comemoração. Uma Copa do Mundo sem Argentina será uma copa menor, pequena. Fico aqui torcendo para que o time dirigido por Maradona se encontre e dê a volta por cima. Pelo bem do futebol.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Identidade e mercado

Confira, na última edição online da sempre ótima revista Mana, o artigo "Imagem social ou luta política e cultural pelo controle do mercado". De autoria do pesquisador Gilles Laferté, o artigo é uma interessante análise da relação entre mercado e identidade. Leia abaixo o resumo:

"A partir de uma história dos usos da noção de identidade, na França, pode-se isolar uma compreensão essencialista própria ao senso comum e a alguns trabalhos de ciências sociais e uma outra, construtivista, que se impôs amplamente nas ciências sociais contra a noção de cultura, consagrando a fórmula hoje corriqueira da construção de identidades. Parece-nos que os ganhos heurísticos trazidos pela fórmula estão atualmente esgotados, já que tendem a privilegiar a análise de discursos em detrimento daquela das práticas, conferindo uma visão excessivamente plástica ao social. Desejando reintroduzir as instituições e as estruturas sociais diretamente na análise, propomos um vocabulário alternativo, em torno das identificações, imagens sociais e pertencimento. Desenvolvemos, então, o caso da construção de uma imagem social, aquela da Borgonha na III República, para dar a justa medida do conjunto das evoluções estruturais e institucionais indispensáveis ao êxito de uma mudança discursiva sobre os territórios.

Palavras-chave: Construção de identidades, Imagem social, Mercado de vinhos, França, Entre guerras"

A situação de pobreza nas regiões metropolitanas após a eclosão da crise

Uma interessante análise a respeito dos indicadores de pobreza nas regiões durante após a eclosão da recente crise. Acesse aqui. Trata-se de material produzido pelo IPEA, de autoria do Márcio Pochmann.

Terça-feira...

Após o feriadão, um dia todo no médico. Agora, de volta, aproveito para recuperar o tempo perdido.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O ano da França no Brasil

Reproduzo abaixo coluna de um dos principais jornalistas da Folha de São Paulo, o Kennedy Alencar. Publicada no site do UOL, o texto trata das relações entre o Brasil e a França.

07/09/2009
Para Lula, Sarkozy é o cara
Publicidade

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, diz que Luiz Inácio Lula da Silva "é o cara". No entanto, ignora o pedido do presidente do Brasil para participar de uma reunião da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), a fim de discutir o polêmico uso de bases da Colômbia por militares americanos.

Obama afirma que vai priorizar uma economia com menos emissão de carbono e flerta com os biocombustíveis. Mas reduzir as restrições à importação do etanol brasileiro será muito difícil, praticamente impossível. O americano promete olhar mais para a América Latina. No entanto, duas guerras (Afeganistão e Iraque) e uma agenda interna complicada (sistema de saúde e discurso presidencial nas escolas) concentram sua atenção.

Quem realmente tem feito parceria internacional com o Brasil é a França de Nicolas Sarkozy. Lula propõe na ONU (Organização das Nações Unidas) um fundo internacional de combate à pobreza, a França dá gás e dinheiro à iniciativa. Nas reuniões do G8 mais emergentes e do G20, Sarkozy joga mais afinado com o brasileiro.

Resultado: na hora de assinar o maior contrato militar da história recente, não é surpresa o Brasil optar pela França. Não faz muito tempo os EUA vetaram a venda de aviões militares brasileiros à Venezuela para impedir transferência de tecnologia.

A França promete dividir com o Brasil esse tipo de conhecimento. Obviamente, há senões e dúvidas. O preço é justo? O equipamento militar francês é o mais adequado para um país com as dimensões continentais do Brasil? O que a França pretende comprar do Brasil?

Politicamente, faz bastante sentido. Parece justo dar preferência a quem o trata como parceiro e não como colônia. Mas, econômica e militarmente, o governo Lula precisa responder e convencer. Afinal, é muito dinheiro. Só o acordo militar já fechado é de cerca de R$ 22 bilhões. E o acerto para a provável compra de 36 caças Rafale ainda não tem preço sabido.


Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

domingo, 6 de setembro de 2009

MUDANÇA DEMOGRÁFICA

Na edição do jornal Folha de São Paulo deste domingo, uma notícia chama a atenção. Trata de uma significativa mudança no padrão demográfico na cidade de São Paulo

NASCIMENTOS NÃO REPÕEM MAIS A POPULAÇÃO
Média de filhos por mulher em São Paulo cai de 2,3 em 1997 para 1,9 em 2007, segundo estudo feito pela Fundação Seade

Só Butantã, Mooca e Perus superavam a taxa de 2,1 filhos por mulher em 2007, taxa que indica a manutenção da população sem migração
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A cada ano, menos crianças são vistas nas ruas, parquinhos e playgrounds de condomínios de São Paulo, reflexo da tendência de queda na fecundidade que coloca regiões de maior renda, como Vila Mariana e Pinheiros-em que o número de filhos por mulher caiu a 1,4 e 1,3, respectivamente- em padrões do Japão e dos países mais ricos da Europa.
Diante de um quadro de envelhecimento acelerado e até queda da população, países europeus têm buscado, sem sucesso, implantar políticas de incentivo à maternidade.
A realidade que se vê nas ruas foi colocada em números em um estudo da Fundação Seade, concluído em maio, que analisou registros de nascimentos em todas as 31 subprefeituras da cidade entre 1997 e 2007.
A pesquisa constatou que, em 2007, apenas Butantã, Mooca e Perus ainda superavam a taxa de 2,1 filhos por mulher -índice que indica a manutenção da população sem a necessidade de migração. Dez anos antes, 20 subprefeituras batiam essa marca. A média de São Paulo é de 1,9 filho, contra 2,3 em 1997.
A mudança na fecundidade começou em países ricos e se espalha no planeta, com exceção de regiões mais pobres da África. Essa tendência de redução também é verificada em todo o Brasil, onde o índice de fecundidade é de 1,95 filho por mulher, segundo mostrou o IBGE na última semana.
Contribuem para isso o aumento da escolaridade, maior participação feminina no mercado de trabalho, uso de métodos anticoncepcionais, restrições financeiras e mudanças nos valores e modelos culturais em relação ao número de filhos.
A nova realidade demográfica também leva a mudanças em políticas de saúde, transporte e a uma reavaliação de um novo perfil de demanda nas escolas, de consumo e até mesmo habitação. Com menos crianças, prédios com áreas de lazer voltada a elas acabam sendo menos atrativos do que antes.
Como a migração vem caindo, também graças a programas como o Bolsa-Família, que ajuda a fixar a população pobre em sua região de origem, já é possível dizer que São Paulo estará menor nos próximos anos?
"Sim", responde a geógrafa Amalia Ines de Lemos, professora do Departamento de Geografia da USP. "É possível fazer muito pouco. Mesmo em Portugal, onde o governo ajuda pais a criar os filhos, há escolas fechando vagas."
O estudo do Seade específico para Pinheiros também apontou como deve ser a nova configuração da mãe paulistana de classe média-alta. São poucos filhos antes dos 24 anos, um número crescente nas idades seguintes e os maiores valores na faixa dos 30 aos 35 anos.
"É a mulher se ajustando ao seu novo perfil. Busca-se primeiro a satisfação pessoal, o emprego, a segurança econômica. Filhos vêm depois", diz.
Há um componente econômico que também sofrerá os efeitos da baixa fecundidade: a concentração de patrimônio, por conta de menos herdeiros, nas mãos de menos pessoas.

Periferia
Em São Paulo, bairros de periferia apresentaram as maiores mudanças na taxa de fecundidade. Socorro, na zona sul, por exemplo, tinha índice de fecundidade de 2,6 em 1997. Em 2007, a taxa havia baixado para 1,8 filho por mulher. Também tiveram mudanças expressivas Ermelino Matarazzo e São Miguel Paulista, na zona leste.

ANÁLISE

BRASIL FEZ EM DÉCADAS O QUE A EUROPA LEVOU SÉCULOS PARA FAZER
Queda da taxa de fecundidade mostra guinada da sociedade; garotos pequenos são menos úteis em ambientes onde não é necessário carregar água nem procurar lenha
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Não há justiça neste mundo. O demógrafo mais célebre do planeta é Thomas Robert Malthus (1766-1834), que errou redondamente em suas catastróficas previsões sobre o futuro da humanidade. Já Warren Thompson, cujo Modelo de Transição Demográfica (MTD), proposto em 1929, funciona bastante bem até hoje, é conhecido apenas por um punhado de especialistas.
E o que o MTD basicamente faz é explicar como o processo de desenvolvimento econômico faz com que países passam de altas taxas de natalidade e mortalidade para situações em que se registram poucos óbitos e ainda menos nascimentos.
Durante a maior parte da história humana, sobreviviam apenas os povos que conseguiam reproduzir-se pelo menos na mesma velocidade com diarreias e outros flagelos que matavam seus membros, em especial os bebês. O resultado eram populações jovens, cujo tamanho variava ao sabor de eventos naturais, como secas e epidemias. Essa é a fase 1 do MTD de Thompson.
O estágio 2, que, na Europa, se iniciou com a Revolução Agrícola, no século 18, caracteriza-se pela redução da mortalidade, inicialmente por conta da maior oferta de alimentos. Esse processo intensificou-se dramaticamente no século 20, com a introdução de políticas de saúde pública, como tratamento de água e esgotos e, um pouco mais tarde, vacinações em massa e antibióticos.
Como a redução nas mortes não se faz acompanhar imediatamente de diminuição nos nascimentos, a fase 2 é marcada pela explosão populacional. Dado que os óbitos evitados ocorrem principalmente entre crianças, é a base da pirâmide populacional que se alarga.
Já o estágio 3 do MTD caracteriza-se pela redução nas taxas de fecundidade. São vários os fatores que a explicam. Um dos mais poderosos é a urbanização. Se, em zonas rurais, crianças são sempre uma mão a mais para ajudar, além da "aposentadoria" dos pais, nas cidades a coisa não funciona bem assim.
Para começar, garotos pequenos são menos úteis em ambientes onde não é necessário carregar água nem procurar lenha. Também deixam de representar o futuro de pais que tenham acesso a sistemas de previdência. Alimentá-los, acomodá-los e enviá-los à escola significa, na verdade, um custo.
Some-se isso à escolarização das mulheres, que descobrem os meios e os motivos para evitar filhos, e a fecundidade pode cair bastante drasticamente. Foi o que ocorreu no Brasil, que completou em poucas décadas o percurso que a Europa levou séculos para percorrer.
Reduções para baixo do 2,1 filhos por mulher (taxa de reposição) não implicam queda abrupta da população. Como a expectativa de vida aumenta e a população envelhece, cria-se uma situação em que convivem três, até quatro gerações.
Nessa fase, também ocorre o que os especialistas chamam de janela demográfica, na qual a proporção de trabalhadores na ativa é mais alta, produzindo o enriquecimento da sociedade. Essa janela se fecha quando a coorte de idosos que já não trabalham ganha preponderância.
No estágio 4, fecundidade e mortalidade são baixos e a população para de crescer, mas não necessariamente de envelhecer. Alguns autores propuseram a criação de uma fase 5, que não integrava o MTD original, no qual as mortes já superam os nascimentos. É nessa situação que se encontram alguns países europeus.
Os desafios aqui são tentar manter a viabilidade dos sistemas de previdência e de saúde, bem como a riqueza material da sociedade. A resposta mais óbvia é a imigração estrangeira. O problema é que ela implica mudanças culturais com as quais nem todos estão dispostos a arcar. O resultado têm sido conflitos e xenofobia.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A embriaguez da beleza

Cada dia nos defrontamos com um resultado de pesquisa mais impressionante do que o mais escatológico anteriomente publicado. Para descontrair, leia a matéria abaixo, publicada no Blog de Marcos Guterman, do Estadão.

04.09.09
Mulher bonita deixa o homem meio bobo, diz estudo
por Marcos Guterman


Um estudo publicado no Journal of Experimental and Social Psychology mostra que o desempenho cerebral dos homens piora quando eles conversam com mulheres atraentes. O teste mostrou, por outro lado, que a capacidade masculina de concentração melhora muito quando as mulheres não são tão atraentes.

Segundo os autores, o resultado se explica pelo fato de que os homens, quando conversam com mulheres bonitas, concentram demasiadamente seus “recursos cognitivos” na tentativa de impressioná-las, relegando ao segundo plano outras tarefas cerebrais. Para resumir: ficam bobos, o que pode atrapalhar o desempenho no trabalho ou na escola.

O contrário não se dá com as mulheres – diz o estudo que elas conseguem manter a concentração mesmo quando conversam com homens bonitos. Para os cientistas, a explicação é que as mulheres, diferentemente dos homens, não são programadas para perseguir obsessivamente oportunidades de relacionamento sexual.

TESTEMUNHOS DO HORROR

O jornal El País está realizando uma série de reportagens sobre regiões assoladas por conflitos sangrentos. Os dramas humanos são reportados através de coberturas sensíveis, realizadas por alguns dos maiores nomes da literatura contemporânea. Destaco abaixo o drama do Congo na narrativa feita por Mário Vargas Llosa.



FOTO - JUAN CARLOS TOMASI - 09-01-2009

Viaje al corazón de las tinieblas
MARIO VARGAS LLOSA

Estamos en el hospital de Minova, una aldea en la orilla occidental del lago Kivu, un rincón de gran belleza natural -había nenúfares de flores malvas en la playita en la que desembarcamos- y de indescriptibles horrores humanos. Según el doctor Tharcisse, director del centro, el terror que las violaciones han inoculado en las mujeres explica los desplazamientos frenéticos de poblaciones en todo el Congo oriental. "Apenas oyen un tiro o ven hombres armados salen despavoridas, con sus niños a cuestas, abandonando casas, animales, sembríos". El doctor es experto en el tema, Minova está cercada por campos que albergan decenas de miles de refugiados. "Las violaciones son todavía peor de lo que la palabra sugiere", dice bajando la voz. "A este consultorio llegan a diario mujeres, niñas, violadas con bastones, ramas, cuchillos, bayonetas. El terror colectivo es perfectamente explicable".

Ejemplos recientes. El más notable, una mujer de 87 años, violada por 10 hombres. Ha sobrevivido. Otra, de 69, estuprada por tres militares, tenía en la vagina un pedazo de sable. Lleva dos meses a su cuidado y sus heridas aún no cicatrizan. Casi se le va la voz cuando me cuenta de una chiquilla de 15 años a la que cinco "interahamwe" (milicia hutu que perpetró el genocidio de tutsis en Ruanda, en 1994, y luego huyó al Congo, donde ahora apoya al Ejército del Gobierno del presidente Kabila) raptaron y tuvieron en el bosque cinco meses, de mujer y esclava. Cuando la vieron embarazada la echaron. Ella volvió donde su familia, que la echó también porque no quería que naciera en la casa un "enemigo". Desde entonces vive en un refugio de mujeres y ha rechazado la propuesta de un pariente de matar a su futuro hijo para que así la familia pueda recibirla. La letanía de historias del doctor Tharcisse me produce un vértigo cuando me refiere el caso de una madre y sus dos hijas violadas hace pocos días en la misma aldea por un puñado de milicianos. La niña mayor, de 10 años, murió. La menor, de 5, ha sobrevivido, pero tiene las caderas aplastadas por el peso de sus violadores. El doctor Tharcisse rompe en llanto.

Es un hombre todavía joven, de familia humilde, que se costeó sus estudios de medicina trabajando como ayudante de un pesquero y en una oficina comercial en Kitangani. Lleva dos años sin ver a su familia, que está a miles de kilómetros, en Kinshasa. El hospital, de 50 camas y 8 enfermeras, moderno y bien equipado, recibe medicinas de Médicos Sin Fronteras, la Cruz Roja y otras organizaciones humanitarias, pero es insuficiente para la abrumadora demanda que tiene al doctor Tharcisse y a sus ayudantes trabajando 12 y hasta 14 horas diarias, 7 días por semana. Fue construido por Cáritas. La Iglesia católica y el Gobierno llegaron a un acuerdo para que formara parte de la Sanidad Pública. No se aceptan polígamos, ni homosexuales, ni se practican abortos. El salario del doctor Tharcisse es de 400 dólares al mes, lo que gana un médico adscrito a la Sanidad Pública. Pero como el Gobierno carece de medios para pagar a sus médicos, la medicina pública se ha discretamente privatizado en el Congo, y los hospitales, consultorios y centros de salud públicos en verdad no lo son, y sus doctores, enfermeros y administradores cobran a los pacientes. De este modo violan la ley, pero si no lo hicieran, se morirían de hambre. Lo mismo ocurre con los profesores, los funcionarios, los policías, los soldados, y, en general, con todos aquellos que dependen del Presupuesto Nacional, una entelequia que existe en la teoría, no en el mundo real.

Cuando el doctor Tharcisse se repone me explica que, después de las violaciones, la malaria es la causa principal de la mortandad. Muchos desplazados vienen de la altura, donde no hay mosquitos. Cuando bajan a estas tierras, sus organismos, que no han generado anticuerpos, son víctimas de las picaduras, y las fiebres palúdicas los diezman. También el cólera, la fiebre amarilla, las infecciones. "Son organismos débiles, desnutridos, sin defensas". Vivir día y noche en el corazón del horror no ha resecado el corazón de este congoleño. Es sensible, generoso y sufre con el piélago de desesperación que lo rodea. Desde la pequeña explanada de las afueras del hospital divisamos el horizonte de chozas donde se apiñan decenas de miles de refugiados condenados a una muerte lenta. "La medicina que todo el Congo necesita tomar es la tolerancia", murmura. Me estira la mano. No puede perder más tiempo. La lucha contra la barbarie no le da tregua.

II - LOS PIGMEOS. Debo a los pigmeos de Kivu Norte haberme librado de caer en manos de las milicias rebeldes tutsis del general Laurent Nkunda la noche del 25 de octubre de 2008. Yo había llegado el día anterior a Goma, la capital de Kivu Norte, y mis amigos de Médicos Sin Fronteras, gracias a los cuales he podido hacer este viaje, me habían organizado un viaje a Rutshuru (a tres o cuatro horas de esta ciudad) para visitar un hospital construido y administrado por MSF, que presta servicios a una gran concentración de desplazados y víctimas de toda la zona. La víspera de la partida, mi hijo Gonzalo, que trabaja en el ACNUR, me telefoneó desde Nueva York para decirme que sus colegas en el Congo me tenían prevista, para la mañana siguiente, una visita a un campo de pigmeos desplazados en las afueras de Goma. Aplacé un día el viaje a Rutshuru y, por culpa del general Nkunda, que ocupó aquella noche ese lugar, ya no pude hacerlo.

Los pigmeos, pese a ser la más antigua etnia congoleña, son los parientes pobres de todas las demás, discriminados y maltratados por unas y por otras. Fieles al prejuicio tradicional contra el otro, el que es distinto, leyendas y habladurías malevolentes les atribuyen vicios, crueldades, perversiones, como a los gitanos en tantos países de Europa. Por eso, en una sociedad sin ley, corroída por la violencia, las luchas cainitas, las invasiones, la corrupción y las matanzas, los pigmeos son las víctimas de las víctimas, los que más sufren. Basta echarles una mirada para saberlo.

El campo de Hewa Bora (Aire Bello), a una decena de kilómetros de Goma, acaba de formarse. Está en un suelo pedregoso y volcánico, de tierra negra, y parece increíble que en lugar tan inhóspito las 675 personas que han llegado hasta aquí, hace un par de meses, desde Mushaki, huyendo de las milicias de Laurent Nkunda, hayan podido hacer algunos cultivos, de mandioca y arvejas. Nos reciben cantando y bailando a manera de bienvenida: pequeñitos, enclenques, arrugados, cubiertos de harapos, muchos de ellos descalzos, con niños que son puro ojos y huesos y las grandes barrigas que producen los parásitos. Su baile y su canto, tan tristes como sus caras, recuerdan las canciones de los Andes con que se despide a los muertos. Aunque con cierta dificultad, varios de los dirigentes hablan francés. (Es una de las pocas consecuencias positivas de la colonización: una lengua general que permite comunicarse a la gran mayoría de los congoleses, en un país donde los idiomas y dialectos regionales se cuentan por decenas).

Escaparon de Mushaki cuando las milicias rebeldes atacaron la aldea matando a varios vecinos. Piden plásticos, pues las chozas que han levantado -con varillas flexibles de bambú, atadas con lianas, de un metro de altura más o menos, sobre el suelo desnudo y con techos de hojas- se inundan con las lluvias, que acaban de comenzar. Piden medicinas, piden una escuela, piden comida, piden trabajo, piden seguridad, piden -sobre todo- agua. El agua es muy cara, no tienen dinero para pagar lo que cuestan los bidones de los aguateros. Es una queja que oiré sin cesar en todos los campos de refugiados del Congo en que pongo los pies: no hay agua, cuesta una fortuna, ríos y lagos están contaminados y los que beben en ellos se enferman. Las personas que me acompañan, del ACNUR y de Médicos Sin Fronteras, toman notas, piden precisiones, hacen cálculos. Después, conversando con ellos, comprobaré la sensación de impotencia que a veces los embarga. ¿Cómo hacer frente a las necesidades elementales de esta muchedumbre de víctimas? ¿Cuántos más morirán de inanición? La crisis financiera que sacude el planeta ha encogido todavía más los magros recursos con que cuentan.

En el campo de Bulengo, que visito luego del de Hewa Bora, veo las raciones de alimentos, mínimas, que distribuyen a los refugiados. Un voluntario de Unicef me dice, la voz traspasada: "Tal como van las cosas con la crisis, todavía tendremos que disminuirlas". Médicos, enfermeros y ayudantes de las organizaciones humanitarias son gentes jóvenes, idealistas, que hacen un trabajo difícil, en condiciones intolerables, a quienes la magnitud de la tragedia que tratan de aliviar por momentos los abruma. Lo que más los entristece es la indiferencia casi general, en el mundo de donde vienen, el de los países más ricos y poderosos de la Tierra, por la suerte del Congo. Nadie lo dice, pero muchos han llegado, en efecto, en Occidente a la conclusión de que los males del Congo no tienen remedio.

Bulengo fue en 1994 el campamento del Ejército ruandés hutu que invadió el Congo después de perpetrar la matanza de cientos de miles de tutsis en el vecino país. Ahora es el eje de un complejo de 16 campos de desplazados y refugiados que con ayuda de la Unión Europea y de las organizaciones humanitarias da refugio a unas trece mil personas. Éstas pertenecen a diferentes grupos étnicos que conviven aquí sin asperezas. Aunque Bulengo está mucho más asentado y organizado que el de Hewa Bora, la calidad de vida es ínfima. Las chozas y locales, muy precarios, están atestados y por doquier se advierte desnutrición, miseria, suciedad, desánimo. La nota de vida la ponen muchos niños, que juegan, correteándose. Varios de ellos son mutilados. Converso con un chiquillo de unos 10 o 12 años que, pese a tener una sola pierna, salta y brinca con mucha agilidad. Me cuenta que los soldados entraron a su aldea de noche, disparando, y que a él la bala lo alcanzó cuando huía. La herida se le gangrenó por falta de asistencia, y cuando su madre lo llevó a la Asistencia Pública, en Goma, tuvieron que amputársela.

En Bulengo hay 48 familias de pigmeos, que, aparte de las protestas que ya hemos oído en Hewa Bora, aquí se quejan de que la escuela es muy cara: cobran 500 francos congoleños mensuales por alumno. La educación pública es, en teoría, gratuita, pero, como los profesores no reciben salarios, han privatizado la enseñanza, una medida tácitamente aceptada por el Gobierno en todo el país. En muchos lugares son los padres de familia los que mantienen las escuelas -las construyen, las limpian, las protegen y aseguran un salario a los profesores-, pero aquí, en los campos de refugiados, todos son insolventes, de modo que si se ven obligados a pagar por los estudios, sus hijos dejarán de ir a la escuela o ésta se quedará sin maestros.

En el campo hay muchos desertores de las milicias rebeldes. Uno de ellos me cuenta su historia. Fue secuestrado en su pueblo con varios otros jóvenes de su edad cuando los hombres de Laurent Nkunda lo ocuparon. Les dieron instrucción militar, un uniforme y un arma. La disciplina era feroz. Entre los castigos figuraban los latigazos, las mutilaciones de miembros (manos, pies) y, en caso de delación o intento de fuga, la muerte a machetazos. Me confirmó que muchos soldados del Ejército congoleño vendían sus armas a los rebeldes. Se escapó una noche, harto de vivir con tanto miedo, y estuvo una semana en la jungla, alimentándose de yerbas, hasta llegar aquí. En su pueblo, donde era campesino, tenía mujer y cuatro hijos, de los que no ha vuelto a saber nada porque el pueblo ya no existe. Todos los vecinos huyeron o murieron. Le pregunto qué le gustaría hacer en la vida si las cosas mejoraran en el Congo, y me responde, después de cavilar un rato: "No lo sé". No es de extrañar. En Bulango, como en Hewa Bora y en los campos de desplazados de Minova, la actitud más frecuente en quienes están confinados allí, y pasan las horas del día tumbados en la tierra, sin moverse casi por la debilidad o la desesperanza, es la apatía, la pérdida del instinto vital. Ya no esperan nada, vegetan, repitiendo de manera mecánica sus quejas -plásticos, medicinas, agua, escuelas- cuando llegan visitantes, sabiendo muy bien que eso tampoco servirá para nada. Muchísimos de ellos están ya más muertos que vivos y, lo peor, lo saben. Los campos son indispensables, sin duda, pero sólo si funcionan como un tránsito para la reincorporación a la vida activa, con oportunidades y trabajo. Si no, quienes los pueblan están condenados a una existencia atroz, parásita, que los desmoraliza y anula. Y éste es quizás el más terrible espectáculo que ofrece el Congo oriental: el de decenas de miles de hombres y mujeres a los que la violencia y la miseria han reducido poco menos que a la condición de zombies.

III - EL GALIMATÍAS CONGOLEÑO.

Y, sin embargo, se trata de un país muy rico, con minas de zinc, de cobre, de plata, de oro, del ahora codiciado coltán, con un enorme potencial agrícola, ganadero y agroindustrial. ¿Qué le hace falta para aprovechar sus incontables recursos? Cosas por ahora muy difíciles de alcanzar: paz, orden, legalidad, instituciones, libertad. Nada de ello existe ni existirá en el Congo por buen tiempo. Las guerras que lo sacuden han dejado hace tiempo de ser ideológicas (si alguna vez lo fueron) y sólo se explican por rivalidades étnicas y codicia de poder de caudillos y jefezuelos regionales o la avidez de los países vecinos (Ruanda, Uganda, Angola, Burundi, Zambia) por apoderarse de un pedazo del pastel minero congoleño. Pero ni siquiera los grupos étnicos constituyen formaciones sólidas, muchos se han dividido y subdividido en facciones, buena parte de las cuales no son más que bandas armadas de forajidos que matan y secuestran para robar.

Muchas minas están ahora en manos de esas bandas, milicias o del propio Ejército del Congo. Los minerales se extraen con trabajo esclavo de prisioneros que no reciben salarios y viven en condiciones inhumanas. Esos minerales vienen a llevárselos traficantes extranjeros, en avionetas y aviones clandestinos. Un funcionario de la ONU que conocí en Goma me aseguró: "Se equivoca si cree que el caos del Congo está en la tierra. Lo que ocurre en el aire es todavía peor". Porque tampoco en las alturas hay ley o reglamento que se respete. Como la mayoría de vuelos son ilegales, el número de accidentes aéreos, el más alto del mundo, es terrorífico: 56 entre julio de 2007 y julio de 2008. Por esa razón ninguna compañía aérea congoleña es admitida en los aeropuertos de Europa.

Como el principal recurso del país, el minero, se lo reparten los traficantes y los militares, el Estado congoleño carece de recursos, y esto generaliza la corrupción. Los funcionarios se valen de toda clase de tráficos para sobrevivir. Militares y policías tienden árboles en los caminos y cobran imaginarios peajes. A Juan Carlos Tomasi, el fotógrafo que nos acompaña, cada vez que saca sus cámaras alguien viene con la mano estirada a cobrarle un fantástico "derecho a la imagen". (Pero él es un experto en estas lides y discute y argumenta sin dejarse chantajear). Para viajar de Kinshasa a Goma debemos, antes de trepar al avión, desfilar por cinco mesas, alineadas una junto a la otra, donde se expenden ¡visas para viajar dentro del país!

No es verdad que la comunidad internacional no haya intervenido en el Congo. La Misión de las Naciones Unidas en el Congo (MONUC) es la más importante operación que haya emprendido nunca la organización internacional. La Fuerza de Paz de la ONU en el Congo cuenta con 17.000 soldados, de un abanico de nacionalidades, y unos 1.500 civiles. Sólo en Goma hay militares de Uruguay, India, África del Sur y Malaui. Visité el campamento del batallón uruguayo y conversé con su jefe, el amable coronel Gaspar Barrabino, y varios oficiales de su Estado Mayor. Todos ellos tenían un conocimiento serio de la enrevesada problemática del país. La inoperancia de que son acusados se debe, en realidad, a las limitaciones, a primera vista incomprensibles, que las propias Naciones Unidas han impuesto a su trabajo.

Las milicias de Laurent Nkunda, luego de capturar Rutshuru, comenzaron a avanzar hacia Goma, donde el Ejército congoleño huyó en desbandada. La población de la capital de Kivu Norte, entonces, enfurecida, fue a apedrear los campamentos de la Fuerza de Paz de la ONU (y, de paso, los locales y vehículos de las organizaciones humanitarias), acusándolos de cruzarse de brazos y de dejar inerme a la población civil ante los milicianos.

Pero el coronel Barrabino me explicó que la Fuerza de Paz, creada en 1999, según prescripciones estrictas del Consejo de Seguridad, está en el Congo para vigilar que se cumplan los acuerdos firmados en Lusaka que ponían fin a las hostilidades entre las distintas fuerzas rivales, y con prohibición expresa de intervenir en lo que se consideran luchas internas congoleñas. Esta disposición condena a las fuerzas militares de la ONU a la impotencia, salvo en el caso de ser atacadas. Sería muy distinto si el mandato recibido por la Fuerza de Paz consistiera en asegurar el cumplimiento de aquellos acuerdos utilizando, en caso extremo, la propia fuerza contra quienes los incumplen. Pero, por razones no del todo incomprensibles, el Consejo de Seguridad ha optado por esta bizantina fórmula, una manera diplomática de no tomar partido en semejante conflicto, un galimatías, en efecto, en el que es difícil, por decir lo menos, establecer claramente a quién asiste la justicia y la razón y a quién no. No tengo la menor simpatía por el rebelde Laurent Nkunda, y probablemente es falso que la razón de ser de su rebeldía sea sólo la defensa de los tutsis congoleños, para quienes los hutus ruandeses, armados y asociados con el Gobierno, constituyen una amenaza potencial. Pero ¿representan las Fuerzas Armadas del presidente Kabila una alternativa más respetable? La gente común y corriente les tiene tanto o más miedo que a las bandas de milicianos y rebeldes, porque los soldados del Gobierno los atracan, violan, secuestran y matan, al igual que las facciones rebeldes y los invasores extranjeros. Tomar partido por cualquiera de estos adversarios es privilegiar una injusticia sobre otra. Y lo mismo se podría decir de casi todas las oposiciones, rivalidades y banderías por las que se entrematan los congoleños. Es difícil, cuando uno visita el Congo, no recordar la tremenda exclamación de Kurz, el personaje de Conrad, en El corazón de las tinieblas: "¡Ah, el horror! ¡El horror!"

IV - LOS POETAS. Y sin embargo, pese a ese entorno, conocí a muchos congoleños que, sin dejarse abatir por circunstancias tan adversas, resistían el horror, como el doctor Tharcisse, en Minova. Placide Clement Mananga, en Boma, que recoge y guarda todos los papeles y documentos viejos que encuentra para que la amnesia histórica no se apodere de su ciudad natal (él sabe que el olvido puede ser una forma de barbarie). O Émile Zola, el director del Museo de Kinshasa, combatiendo contra las termitas para que no devoren el patrimonio etnológico allí reunido. A esta estirpe de congoleños valerosos, que luchan por un Congo civilizado y moderno, pertenecen los Poétes du Renouveau (Poetas de la Renovación), de Lwemba, un distrito popular de Kinshasa. Son cerca de una treintena, una mujer entre ellos, y aunque todos escriben poesía, algunos son también dramaturgos, cuentistas y periodistas.

Además del francés, la colonización belga dejó asimismo a los congoleses la religión católica. En el país hay también protestantes -vi iglesias evangélicas de todas las denominaciones-, musulmanes -en la región oriental- y varias religiones autóctonas, la mayor de las cuales es el kimbanguismo, así llamada por su fundador, Simon Kimbangu, enraizada sobre todo en el Bajo Congo. Pero, pese a la hostilidad que desencadenó contra ella el dictador Mobutu, a quien hizo oposición, la católica parece, de lejos, la más extendida e influyente. Iglesias y centros católicos son los focos principales de la vida cultural del país.

Los Poétes du Renouveau se reúnen en la iglesia de San Agustín, donde tienen una pequeña biblioteca, una imprenta y una amplia sala para recitales y charlas. Publican desde hace algunos años unas ediciones populares de poesía que venden a precio de coste y a veces regalan. Empeñados en que la poesía llegue a todo el mundo, se desplazan a menudo a dar recitales y conferencias literarias por toda la región. Asisto a un interesante encuentro, de varias horas, en el que discuten temas literarios y políticos. El francés que escriben y hablan los congoleños es cálido, cadencioso, demorado y, a ratos, tropical. Haciendo de diablo predicador, provoco una discusión sobre la colonización belga: ¿qué de bueno y de malo dejó? Para mi sorpresa, en lugar de la cerrada (y merecida) condena que esperaba oír, todos los que hablan, menos uno, aunque sin olvidar las terribles crueldades, la explotación y el saqueo de las riquezas, la discriminación y los prejuicios de que fueron víctimas los nativos, hacen análisis moderados, situando todo lo negativo en un contexto de época que, si no excusa los crímenes y excesos, los explica. Uno de ellos afirma: "El colonialismo es una etapa histórica por la que han pasado casi todos los países del mundo". Lo refuta otro, que lanza una durísima requisitoria contra lo ocurrido en el Congo durante el casi siglo y medio de dominio belga. Le responde un joven que se presenta como "teólogo y poeta" con una única pregunta: "¿Y qué hemos hecho nosotros, los congoleños, con nuestro país desde que en 1960 nos independizamos de los belgas?".

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Brincando com os filhos...

Não raro, escuto gente dizendo que não tem tempo para os filhos. E o tempo voa. Daí, algum dia, eles não precisarão mais do "nosso" tempo. Se Karl Marx, como dizem, escrevia suas obras (e lembrem-se: ele não contava com a ajuda de um notebook...) com as filhas agarradas ao pescoço, por que não se pode trabalhar e, ao mesmo tempo, brincar com os pimpolhos? As fotos abaixo dizem-nos que, sim, é possível...


A lucidez da crítica na coluna do Alon.

Para quem gosta da análise crítica, sóbria e responsável sobra vida política nacional, não há outro caminho, a leitura das colunas do jornalista Alon Feuerwerker é quase um vício. Eu o leio, transcrevo aqui os seus artigos e convido você a assisti-lo na TV (veja como fazer isso acessando o blog que ele mantém).


O Brasil é mais complexo (03/09)
Alon Feuerwerker

Não dá para achar que o país pode ser governado só assim: com Luiz Inácio Lula da Silva falando mal do antecessor, Dilma fazendo suas apresentações e o PMDB dando um jeito no Parlamento

Quem procura saber o que vai pela seara do governismo percebe o sucesso alcançado nos últimos dias pela tese imortalizada nas palavras do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), naquele inesquecível duelo de plenário contra o colega Tasso Jereissati (PSDB-CE). Trata-se de colocar a oposição no lugar que ela merece, para ela deixar de ser besta. Para curá-la do que o líder do PMDB classificou de "complexo de maioria". Que faz a minoria se comportar como se maioria fosse. Transgredindo as naturais regras do jogo.

Na crise do Senado, à primeira vista deu certo. José Sarney (PMDB-AP) continua confortavelmente posto na cadeira acima dos pares, com os rolos da Casa a caminho do esquecimento e do perdão aparentes. Uma anistia ampla, decorrente da correlação de forças. Do "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Há, é claro, um custo junto à sociedade. O PT paga o preço de aparecer como legenda que concede aos aliados, especialmente ao PMDB, direitos proibidos aos mortais. Desde, é claro, que o parceiro ofereça apoio aos projetos e desígnios do PT.

A julgar pela euforia petista com o exercício do poder, o partido está a avaliar que a relação custo-benefício desse tipo de operação vale a pena. Será? Na política é habitual o sujeito deixar-se levar pela ilusão de que tudo está bem. Não fosse assim, não haveria espaço para grandes surpresas eleitorais, quando a urna finalmente traz o que pensa o eleitor. Mas enquanto este não se manifesta prevalece a miragem do tudo pode.

A urgência constitucional determinada pelo governo para a tramitação dos projetos do pré-sal atolou na Câmara dos Deputados. É uma coisa intrigante. Se o governo tem maioria ampla na Casa, e se os líderes da base governista podem, portanto, pedir a votação em plenário de qualquer texto a qualquer momento, por que o Palácio do Planalto impôs a urgência a priori num assunto tão compexo? Ora, por achar que emplacaria. Veremos o desfecho.

O procedimento revela novamente o conceito. Durante muitos meses, o assunto ficou rodando pela Casa Civil, indo e voltando do Ministério de Minas e Energia. Ótimo. Era o governo cumprindo seu papel. Entretanto, por mais consideração que a sociedade possa ter pela ministra Dilma Rousseff e pelo colega Edison Lobão, não dá para concluir que o país está totalmente representado pelo duo nesse debate. Não dá para achar que o Brasil pode ser governado só assim: com Luiz Inácio Lula da Silva falando mal do antecessor, Dilma fazendo suas apresentações e o PMDB dando um jeito no Parlamento.

O Brasil é mais complexo. Por elegância, não é o caso de citar exemplos de vizinhos. Mas talvez conviesse ao governo compreender que hoje parecemos mais com os Estados Unidos do que com alguns das nossas redondezas. E se nem Barack Obama, com todo o capital político acumulado e a maioria qualificada nas duas Casas do Congresso, escapa de passar pelo corredor polonês na polêmica sobre a reforma da Saúde, assunto exaustivamente debatido na campanha eleitoral, por que Lula, Dilma e Lobão imaginam que poderão virar do avesso, assim do nada, a um estalar de dedos, todo o universo nacional do petróleo e do gás? E fazê-lo sob aplausos unânimes do Brasil, pois afinal "eles devem saber o que é bom para nós".

Até porque se a propostas forem boas mesmo o governo terá elementos adicionais para emplacá-las. Mas vai exigir arte. Futebol não é só força, é também jeito. Intrigante que logo Lula, o boleiro, o encantador de serpentes, tenha esquecido dessa verdade. Bem Lula, que depois de cinco eleições e dois mandatos presidenciais talvez conheça o Brasil melhor do que qualquer um. É coisa de gente que se acostumou demais a palácio. Uma doença conhecida do príncipe.

O nome é Palocci

Em entrevista ontem a um canal de televisão, o ex-ministro José Dirceu disse que Antonio Palocci é a candidatura natural do PT ao governo de São Paulo. Fez as mesuras de praxe aos demais, mas não deixou dúvidas.

Pelo tom de Dirceu, e pelas conexões que ele mantém no partido e no governo, essa fatura está com cara de liquidada.