segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Governo Vilma de Faria, a vitória da mediocridade

A palavra mediocridade, escrita acima, não contém um sentido explicitamente pejorativo. Se você é uma das duas ou três pessoas que freqüenta este blog, sabe bem, não costumo participar do disse-que-disse e da baixaria que, algumas vezes, infesta o noticiário político local.

Claro, claro, nem sempre é possível manter-me distanciado. Sou um lorde com alma de cangaceiro...

Voltando ao que interessa, quando uso o termo medíocre o faço sem um sentido de menosprezo ou de acusação, mas de constatação de algo que está na média ou abaixo dela. Algo que não se sobressai, que vegeta na mesmice...

Na vida política, como na acadêmica, não raras vezes, a mediocridade é quase uma virtude. Pode acreditar! O personagem não se arrisca muito, não faz mudanças bruscas de rota e se mantém ali, firme e medíocre. Alguns até o identificarão como sábio...

Pois tem sido assim o Governo Vilma de Faria, no Rio Grande do Norte. Lá se vão longos sete anos de mediocridade.

Não há nenhuma marca desse governo. Até na ruindade, ele é mediano. Não há nada de trágico também (apenas, como direi, pequenos deslizes...). Nada de ousado e inovador. Só a mesmice... E, claro, a reprodução local das políticas sociais do Governo Federal. Não fora Lula, com quem o eleitorado potiguar identifica a governadora, Vilma de Faria nem cogitaria sair candidata ao Senado. Não teria apoio e repetiria a sua performance de 1994, quando, candidata a governadora, ficou em quarta lugar, atrás de Fernando Mineiro, candidato do PT.

Estou sendo duro? Diga-me, então, em que área o Governo Vilma fez diferença? Na educação? Ora, ora, após cinco diferentes secretários continuamos patinando e apresentado os piores indicadores de desempenho estudantil do Brasil. Na segurança pública? Aí, até tivemos (e temos atualmente) bons quadros à frente da pasta, mas, logo, logo, o bom dirigente descobre que a mediocridade do governo impede qualquer mudança significativa. Ou seja, mexer no vespeiro das diversas polícias que se orientam, cada uma delas, pelos seus próprios interesses em detrimento da cidadania.

Na cultura? Por favor, após a devastação política e moral do “foliaduto”, a Fundação José Augusto, responsável pela política de cultura, precisa de, no mínimo, uma década para recuperar a sua capacidade de iniciativa e a sua credibilidade.

Na saúde? O Governo apeou-se de suas responsabilidades como gestor do SUS e a farra das cooperativas médicas continuam.

Nas relações políticas? Sem palavras...

A mediocridade do governo contaminou as instituições e a vida política do estado. E a vida política regional, traduzida na dança das cadeiras e no troca-troca de partido, nunca foi tão pobre.

Quer uma expressão dessa realidade? O outrora altaneiro PT potiguar quedou-se a uma condição quase abjeta de linha auxiliar do vilmismo em troca de um "pouco mais ou nada". O corolário dessa situação foi um dirigente petista do RN mendigando uma suplência na senatoria... Seria trágico, não fosse cômico... (bueno, pelo menos a mediocridade nos diverte, não é?)

Miragens pré-eleitorais: um PT mais à esquerda...

Veja abaixo artigo sobre essa miragem pré-eleitoral que é uma fantasmagórica "guinada à esquerda do PT".


O PT à esquerda
Marco Aurélio Nogueira

Circula nos ambientes políticos a informação de que o PT pretende retomar um discurso de esquerda para as próximas eleições, fato que estaria a ser demonstrado por recentes declarações e documentos do partido.

Antes de saudar o fato, que pode contribuir para que se ganhe maior clareza no jogo político, é preciso avaliar a situação. O que indica ela? A presença de um movimento para enquadrar Lula, seu governo e sua candidata à sucessão, que carregam uma imagem centrista e moderada bem consolidada? Ou o desencadeamento de uma operação para reerguer o partido e voltar a inseri-lo nos trilhos originais, de onde escapou nos últimos anos?

Enquadrar Lula é algo de que não se deveria cogitar, pois ele se tornou, com o tempo, maior que o PT. Hoje segue carreira-solo, administrada por um seleto grupo de gestores leais e por uma imponente onda de culto e adoração popular, que impede até mesmo o exercício da ponderação, proíbe críticas e lhe concede oxigênio suficiente para dispensar maiores amarras e compromissos institucionais, incluindo os partidários. Seria como imaginar, mutatis mutandis, o enquadramento de um Fidel, um Jânio ou um Prestes.

Mas partidos de esquerda são seres condenados a explicar e justificar todos os seus passos. Nesse movimento, são sistematicamente tentados a reiterar convicções de antes, com as quais foram batizados e ganharam selo de identidade. Vivem de forma dilemática: precisam renovar-se sempre, mas não conseguem fazer isso com facilidade, pois as tradições pesam e muitos de seus integrantes se recusam a seguir as novas orientações, regra geral decididas e impostas pelas cúpulas.D

á-se algo assim com o PT, que desde o final dos anos 1990 enveredou por um caminho reformista, expulsou parte de suas alas tidas como "radicais", chegou à Presidência da República e se converteu em expoente do universo social-democrata. Ao longo desse percurso, muitos erros foram cometidos, espocaram crises de identidade, diluições ideológicas e regressões fundamentalistas. Seria lógico, portanto, que suas direções se dedicassem a evitar a debandada dos militantes e eleitores saudosos dos velhos tempos, tanto quanto a atrair e soldar a adesão de novos seguidores.

A retomada de um discurso de esquerda pode ser vista como uma resposta a essa situação, uma estratégia direcionada mais ao público interno ampliado (militantes e eleitores) do que à sociedade. É como se as cúpulas partidárias estivessem a dizer: "Continuamos de esquerda, não nos abandonem, não esmoreçam!" - num apelo para que não se multipliquem eventuais fugas rumo ao PSOL ou à candidatura de Marina Silva, por exemplo.

É isso, mas não é somente isso. O PT também deseja se fazer presente nas campanhas de 2010, orientar seus candidatos, dar a eles combustível, recursos de combate e persuasão. Está a se movimentar para isso.Se pensarmos em termos abstratos, típico-ideais, um partido cumpre essa meta em dois planos: olhando para as amplas massas e para o futuro.

No primeiro deles, elabora um kit de sobrevivência, um conjunto de princípios essenciais traduzidos em expressões simbolicamente eloquentes e de fácil manuseio, estilo Estado x mercado, projeto popular e democrático x projeto do Consenso de Washington, governo nacionalista e internacionalista x governo entreguista, o nosso Brasil x o Brasil deles, e assim por diante. É nesse plano que se apresentam as realizações governamentais, as virtudes do líder e de seus sucessores, os planos sórdidos dos adversários. A intenção, aqui, é organizar um guia para a ação e, acima de tudo, formar opinião. Sim, porque os eleitores precisam de formadores de opinião, mesmo quando são de esquerda.

No segundo plano, o partido elabora uma teoria da sociedade e da transformação social que julga a ela corresponder, determinando o lugar que ele próprio, o partido, e seu entorno ocupam nesse processo. É um plano sofisticado, que requer uma análise do mundo, a definição de estratégias de longo prazo e das alianças fundamentais, o reconhecimento claro dos obstáculos e das possibilidades concretas de mudança. Nele a simplificação não tem lugar e a agitação deve ser substituída pela argumentação.

Na dimensão típico-ideal, esses dois planos caminham juntos, retroalimentam-se. O partido fala para as massas com um discurso sustentado pela tradução criteriosa de uma teoria social consistente, que é corrigida e ajustada à medida que se obtém o feedback da sociedade.

Salvo avaliação mais aprofundada, o que parece estar a ocorrer no Brasil expressa uma disjunção desses dois planos, com uma concentração unilateral no primeiro deles. O PT está esquentando as turbinas para oferecer a seu "povo" o empuxo necessário para uma ação vitoriosa em 2010. Está a produzir armas de combate, agitação e identificação. Como seria mesmo de esperar.Não há por que alguém ficar surpreso ou incomodado com isso, que é política em estado bruto, igualmente praticada pelos demais partidos. Os puros de espírito, as almas mais sensíveis poderão torcer o nariz para as acusações infundadas, os autoelogios extremados e passionais, as manobras exclusivamente para prejudicar inimigos e adversários. Terão de entender que política também é feita disso.

É feita disso, mas não só disso. Se o PT se julga ou pretende ser um partido de esquerda de fato, não pode permanecer estacionado no plano da agitação, do discurso fácil para as massas. Precisa ir além e acoplar a esse plano um segundo plano, de elaboração teórica, produção cultural e projeção do futuro, como, de resto, se espera que façam todos os demais partidos. Sem isso ficará no meio do caminho e não se completará como partido de esquerda. Poderá até ter sucesso e vencer em 2010, mas não contribuirá para integrar a sociedade, convencê-la da necessidade de uma reforma social e fornecer-lhe algo mais denso e duradouro do que um sonho para sonhar.

Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp. E-mail: m.a.nogueira@globo.com
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Vitória da esquerda no Uruguai

Leia no Blog de Ariel Palácios, articulista do jornal O Estado de São Paulo, uma análise bem-humorada da vitória da esquerda no Uruguai. Acesse aqui o blog.

Não foi bonita a vitória do Flamengo...

Tudo bem, eu sei, jogo é jogo, mas algumas vitórias não enobrecem os vencedores. A vitória do Flamengo, ontem, contra o Corinthians, é uma dessas. Bueno, essa opinião pode ser também o ressentimento de um corintiano... Agora, ao que interessa, de verdade, de mesmo-mesmo, não foi uma vitória conivincente a do rubro-negro. Já aquela do Goiás sobre o São Paulo, com ou sem mala, foi linda de morrer.

domingo, 29 de novembro de 2009

Redes sociais e pobreza: uma dica de leitura

Eduardo César Marques, um dos mais destacados cientistas sociais brasileiros da atualidade, professor de Ciência Política da USP, foi um dos precursores na introdução da análise de redes nas investigações sociais no nosso país. Na última edição da revista DADOS, importante publicação ancorada no IUPERJ, ele apresenta, em artigo intitulado "As redes sociais importam para a pobreza urbana?", alugmas provocadoras questões para a análise sociológica do universo social dos pobres no Brasil. Confira o artigo aqui.

Música portuguesa

Ah, há o mar, vasto mar, a nos separar. Mas essa língua, bela sempre, nos aproxima. E Amália Rodrigues, grande e eterna, amada igualmente nos dois países, inspira as novas gerações. E faz com que os que estamos cá, nos tristes trópicos, aproximemo-nos, nem que seja um cadinho, dos que estão nas terras onde crescem as oliveiras.

Mudança climática e flexibilidade ética

Em artigo publicado na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, o jornalista Marcelo Leite, um dos mais competentes analistas do mundo da ciência na nossa imprensa, aborda o mundinho pouco ético da prática cientíica. Vale a pena conferir!

+Marcelo Leite

Climagate

E-mails roubados por hackers revelam que cientistas não são santos

A uma semana da conferência sobre mudança do clima em Copenhague, os "céticos" do aquecimento global marcaram um tento. Conseguiram meter uma cunha na credibilidade dos que defendem que ele é uma realidade e que a ação do homem ("antropogênica") é decisiva para agravar o efeito estufa.O caso já ganhou apelido: "climagate". Hackers não identificados puseram na rede cerca de mil mensagens de e-mail e uns 3.000 documentos surrupiados de um servidor da Unidade de Pesquisa do Clima (CRU, em inglês) da Universidade de East Anglia, Reino Unido.

Alguns deles realmente são, ou soam, comprometedores. Os documentos que vieram à tona, até agora, não parecem comprovar nenhuma conspiração para passar por verdadeiros dados falsos sobre o aquecimento global antropogênico. Mas mostram que alguns adversários dos céticos não são santos. A suspeita inicial mais grave era de manipulação de dados. Concentrava-se numa frase de Phil Jones, do CRU: "Acabei de finalizar o truque de Mike [Michael Mann] na [revista] "Nature" de acrescentar as temperaturas reais a cada série para os últimos 20 anos (isto é, de 1981 em diante) e desde 1961 para as de Keith [Briffa] a fim de esconder o declínio". Que soa como manipulação de dados, soa. Mas as explicações sobre o contexto da frase também soam plausíveis. O blog de climatologistas pró-aquecimento RealClimate diz que se trata de compatibilizar dados de diferentes fontes (geleiras, densidade de anéis de crescimento de árvores, medidas reais etc.). As estimativas de temperatura obtidas indiretamente por Briffa a partir das árvores divergem do registro de temperaturas reais medidas nas décadas recentes, e por isso o próprio autor recomenda que não sejam usadas. O "truque" seria só um ajuste, alegam seus defensores no RealClimate, embora sua composição com o verbo "esconder" seja para lá de suspeita. É preciso ser ingênuo, ou ignorante de como a pesquisa científica de fato funciona, para enxergar aí um pecado mortal. Em todas as áreas de investigação pesquisadores escolhem e apresentam os dados mais favoráveis para sua tese. Criminoso seria só se escondessem medidas e informações capazes de contradizer sua conclusão (e os dados de Briffa foram publicados). Outras mensagens indicam que os adversários dos céticos se organizavam para fechar-lhes as portas dos periódicos científicos, ao mesmo tempo em que acusavam o inimigo de não conseguir publicar artigos nas revistas reconhecidas. Feio, não é? Ninguém consegue enganar todo mundo o tempo todo, porém. Bons estudos sempre acabam editados, mesmo que contrários ao paradigma dominante. Em especial se vierem lastreados em medidas e explicações sólidas. E está aí a internet para não deixar ninguém órfão. De todo modo, é bom seguir o conselho da economista Megan McArdle em seu blog no sítio da revista "The Atlantic": tomar com um grão a mais de sal, de ora em diante, o argumento "ausência de publicações". Bem mais grave é outra suposta mensagem de Jones pedindo a Mann que apagasse e-mails objeto de um pedido formal de divulgação dos céticos, por meio da legislação britânica de acesso a informação. Não está claro ainda se as mensagens foram de fato deletadas, o que seria crime. O simples fato de alguém se sentir à vontade para fazer um pedido desses por escrito sugere que os envolvidos de fato têm algo a esconder. Como, de resto, todos aqueles que acreditamos em sigilo de correspondência.


MARCELO LEITE é autor de "Darwin" (série Folha Explica, Publifolha, 2009) e "Ciência - Use com Cuidado" (Editora da Unicamp, 2008). Blog: Ciência em Dia ( cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br ). E-mail: cienciaemdia.folha@uol.com.br

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Governador do DEM está encalacrado

Operação iniciada na manhã desta sexta-feira pela Polícia Federal desvela uma rede de propinas que envolve o Governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal. Segundo notícias veiculados em diversos sites, a PF estaria de posse de uma fita na qual o governador aparece recebendo a bagatela de R$ 600.000,00.

Coluna de hoje do Alon

Leia abaixo a coluna de hoje do Alon Feuewerker.

Surpresas são difíceis de prever (27/11)
Alon Feuerwerker


De todos os números, qual o mais importante? O mano a mano do segundo turno, o termômetro da polarização entre Dilma e um tucano

Desconfiar da informação que chega é essencial nesta profissão. Daí por que não cabe aos jornalistas torcer o nariz para políticos que desconfiam de pesquisas. Ciro Gomes reagiu à última Sensus/CNT com coerência. Mostrou desdém, mesmo com o resultado supostamente bom para ele. É uma notável exceção.

Políticos adoram pesquisas favoráveis —e detestam as desfavoráveis. O caso mais agudo na minha lembrança é do comecinho de 2006, quando Luiz Inácio Lula da Silva apareceu pela primeira vez em muito tempo na frente de José Serra, segundo a mesma Sensus/CNT. Tucanos reagiram com fúria, apenas para enfiar a viola no saco um pouco mais adiante.

Desenvolvi meu método para desconfiar das pesquisas: acredito em todas. Há quem busque a pesquisa 100% certa (uma contradição em termos, diante da margem de erro). Eu procuro tentar achar em cada uma o que ela possa ter de verdadeiro. A pesquisa absolutamente errada é tão improvável quanto a completamente fiel. Então sempre há algo que se aproveite. Trata-se apenas de garimpar.

Mesmo a pesquisa fajuta tem sua utilidade. Nem que só para conhecer o que motivou a fabricação. Felizmente, o mercado de pesquisas profissionalizou-se bastante nos últimos anos, especialmente nos períodos eleitorais, quando os levantamentos se submetem a uma legislação algo rigorosa.

A lei dos grandes números também ajuda. Se você olhar para uma quantidade suficiente de pesquisas, acabará chegando a um ponto próximo da realidade. Minha sugestão para quem aprecia o assunto é esta: colecionar e seguir o máximo de pesquisas possíveis.

E o que observar então nos próximos números presidenciais?

Um detalhe é como e quanto Dilma Rousseff vai chegar em José Serra (ou por quanto irá eventualmente ultrapassá-lo) num primeiro turno sem Ciro Gomes. Outro detalhe é o ritmo de crescimento de Aécio Neves, com que velocidade o mineiro chega no potencial de votos mínimo de um candidato da oposição, cerca de 40% dos válidos. Outro ainda é como se estreita a margem entre Serra e Dilma num eventual segundo turno.

São todas coisas que vão acontecer, com alguma certeza, à medida que a taxa de conhecimento efetivo dos candidatos começar a nivelar-se. E à medida que os eleitores começarem a prestar mais atenção na corrida presidencial.

Outra providência boa é cultivar algum ceticismo diante dos motivos apresentados para eventuais oscilações. Dilma deu uma estagnada tempos atrás, depois que mergulhou. Disseram que foi por causa do caso Lina Vieira. A mim soou, com todo o respeito, um chute.

Ela caiu porque sumiu. Tanto que voltou a crescer quando reapareceu. Serra vem perdendo alguma substância, aproximando-se do estoque real de votos dele. Disseram que tem a ver com a associação a Fernando Henrique Cardoso. Outro chute. Mais provável que tenha a ver com o ânimo geral. E o fato é que Serra vinha meio escondido.

A última Sensus/CNT mostrou Dilma em leve alta. Coincide com a melhora no ambiente econômico. Outra coisa útil de acompanhar são os índices de confiança do consumidor. Com algum atraso, sua tendência acaba se refletindo na avaliação do governante. Avaliação que influi nos números da eleição.

O que não é chute para 2010? O óbvio. Que a polarização deve se dar entre um candidato do PT e outro do PSDB. É inimaginável que Lula não leve sua candidata ao segundo turno. E por enquanto nem Ciro nem Marina Silva mostram musculatura para deslocar o tucano que entrar na corrida.

E qual é o número mais importante? Talvez o mano a mano do segundo turno, o termômetro da polarização. Se todo mundo sabe que no fim das contas a parada será decidida entre Dilma e um peessedebista, que se monitore o cenário de uma eventual segunda rodada. É o que vou procurar fazer.

Pode haver surpresas? Sempre pode. Mas se existe algo difícil de prever são as surpresas.

Acacianas

A Venezuela e o Brasil não reconhecerão um eventual governo de Honduras saído da eleição marcada para este fim de semana. Os Estados Unidos reconhecerão. Cada um na sua.

É uma diferença que vai se propagar, especialmente na América do Sul. Com o tempo, todos os países irão alinhar-se. Uns de um lado, outros do outro. A unidade continental terá virado ficção.

Lula e Hugo Chávez liderarão um bloco que vai tratar Honduras como pária. Do jeito que os Estados Unidos se habituaram a tratar Cuba.

Como diria o Conselheiro Acácio —que bem poderia ter sido o autor do título desta coluna—, uma particularidade das consequências é que elas vêm depois.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

Comece bem o dia...

É sexta-feira. Mais uma semana chega ao fim. E é uma maravilha estar vivo, não é?. Então, não se afobe. Nada é prá já, diz-nos o poeta.

Respire fundo, sinta o ar nos pulmões, feche os olhos e escute a música abaixo. Pense que cada momento é irrepetível e que você é a única pessoa condenada a te suportar até o fim. Então, fique em paz consigo, com seu corpo, com sua história...

Gripe suina é céu de brigadeiro para o jumbo da indústria farmacêutica

Lucros, fabulosos lucros, objetivos de qualquer empresa. Alguns contextos ajudam e muito a conquista deles. Esse é o casa da gripe suína para a indústria farmacêutica. Leia abaixo trechos de matéria da revista alemã Der Spiegel traduzida para o português pelo site UOL. Posto abaixo apenas alguns trechos. O assinante do UOL lê a matéria completa aqui.


26/11/2009
Como a indústria farmacêutica lucra com a gripe suína
Kerry Capell*


Outrora menosprezadas pelas companhias farmacêuticas como arriscadas e pouco lucrativas, as vacinas para combater doenças como a gripe suína são atualmente um negócio em crescimento para a Novartis e outras empresas.

A Novartis, uma gigante do setor farmacêutico, deu um impulso aos esforços dos Estados Unidos para combater gripes pandêmicas com a inauguração em 24 de novembro da maior instalação do país para cultura de células em grande escala. Situada em Holly Springs, no Estado da Carolina do Norte, a fábrica da Novartis, que recebeu verbas federais de US$ 487 milhões (R$ 841 milhões) , representa um grande marco na utilização de tecnologias de produção biotecnológica para substituir o processo de fabricação utilizado há 50 anos baseado na produção de vacinas a partir de ovos. "Esta tecnologia tem o potencial para contornar o tradicional método de utilização de ovos, aumentando o grau de confiança e a produtividade da produção de vacinas", afirma o presidente da Novartis, Daniel Vasella.

(...)

A ressurgência de vacinas
Não faz muito tempo que as vacinas eram consideradas o produto menos lucrativo da indústria farmacêutica. A sua complexidade e altos custos de produção - aliados a margens de lucro relativamente baixas e ao risco de litígios importantes - desencorajaram os fabricantes, com a exceção de uns poucos como a Novartis, a britânica GlaxoSmithKline, a francesa Sanofi Aventism, a Merck, de Nova Jersey e a Wyeth - que atualmente é uma unidade da Pfizer.

No entanto, mais recentemente tem havido um certo renascimento do setor de vacinas. Isso deve-se em parte ao fato de a indústria farmacêutica estar enfrentando sérios desafios no seu setor de drogas fornecidas mediante prescrição médica. Haverá uma perda de US$ 135 bilhões (R$ 233 bilhões) referente à venda de remédios cujas proteções de patente expirarão nos próximos cinco anos, e há poucos produtos na linha de produção das companhias para repor essa perda, afirma Alan Sheppard, consultor da IMS Health.

As vacinas são classificadas como drogas biológicas, que são caras e difíceis de produzir, mas isso faz com que elas sejam menos vulneráveis à competição dos genéricos produzidos por fabricantes mais fracos. Além do mais, com a dificuldade cada vez maior de criação de drogas altamente rentáveis, o sucesso da vacina pediátrica da Wyeth contra pneumonia, a Prevnar, que atualmente gera mais de US$ 3 bilhões (R$ 5,2 bilhões) em vendas anuais, provou que vacinas podem ser lucrativas.

Com o mercado global de remédios vendidos mediante receita médica, no valor de US$ 780 bilhões (R$ 1,35 trilhão) crescendo lentamente a uma taxa anual de apenas 5%, muitos analistas percebem que o setor de vacinas, que deverá experimentar um aumento de 13% anuais até 2012, oferece o maior potencial de lucros. "Mais companhias estão investindo em vacinas como forma de diversificação, e novas tecnologias, como a cultura de células, estão possibilitando que elas produzam vacinas mais sofisticadas", afirma Michael Boyd, diretor geral da Federação Internacional de Fabricantes e Associações de Produtos Farmacêuticos (IFPMA, na sigla em inglês).

A vacina contra a gripe aquece os negócios da indústria farmacêutica
Basta ver o crescimento de recentes negócios envolvendo vacinas. Devido à sua aquisição da Wyeth, no valor de US$ 68 bilhões (R$ 117,4 bilhões), a Pfizer participa agora do setor de vacinas. Em 28 de setembro, a Abbott Laboratories desembolsou US$ 6,6 bilhões (R$ 11,4 bilhões) para a compra da fabricante belga de vacinas Solvay, enquanto que a Johnson & Johnson adquiriu 18% da fabricante holandesas de vacinas Crucell. A GSK - que se beneficiou com a demanda por vacinas contra a gripe suína - também fechou recentemente um negócio de dez anos no valor de US$ 2,2 bilhões (R$ 3,8 bilhões) para fornecer a sua vacina contra pneumonia ao Brasil.

(...)

Uma aplicação de vacina sazonal no braço
No curto prazo, pelo menos, as vendas da vacina contra a gripe suína estimularão bastante as vendas de três grandes fabricantes europeias do produto. A GSK afirma que as previsões dos analistas de que as vendas de vacinas contra a H1N1 no quatro trimestre deste ano chegarão a US$ 1,7 bilhão (R$ 2,9 bilhões) são bastante acuradas, e há previsões de números similares para o primeiro trimestre de 2010.

A Novartis diz esperar vendas no valor de US$ 700 milhões (R$ 1,2 bilhão) em vacinas contra gripe suína apenas no quarto trimestre deste ano. E a Sanofi-Aventis prevê que as suas vendas deste tipo de vacine cheguem a US$ 500 milhões (R$ 863 milhões) no quarto trimestre.

Mas Vasella observa que o setor de vacinas contra gripe é sazonal e imprevisível. No longo prazo, outras áreas como o câncer e a meningite oferecem maior oportunidade. De fato, os analistas dizem que as duas vacinas contra a meningite produzidas pela Novartis têm um potencial de vendas de bilhões de dólares. A Novartis tem muito a ganhar com o sucesso dessas vacinas, porque os analistas da Sanford C. Bernstein calculam que as vacinas e diagnósticos da companhia gerarão em 2009 vendas de US$ 1,5 bilhão (R$ 2,6 bilhões), contra prejuízos de US$ 257 milhões (R$ 444 milhões) com outros produtos.

Vasella diz que o aumento de investimentos em pesquisa, desenvolvimento, testes clínicos e fabricação de vacinas é um dos motivos para os prejuízos. Por exemplo, a companhia investiu US$ 200 milhões (R$ 345 milhões) nos últimos três anos na construção de uma segunda instalação em Liverpool, na Inglaterra, dedicada à produção da vacina contra a gripe suína fornecida aos Estados Unidos. "Esse tipo de investimento só se justifica como parte de uma estratégia de longo prazo", diz Vasella. Nós acreditamos que os nossos investimentos terão retorno".

*Capell escreve para a sucursal da "BusinessWeek's" em Londres.

Tradução: UOL

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Uma boa música com Valéria Oliveira

Quem reside em Natal e região conhece a boa música de Valéria Oliveira. Se você não é destas paragens, por favor, preste atenção neste nome e procure logo adquiri um cd da cantora e escute-o com atenção. Por enquanto, como sou do bem, deixo-o com clipe abaixo para você se deleitar.

A construção social do fracasso

Na mesma linha do post anterior, creio que, alicerçado nas elaborações seminais de Goffman, podemos construir uma interessante análise da construção social do fracasso. Mais um fio para tecer o texto que está pronto apenas na minha cuca.

Por uma sociologia do fracasso intelectual


Os derrotados são interessantes. É lá onde a luminosidade não penetra, nos becos e nos subterrâneos, que jazem histórias dignas de análise. Por quê? Ora, porque elas nos ensinam e esclarecem muito sobre o mundo da superfície. Para além dos sentimentos e emoções mais fáceis de apreensão, e sobre o quais se voltam sôfregos os candidatos a cientistas sociais mais apressadas, existem valores, regras e princípios que merecem ser perscrutados para um melhor entendimento do campo da produção cultural. E não apenas no Brasil.


Voltarei ao tema... Prometo!

Capitalismo popular

A proposta de uma socialização da banda larga, formulada pelo Governo, é uma iniciativa interessante e ousada. Claro, óbvio, que é preciso encontrar o rato que vai por o guizo no gato, mas a discussão é muito pertinente. Não por acaso, está aí pautando a mídia. Veja abaixo a análise de Alon Feuerwerker sobre essa e outras questões.

Capitalismo popular (26/11)
Alon Feuerwerker

Falta na banda larga um grande jogador, que esteja disposto a entrar na partida com capacidade de investimento e coragem (e caixa) para praticar uma política de preços agressiva.

O governo federal está metido numa boa empreitada: criar as condições para universalizar o acesso à internet de alta velocidade. Avalia inclusive entrar no mercado de provimento ao consumidor final. A iniciativa deverá servir, pelo menos, para forçar as companhias de telecomunicações a ampliar os serviços e baixar os preços. Se conseguir avançar aí, Lula merecerá aplausos efusivos.

É curioso que exatamente no ramo econômico onde as privatizações são mais festejadas, a telefonia, o poder estatal precise ameaçar com intervenção para colocar as coisas em ordem e atender ao interesse público. Hoje no Brasil quase todo mundo tem telefone, uma realidade muito diferente do que se via no começo dos anos 1990. Mas pagamos preços inexplicáveis. Ou que só encontram explicação no oligopólio.

Eis a desgraça das privatizações brasileiras. Em vez do “capitalismo popular”, expressão do thatcherismo, elas promoveram uma troca de guarda: o espaço que era do Estado foi ocupado por um pequeno grupo de empresas que repartiram o mercado entre si, e operam num ambiente de negócios marcado pelo deficit de regulação. É um modelo que se esgotou. Um exemplo? A banda larga, cara e de qualidade e cobertura inferiores às dos países comparáveis.

Seria ilusão imaginar uma telefonia operando com base na concorrência perfeita. Isso exigiria grande multiplicidade de provedores do serviço, coisa impossível na prática. Daí a necessidade da regulação, e daí o problema de mercados —como o nosso — que apresentam deficit no quesito.

Mas como regular o mercado? Em teoria, com agências reguladoras e boas normas, que deveriam incluir o combate à cartelização. Ainda na teoria, nós temos tudo isso. Temos as leis, os decretos, as portarias, os órgãos governamentais encarregados de zelar pela concorrência e uma agência reguladora bem estruturada e bem dirigida, com quadros competentes a operá-la.

O que falta, então? Um grande jogador, que esteja disposto a entrar na partida com capacidade de investimento e coragem (e caixa) para praticar uma política de preços agressiva. Um jogador cuja lucratividade seja função principalmente da fatia de mercado conquistada, e não da margem unitária no negócio. Alguém que tope lucrar um pouco com cada cliente, para ter muitos clientes e lucrar muito ao final.

Quem se habilita? Se ninguém se apresentar, que venha a estatal de banda larga preparada nos laboratórios do Palácio do Planalto. Pior do que está não vai ficar.

Falta o líder

Os principais quadros brasilienses do PSDB, Democratas e PPS reuniram-se esta semana e, segundo disseram, planejam acertar as pontas na operação política. Querem mais coordenação e melhor comunicação, especialmente na internet. Para quem deseja voltar ao poder, é um passo sensato.

Mas o problema maior não é operacional, é político. Falta a oposição definir se sua prioridade é fazer a luta interna ou combater o adversário. Falta definir o que é essencial: quem é o inimigo a derrotar.

É preciso saber se cada uma das facções oposicionistas está disposta, inclusive, a apoiar de verdade um eventual concorrente interno, se isso for necessário para evitar nova vitória do PT em 2010. Sem esse detalhe fundamental, pouco adiantará o resto.

Qual foi a principal vantagem competitiva do PT nestas três décadas? A existência de um líder, Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o PSDB ganhou duas eleições presidenciais? Quando teve um líder, Fernando Henrique Cardoso. Como o PMDB chegou ao poder? Pelas mãos de Ulysses Guimarães, que apoiou Tancredo Neves quando percebeu que não seria o melhor candidato a presidente em 1985.

Quem é o líder da oposição? Alguém sabe?

Blefe?

Os Estados Unidos apreciam que o Brasil tenha bons canais com o Irã, mas gostariam também que o Brasil defendesse junto ao Irã a posição unânime das grandes potências sobre o programa nuclear iraniano.

Esse foi o sentido da carta de Barack Obama a Lula. Não há antagonismo entre a satisfação dos americanos com as iniciativas diplomáticas brasileiras e o desconforto com o fato de o Brasil estar mais próximo do Irã do que seria desejável na Casa Branca.

Escanteado em Honduras, em Doha, com o G20 e com o etanol, o Brasil aproveitou a visita de Mahmoud Ahmadinejad para mandar o recado de que pode sair da área de controle. Blefe? Vale a pena acompanhar esse pôquer para ver quem, no final, terá cartas para arrastar as fichas.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

...e Deus fez Gisele.

© Foto de Mario Testino. Ensaio de Gisele Bündchen na Vanity Fair, 2009.

A morte de um jovem e promissor intelectual

Humana, demasiada humana, mas chocante. É a história retratada na notícia publicada na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo. Eu, que não o conheci pessoalmente, senti essa perda. Por outro lado, a forma como a morte foi noticiada é, para mim, um bom exemplo de um texto jornalístico de qualidade.

LUIS FERNANDO SCHUARTZ(1966-2009)
O jovem professor citado no rodapé por Habermas
ESTÊVÃO BERTONIDA
REPORTAGEM LOCAL

Aparecer numa notinha de rodapé enchia Luis Fernando Schuartz de orgulho. Não era por menos: seu nome está lá, no pé de página de um trabalho recente do filósofo alemão Jürgen Habermas.

A citação remete à tese que Luis apresentou na Alemanha em 1999, quando concluiu seu doutorado. Nela, critica conceitos do filósofo.Só que seus estudos lhe renderam mais dividendos.Recentemente, Luis pediu a Habermas uma carta de recomendação para uma bolsa que tentava. Não só foi atendido como chamado de brilhante pelo autor alemão.A aprovação da bolsa, pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), veio. Em janeiro do próximo ano, Luis pretendia se mudar para os Estados Unidos, onde dividiria um apartamento com um colega. Faria o pós-doutorado na Universidade Yale.Formado em direito pela PUC-SP em 1988, era atualmente professor da Escola de Direito da FGV (Fundação Getulio Vargas) no Rio.

O amigo Guilherme Leite Gonçalves, também professor, diz que Luis era muito preocupado em criar na faculdade de direito um espaço que fosse além do preparo dos alunos para o mercado de trabalho -sua vontade era que se produzisse mais ciência.Esportista, jogava muito bem futebol, adorava surfar e andar de bicicleta à noite, pois, muito estudioso, era o único tempo livre que tinha.Morreu domingo, aos 43. Segundo a família, teve uma morte súbita. Não deixa filhos.

Vulnerabilidade juvenil

Reeproduzo mais abaixo o editorial de hoje do jornal Folha de São Paulo. O tema é de interesse de todos nós, preocupados com a cidadania no país.

Violência e juventude

DUAS PESQUISAS realizadas a pedido do Ministério da Justiça ajudam a tornar mais preciso o diagnóstico que relaciona os altos índices de violência do país a seus principais protagonistas e vítimas, os jovens. Dos entrevistados, entre 12 e 29 anos, 30% estão em constante contato com a violência. São agredidos, testemunham assassinatos e abusos policiais, têm fácil acesso a armas de fogo.
O retrato é preocupante, mas é também necessário evitar "a sensação de caos paralisante", na expressão de Renato Sérgio de Lima, secretário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que coordenou os levantamentos.
Há motivos ponderáveis para crer na perspectiva de melhora gradual do atual cenário. O fenômeno da violência é intenso, porém localizado, dizem os especialistas. Geograficamente, os jovens são hoje mais vulneráveis em cidades médias do que nas grandes cidades do centro-sul do país, exceção feita ao Rio. No corte de renda, como se sabe, as principais vítimas são pobres.
Mas são sobretudo jovens. Esse fato, por si só perverso, é também o que aponta para a possibilidade de melhorias. Estudos demonstram que a evolução demográfica em curso -com o envelhecimento da população e a consequente diminuição da proporção de jovens- associada ao aumento da escolaridade média e da frequência escolar têm forte impacto negativo nos índices de violência e criminalidade.
Tendências demográficas ajudam, decerto, mas as autoridades também precisam fazer a sua parte. Além de constante investimento em segurança, urge melhorar a qualidade e a atratividade das escolas, atendendo à população desde os anos anteriores à alfabetização até a conclusão do ensino médio.

Debate: a esquerda na América Latina

Hoje, aí pelas 19 horas, ocorrerá, aqui na UFRN, um debate intitulado "Os Desafios da Esquerda na América Latina no contexto de crise do capital". Tratando do assunto estarão Valter Pomar (da direção do PT) e Sebastião Vargas (Professor do Departamento de História da UFRN). O local? Auditório B do CCHLA.

A arte da fotografia



O trabalho acima é de autoria de um provocador. Seu nome? Ricky Dávila. Ficastes curioso? Procure por ele na grande rede...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O que eu quero?

Bom. Fique aí com a maravilhosa resposta de Sérgio Sampaio. Essa, com certeza!, eu ouvia na Rádio Rural de Mossoró. Lá pelo começo da década de 1970...

Violência contra a mulher: quem denuncia

Transcrevo abaixo interessante matéria, disponível no UOL, a respeito do perfil das mulheres que denunciam a violência de gênero. Vale a pena conferir!

Maioria das mulheres que denunciam violência é negra, casada e tem entre 20 e 40 anos
Paula Laboissière
Da Agência Brasil
Em Brasília

A maioria das mulheres que buscaram a Central de Atendimento à Mulher (Disque 180) entre 2007 e 2009 é negra (43,3%), tem entre 20 e 40 anos (56%), está casada ou em união estável (52%) e possui nível médio (25%).

Os dados, divulgados hoje (25) pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, indicam que 93% do total de denúncias foram feitas pelas próprias vítimas. A maioria dos casos (78%) é de crimes de lesão corporal leve e ameaça. A metade dos agressores são cônjuges das vítimas.

Outro destaque do balanço indica que 69% das mulheres que recorreram ao serviço relataram sofrer agressões diariamente e que 34% delas se sentem em risco de morte. Em meio aos agressores, 39% não fazem uso de substâncias entorpecentes ou de álcool e 33% vivem com a vítima há mais de dez anos.

Dos 86.844 relatos de violência, registrados entre 2007 e 2009, 53.120 foram de violência física, 23.878 de violência psicológica, 6.525 de violência moral, 1.645 de violência sexual, 1.226 de violência contra patrimônio, 389 de cárcere privado e 61 de tráfico de mulheres.

Apenas entre janeiro e outubro de 2009, a Central de Atendimento à Mulher registrou 269.258 denúncias - um aumento de 25% em relação ao mesmo período de 2008, quando houve 216.035. Do total de atendimentos, 47% foram buscas por informações sobre a Lei Maria da Penha, com 127.461 atendimentos.

Música para quem ainda está no trabalho...

Duvido que Walter Franco não toque você...

Bernard-Henri Lévy sai em defesa de Battisti

Confira mais abaixo artigo publicado na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo. Ninguém menos que Bernard-Henri Lévy, um dos mais importantes intelectuais franceses da atualidade, escreve uma carta ao Presidente Lula fazendo a defesa de Cesare Battisti. Vale a pena conferir!

Carta aberta ao presidente Lula sobre Battisti
TENDÊNCIAS/DEBATES – FOLHA SP
BERNARD-HENRI LÉVY

Eu amo o Brasil, senhor presidente, e ficaria consternado de ver “nosso” Lula macular a tradição de acolher os refugiados.

PREZADO presidente Lula,

Sei bem que o debate sobre o caso Cesare Battisti, antigo militante dos Proletários Armados pelo Comunismo, acusado de atos de terrorismo na Itália dos anos 70, tem despertado paixões no seu país.Também sei que o jogo das instituições brasileiras, o esgotamento dos procedimentos previstos na sua democracia e a decisão apertada a favor da extradição, tomada pelo Supremo Tribunal Federal após longo julgamento, fazem com que agora caiba ao senhor, e ao senhor apenas, o poder de decidir se esse antigo militante, que se tornou um escritor de sucesso, deve ou não ser entregue à Itália.
Senhor presidente, inicialmente gostaria de lhe dizer que ninguém mais do que eu tem horror ao terrorismo. E desejo deixar claro que a luta contra esse terrorismo, a luta contra o direito que alguns se atribuem, nas democracias, de fazerem a lei eles próprios e de recorrerem às armas para fazer com que suas vozes sejam ouvidas é uma das constantes, senão a constante, de toda a minha vida de homem e de intelectual.
No entanto, se me dirijo a Vossa Excelência, é exatamente porque não está provado que Cesare seja esse terrorista que uma parte da imprensa italiana descreve e que, se tivesse cometido tais crimes, não mereceria nenhuma indulgência.
Ele foi condenado como tal, eu bem o sei, por um tribunal legalmente instituído, num país cujo caráter democrático não imagino, em nenhum momento, colocar em dúvida. Mas até as melhores democracias (a França sabe disso, pois, durante a guerra da Argélia, tomou liberdades com a liberdade, e os EUA de Bush, após o 11 de Setembro…) podem incorrer em erros e cometer injustiças. O processo de Cesare Battisti, esse processo que o reconheceu culpado há 21 anos pelas mortes de Santoro e Campagna, levanta, nessa circunstância, ao menos três questões às quais um homem imbuído de justiça e de direito não pode ficar insensível.
A primeira diz respeito ao testemunho e às provas produzidas pela acusação e a partir do que Battisti foi condenado: trata-se, essencialmente, do testemunho de um arrependido, quer dizer, de um verdadeiro criminoso que trocou, à época, sua própria condenação pela denúncia premiada de alguns de seus camaradas.Battisti havia fugido para o México e, depois, para a França quando o arrependido Pietro Mutti imputou-lhe a totalidades dos crimes da organização em que militavam. Todos os observadores que tiveram conhecimento do caso não acreditam ser possível nem verossímil que um jovem de 20 anos tenha cometido tais crimes.A segunda questão diz respeito a um principio da Justiça italiana e ao fato de que, diferentemente do que se passa em vosso país ou no meu, os condenados à revelia não têm, mesmo se forem capturados, se se entregarem ou se forem extraditados, direito a um novo processo no qual possam se defender.
Assim, se Vossa Excelência decidir recusar a Battisti o status de refugiado e deixar, então, que ocorra o procedimento de extradição, ele irá, logo que voltar à Itália, direto para a prisão (perpétua, já que tal é a pena a que foi condenado, sem apelação, no processo à sua revelia) e será o único condenado à prisão perpétua que jamais terá tido a possibilidade de se encontrar com seus juízes para confrontá-los e responder, pessoalmente, cara a cara, a respeito dos crimes que lhe são imputados.E acrescento, finalmente, esse detalhe sobre o qual o mínimo que se pode dizer é que não é apenas um detalhe: Battisti nega os crimes que lhe são imputados. Numerosos são os seus colegas escritores e numerosos são os juristas que, após o exame do processo, acreditam ser plausível sua inocência. De sorte que corremos o risco de ver terminar seus dias na prisão um homem cujo único crime seria, nesse caso, ter acreditado, durante sua juventude, nas teorias da violência revolucionária.Eu amo o Brasil, sr. presidente. Amo o exemplo que ele dá ao mundo de uma política fiel aos ideais progressistas e, ao mesmo tempo, aos princípios de equilíbrio e sabedoria. Eu ficaria consternado -somos muitos que ficaríamos consternados- de ver “nosso” Lula macular a tradição de acolher os refugiados, que é um dos orgulhos de seu país.Extraditar Battisti criaria um perigoso precedente. Não extraditá-lo mostraria ao mundo, que tem os olhos voltados para o Brasil e para Vossa Excelência, que existem princípios que nem a razão de Estado nem a lógica dos monstros sem emoção podem suplantar. Eu peço a Vossa Excelência que aceite, senhor presidente, a expressão de minha simpatia, de minha admiração e de minha esperança.

Atenciosamente,

BERNARD-HENRI LÉVY, escritor e filósofo francês, é fundador da revista “La Règle du Jeu” e colunista da revista “Le Point” e de diversos jornais em diferentes países.

Entrevista com Bernard Lahire

O sociólogo Bernard Lahire é um dos nomes mais importantes da sociologia francesa atual. Recentemente, esteve entre nós. Mais precisamente, em Recife (na UFPE) e em Natal (na UFRN). Aproveito, então, para postar mais abaixo um vídeo com uma entrevista sua (em francês). Vale a pena conferir!

Internet e política

Leia abaixo uma entrevista de um dos mais importantes cientistas sociais contemporâneos, o espanhol Manuel Castells. (O trecho abaixo foi transcrito do Ex-Blog do César Maia).

"INTERNET: O NOVO É QUE AGORA PODEMOS VIGIAR OS GOVERNOS"!
Trechos da entrevista do sociólogo Manuel Castells, (El País, 24)

1. Se as pessoas se sentem sós, estarão menos sós com a Internet. O uso da Internet favorece a sociabilidade e diminui a sensação de isolamento. Quem a utiliza, tem mais amigos, sai mais frequentemente, participa mais politicamente, tem maiores interesses e atividades culturais. Internet expande o mundo.

2. Com ela a capacidade de investigar é como nunca existiu. Se você sabe onde buscar (que é a grande condição) e o que buscas, pode estar sempre atualizado.

3. Os Estados têm medo da Internet porque perderam o controle da comunicação e da informação, em que basearam seu poder ao logo da história. Ela é útil para a educação, os serviços públicos, a economia. O Estado entra na privacidade das pessoas. E sempre o fez, com ou sem uma ordem judicial. Se quiser, nos vigia. Todos os governos do mundo o fazem. O NOVO é que agora nós podemos vigiar os governos.

4. Internet altera as relações de poder, incrementando o poder dos que tinham menos poder. Isso não quer que os que sempre tiveram poder deixem de tê-lo. Tem, mas tem menos. No mundo dominado pela TV, as imagens ativam o medo. No mundo livre da Internet pode-se ter suficientes imagens de outro sentido para ativar seus outros elementos metafóricos, e assim diminuir o medo e aumentar a confiança.

5. Os jornais desocuparão os espaços de hoje, no dia em que a edição de papel seja um produto de luxo, que só alcançará às elites. Quando se pagar 30 reais por um jornal de papel, a maior parte dos leitores irá ler notícias na web.

Fui desmascarado: sou financiado pelo DEM

A incapacidade de convivência com a crítica é, para alguns, uma "disposição incorporada". Algo assim, sei lá!, como a forma mesma do ser. Eu me divirto com eles. Muito embora não abra muito a guarda; gente cheia de certeza e avessa à crítica, quase sempre, te fazem mal sem nenhum remorso.

Bueno. Tudo isso a troco de quê? Pois não é que, ao comentar as eleições internas do PT (Lula com Síndrome de Fátima Bezerra), pisei nos calos de alguém. Veja só a belezura que me escreveram:

Edmilson não perde a oportunidade de continuar dando seu pitaco sobre o pt local. Aliás, Edmilson, corre à boca grande que sua postura de professor decente só funciona até quando os prefeitos das prefeituras corruptas do DEMO o contratam a peso de ouro para suas consultorias.

Nofssa! Choquei! Euzinho só funciono com a grana de consultorias de prefeituras do DEMO? Geeente do céu! Essa rapaziada é mesmo criativa. Mas, por favor, continuem fazendo propaganda de mimzinho. Eu estou à disposição de qualquer prefeitura, do DEM, do PMDB, do PR, do PL, do PC do B, do PT e de qualquer outro P que apareça, para consultorias nas áreas de segurança pública (especialmente, na formulação de planos municipais de segurança pública). Tudo dentro dos conformes, claro! Mas, oh, que pena!, aparecem poucas oportunidades.

Agora, falando sério, vamos a alguns pontos interessantes da missiva:

1) "Edmilson não perde a oportunidade de continuar dando seu pitaco sobre o pt local".

Eu e a torcida do Flamengo temos todo o direito de dar pitaco sobre qualquer partido. Ora, ora, o PT, até onde eu sei, é um ator público atuando na esfera pública. E, mais que isso, funciona, em parte, com grana do fundo partidário (grana dos nossos impostos!). Ou seja, para que a máquina gire, ela precisa ser azeitada com o meu, o seu, o nosso suado dinheirinho. Então, tome pitaco! Se não querem pitaco, saiam da arena pública e fundem uma organização secreta...

2) "....os prefeitos das prefeituras corruptas do DEMO o contratam a peso de ouro".

Hum! Sei, os prefeitos do DEMO são corruptos? Quais? Quem? Onde? Eu não ponho a minha calejada mão no fogo por ninguém, mas acusar sem provas é tão, como diria, demodê, especialmente, depois das ondas de escândalos que tivemos nos últimos anos... Já o(a) missivista poderia levar em conta certas notícias sobre práticas não muito ortodoxas em prefeituras vistosas e, em passado distante, associadas a essa produção ideológica mitificadora chamada "modo petista de governar"... Só para equilibrar um pouco o jogo.

3) "contrata a peso de ouro"

Isso! Massageiem meu ego. Não faz mal nenhum! Embora, infelzmente, o comentário não corresponda à realidade, deu-me um grande alento. E cá estou eu a sonhar com contratos a peso de ouro. Uau!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Uma entrevista de Bourdieu

Já que postei, mais abaixo, um vídeo com fotografia de Bourdieu, coloco aqui um link para uma famosa entrevista concedida pelo cientista social.

A fotografia de Bourdieu: uma exposição

Clique no vídeo abaixo e assista a uma apresentação de uma exposição da obra fotográfica de Pierre Bourdieu. As fotografias expostas são referentes ao seu trabalho de campo na Argélia. Vale a pena conferir!



Images d'Algérie, Pierre Bourdieu / France 3

A condição feminina no Afeganistão


© Foto de Stephanie Sinclair.

A foto acima é de um casal. A menina tem 11 anos. O homem, tem 40. Mais palavras são desnecessárias, não achas?

Amor, Desejo e Casamento

Transcrevo abaixo interessante artigo de autoria do Professor Renato Janine Ribeiro. Vale a pena conferir!

A insuportável liberdade do amor
Renato Janine Ribeiro*

SÃO PAULO – Euclides da Cunha foi um de nossos maiores intelectuais, por sua coragem de pensar. Quando soube da revolta de Canudos, atribuiu-a aos monarquistas. No sertão da Bahia, percebeu que estava errado. Sua coragem de rever o erro valoriza sua obra-prima, Os Sertões. Mas não teve essa grandeza em sua vida pessoal. Casou-se com a filha de um líder republicano. O casamento, porém, não foi feliz. Ele não deu à jovem Ana o amor que ela queria. Ela se envolveu com o tenente Dilermando de Assis. Sabe-se o final da história. Em agosto de 1909, Ana deixa o marido pela última vez. Euclides invade a casa de Dilermando, gritando que vem matar ou morrer. É morto. Dilermando é absolvido.

Por que evocar essa história – que mostra como um grande intelectual foi tão infeliz em sua vida amorosa – quando o assunto da semana é o pai que se matou com o filho pequeno, ao não suportar o fim do casamento? Porque não é a classe social, a formação cultural ou a abertura de espírito para a ciência que capacitam alguém a lidar com o que é difícil no amor, em especial a rejeição.

A tragédia recente é de um pai que não aguenta viver sem a mulher. É imperdoável ele ter matado o filho, ato cruel e odioso. Mas seu suicídio, como o filicídio, decorrem da dificuldade de aceitar a liberdade no amor, no caso, o direito da mulher a seguir seu rumo.

A liberdade no amor não é fácil. Quando concebi um programa a respeito para a TV Futura (que pode ser baixado em www.futuratec.org.br), alguém me sugeriu tratar de casamentos abertos. Recusei. Nada tenho contra quem é feliz numa relação permanente com eventuais casos paralelos. Mas liberdade no amor não é fazer exceções à relação principal. Liberdade no amor é estar livre no (e não do) casamento. É uma realização com o outro.

Comecemos pela falta de liberdade no amor, que existe quando não se consegue tratar do que é mais íntimo. Se tenho uma companheira, espera-se que seja a pessoa mais próxima de mim no mundo, e que tenhamos uma aliança, uma cumplicidade. Se não, é porque algo vai mal. Se não conseguirmos conversar a respeito, piora.

Conversar é uma arte conquistada. Há duas formas de conversa. Uma se desenvolveu na Europa do século 17. É a conversa em sociedade, até mesmo superficial, mas que é condição para o encontro com estranhos ser agradável e a vida social, um prazer. Mas há outra conversa, que é a íntima. Ela inclui assuntos penosos. Um casal pode passar por problemas sexuais, como a redução ou perda do desejo pelo outro. Abordar esse tema é árduo, mas geralmente é melhor fazê-lo antes que um dos parceiros procure uma terceira pessoa.

O que agrava as coisas é que, hoje, toma-se por sinceridade o que é só agressividade. Alguns acham que “dizer o que vem à cabeça” é o mesmo que abrir o coração. Não é. Com frequência, a primeira resposta a algo difícil é a reação agressiva de quem deseja livrar-se de uma situação incômoda. Ofender o outro não é ser sincero. É, apenas, ofender.

Que maturidade é preciso para viver a liberdade no amor? Gilberto Gil, ironizando o slogan da ditadura “Brasil, ame-o ou deixe-o”, recomendava: “O seu amor/Ame-o e deixe-o/Livre para amar./O seu amor/Ame-o e deixe-o/Ir aonde quiser”. Significa aceitar que uma relação de amor é uma relação de certo risco. Não sabemos se e quando pode terminar. Por isso, é preciso investir nela, e o investimento é afetivo. Por isso Euclides, inteligente e corajoso, não foi o marido adequado para uma mulher que queria um homem alegre, o que ele não era.

O espantoso não é que Euclides, quando não havia divórcio no Brasil e o preconceito era fortíssimo, escolhesse ser assassinado com tanta vida pela frente (pois sabia que Dilermando era bom atirador). O espantoso é que tragédias dessas continuem acontecendo, quando a separação se tornou quase banal, afetando boa parte dos casamentos no mundo.

Talvez haja aqui algo bem difícil. Uma das maiores realizações que se espera da vida é o encontro de um amor de verdade, intenso, pleno. O problema é que não temos segurança dele. Quanto mais me apaixono, maior o risco de me iludir. A paixão – do grego pathos, que designa a situação em que sou passivo (em oposição à ação) e minha razão fica inibida – não é boa juíza de caráter ou de relações, como tem frisado Flavio Gikovate. O encontro emocional intenso pode dar errado. Sua base pode ser frágil. Por isso, parece necessário cada pessoa construir o sentido de sua vida (seu “eixo”) sozinha, e balizar a relação com o outro por essa prévia definição pessoal. O amor apaixonado não substitui minha obrigação de saber quem sou, o que eu desejo, o que vou fazer. Mas, como a paixão não é amor, isso não reduz o sentimento mais profundo pelo outro. Apenas coloca na ordem do dia uma questão que afronta o consumismo afetivo de nosso tempo: a necessidade de converter o entusiasmo passional, que leva ao erro, em amor. A mídia fala muito em paixão, pouco em amor. O amor sempre aparece como algo menor que a paixão. O coração não dispara. Parece coisa de velho. Não assistimos a histórias de amor, só de paixão. Talvez esteja na hora de começarmos a contar histórias de amor, não só de enganos. Aprendemos a viver escutando narrativas. É hora de pensar que “foram felizes para sempre” só é possível com o amor, não com o fulgor passional.

*Professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo

Música...

Para você, que acompanha o blog, um vídeo com música de boa qualidade.

Os desafios do Oriente Médio

Transcrevo abaixo análise do jornalista Alon Feuerwerker. Identifico-me com esse posicionamento.

O cerne da questão (24/11)
Alon Feuerwerker

Certas horas, o debate sobre o Oriente Médio envereda pela busca da “fórmula ideal” para a paz, não sem antes se deter exaustivamente na procura pelos “verdadeiros culpados”. Tempo desperdiçado.

Um trecho da fala de Luiz Inácio Lula da Silva ontem em seu programa semanal de rádio Café com o presidente merece ser olhado com muita atenção. Diz Lula: “Por exemplo: você tem, dentro da Palestina, a Autoridade Palestina, que quer a paz. Mas você tem o Hamas, que não quer a paz. Então, é preciso que, primeiro, tenha um acordo interno dentro da Palestina para saber se eles são capazes de produzir uma proposta única de paz que atenda os interesses de vários grupos.”

Lula (que ontem recebeu em Brasília o presidente do Irã) tocou no cerne do problema. Na mesma entrevista, o presidente também se refere a divergências internas em Israel, mas está implícita a diferença. Israel tem um governo, com autoridade sobre o país. A Palestina tem dois, rivais. Em Gaza manda o Hamas; na Cisjordânia, a Fatah (Autoridade Palestina). O senso comum diria que quando Irã e Síria armam o Hamas ajudam o partido islâmico a combater Israel. Talvez o senso comum esteja errado: as armas de Teerã e Damasco nas mãos do Hamas têm como alvo principal a Fatah, e não Israel.

As nações alcançam sua independência quando preenchem certos requisitos. Um deles é existir o núcleo dirigente hegemônico, capaz inclusive de reprimir eventuais dissidências. Por essa razão, talvez nunca os palestinos estiveram tão distantes como agora da autodeterminação. É mais fácil hoje em dia surgirem duas Palestinas do que uma só. Ou alguém enxerga no horizonte a possibilidade de dar certo um único país onde Hamas e Fatah coabitem democraticamente, inclusive alternando-se no poder? Só se for um país tutelado de fora.

A falta de uma hegemonia clara ali decorre, também, da falta de clareza sobre o projeto nacional. A base da disputa é a ambição de cada grupo pelo poder. Mas como é preciso ter discurso, há dois bem demarcados. A Fatah é uma organização historicamente (no período recente) propensa a aceitar, como dado permanente, um Estado judeu num pedaço do território que vai do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo. Já o Hamas é contra. O partido islâmico chegou a propor uma “trégua de longa duração” com Israel, mas não renuncia ao objetivo de riscar o vizinho do mapa.

Daí a dificuldade de um acordo. Certas horas, o debate sobre o Oriente Médio envereda pela busca da “fórmula ideal” para a pacificação, não sem antes se deter exaustivamente na procura pelos “verdadeiros culpados”. Tempo desperdiçado. Se um dia houver paz estável ali, ela nascerá não da mente genial de alguém que decifrou a quadratura do círculo, ou de uma conclusão definitiva sobre quem possui a superioridade moral, mas de ter surgido a solução política.

Infelizmente porém, as soluções políticas são como a vida: não se consegue produzi-las a partir do zero em laboratório. Elas costumam surgir é da relação de forças nascida da luta (política), entendida amplamente — o que inclui a guerra. Qual é a situação de fato no Oriente Médio? Nenhum dos dois lados está 100% convencido de que a continuação do uso da força é prejudicial a seus objetivos nacionais. E enquanto permanecer esse “equilíbrio da convicção na via bélica” pouco adiantarão os apelos piedosos pela paz.

Quando recusou em 2000 a proposta feita por Bill Clinton e Ehud Barak em Camp David, Yasser Arafat mostrou que já não detinha as condições ideais para aceitar sacrifícios em nome de todo o povo palestino. Se endossasse ali algum tipo de compromisso em torno de Jerusalém ou do direito de retorno ao atual território israelense de todos os descendentes do êxodo (forçado ou voluntário) de 1948-49, possivelmente desencadearia uma guerra civil. Certamente teria apoio externo para esmagar o Hamas e correlatos, mas preferiu não seguir por esse caminho, talvez por imaginar que poderia obter mais na mesa de negociações se começasse uma nova Intifada.

Engenharia de obra feita é sempre fácil, mas vista retrospectivamente a decisão de Arafat em Camp David não legou a seu povo uma situação mais favorável. Ao contrário. Aliás, a história das escolhas árabe-palestinas de um século para cá não é propriamente uma parada de sucessos. Apoiaram o Império Otomano contra os ingleses na Primeira Guerra Mundial. Apoiaram a Alemanha nazista na Segunda. Alinharam-se com a União Soviética na Guerra Fria. E Arafat apoiou Saddam Hussein quando este anexou o Kuait.

Não se discute aqui se foram escolhas “certas” ou “erradas”, de um ângulo programático, ou moral. Ou se decorreram de uma posição anticolonial ou anti-imperialista. O fato é que adotaram os lados perdedores em todos os momentos cruciais. E essa circunstância tem mais a ver com a atual situação do projeto nacional palestino do que pode parecer ao observador eventual.

Será diferente desta vez?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Lula com a Síndrome de Fátima Bezerra

Neste domingo, em meio ao processo eleitoral interno que escolherá as novas direções do partido, Lula reclamou dos correligionários:

"Eu não tenho mais ilusão quando se trata de disputas locais, por mais que a gente oriente as pessoas de que deve prevalecer é o projeto nacional, normalmente, o que tem acontecido é que cada um olha para o seu umbigo e prevalece as questões dos Estados. O que é importante é que se houver divergências dentro da base aliada nos Estados, isso não seja impeditivo para a ministra Dilma", disse Lula.

Pois é. O problema, para as cabeças pensantes da direção nacional do PT, é que, como diz um velho sábio acaciano, "a vida é local". As disputas nas quais as pessoas estão cotidianamente envolvidas dizem respeito, na maioria das vezes, aos estados e municípios. E a direção nacional do PT, embalada em projetos nacionais (supostos ou reais) desconsidera (ou atropela autoritariamente) as dinâmicas políticas regionais.

Ora, é claro que o projeto nacional é mais importante. Mas essa é uma "importância" que não é um dado natural, uma coisa dada. Só será importante na medida em que for hegemônica, isto é, ganhar a adesão e o apoio deliberado de todos.

Não é bem isso que vem ocorrendo. Lula, essa é a verdade, impôs a candidatura de Dilma. O PT, que outrora esbravejava e queria escolhas discutidas amplamente, aceitou de pronto. O milagre da unanimidade se fez no partido do conflito! Agora, Lula quer mais. Quer que todos se submetam ao "projeto maior". O problema é que (alguns) petistas podem até aceitar a candidatura de Dilma, mas daí a ir até ao ponto de abandonar os seus projetos e embarcar em uma candidatura com limitações políticas e eleitorais de monta, essa é uma outra história.

Peguemos um exemplo: o ministro Tarso Genro, primeiro lugar nas pesquisas para governador do Rio Grande do Sul, vai abandonar uma disputa com chances de vitória para se aliar ao PMDB local, inimigo histórico do PT gaucho, e apoiar o ex-governador Germano Rigotto? Tarso não tem vocação para kamikase... Mas é nele que Lula mira quando faz o comentário.

Em 2008, aqui no RN, tivemos uma filme com enredo parecido. Para viabilizar o apoio dos partidos da chamada "base aliada" (do Presidente) à sua candidatura à Prefeitura da cidade do Natal, Fátima Bezerra impôs um estupro ao PT municipal: a aliança nas eleições proporcionais com o PMDB e PSB. O resultado: o eleitor, que não é besta, percebeu que votando em um candidato do PT poderia estar elegendo, sei lá!, Dikson Nasser... O resultado todos sabem: o PT perdeu os mandatos que tinha na Câmara Municipal de Natal. Claro, claro, que tudo pode ser justificado em nome dos "grandes projetos"...

A postura de Lula é a tradução da Síndrome de Fátima Bezerra: para ganhar, sacrifiquemo-nos os outros. Para o azar de Lula, nem todos os petistas são tão obedientes quantos os do RN.

Violência contra a mulher na Argentina

A cada 36 horas, neste ano, uma mulher foi morta na Argentina. Ficastes estarrecido? Saibas que os dados do Brasil não são melhores... É um feminicídio. Depois comentamos, com ar de superioridade, a ignomia da violência contra a mulher nos países islamicos.

Leia aqui a matéria sobre a violência contra a mulher na Argentina.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Visões de uma cidade: Paris

Assista abaixo ao vídeo "Imagens de um flanêur brasileiro em Paris", de Fernando Rabelo. Vale a pena conferir!

Que este final de tarde seja leve para você...

A noite desce sobre o Campus da UFRN. Ao longe, avisto as dunas que me separam do mar. Nuvens anunciam que poderemos ter uma chuva leve (e breve) logo mais. Que assim seja! Para acompanhar, enquanto labuto, escuto Chopin. Faça isso também!


Por um celular...


A foto que estampa este post, de autoria de Adenilson Nunes, mostra o momento em que um rapaz, que fugia da polícia baiana após ter roubado um celular, pula uma altura de dois metros em uma movimentada rua de Salvador.

Battisti agora é abacaxi para Lula descascar

Caiu no colo do Presidente Lula a decisão sobre a extradição (ou não) de Cesare Battisti. O STF marcou sua posição e deixou não apenas o presidente, mas todo o governo em uma baita saia justa. Veja abaixo a análise de Alon Feuerwerker a respeito.

Trocar umas figurinhas* (20/11)
Alon Feuerwerker

A decisão de Lula sobre Battisti se dará numa moldura complexa. Vai exigir muito trabalho jurídico e, talvez, muita conversa com a Itália

Acompanhei com atenção (para tentar compensar minha ignorância) o julgamento do caso Battisti quarta-feira no Supremo Tribunal Federal. Aliás, suspeito que estudar Direito hoje em dia ficou bem mais interessante e fácil. O sujeito assiste pela TV às sessões do STF e aprende muito. Vale por um curso.

O ponto mais crítico do debate foi se a decisão do Supremo de autorizar a extradição do italiano era obrigatória para Luiz Inácio Lula da Silva. Chocaram-se ali dois conceitos bem claros: 1) as sentenças do STF são definitivas e irrecorríveis e 2) quem faz política externa não são nem o Legislativo nem o Judiciário, é o Executivo, na pessoa do presidente da República.

Assim, o Supremo pode autorizar a extradição de alguém, mas o presidente pode também entender que mandá-lo embora não interessa ao Brasil. Pelo menos foi o que compreendi. Só que, naturalmente, o chefe do Executivo precisa justificar seus atos à luz da legislação vigente. Então, como desfazer o nó? Ora, se nem os ministros chegaram a uma conclusão definitiva, muito menos eu me arriscaria.

Eis o abacaxi que está com Lula para descascar. O STF já desfez a decisão do ministro da Justiça de conceder o refúgio. Está esgotada a disputa legal sobre o caráter dos crimes de que Battisti foi acusado e pelos quais foi julgado na Itália. E entra em cena um vetor mais delicado: a relação entre os Estados brasileiro e italiano.

Ao longo de todo o processo, a defesa política e legal de Battisti argumentou que quando dos atos a ele imputados -e também por ocasião de seu julgamento- a Itália vivia um regime político que não podia ser enquadrado nas formas clássicas do estado de direito. Essa tese foi derrubada no STF por 5 a 4, com a maioria seguindo o voto do relator, Cesar Peluso.

As informações palacianas davam conta ontem que Lula estava inclinado a esperar o acórdão do tribunal antes de bater o martelo. Parece prudente.

O ato de mandar Battisti cumprir pena na Itália ou segurá-lo aqui será visto como o que é: um posicionamento político. Era o que Lula queria evitar.

Há também um aspecto humanitário, mas a ênfase nele não resolve o problema do presidente. Se a decisão final for não extraditar Battisti, Lula terá afirmado, mesmo que implicitamente, que a Itália não tem hoje um regime político nem condições carcerárias que garantam os direitos fundamentais do condenado.

Será uma crise diplomática e tanto. E a situação se complica mais porque praticamente todas as correntes com alguma densidade política na Itália defendem a extradição. Da direita, a pressão é natural. Mas é na esquerda italiana que as pressões para reaver Battisti são maiores.

A esquerda na Itália é majoritariamente, esmagadoramente, herdeira do Partido Comunista Italiano. E o banditismo dos grupos armados de extrema-esquerda naquele país trinta anos atrás tinha como objetivo principal minar a hegemonia do PCI e sua política de alianças com a Democracia Cristã.

Por outro lado, se seu fosse Lula não ia querer carregar para a minha biografia, faltando tão pouco para o fim do mandato, o registro de ter enviado um sujeito supostamente de esquerda, e condenado por crimes com alegado nexo político, para apodrecer por mais de vinte anos em uma prisão italiana.

Mas uma coisa é o presidente querer. Outra, é poder. No Brasil, como na Itália, vige o estado de direito. Pelo menos até segunda ordem.

Lula precisa mesmo de tempo para dar tempo aos doutores do Planato, para que tentrem encontrar uma saída. Nesse intervalo, vai ter também que trocar umas figurinhas com a Itália.


Simancol

Vamos ver como o presidente sai dessa. Por enquanto, seria útil injetar alguma moderação no debate.

Não é de bom tom, por exemplo, comparar o caso de Battisti ao de Olga Benário, judia, alemã, militante da 3a Internacional e mulher de Luiz Carlos Prestes. Ela foi presa depois da rebelião comunista de 1935 e entregue, grávida, pelo governo de Getúlio Vargas aos alemães.

Olga foi mandada para um campo de concentração, onde morreu.

A Itália de hoje não é a Alemanha nazista. E, nem que seja só para evitar situações de mau gosto e constrangimento, o governo brasileiro deveria fugir de assuntos relacionados ao nazismo e aos judeus nesta época, em que vai receber o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.


* Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

Desigualdade em queda

Dados recentes, produzidos pelo IPEA, apontam a queda contínua da desigualdade social no Brasil nesta década. Veja aqui um conjunto de gráficos que traduzem essa realidade.

Entrevista na TV

Hoje, prá variar, comecei cedo. O dia nem bem tinha amanhecido e eu estava a postos, na TV Bandeirantes, concedendo uma entrevista para o Jornalista Osair Vasconcelos. O tema: Desigualdade racial e ações afirmativas. Gostei da conversa. E espero que não apenas o pessoal da emissora e eu tenhamos acordado naquele horário e alguma alminha tenha assistido à nossa conversa.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Música para quem ainda está no trabalho...

Lattes em nova roupagem

Notícia publicada no site do CNPq anuncia a mudança. Confira mais abaixo.

CNPq lança nova versão do Currículo Lattes
O CNPq lançou hoje (19) a nova versão do Currículo Lattes (CVLattes) com novas funcionalidades e amplas possibilidades de cruzamento de dados. O lançamento coincide com o aniversário de uma década da Plataforma Lattes.

O CNPq vem buscando aperfeiçoar essa ferramenta que já é conhecida por todos os pesquisadores brasileiros e se tornou um patrimônio da comunidade científica. Os últimos avanços estão sendo incorporados a essa nova versão que inclui a possibilidade de consulta às citações dos artigos publicados em revistas indexadas no Web of Science e que estejam registradas nos currículos com o DOI (Digital Object Identifier- um identificador digital único) correspondente. Para que isso fosse possível um acordo com a empresa Thomson&Reuters, administradora do Instituto para a Informação Científica (ISI), foi firmado há dois meses pela diretoria do CNPq. A base Web of Science é a mais relevante do mundo, cobrindo mais de 10 mil periódicos científicos desde 1954. Também foi firmado acordo com o Scielo, uma base com mais de 230 mil artigos registrados, que permitirá a recuperação das citações dos artigos registrados no Lattes. A base Scielo conta, atualmente, com mais de 600 periódicos científicos cadastrados.

Outra novidade é o acordo com a Receita Federal que permite a certificação dos dados da pessoa que se registra na base Lattes e deve impedir a introdução de currículos fantasmas. Além de conferir os dados no momento em que o currículo é criado, o CNPq já está fazendo uma varredura dos currículos já depositados na base Lattes para depurar os dados. O processo está se iniciando pelo segmento dos doutores. Para o professor Roberto Passetto Falcão, presidente da Comissão de Acompanhamento do Sistema de Currículos da Plataforma Lattes, a incorporação dos dados do ISI ao CVLattes acrescentará informações extremamente importantes para os usuários da Plataforma Lattes e para a comunidade científica. “A qualidade de um trabalho científico é avaliado indiretamente pelo periódico onde ele é publicado e pelo número de citações do artigo por outros cientistas que atuam na área do conhecimento do trabalho publicado. Este acordo com o ISI permitirá que estes aspectos estejam disponíveis quando se analisa o CV Lattes”, disse ele. Da mesma forma pensa o professor Antonio Martins Figueiredo Neto, membro da Comissão: “os acordos firmados aprimoram o CV Lattes de maneira profunda, dando tanto maior credibilidade quanto novos instrumentos de análise da produção científica ao usuário”. Figueiredo acredita que fraudes serão praticamente impossíveis com o novo sistema de certificação e só aumentará a credibilidade da ferramenta. “Além disso, o CV Lattes passará a ter uma inserção internacional quando parcela significativa dos currículos estiver disponível em Inglês. Esse trabalho vai auxiliar as entidades de fomento e governamentais do exterior a ter uma visão mais realista da comunidade científica brasileira”, finalizou.

O coordenador geral de Informática do CNPq e também membro da Comissão de Acompanhamento do Lattes, Geraldo Sorte, informou que outra funcionalidade interessante é a Rede de Colaboração, em que será possível visualizar graficamente a rede de co-autores de um pesquisador que tenham também o Currículo Lattes. “Esta rede é composta pelos outros pesquisadores que trabalharam em conjunto com o pesquisador em questão em co-autoria de artigos científicos”, esclareceu.

Sorte disse que outras modificações deverão ocorrer nos próximos meses no currículo, tais como acréscimos de campos e do módulo “Patentes e Registros”, alterações no layout e de navegabilidade, implementos de apoio ao usuário e alterações de ordem técnica, bem como detalhamento e validação de dados para maior segurança.

Sobre o Lattes

A Plataforma Lattes representa a experiência do CNPq na integração de bases de dados de currículos e de instituições da área de ciência e tecnologia em um único Sistema de Informações, cuja importância atual se estende, não só às atividades operacionais de fomento do CNPq, como também às ações de fomento de outras agências federais e estaduais.

Criada em 1999, contém, atualmente, mais de 1,5 milhão de currículos. Desse total, 120 mil, ou 8%, são currículos de pessoas com doutorado. Estão disponíveis informações relativas à educação formal, experiência profissional, áreas de pesquisa, projetos e linhas de pesquisa, artigos em periódicos, livros e capítulos publicados, produtos e patentes, produções artísticas e culturais, entre outras.

As informações do Currículo Lattes têm sido utilizadas por todas as agências de fomento, universidades e institutos e centros de pesquisas do Brasil para avaliar as propostas de financiamento para projetos de pesquisa. O banco de dados também é utilizado por estudantes para selecionar orientadores, assim como as instituições também a consultam para contratar consultores científicos ou assessores.

Uma análise do julgamento político de Battisti

Leia abaixo uma análise muito lúcida, escrita por colunista do jornal Valor Econômico.


Voto decisivo contra Battisti ficou às claras
Maria Inês Nassif


A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao pedido de extradição do ex-militante da esquerda armada Cesare Battisti, feito pelo governo italiano, marca o auge de uma escalada “autonomista” do tribunal, entendida não como exercício de autonomia na decisão judiciária em relação a pressões externas contra liberdades individuais e coletivas, mas como o exercício de um poder de Justiça que se sobrepõe aos demais poderes constituídos. O voto do ministro Marco Aurélio Mello, que na semana passada empatou a votação do plenário – desempatada ontem, contra Battisti, pelo voto do presidente do tribunal, Gilmar Mendes -, é um alerta sobre essa escalada. Para Mello, a invasão do STF à seara do governo federal, em uma decisão sobre política externa, remete “à pior ditadura, a do Judiciário”, porque é uma ação inconstitucional praticada pelo tribunal cuja maior prerrogativa constitucional é a de zelar pela Carta Magna.

Mello foi definitivo: “Compete privativamente [ao presidente da República] manter relações com Estados e seus representantes diplomáticos, celebrar tratados internacionais”; “o Supremo não há de substituir-se ao Executivo, adentrando seara que não lhe está reservada constitucionalmente e (…) simplesmente menosprezando a quadra vivenciada à época na Itália e retratada com todas as letras na decisão proferida”, continuou.

O voto do ministro Marco Aurélio Mello foi importante não apenas porque ele nadou contra uma corrente muito forte de opinião pública, mas porque despiu o julgamento do conteúdo excessivamente politizado, no mau sentido, a que foi submetido. O movimento para que o governo brasileiro entregue Battisti ao governo italiano veio repleto de dogmas. O processo de extradição foi empacotado por máximas sobre as quais não se admitiu questionamento – e que, tomadas em separado, mostram o seu inegável caráter ideológico. Abaixo, algumas delas:

1) O governo brasileiro é destituído de qualquer discernimento jurídico que lhe permita decidir contra o saber jurídico italiano, que condenou o ex-militante à prisão perpétua;

2) O Judiciário brasileiro, depositário do monopólio do saber jurídico nacional, não pode se opor ao governo italiano porque isso seria se negar como depositário desse saber;

3) um poder que tem o monopólio do conhecimento jurídico não apenas tem legitimidade, mas deve se precaver contra ações desatinadas de um Poder Executivo escolhido pelo voto – e o voto, que emerge igualmente de letrados e iletrados, não raro precisa de correção;

4) jamais um ministro da Justiça do governo Lula, sem pedigree jurídico (que o ministro Márcio Thomaz Bastos, por exemplo, tinha), mas cuja carreira é política, poderia se contrapor a um movimento ilustradamente jurídico – Tarso Genro fez isso e, além de não ter pedigree, ele veio maculado por uma militância na esquerda radical nos nossos anos de chumbo;

5) Battisti não andou na seara dos confrontos políticos – e tirar os supostos (sim, supostos, pois o italiano alega inocência e um julgador não pode simplesmente desprezar isso) crimes do âmbito político é fundamental para deslegitimar o asilo político concedido pelo governo brasileiro e também para “despolitizar” os graves conflitos ocorridos na Itália dos anos 70, já conhecidos pela história como “anos de chumbo” deles.

Mello desconstruiu esses dogmas, a começar pelo mais importante deles na formulação dos argumentos políticos e jurídicos a favor da extradição, a de que Battisti não cometeu crimes políticos, e sim comuns. O ministro disse que a configuração do crime político era “escancarada” – e em favor de sua tese citou as próprias pressões do governo italiano para o governo brasileiro extraditar Battisti. “Assim procederiam, se na espécie não se tratasse de questão política? Seria ingenuidade acreditar no inverso do que surge repleto de obviedade maior”, disse o ministro. “Façam justiça ao ministro Tarso Genro, cujo domínio do direito todos conhecem”, continuou Mello, que ainda pediu ao plenário para reconhecer o “momento histórico” vivido pela Itália na época dos fatos e, mais do que isso, até a admitir que as acusações contra o ex-militante podem não ter fundamento. “As acusações não buscam esteio em provas periciais, fundamentando-se em uma testemunha de acusação”, disse. Battisti foi condenado à prisão perpétua em seu país com base no instituto da delação premiada, e foi acusado pelos três militantes do grupo político a que pertencia e que eram os apontados como responsáveis por esses crimes. Battisti já estava foragido.

O julgamento final do ex-militante italiano pelo STF estava em andamento no fechamento desta coluna. O ministro Gilmar Mendes proferiu o voto da forma como era esperado que fizesse: atendendo ao pedido do governo da Itália, pela extradição de Battisti. Conforme também era esperado, não aceitou a janela aberta no voto de Mello, para que transformasse em “autorizativa” a decisão de extradição. Mendes decidiu que o STF é competente inclusive para decidir a extradição do ex-militante italiano. Independente da decisão final do plenário do Supremo, a posição do ministro Marco Aurélio Mello teve o poder de destituir de um caráter pretensamente neutro o voto de desempate dado contra o asilado. As coisas pelo menos ficam mais claras dessa maneira.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Um país de peso...

Deu no UOL.

Brasileiro está mais gordo e mais alto, aponta estudo do Ministério da Saúde
Do UOL Ciência e Saúde
Em São Paulo

A população engordou e ficou mais alta nos últimos anos no Brasil. Cerca de 43,3% das pessoas com mais de 18 anos que vivem nas capitais estão com sobrepeso. E esta é a tendência para todo brasileiro, aponta estudo Saúde Brasil 2008, do Ministério da Saúde, divulgado nesta quinta-feira (19).

Metade da população já está com sobrepeso. As principais causas são a mudança para hábitos alimentares menos saudáveis e a menor prática de atividades físicas", explica Marcio Mancini, diretor do grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas do Hospital das Clínicas de São Paulo.


Os meninos de 10 a 19 anos tiveram aumento de 82,2% do IMC (Índice de Massa Corpórea que dá a razão entre o peso e a altura) em 29 anos. As meninas, na mesma faixa etária, obtiveram aumento de 70,3%.

Mas as mulheres apresentam estabilidade no ganho de peso desde a década de 90, com a valorização do corpo e o combate ao sobrepeso, enquanto os homens não param de engordar.
Segundo o médico, o aumento da obesidade é expressivo na camada mais pobre da população. "A falta de informação leva a pessoa a comer pior. Além disso, alimentos baratos e calóricos como o açúcar e o óleo de soja são muito usados. Assim, a pessoa adoça mais do que precisa e faz muita fritura". Para Mancini, o governo deve atuar na conscientização da população nas unidades básicas de saúde para reverter a situação.

De acordo com o estudo, o IMC médio do brasileiro está muito próximo de 25 kg/m², limite para passar do perfil normal para o de sobrepeso. Se o valor ficar acima de 30, é considerado obesidade.

O aumento da obesidade ainda é um dos fatores para a
elevação das mortes por diabetes no país. O crescimento está mais concentrado nos homens com mais de 40 anos e houve queda entre as mulheres de 20 a 39 anos.

Enquanto eles ganharam mais peso, as mulheres cresceram quase duas vezes mais. A estatura média do homem cresceu 1,9 cm em 14 anos e chegou a uma média de 1,70 m em 2003. Já as mulheres, tiveram um aumento de 3,3 cm de altura, alcançando 1,58 m.
DesnutriçãoO déficit de altura nas meninas menores de cinco anos, um dos principais indicadores de desnutrição, caiu 85% de 1974 a 2007. Entre os meninos, a queda foi de 77% no mesmo período. O Ministério espera que a desnutrição seja praticamente nula em 10 a 15 anos.


A desnutrição teve redução de 50% em 10 anos, passando de 13,4% das crianças com menos de cinco anos para 6,7% em 2006. O aumento da altura também foi significativo - o déficit caiu 70% entre 1974 e 2003.

Música para um começo de jornada...

Já postei antes, mas, dizem os meus botões, o que é bom nunca é demais.

A (falta de) vergonha no mundo atual


Sentimos mais vergonha do que culpa nos dias de hoje, constata Anthony Giddens em um dos seus livros (não pergunte qual, eu não lembro). Preocupamo-nos mais com nossas performances públicas do que com a transgressão ou não de regras morais. Quer refletir um pouco sobre essa questão? Sim? Então, convido-lhe a ler trechos de um artigo de autoria do psicanalista argentino Pacho O´Donnel, publicado no Clarin. A tradução para o português é de responsabilidade do Ex-Blog do César Maia. Vale a pena conferir!


CUSTO DE PERDER A VERGONHA!
Pacho O´Donnel


1. Costuma ser devastadoramente comum,nos tempos em que vivemos, falhar esse decisivo preservador do funcionamento moral de uma sociedade: a vergonha. Será útil aqui resgatar o conceito de "vergonha", tal como formulada por Aristóteles em sua obra “Retórica” e também “Ética a Nicômaco”, que por vezes torna-se sinônimo de "pudor". O primeiro define a vergonha como "arrependimento ou embaraço relativo a vícios presentes, passados ou futuros, cuja presença acarreta uma perda de reputação". É o sentimento que se sofre como resultado de haver cometido um ato desonroso.


2. A obra “Ética a Nicômaco” a define como "medo do descrédito" sentimento anterior a consumação do ato reprovável que assim se constitui em um freio moral. Em ambos os casos, o fantasma da iminente perda de reputação, pelo realizado ou pelo pensado, perturba e provoca o medo do julgamento dos outros e da conseguinte rejeição social.


3. Para que isso aconteça é necessário ter um consenso coletivo concreto e definido sobre o que é bom e o que é ruim para a sociedade. Mas a sociedade em que vivemos está longe de incentivar ações virtuosas. Pelo contrário, o que prevalece é a inescrupulosidade, o pragmatismo, a ganância, o “ter” como substituto do “ser”.


4. Onde terá ido parar a vergonha daquele que desvia para seus bolsos, fundos públicos destinados a diminuir a pobreza de 30% de nossos semelhantes? E não é o único "sem vergonha". Infelizmente são muitos. Demasiados. No decorrer dos cem anos passados a vergonha socializada foi-se extinguindo. Somos uma sociedade que foi perdendo e minguando anticorpos contra a autodestruição. Entre eles o da vergonha.


Leia aqui o artigo completo (em espanhol).